domingo, 3 de abril de 2016

Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna

O caminho da esquerda, aprendemos em duras experiências, está no contínuo aprofundamento das instituições da democracia, e somente quem fabula quimeras a fim de macular nosso sistema judicial com a ignóbil acusação de agir como um Estado de exceção pode ignorar os crimes ora apurados pela Operação Lava Jato contra a República e a convivência democrática. A guinada por que a sociedade espera é a de livrar sua esfera pública das práticas deletérias que a têm feito refém de poucos e que dela se têm servido. Ela está pronta para isso, falta-lhe iluminar o caminho e pavimentá-lo com a obra de uma reforma política que permita à cidadania saltar a tempo do carro de Jagrená e se apropriar do seu destino.

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Luiz Werneck Vianna, sociólogo, PUC-Rio. ‘O carro de Jagrená’, O Estado de S. Paulo, 3/4/2016

Impeachment tem ao menos 261 votos na Câmara; contrários chegam a 117

• Levantamento do ‘Estado’ com 442 dos 513 deputados da Câmara mostra que maioria votaria hoje pelo afastamento de Dilma; resultado mostra indefinição e resistência de parlamentares de partidos assediados pelo Planalto, como PP e PR, em defender a petista

Gabriela Caesar e Valmar Hupsel Filho - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A menos de duas semanas da data estimada para a votação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no plenário da Câmara, 261 deputados afirmaram ao Estado que votariam a favor da abertura do procedimento e 117 se posicionaram contra. Nove não quiseram se manifestar, 55 disseram estar indecisos ou preferiam esperar a orientação partidária e 71 integrantes de 15 siglas não foram localizados.

Para a abertura do processo de impeachment na Câmara são necessários 2/3 do plenário: 342 votos. Para arquivar o processo o governo precisa do apoio de 171 deputados, entre votos a favor, faltas e abstenções. Entre os que querem o impeachment já se fala em estender a sessão, que deve ocorrer até o dia 15, se não houver recurso do governo, até o domingo. O objetivo é atrair mais atenção da população para uma batalha que os números mostram estar acirrada e ainda em aberto.

Nos últimos quatro dias, o Estado provocou deputados individualmente para que, de maneira informal e com a opção de que os nomes poderiam ficar em sigilo, expusessem como se posicionariam se a votação fosse no dia da entrevista. A consulta se concentrou nos partidos que não fazem parte do núcleo duro do governo (PT e PC do B) nem da oposição (PSDB, DEM, PPS e SD). “Uma consulta agora pode trazer a fotografia do momento, mas se as mesmas perguntas forem feitas na semana que vem, o resultado talvez seja diferente. Este processo será decidido às vésperas da votação”, disse o deputado Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), ele mesmo declaradamente favorável ao impeachment.

A consulta aos deputados começou na quarta-feira, dia seguinte ao anúncio de desembarque do PMDB do governo, e se estendeu até a tarde de ontem, por telefone. Na bancada do partido do vice-presidente Michel Temer, que conta com 67 deputados, 34 disseram que votariam pela abertura do processo, 5 revelaram ser contra, 11 afirmaram não ter posição formada e 17 não foram localizados.

Entre os que são contra a abertura do processo do impeachment estão o líder da bancada, Leonardo Picciani (RJ) – responsável pela negociação que resultou na nomeação dos ministros Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) –, e Zé Augusto Nalin (RJ). Dono de uma rede de shoppings centers, Nalin era suplente de Pansera e virou deputado em outubro passado, quando o titular assumiu a pasta.

As entrevistas foram realizadas na semana em que o governo, nas palavras de mais de um deputado de oposição, abriu o “balcão de negócios”, oferecendo abertamente cargos e ministérios a parlamentares e partidos em troca de votos na sessão que decidirá a abertura ou não do processo de impeachment. Legendas que estiveram na mira do governo nesta semana, como o PR, PP, PSD, PRB e PTN tiveram comportamentos semelhantes.

Apesar de lideranças negociarem troca de uma maior participação no governo por apoio, o levantamento registrava alto índice de deputados favoráveis ao impeachment. Em partidos como PP e PR, as reuniões para definir uma posição oficial sobre o impeachment só ocorrem às vésperas da votação.

No plenário, deputados do PTN ainda discutiam como reagir diante das ofertas do Planalto. Ainda perto, um deputado de outra sigla nanica reclamava que nunca antes havia sido convidado para cerimônia ou conversa organizada pelo gestão Dilma.

Enquanto avançava na negociação com o governo para assumir o Ministério da Saúde, o maior orçamento da Esplanada, deputados do PP, dono da terceira maior bancada, declaravam que era urgente a saída da presidente. Muitos deles disseram que não mudariam de posição caso o partido assuma o controle de um ministério. A sigla já controla o Ministério de Integração Nacional. Dos 42 parlamentares do PP consultados, 24 disseram que votariam pela abertura do processo, 8 afirmaram ser contra e 10 falaram estar indecisos.

O PR, que hoje comanda o Ministério dos Transportes, negocia herdar a pasta de Minas e Energia, por ora loteada ao PMDB. O partido tem uma bancada de 40 deputados. Dos 26 provocados, 16 disseram que vão votar sim para o impeachment, 4 são contra e 6 preferem esperar posicionamento do partido.

Faltas. No maleável clima do plenário em relação ao impeachment, não são poucos os deputados que, mesmo com posição favorável ao impedimento, avaliam que Dilma pode escapar do processo. “Tem um monte de gente dizendo que não vem no dia da votação para não ficar mal com ninguém”, disse o deputado Adalberto Cavalcanti (PTB-PE). “O melhor é vazar”, respondeu quando questionado sobre sua posição.

“Vamos monitorar aquela dor de barriga estratégica daqueles que pretendem faltar no dia da votação e justificar com aquele atestado amigo de que estava doente”, disse o deputado Major Olímpio (SD-SP). / Colaboraram Adriano Ceolin, Ana Fernandes, Anne Warth, Eduardo Rodrigues, Erich Decat, Isabela Bonfim, Lígia Formenti, Luci Ribeiro, Luísa Martins, Pedro Venceslau, Rachel Gamarski e Vitor Hugo Brandelise


Parlamentares listam motivos para afastamento

• Crise econômica e perda de governabilidade são mais citados que as ‘pedaladas’, base do pedido de impeachment

Gabriela Caesar e Valmar Hupsel Filho - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Os parlamentares que se posicionaram favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Rousseff expuseram suas opiniões com argumentos mais políticos e econômicos do que técnicos ou jurídicos. Justificativas como “perda da capacidade de governar”, “ausência de clima político”, “inflação” e “aumento do desemprego” foram mais usadas pelos deputados ouvidos pelo Estado que as “pedaladas fiscais”, principal fundamentação jurídica do pedido de impeachment que está em análise na Casa.

Já os deputados que defendem a permanência da presidente argumentam que não há base legal para dar prosseguimento ao processo. “Ela perdeu as condições políticas para livrar o Brasil da crise em que se encontra”, disse o deputado Átila Lins (PSD-AM), que vê a substituição de Dilma como “luz no fim do túnel para tirar o País desse imobilismo”. “Não acho que há crime, há crise. E crise não se resolve com impeachment”, rebateu Pompeo de Mattos (PDT-RS).

Embora haja um sentimento de que uma eventual gestão do vice Michel Temer poderia dar novos ares à capacidade de o governo de dialogar com o Congresso, a hipótese ainda é vista com ressalvas principalmente em relação à forma como seria formado o governo. “Tudo vai depender dos sinais que ele der. Ele teria de fazer um governo de coalizão”, resumiu o deputado Dimas Fabiano (PP-MG).

“Só de entrar o (Mauricio) Macri, a Argentina já está reagindo”, comparou o deputado Fernando Jordão (PMDB-RJ), em alusão ao presidente do país vizinho. “Temer é equilibrado, conciliador.”

O vice-líder do PPS na Câmara, Arnaldo Jordy (PA), disse que, embora não haja posicionamento oficial, o partido é “quase unânime” ao se posicionar favorável ao afastamento da presidente. Segundo ele, o PPS não apoia as diretrizes propostas na “Ponte para o Futuro”, divulgado pelo PMDB no ano passado com proposições para o País. “É radicalmente contra conquistas sociais”, disse.

Para o deputado Ariosto Holanda (PDT-CE), uma eventual substituição de Dilma por Temer seria o mesmo que “trocar seis por meia dúzia”. Embora diversos pedetistas afirmem que devem votar a favor do impeachment, Holanda considera que “o PDT vai fechar com PT” no dia da votação.

Cunha. O deputado Wolney Queiroz (PDT-PE) não vê legitimidade em um processo conduzido na Câmara pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), mas apoiaria um eventual governo Temer. Crítico ao peemedebista, o deputado Miro Teixeira (Rede-RJ) descarta a possibilidade de, num eventual governo Temer, Cunha ser o próximo na linha sucessória. “Ele é réu em investigação no Supremo”, disse.

Deputados dizem que bases serão decisivas

• Nordeste é a região com maior número de parlamentares dispostos a defender Dilma; no Sul, maioria trabalha pelo afastamento da presidente

Gabriela Caesar e Valmar Hupsel Filho – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - No levantamento feito pelo Estado, em todas as regiões do País há mais deputados federais favoráveis ao prosseguimento do impeachment do que defensores da permanência da presidente Dilma Rousseff no Planalto. O Nordeste continua sendo a região onde a petista consegue, porcentualmente, mais simpatizantes. Porém, mesmo no Nordeste, ainda há 18% de indecisos, a maior taxa entre todas as regiões. Alguns parlamentares falam até em contratar institutos de pesquisa para ouvir seus eleitores.

