terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Opinião do dia - Montesquieu

Não é indiferente que o povo seja esclarecido. Os preconceitos dos magistrados começaram por ser os da nação. Numa época de ignorância, não temos nenhuma dúvida, mesmo quando se cometem os piores males; numa época de luzes, trememos ainda quando são perpetrados os maiores bens. Sentimos os antigos abusos, vemos a sua correção, porém vemos também os abusos da própria correção. Deixamos o mal, se tememos o pior; deixamos o bem, se duvidamos do melhor. Só olhamos as partes para julgar o todo reunido; examinamos todas as causas para ver todos os resultados.

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Montesquieu (1689-1755). ‘O Espírito das leis’ (1748), prefácio, p. 28. Editora Nova Cultura, 2005

Temer cede a pressão e indica Moraes para vaga no Supremo

• Senadores decidirão se ministro da Justiça, filiado ao PSDB, ocupara posto de Teori; oposição critica

Temer anuncia indicação de Alexandre de Moraes ao STF

Gustavo Uribe – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O porta-voz da Presidência da República, Alexandre Parola, anunciou oficialmente nesta segunda (6) a indicação do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, ao STF (Supremo Tribunal Federal).

O presidente Temer decidiu indicá-lo à vaga que era ocupada por Teori Zavascki, morto em um acidente aéreo no dia 19.

A escolha de Moraes ganhou força no fim de semana, superando o favorito até então, o presidente do TST (Tribunal Superior do Trabalho), Ives Gandra Filho.

"As sólidas credenciais acadêmicas e profissionais do Doutor Alexandre de Moraes o qualificam para as elevadas responsabilidades do cargo de Ministro da Suprema Corte do Brasil", diz a nota oficial da Presidência da República.

Indicação de Moraes para o STF terá apoio do Senado

• Ministro da Justiça foi escolhido por Temer com aval de PMDB e PSDB

Constitucionalista já trabalha pela aprovação de seu nome na sabatina e vai se licenciar do ministério por 30 dias

O Planalto espera uma aprovação rápida e tranquila do Senado à indicação do atual ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, de 48 anos, para o Supremo Tribunal Federal na vaga de Teori Zavascki, morto num acidente de avião. O constitucionalista Moraes tem o apoio do PSDB, partido ao qual é filiado, e da maioria do PMDB, incluindo o ex-presidente do Senado Renan Calheiros. Se a indicação for aprovada, será o revisor dos processos da Lava-Jato. Juristas não se surpreenderam com a escolha.

Temer indica Moraes para STF

• Planalto espera aprovação rápida do atual ministro da Justiça para a vaga de Teori; Senado sinaliza apoio

Cristiane Jungblut, Catarina Alencastro, Eduado Barretto e Simone Iglesias | O Globo

-BRASÍLIA- Com apoio do PSDB e da maioria do PMDB, incluindo o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (AL), o presidente Michel Temer indicou Alexandre de Moraes, atual ministro da Justiça, para o Supremo Tribunal Federal (STF), na vaga deixada pela morte de Teori Zavascki. A opção por Moraes, que é filiado ao PSDB e amigo de Temer, foi considerada no Planalto uma “escolha do coração”, mas que terá aprovação rápida e tranquila no Senado, onde os indicados ao STF são sabatinados.

Temer indica para o STF aliado que deverá revisar a Lava Jato

Ministro Alexandre de Moraes agrada à base aliada do governo, preocupada com a investigação; Senado deve votar seu nome neste mês

O presidente Michel Temer indicou o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, para a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) do ministro Teori Zavascki, morto dia 19 num acidente. A informação foi antecipada pela colunista Vera Magalhães no portal estadão.com.br. Ao optar por uma nomeação política – Moraes se filiou ao PSDB em 2015 e já foi do PMDB –, Temer agrada à base aliada, preocupada com as consequências da Operação Lava Jato. Moraes é amigo do presidente há mais de 20 anos. Nos últimos dias, Temer fez várias consultas para medir a receptividade do ministro nos meios político e jurídico. Apesar da rejeição nas redes sociais, ele foi aprovado pela maioria das pessoas com quem Temer conversou. Ontem, a presidente do STF, Cármen Lúcia, também foi consultada. A votação do nome do ministro no Senado deve ocorrer em três semanas. Se aprovado, ele será revisor de processos da Lava Jato no plenário do STF. Ainda não foi anunciado quem o substituirá na Justiça.

