domingo, 17 de setembro de 2017

Opinião do dia - John Locke

Se o homem é tão livre no estado de natureza como se tem dito, se ele é o senhor absoluto de sua própria pessoa e de seus bens, igual aos maiores e súdito de ninguém, por que renunciaria a sua liberdade, a este império, para sujeitar-se à dominação e ao controle de qualquer outro poder? A resposta é evidente: ainda que no estado de natureza ele tenha tantos direitos, o gozo deles é muito precário e constantemente exposto às invasões de outros. Todos são tão reis quanto ele, todos são iguais, mas a maior parte não respeita estritamente, nem a igualdade nem a justiça, o que torna o gozo da propriedade que ele possui neste estado muito perigoso e muito inseguro.

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John Locke (1632-1704) foi um filósofo inglês e ideólogo do liberalismo, “Segundo Tratado Sobre o Governo”, Editora Martin Claret, 2002.

O terceiro fantasma | *Luiz Sérgio Henriques

- O Estado de S.Paulo

A falta de protagonismo de uma esquerda forte e responsável pode se arrastar por vários anos

Espectros e assombrações, de acordo com sua natureza evanescente, costumam rondar cenários de terra devastada, como é o caso da política brasileira, trazendo presságios e reminiscências mais ou menos distantes e, no entanto, úteis para nossa ponderação. De fato, a devastação é grande demais: líderes e partidos, de governo ou da oposição, parecem dissolver-se no ar, arruinados por denúncias às vezes imprevistas ou transformados em alvo de acusações que os tratam, respectivamente, como delinquentes ou “organizações criminosas” imprestáveis para o funcionamento de uma democracia normal.

Tendo em vista as prosaicas malas abarrotadas de dinheiro ou os sofisticados softwares de propina, não se pode dizer que se trata de calúnias saídas do nada. Mas o fato é que, ao lado do aspecto investigativo-judicial, é preciso voltar os olhos para toda a imensa crise de representação que assim se estabelece, dando ouvidos à assombração italiana dos anos 90 do século passado e à argentina da virada de século. A evolução política daqueles dois países é o que nos interessa de perto; judicialmente, respeitado o processo legal, que os mortos enterrem os mortos. De todo modo, não haverá muito a fazer se e quando condenados, sejam eles quem forem e seja qual for a narrativa persecutória que preferirem.

Haia 110 anos |*Celso Lafer

– O Estado de S. Paulo

A conferência de 1907 é um antecedente importante das posições multilaterais do Brasil

Há 110 anos ocorria a 2.ª Conferência de Paz de Haia. Ela foi significativa e teve desdobramentos importantes. Cabe lembrá-los hoje, na medida em que o analista contemporâneo reflete sobre a experiência histórica, levando em conta, à luz das inquietações do presente, a dimensão civilizatória do Direito das Gentes.

A conferência de 1907, da qual o Brasil participou ativamente, tendo Ruy Barbosa como chefe da delegação, foi o primeiro grande ensaio da diplomacia multilateral no século 20. Representou o momento inaugural da presença brasileira nos grandes foros internacionais. Um dos seus desdobramentos para a política externa brasileira foi a constante importância que passou a ser atribuída ao multilateralismo como um dos caminhos da inserção internacional do País.

As duas conferências de Haia, a de 1898 – da qual o Brasil, embora convidado, não participou – e a de 1907, tiveram um caráter inovador no campo das relações internacionais. Foram conferências multilaterais que não lidaram com a organização da ordem internacional de um pós-guerra.

Igualdade, pobreza e moral | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Estudo de Marc Morgan, do World Wealth and Income Database, instituto de pesquisa codirigido pelo economista Thomas Piketty, mostra que a desigualdade de renda no Brasil não caiu entre 2001 e 2015. Isso joga um pouco de água na propaganda petista, mas não significa que, sob Lula, o país não tenha enriquecido, melhorando também a situação dos pobres.

O resultado não me surpreende. Reduzir a desigualdade parece ser mais difícil do que se presumia. O próprio best-seller de Piketty, "O Capital no Século 21", traz pistas empíricas disso, embora o economista defenda que, com os mecanismos tributários adequados, dê para avançar.