Desta vez, conforme o levantamento, 45% dos parlamentares eleitos pelo Nordeste defendem o afastamento de Dilma, enquanto 37% pedem a continuidade do governo. É, porém, onde Dilma perde com a menor margem nas regiões do Brasil. O governo tem chances de juntar mais votos e virar o jogo .

“Ainda estou ouvindo as bases. Por isso não me decidi. Se for necessário contrariar o partido, eu não teria dificuldade, mas acho que não será preciso”, afirmou o deputado Cicero Almeida (PMDB-AL), repetindo argumento usado por outros deputados. Recém-chegado ao PMDB, antes filiado ao PSD, Almeida quer disputar novamente a Prefeitura de Maceió.

Sua decisão no plenário, acrescentou, precisa estar de acordo com as lideranças locais. No Estado, o peemedebista atua próximo ao atual governador de Alagoas, Renan Filho, herdeiro do presidente do Senado, Renan Calheiros, ambos também do PMDB de Alagoas.

Entre os deputados da região Sul entrevistados pelo Estado nesta semana, 70% disseram estar convictos de que vão votar pelo impedimento da presidente. No segundo turno da eleição presidencial, Dilma foi derrotada por Aécio na região. A petista teve 40% dos votos contra 60% do senador tucano.

“As regiões Sudeste e Sul estão fechadas com o impeachment. Votos contrários só o dos deputados do PT e do PC do B mesmo. Como é que o deputado vai sair na rua depois de votar contra a vontade de seu eleitor?”, afirma o deputado pró-impeachment Valdir Colatto, do PMDB de Santa Catarina.

Quando questionado sobre a motivação de seu posicionamento favorável ao impeachment, o deputado Guilherme Mussi, presidente do diretório do PP de São Paulo, foi taxativo. “Sou de São Paulo e o Estado está fechado pelo impeachment”, disse ele, antes de citar razões técnicas, como as pedaladas fiscais. Em São Paulo, Dilma foi derrotada por Aécio Neves em 2014.

Pesquisa. A polêmica do impeachment tem feito com que internautas, além de correligionários e familiares, cobrem de parlamentares um posicionamento pelas redes sociais. Indeciso com a mobilização, o deputado Silas Freire (PR-PI), pré-candidato a prefeito de Teresina, preferiu contratar um instituto de pesquisa para identificar o posicionamento do eleitorado dele, com perfil “mais popular”. Na mesma linha de raciocínio está o deputado Fernando Monteiro (PP-PE).

Embora afirme que seguirá orientação da sigla, Monteiro contou que tem conversado com dirigentes no interior do Estado. “Dilma ainda tem grande maioria. Lula e PT também por causa da construção de moradias e das obras hídricas”, disse.

Lula faz de hotel em Brasília ‘QG da crise’

• Sem poder assumir Casa Civil, ex-presidente improvisa gabinete para negociação política

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Menos de sete quilômetros separam o Palácio do Planalto do hotel onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem feito articulações políticas desde que teve a nomeação suspensa para a Casa Civil. Alvo da Operação Lava Jato e impedido de pisar no Planalto, Lula recebeu ali, nos últimos dias, ministros e dirigentes de partidos, além de deputados e senadores da fraturada base de sustentação do governo no Congresso.

“Nunca pensei que a situação estivesse tão crítica”, disse ele, numa referência às “demandas represadas” dos aliados. “Estamos comendo o pão que o diabo amassou”.

A suíte do hotel onde Lula costuma se hospedar, em Brasília, foi transformada em uma espécie de quartel-general do “Fica Dilma”. O hotel é o mesmo onde morava o senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS), que ali foi preso pela PF, acusado de atrapalhar a Lava Jato.

Vez por outra Lula sai do gabinete de crise improvisado e se reúne com interlocutores em local reservado. Na quarta-feira, por exemplo, ele foi ao apartamento do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) e acertou a permanência de Helder Barbalho na Secretaria dos Portos, mesmo após o PMDB ter anunciado o divórcio do governo. Helder é filho de Jader.

Na quinta, antes de voltar para São Paulo, acometido por forte gripe, o ex-presidente se encontrou com o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), que foi ministro da Integração no governo Dilma Rousseff. Partido do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, morto em 2014, o PSB passou para a oposição, sob o argumento de que Dilma “perdeu a credibilidade e a capacidade de governar”.

Ainda assim, Lula tenta “pescar” votos avulsos naquela seara. Pela sua contabilidade, o PSB poderia contribuir com “uns seis ou sete votos” de um total de 31. Já o PMDB, mesmo rachado, teria “potencial” para dar a Dilma cerca de 35 dos 68 votos da bancada.
Se depender de Lula, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB), deve sair da equipe. Dilma resiste porque Kátia é sua amiga, mas ele avalia que a ministra não tem como conseguir apoio para a presidente. Numa das reuniões, petistas lembraram que o filho de Kátia, o deputado Irajá Abreu (PSD-TO), já votou contra o Planalto.

Novos tempos. Nas conversas para convencer aliados, Lula diz que, vencido o impeachment, Dilma está disposta a “refundar” o governo e a mudar a cara da administração. Foi dele a ideia de dialogar com todas as forças políticas, incluindo a oposição, liderada pelo PSDB, para tentar um “pacto nacional”.

Na avaliação de Lula, porém, Dilma precisa lançar com urgência medidas para pôr “dinheiro na mão do pobre”. Ele chegou a se irritar com o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, para quem essas iniciativas já estão em andamento. “Então vocês precisam se comunicar melhor porque, se eu não sei, ninguém sabe”, retrucou Lula.

Em outra frente, emissários do ex-presidente também procuraram, nos últimos dias, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pediram ajuda para enfrentar a crise. O governo diz estar preocupado com o acirramento dos ânimos e o clima de intolerância que tomou conta do País.

“Não podemos deixar o Brasil se fragmentar em nome de uma disputa política. Precisamos conviver com a diversidade de forma pacífica”, afirmou o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva.

Durante muitos dias, Lula também tentou um acordo com o vice-presidente Michel Temer, antes do encontro do PMDB que selou o rompimento com o governo. Levou um chá de cadeira e, quando finalmente conseguiu falar com Temer, fracassou na missão. “A presidente nunca quis me ouvir”, disse-lhe o vice.

No 4.º andar do Planalto, um acima de Dilma, o gabinete da Casa Civil – até 16 de março ocupado pelo ministro Jaques Wagner – foi esvaziado para receber Lula. Até agora, porém, está fechado. Virou “ponto turístico” de servidores, que querem saber quando o ex-presidente vai ocupá-lo.

Ministros do STF começam a questionar Dilma

• Membros do Supremo dizem, reservadamente, ver indicativos para investigar a presidente por tentativa de obstrução da Justiça ao nomear Lula

Beatriz Bulla - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Ministros do Supremo Tribunal Federal, tidos como simpáticos à gestão da presidente Dilma Rousseff, têm começado a questionar a petista em conversas de bastidores. Até o fim do ano passado, o STF parecia ao Planalto um palco mais amistoso do que o Congresso, mas o panorama mudou nos últimos dias com o agravamento da crise.

O abandono do governo dentro da Corte vai além da perspectiva sobre o impeachment. Integrantes do Tribunal dizem, reservadamente, ver indicativos claros de que há indícios para investigar a presidente por tentativa de obstrução da Justiça em razão da indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a chefia da Casa Civil. O sinal foi dado, na avaliação de um ministro, na decisão do plenário desta semana, que manteve no Supremo os grampos de Lula.

“Para afirmar o que a maioria do Tribunal afirmou, é preciso reconhecer que há indícios de infração penal (por parte de Dilma)”, diz um ministro que participou do julgamento. Na avaliação dele, o caso só foi mantido na Corte porque há suspeita de irregularidades cometidas pela presidente, que tem prerrogativa de foro. Do contrário, o caso poderia ser conduzido na primeira instância pelo juiz Sérgio Moro.

Relator da Operação Lava Jato no STF, o ministro Teori Zavascki não entrou, durante o julgamento, no mérito da discussão sobre uma eventual investigação de Dilma – que precisa ser solicitada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot –, mas deu indicativos, na interpretação desse integrante do Tribunal, de que há gravidade na conversa.

A análise sobre a deterioração do governo extrapola os gabinetes dos ministros tradicionalmente críticos a Dilma e agora faz parte do discurso de magistrados contabilizados pelo Palácio do Planalto, até hoje, como votos governistas.

Um ministro da Corte com boa interlocução com o Executivo já tem feito previsões de que o “triunvirato peemedebista” deve prosperar até a metade do ano. A expressão é uma referência interna à possibilidade de o vice-presidente da República, Michel Temer, assumir o governo no caso de afastamento, tendo como colegas de partido os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros (AL).

“O trem saiu da estação.” É assim que outro ministro define o processo “sem volta” de afastamento de Dilma. Para o mesmo magistrado, o Brasil vive uma crise aguçada por ações desastradas no campo econômico e o “fundo do poço parece nunca chegar”. O coro é reforçado por um terceiro integrante do Tribunal, para quem o impeachment se dá pelo esfacelamento da base aliada diante da derrota do presidencialismo de coalizão na gestão Dilma.