Em opção política, Temer indica Moraes para o STF

• Supremo. Nome escolhido para ocupar a vaga de Teori Zavascki agrada à base aliada no Congresso; caso confirmado, ministro será revisor da Lava Jato no plenário da Corte

Tânia Monteiro Carla Araújo | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer indicou ontem o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, para a vaga do Supremo Tribunal Federal aberta com a morte do ministro Teori Zavascki. Ao escolher o aliado – de quem é amigo há mais de 20 anos –, Temer optou por uma nomeação política que agrada a sua base no Congresso, preocupada com as consequências da Operação Lava Jato. Atualmente filiado ao PSDB, Moraes tem passagens pelo PMDB e o DEM.

Estratégia inusual - Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

• Uma articulação discreta garantiu a Alexandre de Moraes a indicação à vaga de Teori Zavascki no STF

Uma estratégia inusual à sua personalidade garantiu a Alexandre de Moraes a indicação à vaga de Teori Zavascki no Supremo Tribunal Federal (STF): ele articulou com discrição.

Durou pouco, é verdade. Nesta segunda-feira, 6, Moraes rompeu o silêncio que mantinha nas últimas semanas – se abstendo de polêmicas e esperando os adversários ao cargo se queimarem um a um – e foi flagrado por um fotógrafo enviando mensagem à mulher pelo celular confirmando a indicação.

Juristas não se surpreendem com escolha de ministro tucano

• Associação de juízes comemora escolha e elogia ‘saber jurídico’

Sérgio Roxo | O Globo

SÃO PAULO- Mesmo que Alexandre de Moraes se transfira de uma posição política, a de ministro da Justiça, com filiação ao PSDB, diretamente para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), juristas ouvidos pelo GLOBO classificaram como natural a indicação de Michel Temer para ocupar a vaga de Teori Zavascki.

O presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Roberto Veloso, elogiou a escolha. A Ajufe havia indicado três outros nomes: o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato; o desembargador federal Fausto de Sanctis; e o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Reynaldo Soares da Fonseca. Mas, segundo Veloso, Alexandre de Moraes reúne todos os atributos necessários para integrar o STF.

— Ele (Temer) usou a prerrogativa que a Constituição lhe dá de indicar cidadãos brasileiros maiores de 35 anos com notável saber jurídico e reputação ilibada. O ministro Alexandre de Moraes é detentor dessas qualidades. Ele tinha uma perfeita interlocução conosco, da Ajufe, sempre nos recebia — afirmou Veloso.

Íntimo do mundo político, advogado é a antítese do perfil 'sóbrio' de Teori

Por Murillo Camarotto | Valor Econômico

BRASÍLIA - A escolha de Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal (STF) marca o desfecho de uma carreira recheada de relações políticas e busca por um cargo público de envergadura. Desde que seu nome passou a frequentar o noticiário, há 20 anos, o advogado paulistano aparece com frequência entre os cotados para a disputa de cargos eletivos importantes. Ironicamente, ocupará um posto que não depende das urnas.

Hoje com 49 anos, Moraes iniciou a carreira como promotor no Ministério Público de São Paulo, função na qual teve destaque durante um escândalo de corrupção envolvendo a compra de frango pela prefeitura da capital paulista, caso que ficou conhecido como "Frangogate". A partir dali, construiu uma trajetória dividida entre os mundos jurídico, acadêmico e, principalmente, político, quase sempre com posições que podem ser consideradas conservadoras.

Manifestantes tentam impedir fala de Moro em palestra em Nova York

Renata Cafardo – Folha de S. Paulo

NOVA YORK - Um grupo de manifestantes tentou impedir a fala do juiz Sergio Moro, responsável pela Lava Jato, em uma palestra em Nova York (EUA), nesta segunda-feira.

Moro foi o palestrante principal de um evento na Universidade de Columbia que discutiu a governança e o combate à corrupção no Brasil. Ele foi aplaudido de pé por cerca de metade da plateia quando entrou na sala. Mas, logo depois, manifestantes tentaram impedir que ele falasse, acusando-o de ser "tendencioso" em seus julgamentos.

Uma das mulheres do grupo se levantou e começou o protesto dizendo, em inglês, que o evento não iria acontecer. Em seguida, outras pessoas também começaram a se manifestar contra o juiz. Um grupo de brasileiros vestidos de verde e amarelo passou a gritar "fora" para os manifestantes.