A festa que merecemos | Cacá Diegues

- O Globo

Em meu livro “Vida de cinema”, publicado em 2014 pela Editora Objetiva, começo um de seus capítulos dizendo o seguinte. “O Brasil saía de longa ditadura para a esperança de um horizonte democrático. No primeiro Rock in Rio, realizado na Barra da Tijuca em janeiro de 1985, reunindo mais de 100 mil pessoas durante uma semana para ouvir grandes estrelas internacionais do rock, as bandas brasileiras empunhavam bandeiras nacionais, coisa que se tornara malvista, desde que os militares haviam imposto rituais patrióticos nas escolas do país.

Ninguém se importava com a lama que as chuvas de verão deixavam no terreno preparado às pressas para o evento. Muito menos com o cheiro de urina provocado pela cerveja, pelos banheiros precários ou pelos espectadores que desabafavam por ali mesmo, no chão de terra. Depois de tanto samba de protesto e tantos filmes cívicos de resistência, a festa inaugural da democracia brasileira seria um show de rock’n’roll”.

Vou me lembrar sempre do Rock in Rio de 1985 como aquela “festa inaugural”, um projeto de introdução ao que esperávamos que se tornassem os anos que haveriam de logo vir.

Em vez disso, vivemos período tenebroso de superinflação e moratória da dívida externa, de farsas cívicas que foram coroadas com a eleição de Fernando Collor de Mello, o primeiro presidente a suceder aos ditadores militares, eleito pelo voto universal e direto, sob as bênçãos da nova Constituição democrática e “cidadã”. Dois anos depois, o presidente eleito pela maioria do povo brasileiro seria apeado do poder, condenado ao impeachment pela corrupção generalizada dele e de seus pares.

Primavera, quem diria | Fernando Gabeira

- O Globo

Nas circunstâncias nacionais, parece uma heresia lembrar que está chegando a primavera. Mas, além de boa notícia, é algo de que estou seguro. Algo que posso anunciar nas segundas-feiras, quando tento prever os fatos da semana, num programa de rádio. Em nosso processo histórico tão imprevisível, a constância das estações do ano é um bálsamo.

Claro que poderia melhorar as previsões. Garotinho já foi preso três vezes. Dava para prever a época em que seria preso de novo. Mas, se contasse com a prisão de Garotinho, o imprevisível, o realismo fantástico me surpreenderia. Garotinho foi preso apresentando um programa de rádio. O locutor que LHE sucedeu naquele momento disse que Garotinho tinha perdido a voz. Os médicos recomendaram silêncio. Ele poderia voltar amanhã ou daqui a alguns dias.

A prisão de Garotinho foi a única que teve uma versão para as crianças. No plano mais amplo, tempestades se formam e, pela primeira vez, pressenti um quadro mais completo. Com as gravações de Joesley Batista e documentos de uma advogada da JBS, entregues por seu ex-marido, a empresa insinua relações promíscuas com o Poder Judiciário.

Aliás, o próprio Joesley já tinha definido a situação ao afirmar, num dos áudios, que o Congresso foi atingido pela delação da Odebrecht e a ele cabia denunciar Temer e o STF. Os dados que havia num dos áudios, no qual se gravou o ex-ministro José Eduardo Cardozo, eram tão problemáticos que o procurador Marcello Miller previa até cadeia para quem os mencionasse. Mas a gravação não foi destruída, e sim enviada para o exterior. Sinal de que Joesley ainda conta com ela no seu poder de barganha.

Quando a máfia briga | Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

Antonio Palocci era o elo que levava o dinheiro das empreiteiras a Lula

Nos filmes de máfia sempre existe aquele momento de tensão em que um lugar-tenente ou alguém menos expressivo na hierarquia começa a dar sinais de que vai roer a corda e ajudar os investigadores ou se bandear para o grupo rival. Na ficção, esse conflito geralmente acaba em morte, mas às vezes resulta na implosão da organização.

