terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Opinião do dia: Geraldo Alckmin

"Quero reafirmar e acrescentar que a postura do Lula e do PT é de cinismo e hipocrisia. Devem satisfação à população brasileira e à Justiça. Cinismo em relação a tudo que está acontecendo. Achar que tudo isso é fantasioso é cinismo."

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Geraldo Alckmin, após reunião com governadores de 25 Estados realizada em Brasília, O Estado de S. Paulo, 2.2.2016

Lula fez 111 viagens ao sítio de Atibaia

• Seguranças do Planalto receberam total de 968 diárias por 283 pernoites

O ex-presidente Lula e família fizeram, de 2012 a este ano, 111 viagens ao sítio de Atibaia cuja reforma teria sido paga pela Odebrecht. Seguranças receberam diárias do Planalto por 283 pernoites no sítio, segundo o site da “Época”, inclusive em dias em que Lula estava no exterior. A família dele não tem direito a segurança.

Lula e seus parentes foram mais de cem vezes a sítio

  • Segundo ‘ Época’, seguranças receberam 968 diárias para trabalhar no local

- O Globo

- BRASÍLIA- Seguranças do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estiveram 111 vezes em Atibaia, no interior de São Paulo, ao longo dos últimos quatro anos, indicando que as visitas de Lula ao local eram frequentes. Na cidade fica um sítio utilizado pelo ex- presidente e reformado pela Odebrecht, empreiteira investigada na Operação Lava- Jato. As informações são da revista “Época”, que teve acesso a relatórios da Presidência da República sobre viagens de servidores que ficam à disposição de Lula.

A legislação permite que ex-presidentes tenham direito a quatro servidores para segurança e apoio pessoal, além de dois veículos oficiais com motoristas. As despesas são custeadas pela Presidência. Com posse desses dados, é possível saber a frequência com que Lula ia a Atibaia. O sítio está em nome de amigos da família, um deles sócio de Fábio Luís, filho de Lula. Lula nega ser dono da propriedade rural.

Os relatórios da Presidência cobrem o período de 2012 a 11 de janeiro deste ano. Ao longo desses quatro anos, há diárias em Atibaia pagas em nome de sete servidores. Segundo “Época”, foram, ao todo, 968 diárias que custaram R$ 189 mil. Os servidores pernoitaram 283 vezes. Em alguns casos, tiveram de alternar turno, para que sempre houvesse alguém na cidade à disposição de Lula. Em geral, as viagens eram de São Bernardo do Campo, onde Lula mora, para Atibaia, e depois de Atibaia para São Bernardo do Campo.

Visitas durante a Copa
No começo, em 2012, as viagens eram mais curtas. O ápice das visitas, segundo a revista, foi entre junho e julho de 2014, período da Copa. Lula teria assistido a jogos lá. Nessa época, os servidores passaram seis fins de semana seguidos em Atibaia.

Houve seis casos de deslocamento de servidores enquanto Lula estava deixando ou retornando o país. Segundo “Época”, a Polícia Federal registrou, por exemplo, saída de Lula do país em 13 de março de 2013. Apesar de Lula estar no exterior naquela ocasião, o Planalto registrou que o objetivo da viagem do servidor era “compor a equipe de segurança do Sr Ex-Presidente da República”.

Procurado pelo GLOBO, o Instituto Lula voltou a dizer que o sítio é de amigos da família e que o ex-presidente e sua mulher, Marisa Letícia, viajam ao local para passar dias de descanso. O Instituto Lula também informou que a Lei 7.474, de 8 de maio de 1986, define que o provimento de servidores a serviço dos ex- presidentes é para segurança e apoio pessoal. Assim, não há nada que os obrigue a seguir o ex- presidente, podendo acompanhar apenas seus familiares.

O programa eleitoral do PT que vai ao ar hoje, em cadeia de rádio e TV, fará a defesa do ex- presidente Lula.

‘ Isso aqui vai ser uma prisão’

• Lula não queria adquirir o imóvel no Solaris, objeto de desejo de Marisa Letícia

Cleide Carvalho - O Globo

SÃO PAULO – O tríplex no Guarujá, que pertenceu ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não era um objeto de desejo dele, mas de sua mulher, Marisa Letícia. Enquanto dona Marisa sonhava com o imóvel na praia para reunir filhos e netos nas férias de fim de ano, Lula achava que o tríplex seria “uma prisão”. Quem acompanhou o casal na visita ao prédio, garante

“Isso aqui, para mim, vai ser uma prisão. Vou ver o mar lá embaixo e não vou poder ir”, teria dito Lula ao presidente da OAS, Léo Pinheiro, quando estiveram juntos visitando o apartamento no edifício Solaris, na praia das Astúrias, um dos endereços mais caros da cidade

Na época, Lula achava que, devido à grande popularidade, não poderia frequentar a praia sossegado, sem ser assediado pelos banhistas.

