quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Alberto Aggio: A crônica de um impeachment

- Gramsci e o Brasil

Luiz Carlos Azedo. O impeachment de Dilma Rousseff. Crônica de uma queda anunciada. Brasília: Fundação Astrojildo Pereira/ Verbena, 2017.

O impeachment de Dilma Rousseff foi o acontecimento mais marcante da história política brasileira nas últimas décadas. Equipara-se, paradoxalmente, mas com menos dramaticidade, com a eleição e posse de Luiz Inácio da Silva na presidência da República. Em ambos os fatos as instituições republicanas do Estado seguiram funcionando e mantiveram sua legitimidade. A democracia política superou mais uma prova de fogo e apresentou seu atestado de vitalidade.

Em 2014, já eram previsíveis turbulências e instabilidades logo após a vitória eleitoral que deu o segundo mandato a Dilma Rousseff: o país expressava nitidamente uma crise de esgotamento do modelo econômico adotado e o “estelionato eleitoral” praticado pela presidente reeleita ao montar a equipe do segundo mandato foi o sinal de que as promessas e o discurso de campanha eram ilusionismos de marketing, distantes da realidade.

A reação da sociedade, como se viu em 2015 e 2016, veio em ondas que levaram milhões à rua em todo o país. O vigor e a generalização das manifestações alteraram o comportamento dos atores políticos. Gradativamente, o Parlamento foi se tornando mais sensível ao clamor das ruas. Por outro lado, o impacto das ações da chamada operação Lava Jato, na busca de corruptos e criminosos, muitos deles vinculados aos governos do PT, fez com que se operasse a reviravolta definitiva: as mobilizações de rua definiram que o caminho era o impeachment da presidente reeleita e, simultaneamente, por inabilidade política, Dilma Rousseff acabou entrando numa espiral de isolamento da qual não mais conseguiu sair.

Esse foi, sinteticamente, o pano de fundo que conduziu ao impeachment de Dilma Rousseff. Os fatos foram se sucedendo e foram acompanhados quase que diariamente pelas “colunas” publicadas por Luiz Carlos Azedo, no Correio Brasiliense, escritos que mostram, com riqueza de detalhes, as passagens de uma “queda anunciada”, como está assinalado no subtítulo deste livro.

A leitura das crônicas de Azedo não deixa dúvida de que o impeachment de Dilma está longe da chamada “narrativa do golpe” construída pelos apoiadores do governo deposto. Mostra que o impeachment foi um processo político, como não poderia deixar de ser — e todos sabiam disso —, sustentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que sancionou o rito jurídico a ser seguido, de acordo com a Constituição e a legislação correspondente a esse tipo de processo.

O livro que o leitor tem em mãos é uma análise refinada, concebida no calor da hora, que faz jus ao melhor do jornalismo político. Reler o impeachment de Dilma Rousseff pelas letras de Azedo ajuda a repensar esse processo tão cheio de controvérsias, mas que está longe de ser algo injusto ou despropositado. O país soube enfrentar aquela situação dramática e o fez democraticamente.
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Alberto Aggio é professor titular de História da Unesp/Franca.

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