quinta-feira, 15 de junho de 2017

Tasso Jereissatti: ‘Ninguém votou dizendo: vamos ficar até o fim’

O presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissatti (CE), sustenta que o tucano que estiver pensando em aliança para a Presidência 2018 ‘está vivendo um delírio’

Maria Lima e Catarina Alencastro, O Globo

BRASÍLIA

Como foi que o partido chegou até aqui, no olho do furacão?

O partido nasceu com a célebre frase de fundação do partido: “Longe das benesses do poder e perto dos anseios das ruas”. Chegou ao poder, ficou oito anos no poder, depois na oposição e, ao longo dos anos, o partido foi inchando e desinchando e, de alguma maneira, se adaptando ao modelo político que faliu. Esse modelo político com que nós estamos convivendo desde a redemocratização, que eu chamo de presidencialismo de cooptação. Esse modelo faliu. E o partido de alguma maneira perdeu as suas ligações iniciais e foi se acomodando ou por omissão e as vezes até fazendo parte desse fisiologismo.

A decisão do partido de permanecer no governo sofreu fortes críticas. Como se reconectar com a sociedade?

Foi uma grande catarse. Fui voto vencido. A decisão foi, de um lado, essa decisão que se esperou. Ninguém votou dizendo: vamos ficar no governo até o fim. Vamos aguardar se aparece algum fato novo, que confirme a inviabilidade desse governo. Em nenhum momento nós estamos pedindo o impeachment de Temer ou eleições “Diretas Já”. O que pregamos é que nós ficássemos afinados com as nossas propostas e ideias, mas desligados do governo, porque o governo agora nesse final vai representar justamente esse sistema político que faliu, de toma lá da cá.

E a reforma trabalhista?

A trabalhista vai passar. Não vai depender mais de estar no governo ou não. O PSDB votou unânime pela trabalhista aqui. Aliás, é surrealismo dizer que a nossa saída colocaria algum risco para a trabalhista. Na verdade quem está colocando em risco a trabalhista é o PMDB, o partido do presidente. Colocar a nossa eventual saída do governo nesses termos é uma grande mentira.

Muitos tucanos vinham se antecipando em dizer que haveria rompimento, antes da reunião da Executiva. O que aconteceu?

Não sei dizer o que aconteceu. Porque realmente houve uma mudança muito grande de discurso de alguns, entre a quintafeira e a segunda. E eu não sei, porque eu, também, em determinado momento, percebi que havia uma mudança, sem entender por quê.

Aquele recado do Jucá, na quinta-feira, pode ter influenciado?

Sim, pode ser. Mas quem estiver pensando em aliança para 2018 está vivendo um delírio. Quem está pensando, no dia de hoje, em que as coisas se modificam a cada semana em uma aliança que está montada hoje está delirando, não é sonhando. Até porque, no quadro de descrença que tem a classe política hoje de uma maneira geral é impossível prever, é até arrogância achar que nós temos uma candidatura preferencial, que teria apoio deste ou daquele. Temos que pensar no Brasil hoje, para estarmos vivos no ano que vem. Acho que chegarmos lá vivos será uma grande vitória.

O PSDB se preocupa em ser visto como “farinha do mesmo saco”?

Realmente essa visão de que a política é um jogo de trocatroca e a opinião pública e o destino do país não é relevante nessa questão é o que morreu e está desacreditando a nós, políticos. Essa maneira de fazer política acabou. Só quem não está percebendo isso é quem está morto-vivo.

Houve especulações de que uma ameaça do PMDB de caçar Aécio Neves no Conselho de Ética foi decisiva para o PSDB decidir ficar no governo.

Eu, sinceramente, nunca ouvi isso. Nunca chegou ninguém para falar ou insinuar sequer qualquer coisa parecida. Então eu não acredito que tenha existido isso porque seria uma atitude política muito rasteira demais, mesmo para os padrões de hoje.

Como o senhor vê a possibilidade de Aécio ser cassado e até preso?

Olha, eu vou dizer uma coisa: eu considero a prisão da irmã dele uma violência. Eu não vi pessoas muito mais envolvidas, com muito mais evidências do que ela sendo presas. Acho uma violência, sem julgamento, de forma preventiva, ela não representa (ameaça). E é bom dizer com toda a clareza que existem abusos, sim, do Ministério Público, do Judiciário e mesmo a questão do afastamento do Aécio, que não existe essa figura na Constituição. Tenho muita confiança que o Supremo veja com muita serenidade, sem nenhuma parcialidade o que está acontecendo.

Como segurar aquele capital eleitoral de 52 milhões de votos conquistados em 2014 para 2018?

Fazendo uma autocrítica, olhando profundamente onde nós erramos, nos acomodando nesse presidencialismo de cooptação e discutindo e apontando mudanças que devem ser feitas na política brasileira.

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