sexta-feira, 2 de junho de 2017

Opinião do dia – Roberto Freire

Todas essas boas notícias, sobretudo envolvendo a economia brasileira, devem ser ressaltadas e comemoradas por aqueles que têm compromisso com o Brasil e esperança de que derrotaremos a recessão. Muito pior seria se, além da grave crise política, não tivéssemos nenhum sinal de recuperação no horizonte e o país estivesse completamente paralisado. Não é o caso. Neste momento conturbado, nossa maior preocupação deve ser a aprovação das reformas fundamentais em tramitação no Congresso Nacional e de uma agenda econômica que permita ao país se reerguer e construir um futuro mais digno para os seus cidadãos, com emprego, renda e desenvolvimento. Os bons ventos da transição nos ajudarão a atravessar a tempestade e superá-la antes mesmo de 2018.

-----------------------
Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS. “Os bons ventos na tempestade”, Diário do Poder, 1/5/2017

Banco suíço denuncia contas usadas pela JBS para Lula e Dilma

Banco do país europeu fechou conta antes da delação de Joesley, que disse ter repassado recursos para as campanhas de Lula e Dilma; PGR aguarda por informações

Jamil Chade | O Estado de S.Paulo

GENEBRA - Antes mesmo de vir à tona o conteúdo das delações de Joesley Batista na Operação Lava Jato, um banco suíço usado para movimentar recursos ilícitos para abastecer campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente cassada Dilma Rousseff, conforme relato do empresário, denunciou suas contas para autoridades do país europeu. O volume de dinheiro e os padrões de transferências sem justificativa levantaram a suspeita de crimes financeiros, embora a instituição desconheça os beneficiários das movimentações.

A Procuradoria-Geral da República espera que as informações coletadas pelas autoridades sejam agora transferidas ao Brasil. Na avaliação de autoridades suíças próximas ao caso, o Ministério Público Federal terá “forte chance” de apurar mais detalhes sobre as transferências. O banco Julius Baer fechou as contas na Suíça e o dinheiro foi transferido para Nova York, onde hoje vivem Joesley e sua família.

Operação da PF mira campanha de Haddad

Alvos foram gráficas que prestaram serviço ao petista; Justiça negou condução coercitiva do ex-prefeito

Thiago Herdy | O Globo

-SÃO PAULO- A Polícia Federal cumpriu ontem nove mandados de busca e apreensão em nove endereços ligados a gráficas suspeitas de receber recursos da UTC Engenharia em 2013, referentes a dívidas da campanha de Fernando Haddad (PT) no ano anterior. Pelo menos R$ 2,6 milhões teriam sido transferidos às empresas por meio de operações do doleiro Alberto Youssef. Os fatos foram relatados por três delatores da Lava-Jato há quase dois anos, mas só agora resultaram em ação efetiva da PF, na operação batizada de “Cifra Oculta”.

Embora a ação tenha sido focada na investigação das atividades das gráficas, o delegado regional de Combate ao Crime Organizado, Rodrigo de Campos Costa, disse que o ex-prefeito Fernando Haddad deverá ser chamado a prestar depoimento. O policial chegou a pedir à Justiça que o petista fosse conduzido coercitivamente para responder a perguntas, mas a solicitação foi negada.

— A investigação vai apurar a responsabilidade de cada ator envolvido na trama. Não se sabe se o dinheiro foi gasto nas gráficas ou teve alguma outra destinação — disse o delegado.

Petistas criticam operação no dia em que partido abre congresso

Para integrantes da sigla, MP acompanha calendário do PT

Fernanda Krakovics | O Globo

-BRASÍLIA- Integrantes do PT criticaram a realização de uma operação da Polícia Federal contra o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad no dia em que o partido iniciava seu 6º Congresso, em Brasília.

— Em todo evento importante do PT tem que ter uma operação. Isso já está manjado — disse o ex-prefeito de São Bernardo do Campo (SP) Luiz Marinho.

Lula chama Joesley de 'canalha' e diz que PT precisa discursar para fora

Marina Dias, Catia Seabra, Angela Boldrini | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, réu em cinco ações penais, chamou de "canalha" o empresário Joesley Batista, da J&F, que, em delação premiada, disse que pagou propina no valor de US$ 150 milhões para Lula e Dilma Rousseff por meio de contas no exterior. A fala aconteceu na abertura do 6º Congresso Nacional do PT, em Brasília.

"Um canalha de um empresário diz que fez uma conta no exterior pra mim e pra Dilma, mas a conta está no nome dele e ele que mexe na grana [plateia ri]. Tá na hora de parar de palhaçada, que o país não aguenta mais viver nessa situação, nesse achincalhamento", completou o ex-presidente.

Ele repetiu ainda que "já provou" sua inocência e agora quer que "eles provem minha culpa". "Eu não quero que vocês se preocupem com o meu problema pessoal, esse eu quero decidir com o representante do Ministério Público da Lava Jato".

O ex-presidente também criticou o discurso do PT, geralmente focado na própria militância, e disse que o partido deve se reconectar à esquerda, radicalizando posições, se quiser voltar a governar o país a partir de 2018.

Lula avalia que Temer ganhou sobrevida

Petista diz a aliados que presidente tem reagido rápido e recompôs forças, apesar da crise política

Ricardo Galhardo, enviado especial, e Vera Rosa | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a cúpula do PT avaliaram que o presidente Michel Temer pode ganhar sobrevida política porque está sendo mais rápido na reação às denúncias contra ele do que o PT e outros partidos da oposição nos ataques.