"Sergio Moro, um juiz tão questionado, sendo legitimado aqui nessa universidade, é um insulto aos brasileiros", afirmou à Folha a ativista Toya Mileno, 27. A mineira e moradora de Nova York há oito anos foi quem começou o protesto contra Moro na sala do evento.

"As pessoas têm a liberdade de expressão, de pensamento, mas às vezes são mal informadas", disse o juiz para a imprensa sobre o protesto, no fim do evento. "Me parece que até pelo suporte da quase totalidade da população brasileira, as pessoas compreendem que está sendo feito um trabalho imparcial."

Janot pede ao STF inquérito sobre Renan, Sarney e Jucá

• Eles são acusados de tentar obstruir investigações da Operação Lava-Jato

Jailton de Carvalho | O Globo

 -BRASÍLIA- O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) abertura de inquérito para investigar os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Romero Jucá (PMDB-RR), o ex-presidente da República José Sarney (PMDB) e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Eles são acusados de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava-Jato. Em um dos depoimentos da delação premiada, Machado disse que repassou mais de R$ 70 milhões em propinas desviadas da Transpetro para Renan, Sarney e Jucá.

As propinas seriam disfarçadas de doações eleitorais para os grupos políticos dos três líderes do PMDB. Ao todo, Machado disse que intermediou o pagamento de mais de R$ 100 milhões em propina para o PMDB ao longo do período em que esteve à frente da Transpetro, subsidiária da Petrobras, entre 2003 e 2014. O dinheiro seria desviado de contratos entre empresas privadas e a Transpetro, a mesma estrutura de corrupção detectada na Petrobras.

Temer: ‘Seria melhor que as delações fossem logo divulgadas’

• Em entrevista, presidente diz que citações na Lava-Jato são repetitivas

Ricardo Noblat | O Globo

Se dependesse do presidente Michel Temer, o ministro Edson Fachin, novo relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), suspenderia o mais brevemente possível o sigilo em torno das delações dos 77 executivos da construtora Odebrecht. Fachin substituiu o colega Teori Zavascki, morto em um desastre de avião em Paraty (RJ).

— Seria melhor para todos que as delações fossem logo divulgadas, e de uma vez — disse Temer em uma conversa informal de mais de uma hora no fim de semana.

Em dezembro passado, durante um encontro no Palácio do Planalto com Rodrigo Janot, procurador-geral da República, Temer adiantou para ele a mesma opinião. Não houve discordância. Foi a pedido de Janot que a ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, apressou-se a homologar as delações na semana seguinte à morte de Zavascki.

Assembleia adia discussão sobre a venda da Cedae

• Debate, marcado para hoje, foi transferido para quinta-feira. Votação fica para a semana que vem

Carina Bacelar | O Globo

O presidente da Alerj, Jorge Picciani, decidiu adiar de hoje para quinta-feira o início da discussão dos projetos de lei que autorizam a privatização da Cedae e a contratação de R$ 3,5 bilhões em empréstimos para botar em dia a folha de pagamento do estado. Com isso, a votação das propostas também fica para a semana que vem.

Os deputados do PSOL e do PSDB argumentaram que não havia, pelo regimento interno da Casa, como os projetos receberem os pareceres das comissões técnicas, que só serão formadas a partir de hoje. Além disso, 24 vetos do governador Luiz Fernando Pezão, referentes a outros textos que tramitaram na Alerj, devem ser apreciados pelos deputados antes que uma nova proposta do Executivo seja votada.

A política brasileira - Caio Prado Jr.

 Caio Prado Jr. nasceu em 11 de fevereiro de 1907. Reverenciado como historiador e marxista, é desconhecido como militante do PCB. São pouco divulgadas as análises políticas que escreveu em diferentes conjunturas, como logo após o fechamento da Associação Nacional de Libertação (ANL) entre julho e agosto de 1935; no ocaso do Estado Novo em 1945 e nos anos dos governos JK e de João Goulart. Reproduzimos a seguir um tópico do livro Caio Prado Junior na cultura política brasileira, de Raimundo Santos, que traz uma recensão de vários artigos publicados pelo pecebista na Revista Brasiliense entre 1956 e 1964.