Nomeado ao STF pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dias Toffoli se afastou do Planalto durante o primeiro mandato de Dilma e se aproximou do maior desafeto de petistas hoje no Tribunal: o ministro Gilmar Mendes. Interlocutor do Planalto no Judiciário avalia que outros dois ministros, Celso de Mello e Cármen Lúcia, têm demonstrado decepção com o governo do PT. Quem mantém o contraponto às vozes críticas ao governo é Marco Aurélio Mello.

Lula: ‘Se tudo der certo, estarei assumindo o ministério na quinta’

• No Ceará, ex-presidente disse que ocupará cargo se STF permitir e que país vive ‘clima de ódio’

- O Globo

FORTALEZA e BRASILIA - A militantes, em Fortaleza, o ex-presidente Lula afirmou ontem que assumirá o comando da Casa Civil na próxima quinta-feira, se o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) reverter decisão que o impediu de ir para o ministério.

— Quinta-feira, se tudo der certo, se a Suprema Corte aprovar, eu estarei assumindo o ministério — disse.

Indicado para comandar um dos ministérios mais importantes do governo, Lula chegou a tomar posse, mas não pôde assumir o cargo por causa de uma liminar (decisão provisória) do ministro Gilmar Mendes, do STF.

Em 18 de março, Gilmar Mendes suspendeu a posse. A decisão tem validade até que o plenário do tribunal julgue o processo de forma definitiva. Apesar de Lula ter citado a próxima quinta, ainda não está marcado o julgamento do caso. A análise não deve ocorrer esta semana, porque não há previsão desse processo na pauta divulgada pelo tribunal.

Segundo Gilmar, a presidente Dilma Rousseff cometeu “desvio de finalidade” e “fraude à Constituição” ao nomear Lula. Para o ministro, o propósito foi conferir foro especial ao ex-presidente e, com isso, atrasar as investigações contra ele. Como ministro, Lula deixaria de ser investigado e julgado na primeira instância pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba. O plenário poderá manter essa decisão ou derrubá-la no julgamento de mérito.

No discurso, Lula afirmou também que o país vive um “clima de ódio’’ nunca visto antes e disse que ‘‘defender o impeachment” da presidente Dilma Rousseff é agir “como golpista”.

— Eu estou estranhando um pouco o que está acontecendo no nosso país. Eu completei 70 anos de idade. Vivo neste país fazendo política e nunca vi um clima de ódio estabelecido no país como está estabelecido agora. Aqueles que amam a democracia, aqueles que gostam de fazer política (...) querem que se respeite a coisa mais elementar, que é o respeito ao voto popular que elegeu a Dilma — disse.

O evento em Fortaleza teve apresentações de artistas locais antes dos discursos. A organização estimou em 65 mil o número de participantes. Segundo a Polícia Militar, foram de dez a 12 mil.

Semana passada, a maioria do Supremo confirmou a decisão do ministro Teori Zavascki, relator dos processos da Lava-Jato na Corte, de retirar do juiz federal Sérgio Moro as investigações sobre o ex-presidente. A decisão foi tomada após a divulgação de gravações envolvendo Lula e a presidente Dilma.

Temer sabe que o que estão fazendo é golpe, diz Lula em ato em Fortaleza

Isabel Filgueiras - Folha de S. Paulo

FORTALEZA - Em discurso realizado durante manifestação em Fortaleza neste sábado (2), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez duras críticas ao atual vice-presidente Michel Temer (PMDB) e disse que voltará a ser ministro da Casa Civil do governo Dilma "se tudo der certo".

"O Temer é um constitucionalista, ele é professor de direito, ele sabe que o que estão fazendo é golpe. E isso, ele sabe, que vão cobrar é pra o filho dele, para o neto dele amanhã, porque a forma mais vergonhosa de chegar ao poder é tentar imputar o mandato, dar o golpe numa mulher da qualidade e seriedade da presidenta Dilma Rousseff", afirmou.

Ele pediu que os deputados da Comissão Especial de Impeachment que não votem contra a presidente Dilma. "Eu tava pensando que eu ia descansar minha vida. Mas não vou permitir que haja golpe e queria fazer, nesta praça, um apelo aos deputados federais, que estão na comissão: esta não é a melhor maneira de chegar ao poder."

A posse de Lula no ministério foi suspensa pelo ministro Gilmar Mendes no último dia 18.

"Na próxima quinta-feira, se tudo der certo, se a Corte Suprema aceitar, eu estarei assumindo o ministério. "Eu volto para ajudar a companheira Dilma, ajudar de verdade, andar de mão dada com ela e com vocês", disse.

Lula afirmou que o país vive um "clima de ódio" e lembrou do caso da pediatro do Rio Grande do Sul que parou de atender uma criança porque a mãe é petista.

No pronunciamento, o ex-presidente voltou a se defender das acusações de que é dono de um tríplex no Guarujá e de um sítio em Atibaia."Faz dois anos que eu estou sendo vítima dos maiores ataques. Eles já criaram um apartamento para mim que não é meu. Eu quero convidar vocês, no dia que for meu, pra ir lá. Eles já inventaram uma chácara que não é minha e quando for minha vocês vão visitar minha chácara." Lula disse ainda esperar que a Polícia Federal e o Ministério Público tenham a "grandeza" de lhe pedir desculpas.

Lula também criticou o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, que tem feito campanha, inclusive com anúncios em jornais e revistas, a favor do impeachment. "Ele vai ter de explicar de onde vem o dinheiro para fazer essa campanha", disse.

Em um discurso rápido, sob chuva intensa, ele não mencionou a Operação Lava Jato ou as novas investigações que ligam o petrolão ao mensalão e ao caso do prefeito Celso Daniel, assassinado em 2002.

O petista reclamou do que chamou de "clima de ódio" no país. "Tenho 50 anos de política e nunca vi um clima de ódio estabelecido como vejo agora. Essa gente que vai pra rua, tentando usar verde e amarelo para dizer que são brasileiros, precisava ter trabalhado o tanto que nós trabalhamos", disse.

"Vocês viram que no Rio Grande do Sul, uma médica fascista não quis atender uma criança porque a mãe era petista? Nós estamos chegando a esse ponto e esse ponto é o ódio disseminado por eles", acrescentou.

O ex-presidente reagiu ainda a outdoors que foram espalhados pela cidade de Fortaleza contra sua presença, como o do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará (Simec). "Eu soube que ontem, nessa cidade, encheram de outdoor contra o Lula. Eu não fico com ódio. Aos 70 anos, estou pensando que o homem (Deus) quer me chamar. Então não quero brigar. O dinheiro que essas pessoas gastaram com outdoor para falar mal de mim, deviam ter vergonha e fazer outdoor pelo que fiz pelo Nordeste e pelo Ceará", disse.

Lula encerrou seu discurso criticando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Temer, Cunha, não vai ter golpe."

De acordo com a Secretaria de Segurança e Desenvolvimento Social do Ceará, entre 10 mil e 12 mil pessoas estiveram no "Ato por mais democracia", na praça do Ferreira. Já para a organização do evento, coordenado pela Frente Brasil Popular, foram 50 mil pessoas.

‘Não há golpe em curso’, diz Temer, em reação a Lula

• Em ato pró-Dilma, ex-presidente provocara vice, ao dizer que ele será cobrado ‘por filhos e netos’ por impeachment

Depois de o ex-presidente Lula dizer a militantes que, como professor, “Temer sabe que o que estão fazendo é golpe”, o vice-presidente devolveu: “não há golpe em curso no Brasil”.

- O Globo

- FORTALEZA e BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Michel Temer mostraram ontem claro desentendimento em torno da discussão sobre o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Em discurso para militantes pró- governo, em Fortaleza, Lula citou o vice-presidente — que capitaneou, na semana passada, o desembarque do PMDB da gestão Dilma. Ao dizer que perdeu muitas eleições, o ex-presidente mencionou Michel Temer:

— Eu quero que ele (Temer) aprenda sobre as eleições. O Temer é um professor de Direito e sabe que o que estão fazendo é um golpe. E isso, ele sabe que vão cobrar é dos filhos dele, é do neto dele, amanhã. Porque a forma mais vergonhosa de chegar ao poder é tentar derrubar um mandato legal — disse Lula, durante o ato, aos manifestantes.

Por meio de nota, a assessoria de Temer rebateu as críticas de Lula.

“Sobre as declarações do ex-presidente Lula, a assessoria de imprensa (da vice-presidência) esclarece: justamente por ser professor de Direito Constitucional, Michel Temer tem ciência de que não há golpe em curso no Brasil”, diz a nota divulgada à imprensa.

Caso o processo de impeachment seja aprovado pelo Congresso, o vice-presidente Miclhel Temer assumirá a Presidência da República no lugar de Dilma.

O evento pró- governo em Fortaleza, ontem, começou por volta de 9h. Antes de o ex-presidente Lula discursar, o governador do Ceará, Camilo Santana ( PT), afirmou que não houve cometimento de crime de responsabilidade por parte da presidente Dilma Rousseff.