Em conversa com deputados, senadores e dirigentes antes da abertura do 6.º Congresso Nacional do partido, Lula disse que o governo, mesmo em situação crítica, tem conseguido reaglutinar forças, enquanto o PT precisa de uma bandeira para reconquistar a confiança da sociedade. O evento petista começou nesta quinta-feira, 1, em Brasília.

A portas fechadas, Lula e seus correligionários também consideraram que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve suspender o julgamento da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, marcado para ser retomado no dia 6. “O único jeito de Temer cair é se o TSE cassar a chapa. Impeachment não cabe neste caso e ele (Temer) já disse que não renuncia”, afirmou o deputado Zé Geraldo (PT-PA).

Entrevista Torquato Jardim - Ação no TSE pode cair logo

Novo ministro da Justiça diz que a ação contra a chapa Dilma-Temer pode cair na fase inicial no TSE. E que investigação contra Temer é política, não jurídica.

‘Temer não foi acusado. Há uma suposição da oposição’

Novo ministro da Justiça afirma que investigação criminal contra o presidente é um problema político, mas não jurídico. E diz que ação eleitoral, marcada para ser julgada no dia 6, pode cair na fase inicial

Renata Mariz, Sergio Fadul e Francisco Leali | O Globo

-BRASÍLIA-

O senhor disse na posse que o presidente não fez um convite, mas deu uma missão. Há uma missão específica?

Não. Primeira tarefa é conhecer a extensão do ministério, que é um monstro. Você tem desde questão indígena até lista de tribunais superiores, secretarias antidrogas, do consumidor. Ele (o presidente) me recomendou que permanecesse o general (Carlos Alberto) Santos Cruz (atual secretário nacional de Segurança Pública). Foi a única recomendação de permanência que ele fez. Tenho sido muito perguntado sobre a Polícia Federal. E repito, já virou mantra: haverá uma avaliação dos meios operacionais, as demandas de orçamento. Tenho que ouvir do próprio delegado (Leandro) Daiello, que é muito experiente, que percepção ele tem da capacidade operacional do que está sendo investigado.

O senhor diria que a permanência do diretorgeral da PF é indispensável para não prejudicar a Lava-Jato?

Indispensável ninguém é em lugar nenhum do mundo. Então eu volto: tenho que conhecer os meios operacionais da Polícia Federal. O que conheço é da minha de vida de advogado que em uma única vez teve que tratar de processo criminal que implicava a Polícia Federal. Além do mais, o Brasil não é só Lava-Jato, há várias outras operações, eu tenho que conhecer qual a prioridade dessas várias outras operações dentro da capacidade operacional da Polícia Federal, do orçamento pertinente. É isso que vou estudar. Ouvindo o Daiello, que é o líder do grupo, é o diretor-geral.

Tasso diz que PSDB tomará decisão definitiva sobre rompimento com governo na semana que vem

Parlamentares tucanos podem assumir posição independente em votaçõs no Congresso

Maria Lima / Catarina Alencastro | O Globo

BRASÍLIA — Diante da pressão de deputados federais e estaduais — principalmente da ala jovem tucana — para um rompimento com o governo do presidente Michel Temer, o presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissatti (CE), disse nesta quinta-feira, pela primeira vez de forma assertiva, que semana que vem, independente do resultado do julgamento da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o partido vai se reunir e tomar uma decisão definitiva precisa ser resolvida. O Palácio do Planalto já contabiliza uma debandada parcial dos tucanos na próxima semana.

Porém, houve um recuo em relação ao dia 6 de junho, data do início do julgamento da ação de cassação da chapa no TSE, visto como o dia “D” para o PSDB decidir se rompe ou continua sustentando o governo, já que a saída de Temer pode demorar até quatro meses. O julgamento deve durar três dias. A única diretriz de sua presidência, diz Tasso, é que a decisão não rache o partido.

Chanceler tucano diz que PSDB 'sustentará o governo'

Isabel Fleck | Folha de S. Paulo

WASHINGTON - Em meio à pressão de parte do PSDB para que o partido desembarque do governo Temer, o chanceler brasileiro, Aloysio Nunes (PSDB-SP), reafirmou nesta quinta (1º), em Washington, que a sigla permanece e "sustentará o governo".

"O PSDB está no governo. O PSDB tem quatro ministros do governo. O PSDB é cioso de seus compromissos, e o compromisso que o presidente assumiu conosco ao nos convidar para integrar o governo foi o compromisso de apoiarmos as reformas em curso. Nós estamos no governo", disse o ministro, que veio aos EUA participar de uma reunião de chanceleres da OEA (Organização dos Estados Americanos).

Doria e Alckmin pregam cautela sobre rompimento

Por Fernando Taquari | Valor Econômico

SÃO PAULO - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito paulistano, João Doria, ambos tucanos e potenciais candidatos à Presidência em 2018, adotaram posturas diferentes em relação ao encontro partidário convocado para segunda-feira pelo diretório estadual do PSDB para discutir a permanência da sigla no governo Michel Temer.

Os dois participaram ontem da abertura do "Latin America Safe City Summit 2017", um evento sobre tecnologia. Eles elogiaram a iniciativa do PSDB paulista em consultar suas bases e pregaram cautela e responsabilidade aos correligionários a fim de evitar "atitudes precipitadas. Alckmin, no entanto, disse que não participará do ato e que uma eventual decisão cabe ao diretório nacional. Já Doria afirmou que irá e defenderá a permanência da sigla no governo pemedebista.