Na primeira de suas análises políticas, do começo de 1956, “O sentido da anistia ampla”, Caio Prado Jr., de modo parecido ao do seu PCB, valorizava a eleição de Juscelino Kubistchek por ela ter tido origem em um forte movimento de opinião pública (“sem dúvida uma das mais vigorosas afirmações da vontade popular registradas em nossa história”), opinião pública que, assim dizia ele na Revista Brasiliense, primeiro pesara na aceitação do resultado da eleição e, depois, impulsionara o movimento pela posse do Presidente vitorioso nas urnas. Abria-se um quadro com “perspectivas promissoras” para o processo político, havendo um “sopro de renovação” no governo, dado pelo fato de JK o ter constituído em um novo tempo em que “as grandes transformações ocorridas desde a última guerra começa(va)m a amadurecer e se fazerem nitidamente sentir”.

Em sua circunstância econômica, a nova administração teria de escolher entre a finança internacional e a industrialização (“em termos propriamente nacionais”). Segundo Caio Prado, mesmo sendo um governo formado em meio a acordos partidários (“sem conteúdo ideológico e cimentados quase unicamente por interesses pessoais”), o seu desafio consistia em dar passagem às forças renovadoras, antes dispersas, que se haviam reunido na eleição sob a forma “de amplos setores da opinião pública” mobilizados pela ideia de reforma; aberto o caminho para que aquele despertar político se desenvolvesse em profundidade. Fora aquele movimento de opinião pública que, apesar das “vacilações” e “ambiguidades” do candidato e do seu alinhamento ao capital estrangeiro, que teria colocado Juscelino no rumo do novo tempo promissor (Revista Brasiliense n. 4, mar./abr. 1956).

Realidade supera teoria – Merval Pereira

- O Globo

A escolha de Temer obedece a critérios técnicos. A escolha do ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, obedece a critérios técnicos requeridos de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) — é um constitucionalista reconhecidamente de valor, não é por acaso que tem o apoio de muitos de seus futuros colegas no Supremo.

Foi o primeiro nome cogitado, e sempre esteve na lista pessoal de Temer. Como houve um impasse, tantos eram os nomes apresentados, e tamanhas as pressões, o presidente escolheu um nome seu. As críticas que Alexandre de Moraes vem recebendo são da área política, onde sua atuação como secretário de Justiça em São Paulo e ministro da Justiça é atacada como conservadora e excessivamente rigorosa.

Suas ambições políticas — era potencial candidato ao governo de São Paulo pelo PSDB — teoricamente neutralizam a isenção que se exige de um ministro do Supremo, mas não é o primeiro nem será o último ministro a ser nomeado para o STF pelo presidente a que serve.

Temos exemplos para todos os gostos: Nelson Jobim e Gilmar Mendes, ministros nomeados por Fernando Henrique; Dias Toffoli, nomeado por Lula; Francisco Rezek, por Collor e Maurício Corrêa, por Itamar. Desses, Corrêa era senador, e Nelson Jobim foi deputado federal, membro da Constituinte e acabou se destacando justamente por sua experiência nesse campo. Ficou muito ligado também ao ex-presidente Lula e sua atuação no Supremo, até aposentar-se, não foi afetada por ligações políticas.

‘In pectore’ - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

O ministro Alexandre de Moraes foi desde o início o nome preferido do presidente Michel Temer para a vaga de Teori Zavascki no Supremo. Podia até não preencher os critérios da opinião pública, mas preenchia todos os critérios do próprio Temer: constitucionalista como ele, doutor pela USP, professor universitário, livros publicados, cioso do equilíbrio entre poderes e cuidadoso em matéria penal e em questões fiscais – algo fundamental em tempos de reformas.

Temer deixou inflar o número de candidatos e a cada um correspondia uma avalanche de críticas, enquanto ele avisava, conforme publicado neste espaço em 31 de janeiro: “Se eu tiver de pagar um alto preço, pago com o Alexandre”. Era uma senha: se fosse para apanhar com fulano ou beltrano, ele nomearia – como nomeou – a sua opção in pectore.

Moraes, Moreira – Julianna Sofia

- Folha de S. Paulo

A indicação de Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal deverá render um, dois meses de malhação pública para o presidente Michel Temer. Na álgebra do Palácio do Planalto, garantir um homem de confiança do peemedebista e de seus aliados na alta corte compensa algumas dúzias de vilipêndios em colunas e timelines. A depender da profusão do noticiário, em questão de dias o desgaste terá sido suplantado.