— Nesse momento, estão tentando fazer o impeachment, para tirar nossa presidente. Nós não aceitamos isso porque não existe crime de responsabilidade. Isso é golpe, isso é golpe, presidente — disse. (com G1)

PMDB dirá que governo promove 'mensalão da Dilma'

• Oferecimento de cargos e emendas em troca de votos contra o impeachment será alvo de peemedebistas

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Aliados do vice-presidente Michel Temer (PMDB) planejam responder aos ataques que a decisão da sigla de romper com o governo Dilma Rousseff suscitou nos últimos dias. A estratégia também prevê a formulação de críticas públicas à articulação da petista de oferecer cargos e emendas em troca de votos contra o impeachment.

Nos bastidores, peemedebistas têm dito que essa trama configuraria "a versão do mensalão de Dilma" e que joga por terra o discurso de que a petista não coaduna com a corrupção, enterrando a imagem de "faxineira" que catapultou seu primeiro mandato.

Os aliados de Temer acreditam que Dilma irá insuflar a rejeição da população ao "barganhar abertamente cargos para manter o mandato" não poupando nem áreas estratégicas como a Saúde.

Conselheiros do vice dizem ainda que Temer não cairá na tentação de competir com o governo na oferta de cargos a possíveis aliados para se diferenciar da petista. Sem as mesmas armas, no entanto, como fazer para evitar que Dilma conquiste os votos que precisa para barrar o impeachment na Câmara?

A ala do partido que trabalha pelo afastamento conta com dois fatores. Primeiro, a mobilização popular. Líderes de movimentos de rua contrários ao PT fizeram, com o apoio de parlamentares pró-impeachment, um mapeamento dos endereços residenciais e dos escritórios políticos de deputados favoráveis a Dilma em suas cidades.

Com isso, pretendem fazer uma série de pequenos protestos para expor o apoio à petista e constrangê-los a mudar de opinião diante de sua base eleitoral.

O outro fator que ainda dá esperanças à ala pró-impeachment é a infidelidade da base de Dilma. Segundo esse grupo, os deputados sabem que, ainda que a presidente derrube o primeiro pedido de impeachment no plenário da Câmara, continuará com uma base mínima, insuficiente para governar, o que só agravaria a crise.

A contraofensiva da ala que é aliada a Temer decorre de dois movimentos: os ataques abertos de integrantes do governo ao vice e a reprimenda tardia que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fez à decisão do PMDB de romper com o governo.

Dois dias após a reunião que sacramentou o desembarque da sigla, Renan afirmou à imprensa que o movimento não foi "inteligente". O vice-presidente Michel Temer se irritou com a declaração. Ele telefonou para o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), e disse que a atitude era desnecessária.

Temer ainda insinuou que Renan foi desleal, lembrando que o acordo que definiu o formado da reunião do desembarque foi fechado na casa do presidente do Senado –e na presença de Eunício.

Os três decidiram na residência oficial de Renan que o ato seria rápido –teve três minutos– e que o fim da aliança seria aprovado por aclamação, para não expor a minoria dissidente no partido pró-Dilma.

Governo decreta sigilo sobre dados de ‘pedaladas’

• Dívida com a Caixa por gestão de programas sociais é mantida em segredo

Banco tem R$ 1,9 bi a receber de União, estados e municípios. O GLOBO pediu detalhamento do débito via Lei de Acesso


O governo Dilma decretou o sigilo de sua dívida com a Caixa Econômica Federal, que está relacionada às “pedaladas fiscais”, uma das razões do pedido de impeachment. Há sete meses, O GLOBO tenta, via Lei de Acesso, saber quanto a União deve à Caixa em taxas pela administração de fundos e programas sociais federais. O banco tinha a receber R$ 1,9 bilhão em 2015, mas esse valor também inclui débitos de estados e municípios. Ao se recusar a informar quanto desse total é de responsabilidade do governo, um conselho de ministros, em última instância, alegou que isso prejudicaria a estratégia de mercado da Caixa, informa Vinicius Sassine. Parecer da CGU, no entanto, defende a divulgação dos dados por ser o banco um ente público.

‘Pedaladas’ secretas

• Governo se nega a informar quanto deve à Caixa Econômica em pagamento de taxas

Caixa já entrou na Justiça para tentar receber R$ 274 milhões de ministérios

Vinicius Sassine - O Globo

-BRASÍLIA- O governo da presidente Dilma Rousseff decidiu manter em sigilo o tamanho exato da dívida e quem são os devedores de taxas destinadas à Caixa Econômica Federal por conta da administração de fundos e programas sociais. O banco público é contratado pelo governo para executar programas como o Bolsa Família e precisa ser remunerado pelos serviços prestados. Em processos de conciliação que tentaram, sem sucesso, garantir os repasses à Caixa, a Advocacia Geral da União (AGU) relacionou a falta de pagamento dessas taxas de administração ao represamento de recursos conhecido como “pedaladas fiscais”.

A União passou a protelar o pagamento das tarifas, um tipo de “pedalada” que gerou um débito incalculável com a Caixa; parte desse débito já é cobrada na Justiça Federal em Brasília. A composição da dívida, com o detalhamento de todos os programas pelos quais a instituição financeira deveria ser remunerada, permanecerá oculta, conforme decisão em última instância do governo em pedido de dados formulado pelo GLOBO via Lei de Acesso à Informação.

Para tentar obter a dimensão exata dessa “pedalada”, que passou ao largo inclusive das auditorias do Tribunal de Contas da União (TCU), foi pedido à Caixa o detalhamento de dados registrados nas demonstrações contábeis do banco. O balanço público informa apenas, e de maneira genérica, que em 2015 a Caixa tinha R$ 1,9 bilhão a receber por “administração de fundos e programas sociais”. No ano anterior, eram R$ 1,98 bilhão. O valor, porém, se refere a prestação de serviços de fundos e programas sociais “incluindo União, estados, municípios e entes privados”, conforme informado pela própria Caixa.

Comissão negou pedido em última instância
O pedido pela Lei de Acesso, apresentado em 29 de julho de 2015, cobrou o valor pormenorizado de cada fundo e programa; o tamanho exato das dívidas da União, dos estados e das capitais; e o valor privado envolvido. Todas as instâncias previstas na lei negaram. A decisão definitiva foi tomada por uma comissão mista integrada por representantes de nove ministérios.

Para negar o detalhamento dos valores das taxas a receber, a Caixa alegou que as informações devem ser mantidas em segredo por se enquadrar no artigo 6º do decreto de 2012 que regulamentou a Lei de Acesso. O artigo prevê que o acesso à informação não se aplica em hipóteses de “sigilo fiscal, bancário, de operações e serviços no mercado de capitais, comercial, profissional, industrial e segredo de justiça”.

Em resposta a um recurso, o vice-presidente de Finanças e Controladoria da Caixa, Márcio Percival Pinto, acrescentou mais um argumento: “A composição das contas referenciadas envolve informações próprias de mercado e da atuação e estratégia desta empresa pública”.

O entendimento não foi unânime no governo. Uma análise da área técnica da Controladoria Geral da União (CGU), a terceira instância para recurso prevista na Lei de Acesso, enxergou “princípio da publicidade” na informação. “Os contratantes, neste caso, são pessoas políticas — a União, os estados e municípios, aos quais o direito de privacidade não assiste. Ao contrário, as informações derivadas das relações constituídas pelas pessoas políticas obedecem, regra geral, ao princípio da publicidade”, argumentou a analista de Finanças e Controle da CGU Maíra Luísa Milani, responsável por dar um parecer.

A analista afirmou ainda que “os contratos de prestação de serviços firmados pela Caixa com os entes políticos não são conquistados em um mercado de livre concorrência entre as instituições financeiras”. “A própria Caixa reconhece, nos esclarecimentos prestados à CGU, o caráter não concorrencial dos serviços prestados, em razão da ‘exclusividade legalmente imposta hoje’.” Conforme a analista, os relatórios de gestão disponíveis não informam os “valores devidos pela União, estados e capitais”.

O parecer sugere que a Caixa informe os fundos e programas com taxas a receber e diz que o banco “descumpriu procedimentos básicos da Lei de Acesso à Informação”. Mas o ouvidor-geral da União Gilberto Waller Júnior superior da analista de Controle, discordou do parecer. Para ele, a informação deve ser pública, mas fornecida pelos devedores. Esse levantamento seria impossível de ser feito, por envolver diversos ministérios, 27 unidades da federação e as mais diferentes cidades. Na última instância prevista em lei, a Comissão Mista de Reavaliação de Informações concordou com o ouvidor-geral. A informação foi negada, com base no argumento do sigilo bancário.

As “pedaladas” consistiram na interrupção de repasses do governo aos bancos públicos, que se viram obrigados a arcar com programas como Bolsa Família, abono salarial e seguro-desemprego. Parecer da AGU de março de 2015 associa a dívida das tarifas à dívida das “pedaladas”. O primeiro débito permanece em aberto, inclusive com ações judiciais da própria Caixa, uma instituição da União, contra o governo. O segundo foi regularizado pela equipe econômica, depois de o TCU aprovar parecer pela rejeição das contas de 2014 de Dilma. O processo de impeachment da presidente se baseia principalmente na acusação de que a manobra fiscal voltou a se repetir em 2015.