PIB tem 1ª alta desde 2014

Avanço é puxado pela agropecuária e não garante que país saiu da recessão

Governo comemora, mas analistas temem que recuperação ainda não seja consistente

Após oito trimestres de retração, a economia reagiu e cresceu 1% entre janeiro e março. O resultado foi puxado pela alta de 13,4% na agropecuária, graças às safras recordes de soja e milho. O setor respondeu por 70% do PIB. A indústria avançou 0,9%, mas investimentos e consumo das famílias continuam em queda. O presidente Temer comemorou: “Acabou a recessão!”, escreveu em rede social. Mas, para analistas, não é possível dizer ainda se o país saiu da recessão, já que o PIB no segundo trimestre deve crescer menos ou até cair, e a economia pode sofrer os impactos da crise política.

País sai do vermelho e PIB cresce 1%

Temer comemora. Mas, para analistas, resultado ainda é insuficiente para garantir que recessão acabou

Marcello Corrêa, Daiane Costa e Bruno Dutra | O Globo

-RIO E BRASÍLIA- A economia brasileira voltou a ficar no azul após dois anos de resultados negativos consecutivos. O IBGE informou ontem que o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) cresceu 1% no primeiro trimestre, na comparação com o quarto trimestre do ano passado. O resultado — sustentado basicamente pelo avanço recorde de 13,4% do setor agropecuário — foi comemorado pelo presidente Michel Temer, que foi às redes sociais para anunciar o fim da crise: “Acabou a recessão!”, disse no Twitter. Economistas, no entanto, são mais cautelosos e destacam que é cedo para decretar que o país encerrou o ciclo recessivo, principalmente considerando as incertezas causadas pelo aprofundamento da crise política, que podem dificultar a aprovação das reformas, atrasar o corte de juros e afetar a economia nos próximos meses.

PIB volta a crescer, mas crise política ameaça retomada

PIB cresce e governo diz que recessão acabou, mas analistas pregam cautela

O resultado veio das estimativas dos analistas, que previam expansão de 0,50% a 1,50%

Daniela Amorim, Fernanda Nunes e Vinicius Neder, O Estado de S.Paulo

RIO - O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 1,0% no primeiro trimestre deste ano em relação ao quarto trimestre de 2016 e interrompe um ciclo de oito quedas trimestrais consecutivas, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda segundo o instituto, o PIB do primeiro trimestre do ano totalizou R$ 1,594 trilhão.

A alta é a maior nessa base de comparação desde o segundo trimestre de 2013. Naquele trimestre, o PIB cresceu 2,3% em relação ao primeiro trimestre de 2013. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, porém, o PIB registrou queda pelo 12º trimestre seguido. Ainda assim, a queda de 0,4% em relação ao primeiro trimestre de 2016 foi a menor desde o quarto trimestre de 2014, quando o recuo foi de 0,3% em relação a igual período de 2013.

Após dois anos de queda, PIB volta a subir no 1º trimestre

PIB cresce 1% no 1º trimestre, puxado por agronegócio; indústria melhora

Nicola Pamplona, Mariana Carneiro, Érica Fraga | Folha de S. Paulo

RIO, SÃO PAULO - A economia brasileira registrou, no primeiro trimestre deste ano, o primeiro resultado positivo após dois anos seguidos no vermelho.

O IBGE divulgou nesta quinta (1º) que o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 1% no primeiro trimestre em relação ao quarto trimestre de 2016, já retirados os efeitos sazonais. É o primeiro número positivo desde o quarto trimestre de 2014, ou seja, após oito quedas seguidas.

Em relação ao primeiro trimestre de 2016, o PIB recuou 0,4%. No acumulado de quatro trimestres, a queda é de 2,3%.

O principal fator para o resultado positivo no primeiro trimestre foi o desempenho do setor agropecuário, que cresceu 13,4% no período, embalado por safras recordes de grãos.

Economia volta a crescer, mas retomada é incerta

Por Sergio Lamucci, Ligia Guimarães, Robson Sales e Alessandra Saraiva | Valor Econômico

SÃO PAULO E RIO - A economia brasileira cresceu 1% no primeiro trimestre, quando comparada aos três meses anteriores, registrando a primeira alta em dois anos. O avanço do PIB foi uma boa notícia, mas a abertura dos dados mostra um quadro menos animador. O bom desempenho foi liderado pela agropecuária, que teve um salto de 13,4%. "A agropecuária está na oferta, nos estoques e nas exportações", diz Fernando Montero, economista-chefe da Tullett Prebon.

Pelo lado da demanda, o setor externo também ajudou, com o aumento das exportações superando o das importações. Já a demanda interna desapontou mais uma vez, tendo em vista que muitas empresas e famílias ainda têm dívidas elevadas. A taxa de investimento da economia, medida pela Formação Bruta de Capital Fixo, isto é, a compra de máquinas e equipamentos e os gastos com construção, caiu 1,6% sobre o trimestre anterior, um desempenho bem pior que a média projetada, de -0,3% conforme analistas ouvidos pelo Valor Data. Foi o 13º resultado negativo em 14 trimestres. Já o consumo das famílias recuou 0,1% e o consumo do governo, 0,6%.

O economista Régis Bonelli, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da FGV, afirma que é prematuro concluir que a economia já tenha entrado em trajetória de expansão. "É muito cedo para dizer que a recessão acabou", disse ao Valor.

Há uma possibilidade considerável de que a recuperação esboçada no primeiro trimestre seja interrompida no segundo. Essa expectativa, compartilhada inclusive pelo Ministério da Fazenda, já existia há algumas semanas.

Agora, diante da crise política que ameaça o mandato do presidente Michel Temer, as empresas voltaram a segurar os investimentos, levando os analistas a acreditar que o PIB voltará ao vermelho entre abril e junho. "Em que pese ser bom", diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o resultado do PIB no primeiro trimestre "cheira a velho a esta altura".