E afinal, qual o problema de escolher um político tucano, com verniz técnico, para a cadeira vaga do STF? Qual o desconforto em ver Gilmar Mendes pelos salões do Jaburu confabulando pelo nome de Moraes? O que há de suspeito em Renan Calheiros —que é réu no Supremo e ainda responde a oito inquéritos na Lava Jato— e a cúpula do Senado torcerem pelo ministro da Justiça?

A escolha errada - Míriam Leitão

- O Globo

Moraes vai julgar o governo ao qual serviu. Não se deve esperar do indicado para o STF nenhuma sutileza. Ele não é disso, basta ver como a polícia de São Paulo, sob seu comando, reprimia manifestações. Ontem, ele próprio confirmou seu nome em mensagem no celular. Foi assim também, sem sutileza, que avisou em Ribeirão Preto: “Quando vocês virem essa semana, vão se lembrar de mim”. Palocci foi preso dias depois. No STF, vamos lembrar dele.

Alexandre de Moraes é membro do PSDB, fez sua carreira no partido e virou ministro do governo Temer. Até aí, parece o retrato no espelho do ministro Dias Toffoli. Esse é que é o problema. Toffoli foi advogado do PT em campanhas presidenciais e, mesmo assim, no julgamento do mensalão, que tratava de corrupção do PT em campanhas eleitorais, não achou que houvesse impedimento em julgar aqueles que defendera. Moraes disse ontem que se declarará impedido de julgar tucanos. Menos mal.

Regressão à média - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Performances muito acima ou abaixo da média são por definição incomuns. Assim, quando alguém começa a agir surpreendentemente bem ou assustadoramente mal, o mais provável é que logo volte a seu desempenho típico. O nome do fenômeno é regressão à média.

Na vida prática ele nos leva a inferências incorretas, como supervalorizar o poder da punição e subestimar o do reforço positivo. O aluno mediano vai mal na prova e toma uma reprimenda do professor. Como, no teste seguinte, o normal é o estudante voltar à nota mediana, o mestre achará que a bronca funcionou. Já o discípulo que se sai muito bem na avaliação será elogiado. Como dificilmente repetirá o desempenho, o professor concluirá que o incentivo de nada serviu. Nossas mentes ávidas por causalidade não processam bem a distribuição aleatória da sorte e do azar.

O bispo preto - Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

• Na base do governo, a indicação teve boa repercussão, assim como na alta magistratura, pois Moraes é respeitado como jurista

Já dissemos aqui que a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármem Lúcia, jogava com as peças brancas no processo de substituição do falecido ministro Teori Zavascki, antigo relator da Operação Lava-Jato. Ou seja, teve a iniciativa de movimentar o tabuleiro. Fez isso com competência, ao articular a ida do ministro Luiz Édson Fachin da Primeira para a Segunda Turma do STF, na qual ele acabou herdando, por sorteio, a relatoria da delação premiada da Odebrecht, que atormenta nove de cada dez políticos da República. O presidente Temer optou por jogar com as peças pretas, ao esperar o lance da ministra para indicar o substituto de Teori na vaga do Supremo. Ontem, movimentou um bispo: o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, filiado ao PSDB-SP.

Um governo do PMDB com certeza - Raymundo Costa

-Valor Econômico

• Governo sente-se mais fortalecido e perde a inibição

Lula está mal, a família está mal e só quem não conhece bem o ex-presidente passa adiante afirmações feitas por ele nos últimos dias, como a promessa de fazer política durante 24 horas, a partir de agora. Na realidade, Lula nunca fez outra coisa. Há menos de uma semana da morte de Marisa Letícia, no entanto, o ex-presidente é um homem devastado pela dor. "Ele está desestruturado", conta um amigo que não saiu de seu lado desde terça-feira, 24, quando Marisa foi internada no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.

O sofrimento de Lula serviu para o abraço de amigos há muito desavindos, caso de Fernando Henrique Cardoso, mas é improvável que tenha desdobramentos políticos em relação ao atual governo, como chegou a ser especulado. Ao receber a visita do presidente Michel Temer, Lula comentou alguma coisa sobre a impropriedade do momento para se fazer a reforma da Previdência, mas nada muito mais que isso. Muito menos prometeu ajudar o governo a aprovar as reformas. Não era o caso, nem o momento.

Uma conversa educada, em que Temer declarou solidariedade e disse que ligaria novamente, ao se despedir, ao que Lula obviamente respondeu "pode ligar". Não dá para apostar na abertura de diálogo governo-oposição a partir desta conversa, muito embora os interesses convergentes de ambos sejam bem maiores que os dois gostariam de reconhecer.