Lula preferia frequentar o sítio em Atibaia, onde sua presença não chamava tanta atenção e a vizinhança já estava acostumada.

Neste domingo, em nota encaminhada à imprensa, a assessoria de imprensa do Instituto Lula confirmou que Lula esteve com Léo Pinheiro no tríplex do Guarujá , para conhecer o apartamento, que seria a única unidade disponível no condomínio.

“Lula e Marisa avaliaram que o imóvel não se adequava às necessidades e características da família, nas condições em que se encontrava. Foi a única ocasião em que o ex-presidente Lula esteve no local”, diz a nota.

A principal queixa do casal havia sido sobre a escada. Lula e dona Marisa lembraram que, com o passar dos anos, seria cada vez mais difícil para os dois usarem a escada para ir de um andar para outro do tríplex.

A OAS, que mantém o apartamento tríplex em seu nome, instalou um elevador interno no apartamento.

Em depoimento ao Ministério Público de São Paulo, o zelador disse que Lula não esteve lá apenas uma vez, mas em duas ocasiões, junto com dona Marisa: quando estava sendo instalado o elevador privativo e para uma “limpeza geral" no apartamento, que foi feita antes da instalação do elevador.

O zelador disse que o tríplex nunca recebeu a visita de outros interessados, como ocorreu com os demais apartamentos, que eram vistos por pessoas, acompanhadas de corretores. O funcionário do prédio falou também que outros familiares do ex-presidente estiveram no tríplex na época em que o imóvel estaria sendo decorado.

Desistência levou a prejuízo de R$ 100 mil

• Demora de seis anos levou Lula a perder dinheiro; MP desconfia da versão

Thiago Herdy - O Globo

- SÃO PAULO-. Ao desistir de comprar o tríplex do condomínio Solaris, no Guarujá, o ex-presidente Lula teve prejuízo de ao menos R$ 100 mil. Isso porque sua família demorou seis anos para optar pela devolução de valores investidos entre 2005 e 2009, quando os cooperados foram obrigados a decidir entre receber valores de volta ou pagar mais para ter o apartamento concluído pela empreiteira OAS.

Em nota divulgada domingo, o Instituto Lula informou que a ex- primeira dama assinou em novembro de 2015 termo concordando em receber R$ 188,2 mil de restituição, divididos em 36 parcelas de R$ 5.227,99. Com isso, a família do ex- presidente terá valores totalmente restituídos apenas ao final de 2018, o que aumenta o prejuízo estimado com o negócio.

A própria família de Lula calculou em R$ 286 mil o total investido pelo casal em uma unidade do edifício, se considerada a correção monetária até os dias atuais, o que permite chegar ao valor de prejuízo de quase R$ 100 mil, se considerada estimativa conservadora.

Investimento de R$ 777 mil
O Ministério Público de São Paulo suspeita que Lula usaria o crédito que tinha no Solaris para obter o tríplex 164- A do mesmo edifício, que teria sido submetido a reforma para atender ao ex-presidente, mas que ele desistiu após a revelação pelo GLOBO dos detalhes das intervenções da OAS. Apenas em móveis e equipamentos, a construtora teria gasto aproximadamente R$ 777 mil.

Em depoimento ao Ministério Público, o engenheiro Armando Dagre, sócio da Talento Construtora, disse que “praticamente” refez o tríplex 164- A, entre abril e setembro de 2014. Ele disse ter tido contato com a ex-primeira-dama Marisa Letícia, que visitava o local. Segundo ele, o contrato para reforma incluiu novo acabamento, uma outra piscina, mudança da escada e instalação de elevador privativo, que custou R$ 62,5 mil.

Em depoimento, dois funcionários do edifício — um zelador e uma funcionária da portaria — relataram ter visto Lula e a ex-primeira-dama visitando a reforma do apartamento. Anteontem, após evitar comentar os depoimentos, Lula admitiu ter visitado o apartamento ao lado do presidente da OAS, Léo Pinheiro, preso pela Lava- Jato.

Na nota divulgada domingo, Lula disse ter desistido de adquirir um imóvel no prédio, sob a alegação de que notícias divulgadas pela imprensa sobre o edifício teriam “rompido a privacidade necessária ao uso familiar do apartamento”. Na nota, o ex-presidente argumentou que os valores de reformas e modificações “naturalmente seriam incorporadas ao valor final da compra”, tese que o MP paulista questiona.

Pelo terceiro dia, O GLOBO perguntou à OAS por que ela permitiu que a família de Lula decidisse seis anos depois se ficaria ou não com um apartamento.

O prazo para fazer esta opção era 8 de novembro de 2009, exatos 30 dias depois da formalização da transferência do empreendimento da Bancoop para a OAS. A construtora não quis se manifestar.

No domingo, o Instituto Lula disse que adversários do ex-presidente e imprensa “tentam criar um escândalo a partir de invencionices”. Lula nega que era dono do tríplex e ressalva que quando a sua mulher se associou à Bancoop, em 2005, escolheu um apartamento comum do prédio e não o tríplex.