Governo comemora resultado e avalia que país saiu da "pior recessão do século"

Por Cristiane Bonfanti | Valor Econômico

BRASÍLIA - Em meio à crise política que atingiu diretamente o presidente Michel Temer e colocou em risco a aprovação das reformas, a equipe econômica se mobilizou ontem, em um discurso alinhado, para comemorar o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre, que cresceu 1% na comparação com o último trimestre de 2016. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse não haver dúvidas de que a recessão acabou. Ele ponderou, porém, que há perspectiva de "acomodação" do crescimento no segundo trimestre.

"É muito raro na economia que todos os trimestres sejam iguais. É normal que sobe muito, depois sobe menos, depois volte a subir mais. Todos os crescimentos são nesse tipo de padrão em qualquer lugar do mundo", disse Meirelles. "É uma perspectiva de acomodação, não de volta da recessão, ninguém está falando isso", disse o ministro, ao ser questionado sobre a possibilidade de o segundo trimestre não trazer um resultado tão positivo.

Temer festeja resultado; PSDB relativiza

Por Bruno Peres, Marcelo Ribeiro e Andrea Jubé | Valor Econômico

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer afirmou ontem que "o Brasil venceu a recessão". A quatro dias do início do julgamento no Tribunal Superior Eleitoral, que pode cassar o seu mandato, Temer aproveitou o crescimento de 1% do PIB no primeiro trimestre do ano para enfatizar realizações positivas de sua gestão. A aposta é de que o novo fôlego econômico influencie o cenário político para que ele se sustente no cargo. Contudo, lideranças do PSDB, partido que desponta como o fiel da balança na crise, descartam essa hipótese.

"Há pouco mais de um ano, quando assumi a Presidência, o Brasil estava mergulhado na mais profunda recessão da sua história. O número de hoje marca o renascimento da economia, em bases sólidas e sustentáveis", disse Temer ontem, em vídeo gravado para as redes sociais.

A deriva do governo | Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Muita gente associa deriva a desgoverno, mas são coisas muito diferentes. Desgoverno é ficar à matroca, ou seja, ao sabor das ondas. Deriva, não; é manter a proa numa determinada direção e ser arrastado pela corrente para outra direção. Quanto maior a distância percorrida, mais distante fica o destino original, embora se tenha a impressão de que o rumo não foi alterado. Essa é a situação do governo Temer. Para se blindar contra a Operação Lava-Jato, começa a ser arrastado para longe do ajuste fiscal e das reformas.

Diante dos sinais de que os partidos aliados podem vir a desembarcar do governo, Temer começa a realinhar a sua base no Congresso, reforçando a centralidade do PMDB e as alianças mais conservadoras, uma vez que o PSDB, principalmente na Câmara, emite sinais de que pode deixar o governo se não houver o julgamento das contas de campanha da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

As ilusões perigosas | *Fernando Gabeira

- O Estado de S.Paulo

Boa parte dos políticos está muito próxima de um diagnóstico de internação compulsória

Foz do Iguaçu, Cascavel, Maringá, Londrina. Tenho discutido a crise brasileira em algumas cidades, a propósito do lançamento de um livro. Nessas conversas, a primeira parte é sempre mais fácil. Trata de uma análise dos fatos e erros que nos jogaram nesta crise e secaram as esperanças inspiradas pelo movimento das Diretas-Já. A segunda parte, que trata de uma saída para a crise, é bem mais nebulosa. Repito a imagem de uma navegação na neblina, com todos os perigos que ela implica, inclusive o risco de o barco encalhar.

A Constituição é uma bússola, mas segui-la apenas não supera todos os obstáculos do caminho. Não há nada na Constituição, por exemplo, que impeça a escolha de um idiota para o cargo de presidente. Da mesma maneira, a Constituição não nos protege das tentativas do governo de controlar e bloquear as investigações da Polícia Federal (PF). Falta nela um dispositivo que garanta a autonomia da PF, para protegê-la desses ataques.

Pós-verdade, factoides e eleições | *Murillo de Aragão

- O Estado de S.Paulo

Urgem medidas para reduzir o efeito negativo das notícias falsas no pleito de 2018

A disseminação de notícias falsas com fins políticos não é um fenômeno novo. A antiga “imprensa marrom” já tratava de denegrir a imagem de uns e outros em jornais e revistas. O poder de denegrir ou incensar imagens sempre foi valorizado, daí sempre ter existido uma associação íntima entre poder constituído e imprensa.

Não à toa, no Brasil muitos donos de veículos de comunicação viraram políticos e muitos políticos viraram donos de veículos de comunicação. Era o poder da mídia alavancando candidaturas e/ou a serviço da verdade personalizada de seu político-dono.

Assim, ao abordar o tema nos dias de hoje, devemos olhar o passado e ver o que ele tem a nos ensinar. E considerar que o problema agora é mais sério porque mais intenso, uma vez que a internet e as redes sociais expandiram o horizonte de circulação das informações a níveis impensáveis décadas atrás.

A luta pelo foro | Merval Pereira

- O Globo

O debate sobre o foro privilegiado avança apesar de tudo, e a maioria do plenário do Supremo Tribunal Federal parece que vai apoiar a tese do ministro Luís Roberto Barroso, que restringe a proteção por prerrogativa de função aos casos inerentes ao mandato. A questão agora é saber se o ministro Alexandre de Moraes, que pediu vista depois de praticamente antecipar seu voto contrário ao relator, vai “sentar em cima” do processo ou se, como prometeu, o liberará rapidamente para o fim do julgamento.