O GLOBO revelou a “pedalada” com as taxas em julho do ano passado. A reportagem mostrou que, naquele momento, o governo deixava de pagar mais de R$ 1 bilhão à Caixa e ao Banco do Brasil referentes a taxas de administração de programas como Bolsa Família, Fies, Minha Casa Minha Vida e PAC. Os bancos foram contratados pelos ministérios para operacionalizar os programas, mas deixaram de ser remunerados. O valor de R$ 1 bilhão não equivale ao total da dívida com taxas, nem é exato, por não se ter a dimensão dos programas de governo.

Na Justiça, a Caixa tenta receber R$ 274,4 milhões dos Ministérios da Agricultura e das Cidades. O banco operacionalizou projetos de emendas parlamentares e o PAC e não recebeu taxas devidas. As ações tramitam desde 2013.

Um dos pilares do pedido de impedimento

• Rejeição, pelo Tribunal de Contas da União, das contas de 2014 do governo deu força à oposição

André de Souza - O Globo

BRASÍLIA – O processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff tem como um de seus pilares as chamadas “pedaladas fiscais”. Para melhorar artificialmente suas contas, o governo federal atrasou repasses a bancos públicos, que se viram obrigados a usar recursos próprios para fazer pagamentos de benefícios e programas sociais como o Bolsa Família, o seguro-desemprego e o abono salarial, entre outros. No entendimento do Tribunal de Contas da União ( TCU), isso representou uma transgressão à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Em 7 de outubro do ano passado, o TCU rejeitou por unanimidade as contas de 2014 da presidente Dilma, por entender que houve distorções da ordem de R$ 106 bilhões na execução orçamentária do governo. Parte do montante — R$ 40 bilhões — se referia às “pedaladas fiscais”, que, no entendimento do TCU, equivaliam a uma operação de crédito, com o governo tomando emprestado recursos dos bancos. O problema é que a LRF impede que o controlador — no caso o governo federal — faça empréstimos com as instituições financeiras que controla.

Posteriormente, o próprio Ministério da Fazenda calculou que o valor das “pedaladas” superava a estimativa feita pelo TCU e chegava a aproximadamente R$ 57 bilhões. Documento entregue pela pasta em novembro do ano passado à Comissão Mista de Orçamento (CMO) do Congresso mostrou um passivo de R$ 20,74 bilhões relacionado ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), operado pela Caixa Econômica Federal (CEF). Além disso, o governo deixou de repassar ao banco no prazo devido outros R$ 1,509 bilhão. A Caixa é responsável, por exemplo, por fazer os pagamentos do Bolsa Família, principal programa de transferência de renda do país e uma das maiores vitrines dos governos petistas. O restante das “pedaladas” dizia respeito ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e ao Banco do Brasil.

A palavra final sobre as contas de 2014 de Dilma cabe ao Congresso, que ainda não tomou uma decisão sobre o assunto. Mas a rejeição das contas pelo TCU deu força à oposição, que desde o ano passado vem lutando pelo impeachment da presidente. Em meio à guerra política com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Dilma viu o adversário aceitar, em dezembro do ano passado, o pedido de impeachment feito pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior, Janaína Paschoal e Flávio Costa. Entre outros pontos, eles usaram o argumento das “pedaladas” para pedir o afastamento de Dilma Rousseff.

Na segunda-feira, termina o prazo para que a presidente Dilma apresente sua defesa na comissão do impeachment na Câmara. O relator do processo, deputado Jovair Arantes (PTB-GO), disse na última sexta-feira que, se possível, entregará seu relatório já na próxima quinta-feira. A oposição pressiona para que o impeachment seja votado a partir do dia 14 ou 15 de abril. Para o processo ter continuidade, é preciso ter o voto favorável de dois terços da Câmara, ou seja, 342 dos 513 deputados. Depois, segue para o Senado, que também precisa autorizar o prosseguimento do impeachment. Caso isso ocorra, Dilma é afastada até o Senado concluir o julgamento, que poderá resultar no impedimento definitivo da presidente ou na sua absolvição.

Pedro Paulo tenta se descolar do desgaste do PT

• Pesquisa indicando rejeição fez pré-candidato do PMDB expor apoio ao desembarque do governo federal

Fernanda Krakovics e Marco Grillo - O Globo

Guiado por uma pesquisa que indicou alta rejeição à associação com a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o pré-candidato do PMDB à prefeitura do Rio e secretário municipal de Coordenação de Governo, Pedro Paulo, fez questão de comparecer à reunião do Diretório Nacional de seu partido, na última terça-feira, que oficializou o desembarque do governo federal e pretendia ser um motor do processo de impeachment.

Pesquisa encomendada pelo PMDB do Rio, segundo integrantes do partido, mostrou que 80,4% da população rejeitam a aliança com o PT. O dado foi a gota d’água para os peemedebistas fluminenses, até então a ala da sigla mais fiel a Dilma, decidirem retirar o apoio ao governo.

A sondagem foi feita logo após a divulgação, em 16 de março, de conversa entre o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), e Lula, gravada pela Operação Lava-Jato. No diálogo, Paes presta solidariedade ao petista e classifica como um “absurdo” sua condução coercitiva, pela Polícia Federal, para prestar depoimento. “Aqui o senhor tem um soldado”, diz Paes.

A preocupação do PMDB era com o impacto da declaração do prefeito sobre Maricá, cidade na Região dos Lagos chamada por ele de “uma merda de lugar”. Integrantes do partido disseram, porém, que o desgaste maior foi pela associação com Lula, Dilma e o PT.

Antes desse episódio, Pedro Paulo já fora alvo de manifestantes pró-impeachment que se reuniram em Copacabana, Zona Sul do Rio, em 13 de março.

Na ocasião, o nome do précandidato do PMDB foi citado no carro de som do Vem Pra Rua como um dos apoiadores do governo federal e vaiado pela multidão. Os organizadores aproveitaram para lembrar as denúncias de agressão de Pedro Paulo à sua ex-mulher.

Procurado por meio de sua assessoria de imprensa, o secretário municipal de Governo não retornou a ligação.

Petistas ameaçam romper a aliança no Rio

• PT estuda lançar candidato; vereadores do partido apoiam CPI

- O Globo

A ida do secretário municipal de Coordenação de Governo, Pedro Paulo, à reunião do Diretório Nacional do PMDB que definiu a saída do governo federal aumentou a irritação do PT. O partido ameaça retirar o apoio à candidatura do peemedebista à prefeitura do Rio. Os petistas têm cargos no primeiro escalão da administração de Eduardo Paes (PMDB), inclusive o de vice-prefeito, ocupado por Adilson Pires.

— Se o PMDB do Rio votar pelo impeachment, o PT desembarca — disse o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).

Depois que o PMDB do Rio rompeu com o governo Dilma, o presidente estadual do PT, Washington Quaquá, chegou a defender a retirada do apoio a Pedro Paulo. Os petistas estudam lançar candidatura própria ou compor uma chapa com o PCdoB. Os deputados Wadih Damous (PT) e Jandira Feghali ( PCdoB) são nomes cotados. Adilson Pires, porém, tenta colocar panos quentes.

— Não faz sentido esgarçar ainda mais a corda agora. Nossa prioridade é impedir o impeachment. O PMDB tem 68 deputados, e não dá para imaginar que todos vão votar pelo impeachment — pondera.

O distanciamento, no entanto, já chegou à Câmara dos Vereadores, onde foi protocolado pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as obras das Olimpíadas, no rastro da Operação Lava-Jato. Os três vereadores petistas — Reimont, Edson Zanata e Elton Babu — apoiaram a iniciativa. Reimont afirmou que assinaria o requerimento de criação da CPI mesmo que o PMDB não tivesse retirado o apoio à presidente Dilma Rousseff. Ele defende que o partido entregue os cargos e não apoie Pedro Paulo:

— O PT tem que romper com o PMDB no Rio. Muita gente no partido levanta essa tese, que agora ganha mais corpo, porque o PMDB foi muito desonesto com a presidenta Dilma. Existe um grupo do PT, e eu estou incluído nele, que não fará a campanha do Pedro Paulo, mesmo que esta seja a decisão do partido.

Sete em cada dez leitores da Folha apoiam o impeachment de Dilma

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Sete em cada dez leitores da Folha defendem a saída da presidente Dilma Rousseff (PT) do cargo, seja por meio do processo de impeachment ou pela renúncia.

O apoio ao afastamento da presidente pelo Congresso Nacional cresceu de 60%, no início do mês, para 73%.

A taxa de leitores que são favoráveis ao impeachment é próxima à registrada entre os brasileiros em geral.

Quando a mesma pergunta foi feita à população, entre os dias 17 e 18 de março, os números foram ligeiramente mais baixos: 68%.

O percentual de leitores contrários ao impeachment caiu de 35% para 25%. A taxa de indiferentes se manteve em 1% e os que não opinaram recuou de 4% para 1%.

Segundo pesquisa Datafolha realizada entre os dias 29 e 30 de março, também houve aumento, de 63% para 68%, no total de leitores que acham que Dilma deveria renunciar à Presidência. Na população em geral, 65% pensam o mesmo.

O percentual de leitores contrários à renúncia da presidente recuou de 35% para 29%. Os que não opinaram se mantiveram em 2%.

O instituto entrevistou 727 pessoas que leem a Folha em todo o país pelo menos uma vez por semana. A margem de erro é de quatro pontos percentuais, para mais ou para menos.

O número de leitores que acreditam que a presidente Dilma será afastada do cargo também cresceu de 36% para 68%. O dos que não acreditam no afastamento da petista recuou de 54% para 23%.