No enredo de gângsteres que a Lava Jato revela ao Brasil em temporadas cada vez mais eletrizantes, por ora não se teve ainda – o que é até de certa forma surpreendente, dada a profundidade e a extensão das revelações – casos de queima de arquivo, ou mesmo tentativas de. Mas a implosão das organizações criminosas pelo “pio” de suas figuras proeminentes tem sido e tende a ser o grande complicador para os capos políticos.

Agora questionada pela razão, mais ou menos óbvia, de que não produziu provas materiais, a delação de Delcídio do Amaral foi a primeira nessa categoria de colaborações. Ex-presidente da CPI dos Correios, ex-líder do governo Dilma Rousseff, frequentador assíduo do Instituto Lula e interface do PT com a Petrobrás por décadas, Delcídio sempre foi um insider.

Sob as barbas do PT | Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

A segunda denúncia contra Michel Temer não deveria despertar tanto entusiasmo no PT. A acusação fragiliza o presidente, mas deixa claro que o "quadrilhão" do PMDB da Câmara deve parte de seus lucros aos governos Lula e Dilma.

O procurador Rodrigo Janot fez um breve histórico da aliança. Ela começa em 2006, quando o petismo teve que recompor sua base no Congresso depois da crise do mensalão.

O PMDB do Senado, comandado por Renan e Sarney, já era lulista desde criancinha. Faltava a ala da Câmara, que esperou o presidente se reeleger para negociar a adesão.

Os jornais da época registraram a euforia de Temer e seus amigos denunciados pela Lava Jato. "União assim, só para apoiar o Tancredo contra a ditadura militar", celebrou o então deputado Henrique Eduardo Alves, hoje preso em Natal.

Corrida maluca | Merval Pereira

- O Globo

A provável barração na Justiça eleitoral da candidatura presidencial do ex-presidente Lula devido à Lei da Ficha Limpa, caso venha a ser confirmada sua condenação no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, está alterando a corrida presidencial na quantidade de potenciais candidatos e no alinhamento ideológico.

Ciro Gomes, o candidato escolhido pelo PDT, já abriu mão de um acordo com o PT e, sobretudo, do apoio de Lula, a quem vem criticando cada vez com mais desembaraço. As acusações de Antonio Palocci a Lula, que deverão se transformar em uma delação premiada com mais detalhes e, sobretudo, provas, acabaram com as esperanças da esquerda de ter Lula como candidato.

Já não é mais segredo que o PT, confirmada a inviabilidade de Lula, deve lançar o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad ou o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, como maneira de não virar um partido do segunda linha, apoiando candidato alheio do grupo da esquerda, cujo preferido já foi Ciro Gomes.

Mas o PT já não é uma aliança bem vista em parte da esquerda, e Lula, a cada revelação, perde a força de seu apoio, o que está levando Ciro Gomes a esconjurá-lo publicamente. Sem Lula na disputa, a corrida ficará aberta a todo tipo de candidato, enfraquecendo apenas um, o prefeito de São Paulo, João Doria, que se organizou desde o início de seu projeto para ser conhecido pelo eleitorado como o antiLula, embora ainda lhe reste uma identificação de gestor não político, que tem boa acolhida em parte do público que busca o novo pelo novo.

O divisor de águas | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

É ingenuidade acreditar que a crise ética não será o divisor de águas das eleições de 2018, somente os enrolados na Operação Lava-Jato apostam nisso piamente

Há uma corrida contra o tempo na política brasileira entre aqueles que fazem parte do atual sistema de poder, cujo vértice é ocupado pelo presidente Michel Temer; e os que pretendem constituir uma outra alternativa em 2018. No primeiro caso, a força principal é o PMDB, núcleo de uma grande aliança que sofre forte desgastes por causa da Operação Lava-Jato. No segundo, podemos identificar Jair Bolsonaro (PRB-RJ), à direita; o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), à esquerda; e um enorme espaço vazio entre esses dois, aberto pela crise do PSDB, na qual se digladiam o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital, João Doria. Os senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP) já estão fora da disputa pela candidatura presidencial tucana por causa da Lava-Jato.