Perguntas sem resposta

- O Globo

– Por que Lula sustentou por tanto tempo possuir apenas uma cota no edifício, sem nunca mencionar um número de apartamento, como fez agora?

– Por que demorou seis anos para decidir se ficaria com o imóvel, se os demais mutuários tiveram apenas um mês para fazer essa opção, em 2009, de acordo com decisão da assembleia de cooperados da Bancoop?

– Por que a OAS fez uma reforma de R$ 770 mil apenas no tríplex 164- A, se a unidade ainda não tinha um destinatário definido?

– Por que o então presidente da OAS, Léo Pinheiro, acompanhou pessoalmente o casal em visita ao apartamento? – Por que a mulher de Lula, Marisa Letícia, acompanhou a reforma do apartamento, se ainda não havia decidido comprá-lo?

– Por que Lula não contestou O GLOBO quando, em 2010, o jornal informou que o então presidente esperava pela conclusão de um tríplex no Guarujá e não um apartamento simples, de 82,5 metros quadrados?

– Por que funcionários do condomínio eram orientados a evitar citar o nome de Lula ao serem perguntados sobre o apartamento?

PT vai à TV tentar conter corrosão eleitoral de Lula

• Nas inserções que vão ao ar a partir desta terça-feira, 2, partido prioriza a defesa do ex-presidente, desgastado após revelações de ligações com empreiteiras investigadas na Lava Jato

Alberto Bombig e Elizabeth Lopes - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - O PT intensifica a partir desta terça-feira, 2, uma campanha para tentar conter o processo de corrosão eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva. Líderes do partido e até assessores diretos do ex-presidente, em conversas reservadas nos últimos dias, avaliaram que o estrago político das mais recentes suspeitas levantadas pelas investigações em curso está se tornando praticamente irreversível no médio prazo – até a eleição presidencial de 2018.

Nas palavras de um petista com acesso a Lula ouvido pelo Estado, ao menos por enquanto, o problema do ex-presidente é mais grave na esfera política do que na criminal, na qual, segundo o próprio juiz Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato na 1.ª instância, ainda não há investigação formal que tenha Lula como foco.

O PT teve acesso a pesquisas variadas sobre o desgaste imposto pelas investigações à imagem do ex-presidente e decidiu que uma reação conjunta de defesa de Lula se tornou imperativa, sob risco de o partido chegar sem um nome eleitoralmente viável às eleições de 2018, quando Dilma Rousseff não poderá mais concorrer ao Planalto porque já foi reeleita em 2014.

Lula vem perdendo pontos em praticamente todos os cenários nos quais é testado como candidato do PT a presidente e a rejeição ao nome dele vem crescendo a cada sondagem. Nesta segunda-feira, 1.º, o Instituto Ipsos divulgou os resultados de um levantamento que questionou os entrevistados, no mês passado, sobre a imagem do ex-presidente. Apenas 25% disseram acreditar que Lula é “um político honesto”.

A despeito da defesa enfática de Lula em público, em privado petistas de alto escalão no partido e no governo já admitem que as ligações do ex-presidente com as empreiteiras alvo da Lava Jato, reveladas em capítulos nos últimos oito meses, são difíceis de serem explicadas politicamente. No domingo, o próprio Lula admitiu ter visitado o condomínio Solaris, no Guarujá (SP), junto com o ex-executivo da empreiteira OAS Léo Pinheiro, condenado à prisão.

O Solaris é um dos alvos da Lava Jato. Lula e sua mulher, Marisa Letícia, tinham a opção de compra de uma unidade no condomínio, que foi assumido pela OAS após a quebra da Bancoop. A Lava Jato também apura a reforma feita por outra empreiteira, a Odebrecht, em um sítio localizado em Atibaia (SP) utilizado por Lula e sua família.

Para os petistas, até agora Lula tem apresentado respostas rápidas na esfera jurídica, porém deixado a desejar na política porque não consegue ser claro ao explicar qual a natureza de sua relação com as empreiteiras investigadas na Lava Jato.

Aliados. O desgaste de Lula fez aliados históricos do PT colocar em ação um projeto que tem como horizonte tirar o partido da cabeça de chapa em 2018. PDT e PC do B já trabalham nos bastidores com a possibilidade de ter um nome do PT como vice do ex-ministro Ciro Gomes (hoje no PDT) para a sucessão da presidente Dilma.

Um governador aliado de Dilma afirmou ao Estado que a própria presidente já admite a hipótese de apoiar um nome que não seja do PT para sua própria sucessão, desde que ele esteja empenhado em defender a atual gestão da petista.

TV. A partir desta terça-feira, em rede nacional de rádio e TV, o PT fará uma defesa enfática do ex-presidente nas inserções do horário partidário gratuito. Ficarão relegados a segundo plano os conteúdos relativos à gestão Dilma e a questões do partido.