Na população em geral, 46% dizem que ela será afastada; para 47%, não será afastada.

Entre os leitores da Folha, a reprovação ao governo da petista atingiu taxa recorde: 80% avaliam sua administração como ruim ou péssima.

Quando a mesma pergunta foi feita à população em geral, entre os dias 17 e 18 de março, 69% reprovaram a gestão da presidente.

Temer
Os entrevistados também foram questionados sobre a avaliação a respeito de um eventual governo Michel Temer (PMDB), hoje vice-presidente da República.

Os leitores do jornal não têm expectativas muito otimistas em relação ao vice na Presidência. Só 14% imaginam que o peemedebista faria um governo bom ou ótimo. Para 40%, Temer seria um governante ruim ou péssimo. E outros 40% entendem que seria regular.

Os índices são próximos aos registrados na população em geral: 16% têm a expectativa de um eventual governo Temer ótimo ou bom.

Quando comparado com o governo Dilma, o eventual governo Temer é mais bem avaliado pelos leitores da Folha. Para 46%, o peemedebista faria um melhor governo do que a petista; para 33% será igual e para 17%, pior.

O leitor da Folha é mais otimista com Temer na Presidência do que a população em geral. Entre os brasileiros, 28% avaliam que o novo governo poderia ser melhor do que o atual; 38% avaliam que seria igual e 22%, pior.

Cobertura
A maioria dos leitores da Folha aprova a maneira como o jornal cobre o trâmite do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Para 75% dos entrevistados, a cobertura é ótima ou boa. Houve uma variação positiva em relação à pesquisa anterior, realizada nos dias 5, 7 e 8 de março, quando 63% dos leitores aprovaram o trabalho da Folha nesse item.

Consideram a cobertura regular 16% –na pesquisa anterior eram 24%–, e 7% a avaliam como ruim ou péssima, antes eram 10%.

O carro de Jagrená - Luiz Werneck Vianna

- O Estado de S. Paulo

Jagrená é uma divindade hindu que conduz um carro de trajetória errática sob cujas rodas os devotos se expõem a ser atropelados, em cultos místicos. Na metáfora famosa sobre a modernidade do influente sociólogo inglês Anthony Giddens, o carro de Jagrená alude a uma das suas consequências, qual seja, a de nos terem sujeitado aos azares da fortuna, quando perdemos domínio sobre as circunstâncias e nos tornamos vítimas de nossas próprias obras, como, por exemplo, na questão da degradação do meio ambiente e da energia nuclear.

A metáfora de Giddens bem pode servir também para a crise política e social que nos assola, que por falta de ponderação reflexiva dos atores nela envolvidos – para usar uma categoria cara a esse autor – pode nos lançar nas engrenagens letais de confrontos políticos que nos devolvam o horizonte de mais uma intervenção militar. Com efeito, na ausência de uma reflexão crítica e de ações que as levem à prática por parte de partidos e de personalidades públicas influentes, quer por se terem retraído em função do pandemônio reinante, quer porque se recusaram a uma via de negociação em nome de cálculos políticos egocêntricos, os conflitos, ao não encontrarem saída pelos caminhos institucionais, tomaram o caminho das ruas.

A linguagem que as ruas podem falar por si sós, como entidade vazia de um propósito político definido, como aparenta ser o caso das manifestações ora em curso contra o PT e seu governo, somente pode ser a do protesto e da negação.

Trata-se, pois, de atos orientados para exercer pressões sobre quem é externo a elas a fim de que materializem suas pretensões de se verem livres do que aí está. O paradoxo da situação está em que tais movimentações se têm mostrado refratárias à política e aos partidos, únicos personagens, salvo a hipótese de laboratório de um doutor Pardal em favor de uma intervenção militar, capazes de remover um governo que identificam como causa de nossos males.

Contudo não se encontra sem concorrência nas ruas a movimentação contra o governo do PT, que também as procura com seus movimentos sociais e com as entidades da vida associativa aparelhadas por ele. Com menor êxito, é certo, mas de modo expressivo. As ruas tornam-se palco desse cabo de guerra entre petistas e não petistas, e a partir delas já contaminam cada vez mais os lugares da convivência, como bares e até estádios de futebol e teatros.

Se alguém espirra num ônibus, e ouve de volta a voz solidária de outro passageiro que lhe deseja saúde, pode desatar nos demais passageiros reações em cascata que culminem com todos entoando o Hino Nacional, como no caso de ficção narrado em crônica de Cora Rónai. Enlaçada no nó, que a cada movimento seu ainda mais a aperta, a sociedade se crispa em ódio. Intelectuais de obra madura, poetas líricos, mesmo os humoristas, céticos por definição, desertam da reflexão e do bom senso e se atiram com gosto no terreno das paixões cegas. Falta, e se espera que não venha, a frase que ecoou nos idos da Revolução Francesa – é melhor um fim com terror do que um terror sem fim –, dando início ao desmonte da nossa democracia.

Por que tanta paixão? Por que tantas manobras, como essa tentativa de desconstrução de agências e personagens da vida republicana, confiados agora à sensibilidade olfativa de um ministro da Justiça para discriminar amigos e inimigos da ordem imperante? Pelos três anos que restam de governo à presidente Dilma Rousseff? Não paga a pena, ela não gosta de governar, sobretudo não sabe governar, como acaba de confessar ao se aplicar um autogolpe, destituindo-se dos poderes presidenciais em favor do ex-presidente Lula. Por que aspirou ao segundo mandato se Lula estava disponível para mais uma competição eleitoral em que se elegeria facilmente? Ele não poderia defender melhor o que é comum a ambos?

No entanto, questões que venham a arguir fundamentos racionais, no quadro que aí está, parecem ter perdido o propósito. Ingressamos no terreno das crenças e da fé e nos tornamos capazes, num país visceralmente capitalista como ainda é o nosso, de ignorar a inanidade de políticas econômicas que se escoram apenas na vontade política de lideranças pretensamente iluminadas – em seis meses, pontificou Lula dias atrás, teremos de volta a alegria. Alguns passos nessa falsa direção têm sido dados, conduzidos pelo imprevisto e pela pura necessidade de ganhar adesão popular contra o processo de impeachment que ameaça o mandato da presidente Dilma.

Ladeira abaixo no carro desgovernado de Jagrená, a presidente Dilma e seu partido nos levam, tangidos pelas denúncias que se acumulam contra eles no Judiciário, a processos que eles próprios não controlam. “Depois de mim, o dilúvio”, talvez sem essa Carta de 88 e suas formas de controle que se antepõem à vontade discricionária de quem sabe interpretar a vontade popular. Forças obscuras, mantidas por décadas à margem da política e da pedagogia que ela exerce sobre quem a pratica, já têm vindo à superfície em estado bruto, movidas pela esperança mítica de que “uma guinada à esquerda” traria consigo a bem-aventurança.

O caminho da esquerda, aprendemos em duras experiências, está no contínuo aprofundamento das instituições da democracia, e somente quem fabula quimeras a fim de macular nosso sistema judicial com a ignóbil acusação de agir como um Estado de exceção pode ignorar os crimes ora apurados pela Operação Lava Jato contra a República e a convivência democrática. A guinada por que a sociedade espera é a de livrar sua esfera pública das práticas deletérias que a têm feito refém de poucos e que dela se têm servido. Ela está pronta para isso, falta-lhe iluminar o caminho e pavimentá-lo com a obra de uma reforma política que permita à cidadania saltar a tempo do carro de Jagrená e se apropriar do seu destino.

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Luiz Werneck Vianna, sociólogo, PUC-Rio

A Constituição é o caminho - Fernando Henrique Cardoso

- O Estado de S. Paulo

O homem público nem sempre escolhe o momento em que é obrigado a atuar. Levado a opinar ou a decidir, não deve afastar-se de seus ideais nem pode desconhecer o contexto em que atua. Estamos confrontados com um processo desafiador. Sempre fui cauteloso para endossar impeachments porque se trata de mecanismo legal que anula uma decisão eleitoral majoritária. Procedi assim no caso do governo Collor. Só apoiei a tese depois de múltiplos indícios da existência de malfeitos. O surgimento de um deles (caso do Fiat Elba), a paralisia do governo e o clamor das ruas foram decisivos para a aprovação do impeachment. Fui cauteloso porque temia o retrocesso institucional: a nova Constituição tinha sido promulgada em data recente e ainda havia arroubos autoritários no ar.

Procedi de igual maneira quando da possibilidade de impeachment do então presidente Lula por causa do mensalão. Na época alguns afirmaram que procedi na suposição de que, desmoralizado, ele seria inevitavelmente derrotado em sua tentativa de se reeleger. Má informação ou má-fé. Eu pensava na dimensão histórica: Lula tinha uma trajetória, era o primeiro líder sindical a chegar à Presidência. A acusação de “as elites” o terem derrubado seria nódoa a pesar sobre a política brasileira por muito tempo, podendo até mesmo fraturar a sociedade.

Por que adotar outra atitude agora? É que o tempo revelou com nitidez o que antes era nebuloso. Para repetir palavras proferidas no Supremo Tribunal Federal em 2010 a respeito do mensalão, “uma organização criminosa se apossou do Estado”.