Uma rede de cumplicidades - José Casado

- O Globo

• É inexplicável que a Caixa tenha demorado ano e meio para começar a investigar suspeitas em negócios com o dinheiro de 41 milhões de trabalhadores, cotistas do Fundo

Por suspeita de corrupção, a Caixa Econômica Federal iniciou uma revisão dos atos de seus executivos responsáveis pela gestão do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço nos últimos cinco anos. Abriu uma dezena e meia de inquéritos internos para apurar “eventual prática de atos lesivos” em negócios do fundo FI-FGTS. Treze deles foram iniciados nas últimas duas semanas.

Momento favorável - José Paulo Kupfer

- O Estado de S. Paulo

• Economia dá sinais de que se aproxima do piso, mas ainda não indica tendências

Depois de apresentar primeiros indícios de chegada ao fundo do poço ainda no segundo trimestre de 2016, a economia brasileira experimentou alguns repiques negativos no restante do ano, mas voltou a emitir sinais, na virada do calendário para 2017, de que se encontrava perto de um piso do qual não mais encontraria espaço para novos retrocessos. A perspectiva de que a longa e profunda recessão iniciada no primeiro semestre de 2014 esteja se aproximando do fim, contudo, não significa que todos os segmentos econômicos já registrem indicações de retomada.

É típico desses momentos, na verdade, que alguns setores mostrem recuperação enquanto outros permanecem em queda. Mesmo dentro de um mesmo setor, dependendo da base de comparação, os números podem revelar direções temporariamente opostas. O avanço em relação ao mês anterior pode vir acompanhado de recuos na comparação interanual ou no acumulado em 12 meses.

Forrest Trump - Arnaldo Jabor

- O Estado de S. Paulo

• Toda a grandeza da democracia americana virou um pesadelo humorístico

Em 96, escrevi sobre dois filmes que me arrepiaram a espinha. Um deles era o Forrest Gump e o outro o Independence Day, filme catástrofe-ufanista.

Foram dois sucessos internacionais e também dois recados para o mundo de hoje.

Relendo hoje os dois textos, vejo que as condições objetivas para a “desconstrução” do mundo atual pelo Trump já eram cozinhadas no fogão das bruxas. Dava para ouvi-las como em Macbeth, cantando: “Something wicked this way comes” (Coisas terríveis vêm por aí...).

Na era Clinton, a sabotagem dos republicanos já estava rolando. Não deram um minuto de sossego para o homem. A cada dia, inventavam uma nova sacanagem.

Afinal, um País com rumo – Editorial | O Estado de S. Paulo

O Brasil tem rumo, o governo tem uma agenda e pela primeira vez em muito tempo as políticas fiscal e monetária combinam. Graças a isso tem sido possível apostar no recuo da inflação e, com segurança, baixar os juros básicos. Há ainda muitos problemas pela frente, mas a sensação de estar num trem desgovernado passou.

Em síntese, são essas as principais mensagens contidas num artigo e numa entrevista de dois economistas muito respeitados, publicados nos últimos dois dias no Estado. Dificilmente alguém poderia, com realismo, formular neste momento comentários mais otimistas que esses a respeito da economia brasileira e de suas perspectivas. Afinal, depois de anos de irresponsabilidade e desgoverno, o País começa a mover-se para sair do atoleiro da mais longa e funda recessão de muitas décadas.

O artigo, assinado pelo professor, consultor e ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore, revisita a história e mostra a enorme mudança ocorrida, recentemente, na condução das políticas monetária e fiscal. Durante décadas, o BC pouco pôde fazer para controlar a inflação e, portanto, preservar o poder de compra da moeda.

Cedae é apenas parte de um ajuste a ser levado a sério – Editorial | O Globo

• Empresa é chave para caucionar créditos que colocarão folhas de pagamento em dia, mas, sem o corte de gastos e mudanças na previdência, não se irá longe

Trunfo do Rio de Janeiro na negociação com o governo federal para aderir ao programa de recuperação fiscal, a Cedae é um dos pontos nevrálgicos do ajuste pelo qual o estado precisa passar. Há a resistência corporativista, como toda vez que uma empresa pública caminha para a privatização, e existem também cuidados com a forma como este patrimônio será usado no processo de recuperação de um estado que acumulará até 2019 um déficit de R$ 62,4 bilhões.