Nessa corrida, a grande aposta do governo Temer é o desempenho da economia, que emite sinais de recuperação da produção industrial, registra inflação abaixo da meta e uma significativa redução da taxa de juros. A cada alta nas ações da bolsa e novos indicadores positivos, governistas batem o bumbo. E alardeiam que a recessão ficou para trás, o que é verdade, e a retomada vigorosa do crescimento econômico já está garantida, o que é um certo exagero, porque ela ainda é muito baixa: projeta-se 0,6% do PIB neste ano, segundo o último boletim Focus, do Banco Central. Nessa perspectiva, fala-se em uma taxa de crescimento de 3% no ano da eleição, o que daria ao presidente Temer cacife para concorrer à reeleição ou fazer o seu sucessor no pleito de 2018.

Joesley tenta enganar | Míriam Leitão

- O Globo

O empresário Joesley Batista ainda não entendeu o que fez de errado e o que o levou à prisão. Ele disse na sexta-feira que está preso porque delatou o poder. Joesley está preso por corrupção, por ter comprado políticos para usufruir de vantagens. Se não confessasse, quando o fez, seria preso de qualquer maneira porque estava sendo investigado em cinco operações.

Além disso, ele teve ganhos indevidos até com a delação, o que levou seu irmão Wesley à prisão. Só se explica isso por alguma compulsão de querer levar vantagem em tudo, inclusive na tormenta em que o país entrou após a sua delação. Eles sabiam que o dólar subiria e que as ações iriam cair. E fizeram suas apostas no cassino em que sempre estiveram acostumados a jogar. O Ministério Público e a Polícia Federal calculam que eles ganharam US$ 100 milhões com as operações. Para eles, isso é ninharia, mas está cobrando um alto preço.

Joesley dizia que a hipótese de sua prisão ou do seu irmão iria ser uma tragédia para a empresa, porque sem eles não seria possível administrar a companhia. O mercado financeiro reagiu com alta nas ações quando eles foram presos, derrubando a ideia de serem insubstituíveis.

Consolida-se a recuperação | José Roberto Mendonça de Barros

- O Estado de S. Paulo

A continuidade do crescimento dependerá muito da eleição de 2018

Escrevi recentemente (20/8) que a economia brasileira teima em melhorar. Uma bateria de dados recentes sugere que isso está acontecendo rapidamente. De fato, o IBC-Br, indicador conhecido como a prévia do Banco Central para o PIB, cresceu 0,41% em julho, além de uma revisão para mais do índice estimado em junho. Com isso, o terceiro trimestre do ano se inicia com arrasto positivo de 0,70%, que se soma a resultados positivos em outras áreas relevantes.

Como calculou Fernando Montero, as vendas do comércio restrito mostram um “carry-over” de 0,9%; as vendas do comércio ampliado, 1,7%; e da produção industrial, 1,4%. Tudo isso é consistente com a projeção da MB de 0,1% do PIB no terceiro trimestre em relação ao segundo e de 0,4% no quarto trimestre em relação ao terceiro.

Com isso, o ano corrente fecharia com uma expansão de 0,7%. Projetamos para 2018 um robusto crescimento de 3% do PIB. Se, no primeiro semestre deste ano agricultura, mineração, petróleo e exportações foram os destaques no crescimento, tanto na ótica da produção como da demanda, veremos doravante que a expansão do consumo será a variável-chave na explicação do crescimento projetado.

República de bananas | Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

Liderados pelos militares ou pela esquerda, continuamos a ter visão ufanista errada do desenvolvimento

República de bananas, para mim, sempre representou países com péssima institucionalidade. Dia sim e dia também, algum general -em geral de direita, mas às vezes de esquerda, com um bigodão, às vezes uma barba bem cultivada- tomava o poder em meio a um golpe militar.

A república de bananas se caracteriza pelas instituições frágeis.

Para boa parcela dos economistas brasileiros, o que caracteriza as repúblicas de bananas são as bananas, ou melhor, a exportação de matérias-primas.

Por esse critério, Chile, Canadá, Nova Zelândia e Austrália são repúblicas de banana.

Como em geral há relação entre desenvolvimento econômico e sofisticação tecnológica da pauta exportadora de um país -mas o que, como vimos, nem sempre é verdade-, muitos economistas brasileiros pensam que desenvolvimento econômico depende do que um país produz.