As práticas corruptas, reiteradas no petrolão, não se atêm a condutas pessoais, em si inaceitáveis. Trata-se da formação de um sistema que ligou governo, empresas e funcionários para eventual enriquecimento pessoal, mas principalmente para financiar partidos e campanhas eleitorais visando à manutenção do poder. É uma fraude à democracia, além de assalto ao Tesouro.

Sempre me referi à presidente Dilma respeitosamente. Não se trata, porém, do julgamento de condutas individuais, mas institucionais. Ao endossar a trama pueril de que há um “golpe” e se dispor a abrigar em seu governo pessoa suspeita de reles corrupção pessoal, a presidente incorre na dúvida de obstrução da Justiça, qualquer que tenha sido sua intenção. Isso reforça o sentimento favorável à abertura do impeachment na Câmara. Há outros indícios referidos na petição inicial a justificá-la, além das “pedaladas fiscais”. Aberto o processo, as provas devem ser julgadas pelo Senado.

O capítulo da Constituição que elenca os crimes de responsabilidade é amplo. O processo se desenrola no âmbito político, e não no estritamente jurídico. O próprio julgamento se dá no Congresso, e não nos tribunais. Como fundamento moral para tudo isso se tem o deslize essencial: a corrupção da democracia sob os auspícios de governos petistas. Do ponto de vista político é disso que se trata, e não de imputações pessoais. Para que se apreciem os argumentos probatórios de culpa, assim como os que poderiam levar à absolvição, aí, sim, o julgamento não pode ser meramente político nem baseado na falta de popularidade. Daí a ampla defesa às imputações penais. E a decisão final caberá ao Senado, sob o comando do presidente do STF.

A simples mudança de governo não resolverá os problemas nacionais. Estes requerem uma visão nova, a mudança das práticas político-eleitorais, bem como das políticas econômicas que nos levaram à recessão, ao desemprego e à desilusão.

Práticas essas resultantes da má condução do Estado pelo lulopetismo. Sob a retórica maniqueísta de que representariam o bem, enquanto as demais encarnariam o mal, o que se viu foi a formação de quadrilhas para assegurar o poder, com a aquiescência de empresários e partidos. Nenhum avanço social necessita da corrupção como coadjuvante.

O poder democrático requer a divergência, o cotejo e o choque de opiniões, submetidos à regra de que as maiorias decidem os impasses, respeitadas as leis, inclusive o direito das minorias e das pessoas. A corrupção do Estado impede a aferição veraz e livre das maiorias eleitorais, que passam a ser formadas graças aos fluxos financeiros advindos da roubalheira institucionalizada.

Podem ter razão abstrata os que pedem eleições gerais já. Mas como fazê-las agora sem romper a Constituição? A renúncia é ato individual de vontade que foi respondido com um rotundo não! O caminho da anulação das eleições de 2014 pelo TSE deve continuar, mas ele pode ser objeto de recurso ao STF, o que retardaria a decisão. Se esta ocorrer em 2017, prevalece o texto da Constituição que prevê eleições do presidente pelo Congresso se o tempo de mandato a se completar for de dois anos ou menos. Se houver contestação apelando-se à legislação infraconstitucional que define a eleição indireta apenas no caso de faltarem até seis meses para o término do governo em causa, da mesma maneira caberá demanda protelatória no STF.

A paralisia da ação governamental e a marcha cruel da crise econômica, que desorganiza a sociedade, impõem que se comece logo a reconstruir o futuro. Haverá líderes capazes de tal proeza? Só o tempo dirá. Para isso precisaremos de um mínimo de consenso entre as forças e lideranças sociais e políticas, inclusive as até agora dominantes, afastados os que tenham comprometimento pessoal com os malfeitos que arruinaram o povo, as empresas e o Estado. Nenhum compromisso para o futuro que esteja baseado no “cala a boca” das investigações (seus eventuais abusos devem ser corrigidos por decisões do Supremo) será capaz de reacender o que é essencial para o nosso futuro: a competência na condução do Estado, a confiança e o apoio da sociedade. Sem maniqueísmo, sem salvacionismo e sem pretensões hegemônicas.

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Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República

Contagem regressiva – Fernando Gabeira

- O Globo

O amanhã vai ser complicado. Começou a contagem regressiva para a queda de Dilma. Abril será um mês terrível para o governo que, por sua vez, tentará transformá-lo em terrível para todo o Brasil. Foi uma semana intensa de trabalho. Presenciei alguns dos principiais episódios: saída do PMDB, entrega de dois milhões de assinaturas pedindo dez medidas contra a corrupção e, sobretudo, as audiências da Comissão do Impeachment.

Nela, os dados estão lançados. Há uma expressiva maioria a favor da queda de Dilma. Só um milagre, desses bem poderosos, poderá mudar o jogo. Sabendo previamente do resultado, os deputados jogam para cumprir tabela, preocupados apenas em agradar sua plateia. Eles se enfrentam com cartazes, contra ou a favor do impeachment. Quando isso acontece, de um modo geral, eles querem dizer que não há muita discussão possível, nem grandes esperanças na troca de argumentos. Se a vitória do impeachment é quase certa na comissão, a contagem dos votos no plenário ainda não autoriza uma previsão tão nítida. O governo sempre poderá atrair deputados não para o voto contra, mas para a abstenção. É mais fácil negociar esta saída com eles. Não se desgastam tanto com a opinião pública, podem apresentar uma desculpa.

Em quase todas as votações decisivas, um grande número de deputados fica em seus gabinetes, à espera dos momentos finais. Os deputados que vendem sua abstenção são mais sutis que os defensores abertos do governo. Alguns deputados da base, sobretudo os do PT, não têm outro caminho, exceto votar por Dilma. O máximo que pode acontecer é perder alguns votos, sem contudo contrariar aquele núcleo para quem o voto pelo impeachment é uma traição. Estive na reunião do PMDB que rompeu com o governo. Em cinco minutos acabaram com cinco anos de relação. Não houve uma análise sobre o que os unia no passado e o que os separa no presente.

Eles gritaram: “Brasil urgente, Temer presidente e fora PT”. Na verdade, ninguém parecia preocupado com a saída do governo mas com seu lugar no que seria instalado com a queda de Dilma. Estavam felizes como se não houvesse amanhã, nem os novos passos da Lava-Jato. Na plateia, figuras controvertidas como Newton Cardoso, ex-governador de Minas; na mesa, Eduardo Cunha, cuja liberdade me faz duvidar da Justiça brasileira. O amanhã será complicado. Os políticos tradicionais que pensam em se aproveitar do desastre do PT para retomar o governo como se o Brasil fosse o mesmo do tempo de Sarney vão levar um susto. De um lado, enfrentarão o próprio PT e movimentos sociais ligados a ele, algo que me parece possível, se a democracia for usada com inteligência. Mas o Brasil que emerge desse processo, com intensos debates nas redes sociais, muito mais atento às peripécias da política, pode varrê-los do cenário, sem piedade.

As pessoas amadureceram para compreender a tática, a necessidade de organizar os passos intermediários para se alcançar um objetivo a mais longo prazo. No momento, o foco é o governo do PT, suas pedaladas fiscais, o rombo na Petrobras, a corrupção que se espraiou, o cinismo e a cara de pau de seus líderes. Um governo de transição só pode ser estável se equacionar bem suas relação com a Lava-Jato. Se escolher nomes de gente sob investigação, vai demonstrar que pensa como o PT e o desalojou do poder apenas para não partilhar com ele as benesses da mamata federal.

Não ter gente investigada é pouco. Será preciso também definir, publicamente, sua norma para o futuro. Aliás, voltar a uma norma do passado, quando existiam ainda vestígios de decência: no governo Itamar, as pessoas investigadas saíam para se defender. Volto para a casa cansado, escrevendo um pouco espremido no avião. O discurso da advogada Janaína Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment, aponta, entre outras, duas realidades interessantes para mim. A primeira delas é a de que há uma conexão entre as pedaladas fiscais, decretos secretos, rombo no orçamento e a corrupção que corroía o país. O dinheiro fantasiado nos planos de Dilma, era, de alguma forma, o dinheiro que se roubava ou, simplesmente, se dilapidava com a incompetência.

Um outro ponto que me comoveu foi sua mensagem ao Parlamento: somos apenas parte de um povo que, na realidade, sofreu um golpe, pois analisava a realidade a partir do falso quadro desenhado pelo governo. A missão das ruas é clara: descrever aos parlamentares uma situação em que o povo foi roubado e enganado com fantasias eleitorais. O país sofreu um golpe. Sua única saída é responder ao golpe com uma medida constitucional de autodefesa, que é o impeachment.

Senti que grande parte dos parlamentares compreendeu o cenário. Mesmo os que parecem não ter compreendido, caso de Renan Calheiros, estão apenas fazendo cálculos sobre sua própria salvação. Não creio que exista salvação para figuras como Cunha e Renan. A própria Justiça, cheia de dedos com gente como eles, terá de levar a sério a tese de que a lei vale para todos. Ninguém sai às ruas apenas para trocar de bandidos no poder.

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Fernando Gabeira é jornalista

E o sonho acabou – Ferreira Gullar

- Folha de S. Paulo

Acredito que a maneira que temos para sair da situação crítica em que nos encontramos é tentarmos entender o que ocorreu no país e o conduziu ao impasse.

Certamente, cada analista político tem sua própria compreensão do problema em que haverá, sem dúvida, alguma verdade, mas que, a meu ver, nem sempre pode explicar certos aspectos dos governos petistas que estão no poder há mais de 12 anos.