Para chegar a este ponto, foram cometidos muitos erros de gestão. Um deles, apostar em volumes crescentes de royalties, quando a revolução do shale gas (gás não convencional) já acontecia nos Estados Unidos, e portanto era possível antever que o preço internacional do petróleo cederia. Tão grave quanto isso foi usar dinheiro dessa fonte de recursos não estável para aumentar a folha de salários e de benefícios previdenciários, gastos engessados por força de lei.

Iniquidade – Editorial | Folha de S. Paulo

A recessão fez aumentar ainda mais a vantagem salarial dos trabalhadores do setor público em relação aos da iniciativa privada. Como os primeiros gozam de ampla proteção contra o desemprego, a iniquidade se agrava.

De acordo com o IBGE, o salário médio do funcionalismo elevou-se em 1,5% acima da inflação em 2016, para R$ 3.199 mensais; no mesmo período, os trabalhadores celetistas amargaram queda de 1,3% em seus rendimentos, de R$ 1.952 em média.

Função e formação explicam parte da disparidade —como o nível médio da qualificação profissional na administração pública tende a superar o do setor privado, é natural que as remunerações mostrem diferença.

Eleição na França põe em jogo sua tradição iluminista – Editorial | O Globo

Nos próximos dias 23 de abril (primeiro turno) e 7 de maio (segundo turno), os franceses escolherão o novo presidente, num pleito crucial para o destino da União Europeia. Segunda maior economia do bloco, o país vai dividido às urnas, com forças radicais à esquerda e à direita com chances reais de chegar ao Palácio do Eliseu. Na disputa, estão em confronto projetos que, de um lado, aprofundam a integração europeia e internacional; e, de outro, propostas nacionalistas de cunho populista, que, entre outras coisas, defendem a desintegração da UE e o fechamento de fronteiras a imigrantes.

O representante da direita convencional, François Fillon, do Partido Republicano, liderava com relativa folga as intenções de voto, com um projeto de reforma fiscal e a promessa de recolocar a França no caminho do crescimento sustentável. Mas a candidatura despencou após o escândalo, em que é acusado de oferecer à mulher, Pénélope, um emprego fantasma e aos filhos, trabalhos eventuais — não executados —, o que teria rendido à família cerca de € 900 mil.

As novas regras podem agilizar recuperação judicial – Editorial | Valor Econômico

Os pedidos de recuperação judicial despencaram 43,4% em janeiro em comparação com dezembro e 14,6% frente ao mesmo mês de 2016. Essa é uma boa notícia depois do quadro catastrófico do ano passado, quando, a cada dia, cinco empresas pediram recuperação judicial, ou sete a cada dia útil, totalizando 1.863 pedidos, 44,8% a mais do que em 2015, um recorde desde que a nova Lei de Falência e de Recuperações Judiciais entrou em vigor, em 2005.

O corte da taxa básica de juros pode ter ajudado a dar um ânimo novo às empresas no mês passado. Na esperança de que a queda dos juros estimule a retomada da economia, as companhias teriam adiado o pedido, que envolve um plano de reestruturação das dívidas e dos negócios para evitar a falência. O mais provável, porém, é uma estabilização dos números uma vez que a economia vai levar tempo para se reaquecer, revertendo o impacto na diminuição do consumo das famílias, que fez estragos nos resultados das empresas.

Difícil ser funcionário – João Cabral de Melo Neto

Difícil ser funcionário
Nesta segunda-feira.
Eu te telefono, Carlos
Pedindo conselho.

Não é lá fora o dia
Que me deixa assim,
Cinemas, avenidas,
E outros não-fazeres.

É a dor das coisas,
O luto desta mesa;
É o regimento proibindo
Assovios, versos, flores.

Eu nunca suspeitara
Tanta roupa preta;
Tão pouco essas palavras —
Funcionárias, sem amor.

Carlos, há uma máquina
Que nunca escreve cartas;
Há uma garrafa de tinta
Que nunca bebeu álcool.

E os arquivos, Carlos,
As caixas de papéis:
Túmulos para todos
Os tamanhos de meu corpo.

Não me sinto correto
De gravata de cor,
E na cabeça uma moça
Em forma de lembrança

Não encontro a palavra
Que diga a esses móveis.
Se os pudesse encarar…
Fazer seu nojo meu…

Alceu Valença - Me segura senão eu caio