Um pedido de vista num processo que envolve matéria probatória é razoável. Mas quando um constitucionalista renomado como Alexandre de Moraes julga um tema tão conhecido como o juízo por prerrogativa de função, é inusitado.

Já são quatro votos a favor da tese central de Barroso, e provavelmente os ministros Edson Fachin e Celso de Mello se aliarão a ela. O ministro Luiz Fux, quando participou do debate lateral em torno da eficiência ou não do Supremo no julgamento de casos criminais de políticos com foro privilegiado, ressaltou que esse não era o cerne da questão, dando a entender que a redução da amplitude do foro é que estava em julgamento.

Perdas e ganho | Míriam Leitão

- O Globo

Foram seis anos perdidos, os do governo Dilma e o começo do período Temer. O PIB, ao voltar ao positivo, no dado divulgado ontem, está com o tamanho que tinha ao fim de 2010, quando Lula deixou o governo. Tecnicamente, é o fim da recessão, o número é bom, como se esperava, mas a alta de 1% no primeiro trimestre não elimina o ambiente recessivo.

Há várias contas que iluminam essa aparente contradição. Sem a agricultura, o país teria crescido apenas 0,3% no primeiro trimestre em comparação com o trimestre anterior, segundo cálculos da economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria. Na comparação interanual, do primeiro trimestre de 2017 com o de 2016, que é a melhor conta a fazer, o país permanece com queda do crescimento em 0,4%. Mas se os outros setores não tivessem puxado para baixo e fosse apenas a agricultura, teria acontecido uma alta de 0,8%, calcula a pesquisadora Rebeca Palis, do IBGE.

Os ex-leões vão rugir | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S.Paulo

Palocci e Mantega inovaram: operavam para Lula, Dilma e o PT dentro da Fazenda

Além do tucano Aécio Neves e de Rocha Loures, assessor de Temer, as duas bolas da vez são Antonio Palocci e Guido Mantega, que agregam grande dose de suspeição sobre os governos do PT. Não bastassem os ex-presidentes da República enrolados e os ex-presidentes e ex-tesoureiros do partido condenados e presos, agora são os ex-ministros da Fazenda (da Fazenda!) que têm muito o que explicar – e contar.

Pela delação de Marcelo Odebrecht, Palocci era o único com poderes para definir quando, de quanto e para quem eram os saques na conta “Amigo” que a empreiteira mantinha para Lula. Pela de Joesley Batista, Mantega era o administrador das contas de US$ 150 milhões da JBS para Lula e Dilma Rousseff no exterior. Eram US$ 70 milhões para ele e US$ 80 milhões para ela, ou o contrário? Joesley não lembra. Afinal, o que são “só” US$ 10 milhões?

‘Ê, ô, ô, vida de gado...’ | Reinaldo Azevedo

- Folha de S. Paulo

Que se investigue, mas para punir os culpados, não para lhes garantir impunidade, enquanto o país vai à breca

Nunca houve nem haverá criminosos como os irmãos Joesley e Wesley Batista, os controladores da J&F. Escrevi em meu blog que eles não se fizeram poderosos vendendo boi, frango ou porco. Sua principal mercadoria é gente! Eles se tornaram multibilionários traficando a carne barata dos brasileiros "pobres de tão pretos e pretos de tão pobres", como já cantaram Gilberto Gil e Caetano Veloso, que agora virou animador de comícios golpistas.

O Ministério Público tentou bater bumbo para a maior delação da história, acostumada que está a fazer salivar o rancor dos broncos: R$ 8 bilhões em grana e R$ 2,3 bilhões em projetos sociais. Tudo isso ao longo de 25 anos. Ficou emocionado? Que bom!

A salvação da lavoura | César Felício

- Valor Econômico

Não está na economia a chave para Temer ficar no poder

O presidente Michel Temer recebeu ontem a "boa notícia" que tanto ansiava. No fio da navalha há mais de duas semanas, o presidente acena com a economia como antídoto para a falta de opções que dispõe no plano político. Guardadas as proporções devidas, Temer tenta justificar sua permanência para que não se interrompa um suposto processo de recuperação econômica, na mesma linha do "espetáculo do crescimento" que ajudou a segurar Luiz Inácio Lula da Silva no cargo no segundo semestre de 2005 e na eleição presidencial do ano seguinte.

A recuperação do PIB, a inflação em baixa, a entrada de investimentos, a perspectiva de retomada da geração de empregos, tudo isso foi um fator na década passada para que a crise do mensalão não derivasse na perda do poder pelo PT. A crise de 12 anos atrás começou com uma denúncia de compra de votos no Legislativo, mas mudou de escala quando o marqueteiro Duda Mendonça disse que recebeu pela campanha presidencial de 2002 em uma conta no exterior. Era base para questionar não só a permanência de Lula no poder mas também a sua sucessão pelo vice José Alencar, eleito na mesma chapa.

A sina de pobres sobrantes | José de Souza Martins

- Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Um dos grandes problemas da sociedade contemporânea é o das populações sobrantes, as que não conseguem emprego permanente ou que não têm acesso aos direitos sociais supostamente garantidos a todos, as que não têm acesso aos benefícios da Previdência Social ou não o terão senão tardiamente, as que não têm onde morar, não têm terra para plantar, não têm acesso à assistência médica e hospitalar que lhes garanta a duração da vida no que a vida deve durar. As que morrem de doenças paras as quais há remédio e cura. Gente cujos carecimentos são descabidos.