Em um dos quatro vídeos já tornados disponíveis, o presidente da sigla, Rui Falcão, diz que o País inteiro sabe o que Lula fez para melhorar a vida do povo brasileiro.

“Por isso mesmo, ele tem sido alvo de ataques, provocações e perseguições pelos preconceituosos de sempre. Eles não aceitam que o Lula continue morando no coração do nosso povo, principalmente daqueles que mais precisam”, afirma Falcão.

Apesar de Lula não aparecer no vídeos, a defesa feita por Falcão é enfática. Já Dilma não aparece nas quatro inserções e não há defesa de sua gestão. Nos vídeos, o PT vai afirmar que crises fazem parte da história de todos os países e que nenhuma dessas nações superou tais momentos sem trabalho e união.

Além dessas inserções, o programa partidário do PT está programado para o dia 23 deste mês. A ideia é defender a imagem do partido, abalada pelas investigações na Petrobrás.

Lula é achincalhado por coxinhas, diz advogado do petista

Catia Seabra – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Responsável pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o advogado Nilo Batista disse, nesta segunda-feira (1º), que o petista é vítima da maledicência de "coxinhas" –termo associado a opositores do PT.

Em entrevista à Folha, o advogado refuta a tese de que Lula tenha mudado de versões acerca do processo para a compra de um tríplex no Guarujá, que não se concretizou. Ele terá de depor como investigado no inquérito conduzido pelo Ministério Público de São Paulo que investiga lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio.

Batista –que se reuniu com Lula na sexta-feira (29) – afirmou que o "combustível nesse processo de achincalhamento é os coxinhas não admitirem que o um operário possa comprar um tríplex".

"Que nem é um trípleeeex", emendou Nilo, marcando a palavra tríplex na tentativa de mostrar que o apartamento –de 215 m², segundo o Instituto Lula – não é tão grande assim.

Nilo alfinetou: "tem gente que concorreu à Presidência e tem apartamento de frente para o mar na Vieira Souto e não falam nada". Durante a campanha de 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), adversário derrotado pela presidente Dilma Rousseff, morou em Ipanema, no Rio.

O advogado de Lula afirmou que não deseja que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso seja investigado.

Mas reclamou do tratamento dado a seu cliente, lembrando que o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró disse à Procuradoria-Geral da República que a venda da petrolífera Pérez Companc envolveu pagamento de propina no valor de US$ 100 milhões no governo FHC. "Não vão investigar nunca."

Batista contou que o empresário Léo Pinheiro, da OAS, insistiu para que fosse feita uma reforma no apartamento reservado ao ex-presidente, no Guarujá.

Mas que Lula só soube do custo da obra, calculada em R$ 700 mil, pelos jornais.

"A obra encareceu demais o apartamento e Lula desistiu. Mas é crime querer comprar um apartamento?".

Segundo ele, o ex-presidente sempre admitiu ter adquirido cotas para a futura aquisição de um imóvel. À época, a negociação era feita pela cooperativa dos bancários, a Bancoop.

Mas, com a quebra da cooperativa, o empreendimento foi assumido pela OAS. "A lei de cooperativas se estrutura em cotas", justificou.

Bote na sala
O advogado minimizou ainda a revelação feita pela Folha de que a Odebrecht teria sido responsável pela reforma em um sítio frequentado por Lula, em Atibaia, segundo fornecedores da obra.

Lembrando que o petista não é proprietário, mas "beneficiário indireto", ele disse que Lula não ocupava mais cargo público quando as obras foram realizadas:

"Ainda não me debrucei sobre isso. Mas vamos admitir que tenha sido feita uma obra. Qual é o problema?", reage Nilo Batista.

Segundo o advogado, um empresário poderia ter feito uma visita ao sítio e se oferecido para fazer uma obra, após avaliar a precariedade de suas instalações. "Aquilo é um puxado. E Lula não era mais funcionário público".

Alertado para o fato de que a obra começou no fim de 2010, quando Lula ainda ocupava a Presidência, Nilo Batista alegou que falava "de forma hipotética". Repetiu o argumento de que o sítio não pertence a ele.

A propriedade, conforme admite o ex-presidente, é frequentada por ele sobretudo nos finais de semana.

Segundo revelou a Folha, um barco de pesca foi comprado por Marisa, mulher de Lula, e entregue no sítio, provando o elo da família com a propriedade.

O advogado ironizou o fato: "Iria colocar o barco onde? Dentro do apartamento, como uma jardineira, colocar o bote na sala?".

Postura de Lula e do PT é de cinismo e hipocrisia, diz Alckmin

• Tucano fez criticas ao ex-presidente e ao partido após reunião com governadores de 25 Estados realizada nesta segunda-feira em Brasília

Eric Decat - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, classificou nesta segunda-feira, 1, de "cinismo" e "hipocrisia" a postura do ex-presidente Lula, suspeito de ser proprietário de um apartamento no condomínio Solaris, no Guarujá.