Não conhecem o trabalho espetacular do historiador Gavin Wright ("The Origins of American Industrial Success, 1879-1940", "The American Economic Review", 1990), que documentou que a pauta exportadora da economia americana até os anos 1920 era essencialmente de commodities. Ou seja, a economia americana era uma economia de bananas.

As campeãs nacionais da corrupção | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Os irmãos Batista e sua JBS foram uma grande novidade no mundo das maiores empresas brasileiras deste século, um time em que mudam mais as camisas do que os jogadores. Apesar do histórico muito mais longo e notório, a Odebrecht também fez carreira rápida.

Cresceram de modo acelerado porque eram corruptas ou eram corruptas porque cresceram de modo acelerado? Difícil responder, mas há elementos para especulações razoáveis.

No começo do século, a JBS/Friboi chegava ao grupo das 400 maiores. Em meados da década de 2000, subia para a primeira divisão, o grupo das 50 maiores.

Em 2014, superou a Vale, tornando-se a segunda maior companhia, em receita líquida. A Odebrecht passou da rabeira da primeira divisão para o sétimo lugar em cerca de uma década.

Embora não seja fácil imaginar crimes que superem os feitos de JBS e Odebrecht, quantas empresas da primeira divisão teriam restos a pagar nos tribunais?

O STF escaldado – Editorial | O Estado de S. Paulo

Sempre que se falava da possibilidade de uma segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, Rodrigo Janot dava a entender que trabalhava intensamente sobre as investigações relativas ao presidente da República e, caso apresentasse uma nova acusação, ela seria muito robusta, numa espécie de coroamento do final de seu mandato como procurador-geral da República. Seria seu grand finale. Mas a peça acusatória apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) na quinta-feira passada não acrescenta qualquer tipo de mérito ao currículo de seu autor. Tamanha é sua fragilidade que o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato na Suprema Corte, preferiu fazer um malabarismo interpretativo para não ter de enviar, monocraticamente, a peça à Câmara dos Deputados. Em decisão proferida no mesmo dia em que a denúncia foi protocolada, Edson Fachin condicionou o encaminhamento da acusação para a Câmara a uma deliberação do plenário do STF, prevista para ser adotada na próxima quarta-feira.

A princípio, o relator deveria enviar, por simples ato de ofício, a denúncia ao presidente da Câmara dos Deputados, tendo em vista que a Constituição de 1988, no art. 51, define que “compete privativamente à Câmara dos Deputados autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente”.

Expectativas sobre a procuradora-geral Raquel Dodge – Editorial | O Globo

A crise contaminou de aspectos políticos a indicação por Michel Temer, mas o perfil dela não faz prever recuo no combate à corrupção

Depois que a procuradora-geral da República indicada, Raquel Dodge, passou pela sabatina no Senado, em meados de julho, por acachapantes 74 votos a 1, Rodrigo Janot distribuiu um texto na instituição em que parabenizava a sucessora e a alertava para desafios. Destacou que grupos poderosos que se beneficiam de desvios de dinheiro público lutarão para manter privilégios e barrar o combate à corrupção.

Correto o alerta, mas é certo que a sucessora de Janot conhece a estrada que percorrerá. Respeitada no MP, também qualificada, com curso de extensão em Harvard, desde 1987 no MP, Raquel passou por experiências profissionais que a credenciam à luta contra o roubo do dinheiro público. Atuante em áreas dos direitos humanos em sentido amplo (indígenas, escravidão), Dodge, em 2009, coordenou a Operação Pandora, que gerou cenas inesquecíveis em que políticos de Brasília recebiam maços de dinheiro vivo, como sempre sem escrúpulos. Entre eles, o governador, José Roberto Arruda, trancafiado a pedido de Dodge. Foi o “mensalão do DEM”.

Cronicamente desigual – Editorial | Folha de S. Paulo

Se a longa crise política e econômica fez retroceder o otimismo quanto às perspectivas do desenvolvimento brasileiro, também sofre duro golpe a crença no que se considerava uma das conquistas mais preciosas deste início de século –a redução expressiva da vergonhosa desigualdade social do país.