Temos, também, os descabimentos: em cidades como São Paulo, em que há tanta gente que passa fome, cujo lixo, porém, contém desperdícios alimentares suficientes para alimentar outra cidade do mesmo tamanho. Cidades em que animais de estimação já têm assistência médica que gente ainda não tem.

Reformas com Temer? | Rogério Furquim Werneck

- O Globo

Ele vem deixando a cada dia mais claro que, por mais fragilizado que possa estar, não tem nenhuma intenção de se afastar

Justo quando, afinal, se detectavam sinais de otimismo sobre a possibilidade de uma travessia exitosa até as eleições de 2018, a pinguela desabou.

Tendo desempenhado papel decisivo na reeleição de Dilma Rousseff — após se abarrotarem de dinheiro público extraído do pervertido capitalismo de compadrio dos governos petistas —, os irmãos Batista deram outra demonstração de força, ao arruinar de vez o mandato do seu sucessor.

Não há como ter ilusões sobre a fragilização do presidente Temer. A percepção de que os danos, além de graves, são irreversíveis impôs ao país colossal choque de incerteza. A apertada corrida contra o tempo com que já se defrontava a agenda de reformas tornou-se bem mais difícil.

PIB foi bom, enquanto durou | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

A repulsa a Michel Temer e hipocrisias fizeram muito comentarista econômico bater no resultado do PIB do primeiro trimestre, que foi bastante bom enquanto durou, no entanto. Dada a imundície política, não sabemos mais o que virá.

Alguns outros, como se tivessem desembarcado ontem no Brasil, vindos de Andrômeda ou do Planeta Mongo, diziam que é "preciso cautela", ou outro clichê, pois a economia cresceu "apenas" com o impulso de agricultura e exportações (e estoques, aliás).

Poderia ter crescido com base no impulso da venda de pão de queijo para a Mongólia ou da construção de pirâmides, tanto faz. Certamente o impulso não viria agora de consumo privado, gasto do governo ou investimento privado. Era óbvio.

O PIB reage, mas não passa firmeza | Celso Ming

- O Estado de S.Paulo

O presidente Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, festejaram nesta quinta-feira o que chamaram de “fim da recessão”. Mas estão comemorando vitória antes do fim do jogo. (Sobre os conceitos técnicos de recessão.

O primeiro avanço trimestral do Produto Interno Bruto (PIB) em dois anos, aconteceu no primeiro trimestre de 2017. Foi de nada menos de 1,0% sobre o quarto trimestre do ano passado, em média mais do que o esperado pelos analistas. É, sim, excelente notícia, mas ainda não dá a taça para o capitão do time. E há pelo menos duas razões para pedir mais prudência nessa louvação.

A primeira delas é a alta concentração desse avanço em poucos setores da economia. O PIB cresceu até agora graças à força do agro (13,4%), pelo lado da oferta; e das exportações, pelo lado da demanda (4,8%). Não dá para dizer que o avanço da indústria (0,9%) foi uma ajuda relevante para garantir sustentação do PIB, porque a base de comparação é relativamente baixa e porque não há ainda tração no consumo das famílias (- 0,1%). Se o consumo está fraco, a criação de renda, que é a própria definição do PIB, também está fraca. Ou seja, o crescimento ainda é desigual, é saúde apenas das pernas e não dos pulmões e do resto.

Da recessão à estagnação | Claudia Safatle

- Valor Econômico

Queda do ritmo de corte dos juros não ajuda a retomada

A crise que abalou o governo de Michel Temer desde a divulgação da delação premiada dos irmãos Batista, da JBS, começou a cobrar seu preço. A primeira fatura ocorreu na taxa de juros. O Comitê de Política Monetária (Copom) não só reduziu o corte previsto da Selic de 1,25 ponto percentual para 1 pp, mas indicou que poderá diminuir o ritmo para 0,75 pp na próxima reunião, nos dias 25 e 26 de julho, e rever o orçamento de redução dos juros inicialmente imaginado. O governo não gostou.

O resultado do PIB do primeiro trimestre divulgado ontem pelo IBGE - crescimento de 1% sobre o último trimestre de 2016 - também não enseja comemorações. Foi o primeiro trimestre de performance positiva após oito períodos de retração da atividade econômica, que contou com a relevante e decisiva ajuda da agricultura (responsável por 0,9% do PIB). Os dados do segundo trimestre, porém, não confirmam que o país está retomando o crescimento. Indústria e serviços parecem estagnados. E isso precede os estragos da delação de Joesley e Wesley Batista, feita há duas semanas.

A recuperação ameaçada – Editorial | O Estado de S. Paulo

O Brasil pode ter saído da recessão no primeiro trimestre, puxado pelo excelente desempenho da agropecuária e pela incipiente reanimação da indústria, mas isso foi antes do recrudescimento da crise política. A recuperação pode ter continuado no trimestre seguinte, mas neste momento é inútil consultar as bolas de cristal sobre o futuro próximo: estão embaçadas como nunca estiveram nos últimos 12 meses. A diferença entre o antes e o depois da visita do empresário Joesley Batista ao presidente Michel Temer foi dramaticamente realçada num intervalo de menos de 24 horas. Na manhã de ontem apareceu a boa notícia sobre a economia pré-crise. O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre foi 1% maior que o dos três meses finais de 2016. Foi o primeiro resultado positivo, depois de oito trimestres de recuo. Na quarta-feira, ao anoitecer, o Banco Central (BC) havia divulgado a redução dos juros básicos de 11,25% para 10,25%. A palavra incerteza foi usada cinco vezes no comunicado. Polidamente, o redator da nota deixou de explicitar a relação entre a nova insegurança e o assédio ao presidente. Nem precisaria ser mais explícito.

