sexta-feira, 19 de maio de 2017

Trecho sobre Cunha de diálogo entre Temer e Joesley é inconclusivo

Letícia Casado, Camila Mattoso, Rubens Valente | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Em conversa gravada, o presidente Michel Temer (PMDB) afirmou ao empresário Joesley Batista, ao ouvir as iniciativas que o dono do grupo JBS vinha tomando com relação ao ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ): "Tem que manter isso, viu?". O trecho do diálogo não é conclusivo sobre a realização de pagamentos ao ex-deputado para comprar seu silêncio.

A conversa contém trechos inaudíveis. Após a fala de Temer, Batista afirma: "Todo mês", o que indica, segundo o empresário afirmou em seu acordo de delação premiada fechada com a PGR (Procuradoria Geral da República), acertos em dinheiro.

Não houve divulgação de transcrição oficial do diálogo liberado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Novos trechos ainda podem vir a público.

Cunha, que está preso em Curitiba (PR), tem indicado nos bastidores a ideia de fazer um acordo de delação com a Lava Jato.

O sigilo judicial sobre a gravação, que integra o acordo de delação premiada homologada com o empresário do grupo JBS, foi levantado nesta quinta-feira (18) por ordem do ministro relator dos casos da Operação Lava Jato no STF, Edson Fachin.

Minutos antes, o ministro havia autorizado a entrega de uma cópia da gravação à área jurídica do Palácio do Planalto.

A gravação tem ao todo 38min57s. O trecho em que Batista trata com Temer sobre o seu relacionamento com Eduardo Cunha, que está preso por ordem do juiz federal Sergio Moro, dura cerca de três minutos.

Batista afirma que fez "o máximo" e "zerou tudo", referindo-se a "pendências" que tinha com Eduardo Cunha. O ex-deputado teria "cobrado" algo que não fica claro na conversa. Batista contou ao presidente que tinha um contato em comum tanto com Cunha quanto com seu aliado, o corretor de valores Lúcio Bolonha Funaro: tratava-se do ex-ministro da Secretaria de Governo Geddel Vieira Lima.

Contudo, Batista disse que perdeu contato com Geddel depois do escândalo que levou à queda de ministro no final do ano passado. Geddel passou a ser "investigado", segundo Batista, e por isso ele evitava entrar em contato com ele.

Temer concordou com o empresário, falou em "cuidado", em um cenário "complicado" e ponderou que poderia aparentar uma "obstrução à Justiça", conduta considerada crime pelo Código Penal.

Na sequência da conversa, Batista resume o quadro: "O que que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora. Eu tô de bem com o Eduardo, ok?".

Nesse momento, Temer concorda: "Tem que manter isso, viu?". Batista complementa: "Todo mês".

A partir daí, a conversa muda de foco, Batista passa a falar sobre a situação dos processos a que responde em Brasília.

Em outra gravação, Batista afirma ao deputado federal Rodrigo Loures (PMDB-PR) a sua versão sobre o que teria dito a Michel Temer. "Eu disse pra Michel, desde quando Eduardo foi preso e ele [Funaro] quem está segurando as pontas sou eu". Loures concordou: "Cuidando deles lá".

Para o deputado, essa ajuda "estabilizou" Cunha.

"Agora, o que eu comentei com Michel que o problema é o seguinte, ô, Rodrigo, a gente tem que pensar que essa situação não dá para ficar o resto da vida. Um mês vai, dois meses, três meses, seis meses, mas vai chegando uma hora que você vai indo, você vai indo..."
*
Veja a transcrição do diálogo:
BATISTA Queria primeiro dizer: estamos juntos aí. O que o senhor precisar de mim, me fala... Queria te ouvir um pouco, presidente. Como tá essa situação toda com o Eduardo [Cunha], não sei o quê, Lava Jato...

TEMER O Eduardo resolveu me fustigar. Você viu que..
.
BATISTA Não sei, como que tá essa situação?

TEMER Eu não tenho nada a ver com a defesa. O Moro indeferiu 21 perguntas dele que não têm nada a ver com a defesa dele. Eu não fiz nada [inaudível]

BATISTA: Queria falar assim: dentro do possível, eu fiz o máximo que deu ali, zerei tudo, o que tinha de alguma pendência daqui pra ali zerou, tal. Ele [Cunha] foi firme em cima, ele já tava lá, veio, cobrou... Pronto, eu acelerei o passo e tirei da frente. O outro menino, o companheiro dele que tá aqui, né... O Geddel sempre tava...

TEMER: [inaudível]

BATISTA: Esse... Geddel que andava sempre ali. Mas Geddel também, com esse negócio eu perdi o contato. Ele virou investigado, agora eu não posso encontrar ele...

TEMER: É, vai com cuidado. [inaudível] Obstrução de Justiça [inaudível]

BATISTA: O negócio dos vazamentos, o telefone lá do Eduardo com o Geddel, volta e meia citava alguma coisa meio tangenciando a nós, a não sei o quê. Eu tô lá me defendendo. O que que eu mais ou menos dei conta de fazer até agora: eu tô de bem com o Eduardo, ok

TEMER: Tem que manter isso, viu? [inaudível]

BATISTA: Todo mês...

TEMER: [inaudível]

BATISTA: Também. Eu tô segurando as pontas, tô indo. Meus processos, eu tô meio enrolado aqui, né [Brasília]. No processo [inaudível]

BATISTA: Isso, é, investigado. Não tenho ainda a denúncia. Aqui eu dei conta, de um lado, do juiz, dar uma segurada, do outro lado, do juiz substituto, que é um cara que fica.... [inaudível]

TEMER: Tá segurando os dois...

BATISTA: Tô segurando os dois. Consegui um procurador dentro da força tarefa, que tá, também tá me dando informação. E lá que eu tô para dar conta de trocar o procurador que tá atrás de mim. Se eu der conta, tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que dá uma esfriada até o outro chegar e tal. O lado ruim é que se vem um cara com raiva ou com não sei o quê...

BATISTA: O que tá me ajudando tá bom, beleza. Agora, o principal... O que tá me investigando. Eu consegui colar um [procurador] no grupo. Agora eu tô tentando trocar

TEMER: O que tá... [inaudível]

BATISTA: Isso! Tamo nessa aí. Então tá meio assim, ele saiu de férias, até essa semana eu fiquei preocupado porque até saiu um burburinho de que iam trocar ele, não sei o quê, fico com medo. Eu tô só contando essa história para dizer que estou me defendendo aí, to me segurando. Os dois lá estão mantendo, tudo bem.

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