Estudos mais recentes , que ampliam o escopo dos dados analisados, põem em xeque a afirmação, particularmente cara às administrações petistas, de que a distância entre ricos e pobres encurtou no período da expansão acelerada da economia e dos programas de assistência social.

De início, é preciso esclarecer do que se está falando. Não resta dúvida de que os ganhos de todos os estratos aumentaram nos anos de bonança. Entretanto acreditava-se que a base da pirâmide social, e não o topo , havia se apropriado da maior parte da renda gerada.

Agora, há sinais convincentes de que a fatia dos mais abonados no Produto Interno Bruto é muito maior do que se calculava –e, pior, parece ter crescido.

Supremo prevê relação menos tensa com nova procuradora

Ministros da Corte avaliam que Raquel Dodge conduzirá a PGR de forma mais incisiva e com menos contratempos do que antecessor

Beatriz Bulla, Breno Pires e Rafael Moraes Moura | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Depois de um desgaste na relação entre Rodrigo Janot, no fim do mandato como procurador-geral da República, e o Supremo Tribunal Federal (STF), a expectativa na Corte é de que sua substituta, Raquel Dodge, titular da PGR a partir desta segunda-feira, 18, foque no papel institucional do Ministério Público Federal, sem descuidar dos rumos da Operação Lava Jato.

A forma como Janot conduziu o episódio do áudio do empresário Joesley Batista, dono do Grupo J&F, e Ricardo Saud, ex-executivo da holding, causou desconforto no STF. Ministros e auxiliares avaliaram que, quando anunciou a descoberta de uma gravação que trazia indícios de omissão de fatos graves por delatores, Janot expôs negativamente o Tribunal por ter revelado, sem explicar o contexto, que havia citações a integrantes da Corte.

Se o perdão judicial concedido por Janot aos executivos da J&F já era alvo de questionamentos, após o episódio da gravação surgiram dúvidas sobre se a PGR se descuidou neste acordo de colaboração.

Ministros do Supremo ouvidos pelo Estado elogiam o perfil da sucessora de Janot e dizem acreditar que, pela experiência na área do direito penal, ela vai atuar de forma firme e rigorosa, sem comprometer os desdobramentos da Lava Jato.

Ineditismo e polêmicas marcaram 'era Janot', que deixa a Procuradoria-Geral

Rubens Valente | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Após tomar posse no cargo de procurador-geral da República, em 2013, Rodrigo Janot recebeu em audiência o então presidente da ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal), o delegado Marcos Leôncio.

Naquele momento, a queda de braço entre PGR (Procuradoria-Geral da República) e PF não era pequena, mas estava distante da conflagração aberta que se tornou na gestão de Janot.

Quando Leôncio chegou para o que acreditava ser uma reunião de troca de impressões, encontrou Janot em uma mesa cercado por assessores, incluindo o então procurador Marcello Miller, hoje pivô da crise da delação da JBS.

"Dessa reunião ficou uma imagem do Janot imperial. Ele disse mais ou menos assim: que não havia o que conversar entre PF e MPF", diz o delegado. "A PF teria que ser subordinada à PGR nas investigações, com a PF concordando ou não. Saí da reunião já sabendo que não teríamos anos fáceis pela frente."

Durante o mandato, Janot tentou proibir a PF de fechar delações. Com uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal), ainda não julgada, exigiu que a polícia não indiciasse parlamentares com foro privilegiado e tentou impedir delegados de entregar documentos ao então ministro relator da Lava Jato, Teori Zavascki.

Reveladores, os embates entre Janot e PF foram só um dos pontos turbulentos dos quatro anos da gestão que o mineiro de 60 anos, completados na sexta (15), encerra neste domingo (17).

Ao entregar a cadeira para Raquel Dodge, Janot entra para a galeria dos procuradores-gerais com um destaque ímpar e uma montanha-russa de polêmicas.

INEDITISMO
Seus críticos podem amenizar, dizendo que ele estava no lugar certo na hora certa, diante do escândalo de corrupção revelado pela Lava Jato –que não começou em seu gabinete, mas em Curitiba.