PIB e juros pressionam pelas reformas – Editorial | O Globo

Congresso tem de voltar a esta agenda, para que o crescimento ganhe sustentação e o Banco Central possa fazer cortes mais amplos das taxas

É mesmo para ser comemorado o resultado positivo do PIB, obtido no trimestre inicial deste ano, o primeiro neste tipo de comparação desde 2014. O 1% de expansão de janeiro a março, sobre o trimestre anterior, o último de 2016, é relevante porque pode representar uma inflexão na enorme recessão de aproximadamente 8%, em dois anos, com um saldo, até agora, de 14 milhões de desempregados, e uma esteira de dramas pessoais.

O presidente Michel Temer exaltou o fim da recessão. As circunstâncias, porém, não estimulam excesso de otimismo. Há questões objetivas que aconselham pés no chão. Uma delas é que este bom resultado trimestral se deve, em grande medida, à excelente safra, responsável por elevar o PIB da agropecuária em 13,4%. Ótima notícia, mas que não se repetirá até o final do ano, por viver o setor de ciclos.

Crescimento frágil | Editorial | Folha de S. Paulo

Se já eram cautelosos os prognósticos para a retomada do crescimento da economia, a crise política agora suscita incertezas que tão cedo não serão dirimidas.

Reforça-se, assim, o temor de que o resultado positivo do Produto Interno Bruto —indicador da produção e da renda total do país— no primeiro trimestre seja pouco mais que um alívio efêmero.

Há razões para tanto. Embora significativa para um período tão curto, a expansão de 1% do PIB, que interrompeu uma sequência de dois anos de encolhimento, ancorou-se sobretudo na safra recorde de grãos –o setor agropecuário avançou extraordinários 13,4% sobre o trimestre anterior.

PIB cresce, mas crise retira sua capacidade prospectiva – Editorial | Valor Econômico

A promessa de futuro trazida pelo crescimento de 1% do Produto Interno Bruto no primeiro trimestre se transformou rapidamente em passado com as incertezas criadas pelo agravamento da crise política. O resultado, o primeiro positivo em oito trimestres, era amplamente esperado pelo salto da agricultura (13,4%), que superou as melhores expectativas. Mas nada está assegurado daqui para frente, apesar do suspiro oficial de alívio do governo. Os números divulgados pelo IBGE não melhoraram as perspectivas de crescimento para o ano - com base neles, houve até várias revisões para baixo. À previsão de uma recuperação lenta e modesta foi acrescentado agora um viés de baixa.

Rachmaninoff - Rhapsody on A Theme of Paganini

Pedro Ivo | Castro Alves

Sonhava nesta geração bastarda
Glórias e liberdade!
....................................................
Era um leão sangrento, que rugia,
Da glória nos clarins se embriagava,
E vossa gente pálida recuava,
Quando ele aparecia.

Álvares de Azevedo

I

Rebramaram os ventos... Da negra tormenta
Nos montes de nuvens galopa o corcel...
Relincha — troveja... galgando no espaço
Mil raios desperta co'as patas revel.

É noite de horrores... nas grunas celestes,
Nas naves etéreas o vento gemeu...
E os astros fugiram, qual bando de garças
Das águas revoltas do lago do céu.

E a terra é medonha... As árvores nuas
Espectros semelham fincados de pé,
Com os braços de múmias, que os ventos retorcem,
Tremendo a esse grito, que estranho lhes é.

Desperta o infinito... Co'a boca entreaberta
Respira a borrasca do largo pulmão.
Ao longe o oceano sacode as espáduas
— Encélado novo calcado no chão.

É noite de horrores... Por ínvio caminho
Um vulto sombrio sozinho passou,
Co'a noite no peito, co'a noite no busto
Subiu pelo monte, — nas cimas parou.

Cabelos esparsos ao sopro dos ventos,
Olhar desvairado, sinistro, fatal,
Diríeis estátua roçando nas nuvens,
P'ra qual a montanha se fez pedestal.

Rugia a procela — nem ele escutava!...
Mil raios choviam — nem ele os fitou!
Com a destra apontando bem longe a cidade,
Após largo tempo sombrio falou!...

II

Dorme, cidade maldita,
Teu sono de escravidão!...
Dorme, vestal da pureza,
Sobre os coxins do Sultão!...
Dorme, filha da Geórgia,
Prostituta em negra órgia
Sê hoje Lucrécia Bórgia
Da desonra no balcão!...

Dormir?!... Não! Que a infame grita
Lá se alevanta fatal...
Corre o champagne e a desonra
Na orgia descomunal...
Na fronte já tens um laço...
Cadeias de ouro no braço,
De pérolas um baraço,
— Adornos da saturnal!

Louca!... Nem sabes que as luzes,
Que acendeu p'ra as saturnais,
São do enterro de seus brios
Tristes círios funerais...
Que o seu grito de alegria
É o estertor da agonia,
A que responde a ironia
Do riso de Satanás!...

Morreste... E ao teu saimento
Dobra a procela no céu.
E os astros — olhar dos mortos —
A mão da noite escondeu.
Vê!... Do raio mostra a lampa
Mão de espectro, que destampa
Com dedos de ossos a campa,
Onde a glória adormeceu.

E erguem-se as lápides frias,
Saltam bradando os heróis:
"Quem ousa da eternidade
Roubar-nos o sono a nós?"
Responde o espectro: "A desgraça!
Que a realeza, que passa,
Com o sangue de vossa raça,
Cospe lodo sobre vós!..."