"Quero reafirmar e acrescentar que a postura do Lula e do PT é de cinismo e hipocrisia. Devem satisfação à população brasileira e à Justiça", afirmou Geraldo Alckmin, após reunião com governadores de 25 Estados realizada hoje à tarde em Brasília. "Cinismo em relação a tudo que está acontecendo. Achar que tudo isso é fantasioso é cinismo", emendou.

A Polícia Federal incluiu o tríplex 164-A, que seria da família do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Edifício Solaris, no Guarujá, no rol de imóveis com "alto grau de suspeita quanto à sua real titularidade" sob investigação na Operação Triplo X - 22ª fase da Lava Jato - deflagrada na última quarta-feira, 27.

"Além das inconsistências já detectadas quanto ao imóvel que pertencera a Marice Correa de Lima (cunhada do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto), igualmente chamaram a atenção outros imóveis do mesmo condomínio que indicaram alto grau de suspeita quanto à sua real titularidade", registra a PF.

O Instituto Lula, entidade presidida por Paulo Okamotto, confirmou que o ex-presidente esteve no apartamento em uma "única ocasião", em 2014, acompanhado da mulher, Marisa Letícia, e de José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, sócio da OAS.

Lula e Marisa foram intimados na semana passada a depor no próximo dia 17 como investigados em inquérito do Ministério Público Estadual que apura oito empreendimentos da Cooperativa Habitacional dos Bancários do Estado de São Paulo (Bancoop) assumidos pela OAS, alvo da Lava Jato por suspeita de formação de cartel em contratos com Petrobrás entre 2004 e 2014. Um desses empreendimentos é o condomínio Solaris - também alvo da Operação Triplo X.

PT. Em nota publicada nesta segunda-feira, o presidente estadual do PT de São Paulo, Emidio de Souza, considerou desrespeitosas declarações do governador Geraldo Alckmin dadas sábado. O tucano afirmou que "Lula é o retrato do PT, partido envolvido em corrupção".

"São Paulo precisa de um governador que tenha atitude diante das denúncias que pesam sobre seu governo e seus assessores e não de um comentarista de denúncias fantasiosas contra o melhor presidente da nossa história. Ao contrário do PSDB, partido de Alckmin, o PT nunca varreu a corrupção para debaixo do tapete e nem impediu investigações", diz trecho da nota.

Pesquisa mostra que 60% dos entrevistados são favoráveis ao impeachment de Dilma

• Segundo levantamento do Instituto Ipsos feito em janeiro, 22% das pessoas ouvidas são contrárias ao afastamento da presidente e 18% estão indecisos

Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Na véspera do retorno dos trabalhos do Congresso, levantamento divulgado nesta segunda-feira pelo Instituto Ipsos, organização especializada em pesquisas eleitorais que atua em 87 países, mostra que 60% dos entrevistados se dizem favoráveis ao impeachment da presidente Dilma Roussef, 22% são contrários e 18% estão indecisos.

Com a volta das atividades dos três Poderes em Brasília, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pretende apresentar, nesta segunda, questionamentos ao rito do processo de impeachment estabelecido no final do ano passado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Em dezembro, a Corte decidiu que o Senado tem autonomia para barrar o impeachment contra a petista, mesmo após eventual aprovação do processo na Câmara. Cunha entendeu, porém, haver dúvidas sobre a decisão e deve entrar com os chamados "embargos de declaração".

Rumos. De acordo com a pesquisa Ipsos, Dilma também começa o ano de 2016 com a popularidade em baixa. Para 79% dos entrevistados sua gestão é considerada ruim ou péssima, 15% a classificaram como regular e apenas 5% como ótima ou boa. Para 92% dos entrevistados, o Brasil está no rumo errado. Em outubro de 2014, momento das eleições presidenciais, a maioria (60%) achava que o País estava no rumo certo, segundo levantamento do instituto.

A popularidade dos partidos políticos também foi aferida na pesquisa. O PT ainda é o mais popular, com 6% das preferências, seguido de perto por PMDB e PSDB, ambos com 4%. A maioria, 82% dos entrevistados, disse não ter um partido preferido. Em 2002, o PT também era o preferido, com 28%, o PSDB tinha 10% e o PMDB, 6%.

Lava Jato. A pesquisa Ipsos também fez perguntas sobre a Operação Lava Jato. Entre os entrevistados, 94% já ouviram falar da operação da Polícia Federal e do Ministério Público, mas apenas 36% sabem detalhes a respeito da investigação que apura denúncias de desvios de verbas em contratos da Petrobrás.

"A pesquisa revela que a Lava Jato está de alguma forma na cabeça dos brasileiros, mas as pessoas não sabem os detalhes da operação", diz o pesquisador norte-americano Cliff Young, presidente de Ipsos Public Affairs nos EUA, área responsável pelas pesquisas de opinião pública. Ele veio ao Brasil para apresentar os resultados da pesquisa na Universidade de São Paulo nesta segunda-feira.