Seus apoiadores, contudo, retrucarão, afirmando que Janot deu ao Ministério Público Federal um protagonismo jamais alcançado e que nem todos poderiam ter aguentado as pressões que suportou.

Sem reforma, Supremo pode barrar coligações

Congresso não chegou a consenso sobre mudanças

Até líderes de partidos admitem que modificações poderão acabar sendo feitas pelo Judiciário

Diante do impasse no Congresso que pode impedir a aprovação de uma reforma política a tempo de valer nas eleições de 2018, o Supremo Tribunal Federal se prepara para tentar garantir, ao menos, o fim das coligações proporcionais. Já há uma articulação, que envolve parlamentares e integrantes do STF, para julgar ação que trata do tema. Pelo menos três ministros do STF se declararam contra as alianças proporcionais. Líderes partidários na Câmara e no Senado reconhecem que, se o Congresso não atuar, o Supremo fará as modificações por conta própria.

Solução via Supremo

Com impasse no Congresso, STF pode julgar ação que veda coligações em disputa proporcional

Cristiane Jungblut e Carolina Brígido | O Globo

BRASÍLIA - Os parlamentares costumam fazer críticas ao que consideram interferência do Judiciário em assuntos do Legislativo, mas a reforma política poderá ser o próximo assunto que acabará nas mãos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) por falta de ação dos próprios deputados. O alerta foi feito pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, em encontros com congressistas para tratar da votação da reforma política pela Câmara. O tema que poderá migrar do Legislativo para o Judiciário é o que trata das coligações entre os partidos nas eleições proporcionais.

Prazo pode travar regras para 2018

Congresso tem apenas 20 dias para aprovar propostas da reforma política se quiser que novas normas passem a valer nas próximas eleições

Isadora Peron | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Com o impasse em torno dos projetos que tratam da reforma política, são grandes as chances de o Congresso Nacional não conseguir aprovar mudanças efetivas nas regras para as eleições de 2018. Deputados federais e senadores têm até 7 de outubro – 20 dias apenas – para aprovar as propostas se quiserem que elas passem a valer já nas próximas eleições.

As duas propostas de emendas à Constituição (PECs) voltam à pauta do plenário da Câmara nesta semana. A ideia do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é fazer uma tentativa derradeira na terça-feira para aprovar a PEC que cria o fundo público de financiamento de campanha e altera o sistema eleitoral. No dia seguinte, o plano é retomar a votação do projeto relatado pela deputada Shéridan (PSDB-RR), que acaba com as coligações nas eleições para deputados e vereadores, e institui cláusula de desempenho para dificultar o acesso das legendas aos recursos do Fundo Partidário e ao tempo de propaganda de rádio e TV.

Na quarta-feira passada, após uma sessão de quase 11 horas, os deputados não conseguiram chegar a um acordo e adiaram novamente a votação da PEC que cria o fundo e o distritão. Desde o mês passado, líderes tentam encontrar uma proposta que agrade à maioria, mas não conseguem chegar a esse texto. Por se tratar de emendas à Constituição, essas propostas precisam do apoio de 308 dos 513 deputados. “Teríamos que ser o Tom Cruise. Isso parece ser uma missão impossível”, brincou o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG).

Esforços. Diante do impasse, deputados afirmam que o melhor caminho seria abandonar essa PEC e concentrar os esforços na aprovação da proposta relatada por Shéridan. “Acho que é um equívoco insistir na PEC do fundo e do distritão. O mais razoável seria resolver o que ainda pode ser resolvido, que é a PEC do fim das coligações”, disse o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP).

Dois livros inéditos no Brasil repassam a história da Revolução Russa

Historiadores Sheila Fitzpatrick e Jean-Jacques Marie têm trabalhos lançados no ano do centenário da Revolução

Marcelo Godoy | O Estado de S. Paulo / Aliás

As grande rupturas na história permanecem raras e escrever sobre elas jamais é um ato neutro ou inocente. Sheila Fitzpatrick é uma historiadora consciente das armadilhas que seu ofício reserva aos que o escolhem. Uma delas está ligada à necessidade ou não de cortar a história em períodos e como fazê-lo. É este o principal desafio lançado por essa australiana, que frequentou o St Antony’s College, de Oxford, e se tornou uma das maiores especialistas na antiga União Soviética, em seu livro A História da Revolução Russa. Após três décadas de omissão, a obra de Sheila chega atualizada ao Brasil pela editora Todavia.