Fugi, fantasmas augustos!
Caveiras que coram mais
Do que essas faces vermelhas
Dos infames pariás!...
Fugi do solo maldito...
Embuçai-vos no infinito!
E eu por detrás do granito
Dos montes ocidentais...

Eu também fujo... Eu fugindo!...
Mentira desses vilões!...
Não foge a nuvem trevosa
Quando em asas de tufões,
Sobe dos céus à esplanada,
Para tomar emprestada
De raios uma outra espada,
À luz das constelações!...

Como o tigre na caverna
Afia as garras no chão,
Como em Elba amola a espada
Nas pedras — Napoleão,
Tal eu — vaga encapelada,
Recuo de uma passada,
P'ra levar de derribada
Rochedos, reis, multidões... !

III

"Pernambuco! Um dia eu vi-te
Dormido imenso ao luar,
Com os olhos quase cerrados,
Com os lábios — quase a falar
Do braço o clarim suspenso,
— O punho no sabre extenso
De pedra — recife imenso,
Que rasga o peito do mar...

E eu disse: Silêncio, ventos!
Cala a boca, furacão!
No sonho daquele sono
Perpassa a Revolução!
Este olhar que não se move
"Stá fito em — Oitenta e Nove —
Lê Homero — escuta Jove...
— Robespierre — Dantão.

Naquele crânio entra em ondas
O verbo de Mirabeau...
Pernambuco sonha a escada
Que também sonhou Jacó;
Cisma a República alçada,
E pega os copos da espada,
Enquanto em su'alma brada:
"Somos irmãos, Vergniaud."

Então repeti ao povo:
— Desperta do sono teu!
Sansão — derroca as colunas!
Quebra os ferros — Prometeu!
Vesúvio curvo — não pares,
lgnea coma solta aos ares,
Em lavas inunda os mares,
Mergulha o gládio no céu.

República!... Vôo ousado
Do homem feito condor!
Raio de aurora inda oculta
Que beija a fronte ao Tabor!
Deus! Por qu'enquanto que o monte
Bebe a luz desse horizonte,
Deixas vagar tanta fronte,
No vale envolto em negror?!...

Inda me lembro... Era, há pouco,
A luta! Horror!... Confusão!...
A morte voa rugindo
Da garganta do canhão!...
O bravo a fileira cerra!...
Em sangue ensopa-se a terra!...
E o fumo — o corvo da guerra —
Com as asas cobre a amplidão...

Cheguei!... Como nuvens tontas,
Ao bater no monte — além,
Topam, rasgam-se, recuam...
Tais a meus pés vi também
Hostes mil na luta inglória...
...Da pirâmide da glória
São degraus... Marcha a vitória,
Porque este braço a sustém.

Foi uma luta de bravos,
Como a luta do jaguar,
De sangue enrubesce a terra,
— De fogo enrubesce o ar!...
... Oh!... mas quem faz que eu não vença?
— O acaso... — avalanche imensa,
Da mão do Eterno suspensa,
Que a idéia esmaga ao tombar!...

Não importa! A liberdade
É como a hidra, o Anteu.
Se no chão rola sem forças,
Mais forte do chão se ergueu...
São os seus ossos sangrentos
Gládios terríveis, sedentos...
E da cinza solta aos ventos
Mais um Graco apareceu!...

Dorme, cidade maldita!
Teu sono de escravidão!
Porém no vasto sacrário
Do templo do coração,
Ateia o lume das lampas,
Talvez que um dia dos pampas
Eu surgindo quebre as campas
Onde te colam no chão.

Adeus! Vou por ti maldito
Vagar nos ermos pauis.
Tu ficas morta, na sombra,
Sem vida, sem fé, sem luz!...
Mas quando o povo acordado
Te erguer do tredo valado,
Virá livre, grande, ousado,
De pranto banhar-me a cruz!... "

IV

Assim falara o vulto errante e negro,
Como a estátua sombria do revés,
Uiva o tufão nas dobras de seu manto,
Como um cão do senhor ulula aos pés...

Inda um momento esteve solitário
Da tempestade semelhante ao deus,
Trocando frases com os trovões no espaço
Raios com os astros nos sombrios céus...

Depois sumiu-se dentre as brumas densas
Da negra noite — de su'alma irmã...
E longe... longe... no horizonte imenso
Ressonava a cidade cortesã!...

Vai!... Do sertão esperam-te as Termópilas
A liberdade ainda pulula ali...
Lá não vão vermes perseguir as águias,
Não vão escravos perseguir a ti!

Vai!... Que o teu manto de mil balas roto
É uma bandeira, que não tem rival.
— Desse suor é que Deus faz os astros...
Tens uma espada, que não foi punhal.

Vai, tu que vestes do bandido as roupas,
Mas não te cobres de uma vil libré
Se te renega teu país ingrato
O mundo, a glória tua pátria é!...

E foi-se... E inda hoje nas horas errantes,
Que os cedros farfalham, que ruge o tufão,
E os lábios da noite murmuram nas selvas
E a onça vagueia no vasto sertão.

Se passa o tropeiro nas ermas devesas,
Caminha medroso, figura-lhe ouvir
O infrene galope d'Espectra soberbo,
Com um grito de glória na boca a rugir.

Que importa se o túm'lo ninguém lhe conhece?
Nem tem epitáfio, nem leito, nem cruz?...
Seu túmulo é o peito do vasto universo,
Do espaço — por cúpula — as conchas azuis! ...

... Mas contam que um dia rolara o oceano
Seu corpo na praia, que a vida lhe deu...
Enquanto que a glória rolava sua alma
Nas margens da história, na areia do céu!...