Segundo Young, a presidente Dilma está entre as mais impopulares do mundo. "No último ano do governo Bush, por exemplo, a aprovação dele era de 20%. Na Venezuela o presidente Maduro tem cerca de 15% de aprovação".

O levantamento realizou 1.200 entrevistas pessoais e domiciliares em 72 municípios, entre os dias 13 e 27 de janeiro.

Lava-Jato faz desabar imagem de Lula

Por Cristiane Agostine – Valor Econômico

SÃO PAULO - As investigações da Operação Lava-Jato atingiram em cheio a imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo pesquisa Ipsos divulgada ontem. De acordo com o levantamento, 25% dos entrevistados consideram que Lula é um político honesto. Durante o escândalo do mensalão, em 2005, eram 49%.

Dois terços do entrevistados (68%) pelo instituto acham que Lula não tem mais moral para falar de ética, ante 57% no mensalão. Na avaliação de 67%, o escândalo da Lava-Jato mostra que o ex-presidente é tão corrupto quanto os outros políticos. No mensalão, 49% tinham essa percepção.

Para o presidente do Ipsos, Cliff Young, a investigação sobre desvios na Petrobras reforçou o vínculo da imagem do ex-presidente à corrupção e teria tornado "inviável" uma eventual candidatura à Presidência em 2018. "A imagem de Lula está muito fragilizada", afirmou Young. Mesmo sem os escândalos, já seria difícil para o ex-presidente candidatar-se novamente, por conta da má avaliação do governo da presidente Dilma Rousseff e do 'cansaço' com o PT, que está em sua quarta gestão na Presidência, na avaliação do presidente do instituto.

Para a pesquisa "Corrupção, PT e a Lava-Jato", foram ouvidas 1,2 mil pessoas em 72 municípios do país entre os dias 13 e 27 de janeiro. A margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.

As denúncias envolvendo a Petrobras desgastaram não só o PT mas a imagem de todos os partidos, segundo a pesquisa: 82% consideram que a Lava-Jato está mostrando que todas as legendas são corruptas. Os mesmos 82% afirmam não ter uma legenda de preferência. Em 2002, eram 37%. A preferência pelo PT caiu de forma expressiva, de 28% em 2002 para 6% em 2016.

Na avaliação do presidente do Ipsos, a imagem do PT deixou de ser o do partido dos pobres para ser a da legenda dos corruptos. Segundo a pesquisa, o partido é considerado por 71% como mais corrupto que outras legendas. O levantamento mostra também que oito em cada dez entrevistados (82%) consideram que a sigla não tem mais moral para falar de ética. Em 2005, com o mensalão, 68% tinham essa percepção. Apenas 15% afirmam que o PT é um partido honesto - eram 27% em 2005.

O descontentamento com a gestão Dilma é forte: 92% dos entrevistados afirmam que o Brasil está no rumo errado e 79% avaliaram o governo como ruim ou péssimo. O impeachment da presidente tem apoio de 60%.

A pesquisa indica que quase todos os brasileiros têm conhecimento da Lava-Jato (94%) e nove em cada dez entrevistados não só apoiam a operação mas também acreditam que as investigações devem continuar "custe o que custar", apesar do impacto na economia. Quase metade (46%) tem a percepção que a apuração de desvios está piorando a situação econômica e de emprego no Brasil.

Apesar do apoio, há bastante receio em relação aos resultados. Ao serem questionados se vai "acabar em pizza", 46% concordaram, 31% discordaram e 23% não responderam. Por fim, 92% concordam com a afirmação de que "sempre vai existir corrupção no Brasil".

O presidente do Ipsos apontou os riscos para o sistema político com o enfraquecimento do PT e de Lula e o vácuo deixado pelo partido na centro-esquerda. "A questão é quem vai ocupar esse espaço. O grande risco no longo prazo é aparecer aventureiros, populistas. Há um espaço deixado agora, com um discurso populista de defesa dos mais pobres".

Em recurso sobre impeachment, Cunha acusa STF de intervenção

Márcio Falcão – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - No recurso apresentado nesta segunda-feira (1º) em que questiona o rito definido em dezembro pelo STF(Supremo Tribunal Federal) para o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o comando da Câmara acusa o tribunal de ter feito uma profunda intervenção no funcionamento interno da Casa, que restringiu direitos dos parlamentares.

O texto afirma ainda ainda que "os fatos e a história não podem ser manipulados e propositadamente direcionados para conclusões errôneas, precipitadas e graves."

A ação da Câmara, presidida por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi protocolada antes mesmo de o STF publicar o documento que resume os votos dos ministros e apresenta o resultado do julgamento, o chamado acórdão.