No último livro de sua obra – A História Deve ser Dividida em Pedaços? –, o francês Jacques Le Goff escreveu que “os períodos têm, por consequência, uma significação particular; na própria sucessão, na continuidade temporal ou, ao contrário, na ruptura que essa sucessão evoca, eles constituem um objeto de reflexão essencial para o historiador”. Diante da raridade das rupturas, Le Goff descreve o “modelo habitual” para a periodização histórica, a longa duração, como “aquele que é mais ou menos longo, com a mais ou menos profunda mutação”. Sheila estuda assim um desses eventos raros na história, cuja primeira vida parecia indicar uma grande ruptura: a Revolução Russa.

E sua obra é marcada por esse desafio: circunscrever o tempo da Revolução. Sheila escolheu o período 1917-1938 como o período revolucionário. Nos anos de Stalin, até o Grande Terror (1937-1938), Sheila vê a conclusão do processo iniciado em 1917. É a revolução pelo alto, iniciada pelo georgiano em 1929, com a coletivização do campo, a rápida industrialização e a eliminação da oposição ao regime. Só depois o regime soviético teria entrado no período pós-revolucionário. A questão é das mais difíceis enfrentadas pelos historiadores. Há quem veja o início do processo revolucionário em 1905 e seu término no Grande Terror. A maioria, porém, circunscreve a revolução ao período de 1917 a 1921, quando é concluída a vitória bolchevique na Guerra Civil.

Recomeçar | Carlos Drummond de Andrade

Não importa onde você parou…
em que momento da vida você cansou…
o que importa é que sempre é possível e
necessário “Recomeçar”.

Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo…
é renovar as esperanças na vida e o mais importante…
acreditar em você de novo.
Sofreu muito nesse período?
foi aprendizado…
Chorou muito?
foi limpeza da alma…

Ficou com raiva das pessoas?
foi para perdoá-las um dia…

Sentiu-se só por diversas vezes?
é porque fechaste a porta até para os anjos…
Acreditou que tudo estava perdido?
era o início da tua melhora…
Pois é…agora é hora de reiniciar…de pensar na luz…
de encontrar prazer nas coisas simples de novo.
Que tal
Um corte de cabelo arrojado…diferente?
Um novo curso…ou aquele velho desejo de aprender a
pintar…desenhar…dominar o computador…
ou qualquer outra coisa…

Olha quanto desafio…quanta coisa nova nesse mundão de meu Deus te
esperando.

Tá se sentindo sozinho?
besteira…tem tanta gente que você afastou com o
seu “período de isolamento”…
tem tanta gente esperando apenas um sorriso teu
para “chegar” perto de você.

Quando nos trancamos na tristeza…
nem nós mesmos nos suportamos…
ficamos horríveis…
o mal humor vai comendo nosso fígado…
até a boca fica amarga.

Recomeçar…hoje é um bom dia para começar novos
desafios.

Onde você quer chegar? ir alto…sonhe alto… queira o
melhor do melhor… queira coisas boas para a vida… pensando assim
trazemos prá nós aquilo que desejamos… se pensamos pequeno…
coisas pequenas teremos…
já se desejarmos fortemente o melhor e principalmente
lutarmos pelo melhor…
o melhor vai se instalar na nossa vida.

E é hoje o dia da faxina mental…
joga fora tudo que te prende ao passado… ao mundinho
de coisas tristes…
fotos…peças de roupa, papel de bala…ingressos de
cinema, bilhetes de viagens… e toda aquela tranqueira que guardamos
quando nos julgamos apaixonados… jogue tudo fora… mas principalmente… esvazie seu coração… fique pronto para a vida… para um novo amor… Lembre-se somos apaixonáveis… somos sempre capazes de amar muitas e muitas vezes… afinal de contas… Nós somos o “Amor”…

” Porque sou do tamanho daquilo que vejo, e não do
tamanho da minha altura.”

Paulinho da Viola - Vai dizer ao vento