Em meus comentários, tenho buscado caracterizar esse governos como populistas, a exemplo do que ocorreu na Argentina, na Venezuela, na Bolívia e no Equador.

Se é certo que, em cada um desses países, o populismo se manifestou de maneira particular, em todos eles pôs em prática um tipo de governo que se apresenta como defensor dos pobres contra os ricos, embora, na prática, não seja bem isso, como constatamos no Brasil.

Esse novo populismo –ao contrário do que se impôs nos anos 1930, 40, 50 (por aí)– é um arremedo do regime marxista, mesmo porque surgiu como consequência do fim daqueles regimes no mundo inteiro.

Como o populismo latino-americano não nasceu de uma revolução e, sim, da disputa eleitoral, não pode impor a ditadura de um só partido mas, mesmo assim, pretende manter-se para sempre no poder.
Hugo Chávez, com seu socialismo bolivariano, mudou a Constituição da Venezuela para reeleger-se indefinidamente; o mesmo fez Evo Morales. Lula tentou um terceiro mandato mas não o conseguiu. O jeito foi eleger a Dilma, pensando em voltar quatro anos depois.

A intenção de permanecer indefinidamente no poder explica por que, em seu primeiro mandato, Lula evitou aliar-se ao PMDB, ao qual teria que ceder ministérios e altos cargos da máquina estatal. Em vez disso, aliou-se aos pequenos partidos, os quais, em vez de ministérios, comprou com dinheiro público –o mensalão.

Desgastado com esse escândalo –do qual escapou entregando a cabeça de seus principais militantes– Lula teve de aliar-se, no segundo mandato, ao PMDB, e lhe fazer as concessões conhecidas, algumas das quais reveladas pela Operação Lava Jato. Mas o projeto de poder de Lula não se limitou à compra de deputados e à barganha de cargos públicos.

Conforme têm mostrado as investigações realizadas, criou-se dentro da Petrobras uma aliança do governo com altos funcionários da empresa e dirigentes de empreiteiras para saqueá-la através de concorrências manipuladas e contratações fajutas, que geravam alta somas em propinas. Parte desse dinheiro era passada ao partido do governo e seus aliados.

Como se vê, a figura do líder operário Luiz Inácio Lula da Silva, que ganhou a confiança de certa intelectualidade de esquerda, na verdade juntou-se aos capitalistas que dizia combater, formando uma aliança criminosa que sonhava saquear o patrimônio público por décadas e décadas.

Como parte desse projeto, Lula e Dilma usaram recursos do Estado para os programas assistencialistas que lhes garantissem a reeleição permanente.

Com esse propósito, estimularam o consumismo, emprestando dinheiro do tesouro nacional a empresas produtoras de veículos, de geladeira, televisão, máquinas de lavar, enfim, de bens de consumo, para que os vendessem a preços acessíveis e a longo prazo aos consumidor de poucos recursos.

Ou seja, nós, contribuintes, financiávamos a política populista para que Lula se mantivesse no poder, como o pai dos pobres.

O que pretendo demonstrar com esses fatos é que o desempenho de Lula não foi apenas resultado de sua personalidade carismática. Na verdade, se atentamos para os fatos citados, é inevitável concluir que seu desempenho obedece a um projeto político que visava manter-se no poder indefinidamente. Ele só se esqueceu de que a economia tem leis que, desobedecidas, levam ao desastre. E o desastre chegou.

Agora, com o desembarque do PMDB do governo e a previsível aprovação do impeachment, a aventura lulopetista parece estar com os dias contados.
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Ferreira Gullar, ensaísta, crítico de arte e poeta

‘A esquerda e Lula perderam a credibilidade’, diz Chico de Oliveira

• Aos 82 anos, sociólogo e fundador do PT diz que impeachment de Dilma não é golpe, mas aposta que ele não se concretizará

“Dilma não tem mais força política para nenhuma iniciativa, não vai aprovar nada no Congresso. O difícil é saber o que vem depois disso”

Mariana Sanches - São Paulo- O Globo

O senhor entende, como dizem os defensores do governo, que o impeachment de Dilma é golpe?

É um jogo pesado mas não é golpe. Não tem as características institucionais de um golpe, é apenas um jogo extremamente pesado. O processo de perda de credibilidade do Lula é o que deveria preocupar mais o PT. Dilma se salvará do impeachment. É difícil reunir a quantidade de votos necessários para derrubá-la. Fazer declarações é uma coisa, mas, na hora de votar, o que acontece é outra. Agora, a direita está muito forte. O governo Dilma está acabado, independentemente do resultado de impeachment. O governo está apenas cumprindo prazos, os quatro anos constitucionais que lhe cabem, mas Dilma está muito desgastada, não tem mais força política para nenhuma iniciativa, não vai aprovar nada no Congresso. O difícil é saber o que vem depois disso, em 2018.

O que o senhor achou da nomeação de Lula para o ministério da presidente Dilma?

Foi uma manobra infeliz. Quem tem a experiência do Lula não pode cometer um passo em falso desses. Ficou muito evidente que era uma jogada para salvar o próprio Lula e o governo. Isso político experiente não faz, fica muito na cara! E deu tudo errado. Foi surpreendente, o Lula não é um aprendiz, está lá há 50 anos. Só o que explica é o desespero para tentar segurar o governo, o que também é uma bobagem, já que o governo Dilma não existe mais.

Que erros levaram o PT ao ponto em que está?

Há uma forte acusação ao PT que se reflete em cima do Lula, que de fato não conseguiu formar um partido. A explicação é que ele personalizou tanto o partido que na prática o PT não existe. Quem são os quadros do partido? José Dirceu está na cadeia, Genoino apagou- se, a saída da Marta foi uma perda inominável. O (prefeito Fernando) Haddad é um universitário, ele não tem uma pegada forte. Para ser referência, ele teria que perder o ar acadêmico, esse estilo de falar, e ser mais populista. Não sobrou nem surgiu ninguém, então eles primeiro recorreram a Dilma e, depois, sempre o recurso único foi o Lula. O PT hoje não tem ninguém, não acredito que o Lula será o candidato para 2018. O PT, que tirou a esquerda brasileira do limbo em que ela sempre vegetou e a levou à Presidência, já perdeu no confronto de forças políticas. E a esquerda voltou para o limbo. A esquerda e Lula perderam a credibilidade.

Como o senhor vê a disputa de 2018?

Da perspectiva do Lula, ele tem que fazer campanha todo dia até lá. Como ele está fazendo, tem que estar na mídia todo dia, precisa incendiar a massa para não acabar incendiado. É uma manobra tática muito arriscada do Lula se lançar candidato, ninguém pode garantir o que acontecerá até lá, mas acho improvável isso se confirmar. O Lula está tentando reaglutinar as forças, organizar a tropa. E espera que o pau coma do lado adversário, o que também pode acontecer, porque (José) Serra, (Geraldo) Alckmin e Aécio (Neves) precisam decidir quem comanda a articulação de oposição. Isso vai desgastá-los. Mas, de qualquer maneira, o cabeça da oposição terá grande chance de ganhar.

Qual a sua interpretação sobre a saída do PMDB do governo?

O PMDB é isso que sempre foi, uma aglutinação heterogênea que nunca define chapa de cabeça. A ruptura não é para valer. O PMDB embaralha as cartas mas não as dá. Ele é um agregado, não forma forças nacionais. Quem acredita no (vice-presidente Michel) Temer? Quem se entusiasma com ele? O risco para o PT não é o PMDB, são os tucanos. Não é à toa que o Serra voltou a aparecer. Ele é um risco real para o PT, é um político competente, duro e contundente. Está sempre com os dados na mão.

Como seria um eventual governo Temer, caso Dilma seja impedida?

Não vai fazer nada, vai ser um refém das forças que fizeram o processo contra Dilma. Vai ser um governo fraco, incapaz de formulações. Até porque a somatória dessas forças anti- PT é muito heterogênea, aquilo é um saco de gatos. Os próprios tucanos não lideram nem definem as diretrizes em um governo Temer. Aquele programa “Uma ponte para o futuro” é meramente formal. Se você me pedir, eu faço um programa daqueles em meia hora aqui nessa mesa.

Marina Silva desponta como uma candidata forte em 2018?

Não. A Marina, com essa história de sustentabilidade, não comove ninguém, não tem apelo popular. Em política, ou você dá um murro na mesa, ou sai da frente. Ela é uma preferência civilizada do eleitor, mas não passa disso.

Qual é a sua avaliação sobre a Operação Lava Jato?

É evidente que (o juiz) Sérgio Moro está fazendo uma opção política. Quem quiser acreditar que ele está orientado pela busca da verdade jurídica, que acredite, mas estamos assistindo a uma operação política poderosa. Ele não dorme de touca e sabe que está tirando a credibilidade do Lula, que é o alvo, e do PT e beneficiando o PSDB. Isso ficou claro no episódio do áudio entre Lula e Dilma, muito embora a conversa seja de uma ingenuidade gigantesca da presidente. Como dois políticos experimentados vão ter uma conversa como essa pelo telefone?

Mas se a operação é política, quem a patrocina?

Não acho que alguém esteja patrocinando a operação com algum fim, a situação vai se desenhando. O que não tira a gravidade da coisa. Dar encaminhamento jurídico a uma disputa política é um erro.