A justificativa oficial da Casa para não esperar o acórdão é de que a decisão do tribunal sobre o processo de impeachment pode ter interferência na definição sobre a formação de outras comissões da Câmara.

Nos bastidores, no entanto, deputados dizem que a medida faz parte de uma estratégia de Cunha para atrasar a composição das comissões que funcionam na Câmara, o que poderia ter efeito sobre o andamento do pedido de cassação contra ele no Conselho de Ética por suposto envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras.

O recurso será analisado pelo ministro Luís Roberto Barroso, que votou a favor do rito aprovado em dezembro pelo STF. A tendência é que a ação da Câmara seja rejeitada justamente por ter sido apresentada antes do acórdão.

O rito
No julgamento de dezembro, o STF anulou a formação da comissão que primeiro analisará o pedido de impeachment contra Dilma na Casa. Os membros desta comissão, por determinação de Cunha, haviam sido eleitos em voto secreto, mas o STF entendeu que a votação, neste caso, precisa ser aberta. Os integrantes que acabaram sendo eleitos de forma secreta eram majoritariamente pró-impeachment.

O STF também deu mais poder ao Senado no processo do impeachment. Segundo o tribunal, os senadores não são obrigados a instaurar o impeachment caso a Câmara autorize (com aval de 342 dos 513 deputados) a abertura do processo.

A palavra final para o afastamento de Dilma ao Senado agrada ao Planalto, já que a Casa vem se mostrando mais favorável ao governo do que a Câmara.

Na ação, de mais de 50 páginas, Cunha afirma que "talvez não se tenha notado ainda a relevância dessa decisão não só quanto ao processo de impeachment em si, mas ao futuro institucional da Câmara dos Deputados, e do próprio Legislativo".

O peemedebista diz ainda que a ação representa a "defesa da liberdade da Câmara em praticar seus atos internos, sem interferência do Poder Judiciário". E pede para o STF rever sua decisão nos principais pontos.

Antes do teor da ação ser divulgado, o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) afirmou que a decisão do STF está sacramentada. "Essa decisão [do STF] está afirmada, ao meu juízo, de acordo com a lei. Não há nenhuma dúvida sobre o que foi decidido".

Impeachment: Cunha acusa STF de intervir na Câmara

• Peemedebista entra com recurso contra decisão da Corte de definir rito para processo de afastamento

Carolina Brígido - O Globo

- BRASÍLIA- O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), apresentou ontem ao Supremo Tribunal Federal ( STF) recurso contra a decisão que a Corte tomou em dezembro, quando definiu o rito para o andamento do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Na peça, Cunha acusa o STF de intromissão indevida no funcionamento da Câmara, prejudicando a atuação dos parlamentares.

“Nunca na história do Supremo Tribunal Federal se decidiu por uma intervenção tão profunda no funcionamento interno da Câmara dos Deputados, restringindo, inclusive, o direito dos parlamentares”, diz o texto do recurso.

A regra é que o STF analise os chamados embargos de declaração apenas depois de publicado o acórdão do julgamento, o que ainda não aconteceu. Cunha explica ter entrado antes com o recurso diante da gravidade da situação. Em tese, o Supremo não pode modificar os efeitos de uma decisão ao julgar embargos de declaração. Esse tipo de recurso existe apenas para esclarecer pontos obscuros da decisão. Ainda assim, Cunha pede que o STF mude a decisão tomada em dezembro.

“A decisão proferida tem gerado inúmeras interpretações divergentes, contraditórias e obscuras, a ponto até mesmo de impedir o regular funcionamento da Câmara dos Deputados nos próximos meses”, diz o texto.

No documento, Cunha questiona três pontos principais. O primeiro é a decisão do STF de não permitir candidatura avulsa na disputa pela composição da Comissão do Impeachment. De acordo com o STF, apenas os líderes partidários podem indicar os membros dessa comissão, que seriam aprovados ou não pelo plenário da Câmara. Segundo Cunha, o Regimento Interno da Câmara determina que os integrantes da comissão sejam eleitos, e não indicados. Portanto, a chapa avulsa deveria ser permitida.

“Com efeito, a chapa avulsa é da tradição do Poder Legislativo e se constitui induvidosamente como matéria ‘ interna corporis’. É muito grave essa intervenção determinada por essa Suprema Corte em assuntos internos do Poder Legislativo. Esse ineditismo na decisão proferida pode acarretar consequências maiores do que o casuísmo desse julgamento”, diz a defesa da Câmara.

Caso seja mantida a proibição da chapa avulsa, Cunha pede que ele mesmo possa indicar os integrantes da comissão, caso o plenário rejeite sucessivamente os nomes apresentados pelos líderes.

Outro ponto contestado é que a eleição para a comissão seja por voto aberto, não secreto. A defesa argumenta que o voto secreto é a regra geral, porque “preserva a escolha dos votantes”. Por fim, Cunha questiona a decisão do STF de conferir ao Senado o poder de arquivar o processo de impeachment, mesmo que ele tenha sido aberto pela Câmara. O recurso pede que o Senado se limite a autorizar a abertura do processo, sem poder de veto.

Cunha (PMDB- RJ), disse que não tomará atitude em relação à comissão especial do impeachment enquanto os embargos não forem julgados: “Não faremos nada enquanto não julgar o embargo”, escreveu ele pelo celular. (Colaborou Isabel Braga)

A farsa desmontada – Editorial / O Estado de S. Paulo

Se em relação a Luiz Inácio Lula da Silva a Operação Lava Jato e afins não conseguirem revelar nada mais do que até agora veio a público, já estará mais do que demonstrado um traço importante do comportamento do ex-presidente que o desqualifica como homem público incorruptível ou, como ele próprio se definiu, a “alma mais honesta” do País: a promiscuidade com empresários corruptos como o ex-presidente da construtora OAS, condenado a 16 anos de reclusão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa no escândalo da Petrobrás.

Pressionado, Lula confessou, em nota divulgada por seu instituto, o que já se tornara indesmentível: fez uma visita, em 2014, a “uma unidade disponível para venda no condomínio”, o famoso tríplex do Edifício Solaris, no Guarujá, acompanhado de Marisa Letícia e de Léo Pinheiro, então firme no comando de sua empreiteira, que havia assumido a construção do prédio. Após a visita – segundo a nota, sob o título Os documentos do Guarujá: desmontando a farsa –, o casal concluiu que o apartamento “não se adequava às necessidades e características da família, nas condições em que se encontrava”. Aparentemente, para satisfazer o casal, Léo Pinheiro mandou fazer novas reformas, que foram fiscalizadas, ainda segundo a nota, em outra visita de Marisa Letícia, desta vez acompanhada do filho Fábio Luís.

Não é necessário especular sobre os motivos que teriam levado a OAS a assumir a construção do Solaris após a quebra da Bancoop nem as razões que teriam convencido a família Lula da Silva a desistir da ideia de ter um luxuoso apartamento naquele prédio. A pergunta para a qual Lula não tem resposta é a seguinte: por que, afinal, Léo Pinheiro se dispôs a apresentar pessoalmente ao ilustre casal a reforma que sua construtora havia realizado no tríplex e, quando foi informado de que o imóvel “não se adequava às necessidades” de uma família exigente, ordenou nova reforma, que a própria ex-primeira-dama viria a conferir pessoalmente pelo menos uma vez?

As razões de Léo Pinheiro são fáceis de imaginar. Lula, na condição de ex-presidente da República e maior líder do partido que continuava no poder, já havia desembolsado boa soma para a aquisição do imóvel e, mais que isso, merecia a deferência especial da presença do dono da construtora na singela apresentação da unidade reformada. E Pinheiro acertou, pois os Lula da Silva efetivamente se interessaram pelo negócio, já que o generoso anfitrião do encontro garantiu que o deixaria nos trinques. Só desistiram dele, meses mais tarde, no segundo semestre do ano passado, depois que a imprensa passou a publicar, segundo a nota, “notícias infundadas, boatos e ilações que romperam a privacidade necessária ao uso familiar do apartamento”, seja lá o que isso queira dizer.

As razões de Lula, homem público com ambições que não esconde, é que interessam aos brasileiros. Não se trata de questionar a lisura do negócio em que a família se envolveu. Trata-se de constatar que Lula, que sempre demonstrou desprezo pelos rigores éticos da “moral burguesa”, se permitiu expor publicamente uma relação promíscua com um empresário desonesto – relação que, a bem da verdade, precede de muito o caso do tal tríplex – interessado em transformar “laços de amizade” em ativos financeiros.

A relação espúria Lula-Léo Pinheiro se reproduz em muitas outras do gênero que povoam o ambiente de promiscuidade entre política e negócios, com uma infinidade de “amigos do peito do presidente”. Ela é a própria essência do secular e corrupto sistema patrimonialista que trava o desenvolvimento do País. Um sistema que, pelas injustiças que tende a provocar – o caso Bancoop é um magnífico exemplo –, sempre esteve na mira do PT enquanto era oposição. Um sistema ao qual Lula e seus seguidores se renderam sem o menor constrangimento há 13 anos, sob o argumento falacioso de que, para fazer bem ao povo, é preciso garantir a “governabilidade” a qualquer custo. Essa é a verdadeira farsa que a Lava Jato está desmontando. Lula e seus fiéis escudeiros, tendo à frente o notório José Dirceu, sempre se apresentaram como heróis ao povo brasileiro. Nunca passaram de homens comuns, daqueles que se deixam corromper pelas circunstâncias. Ao contrário deles, heróis mudam as circunstâncias e conservam suas virtudes. Lula e a tigrada nunca foram nem serão heróis – não passam de homens ordinários. Ordinaríssimos.

Marco Antonio Villa: A crise e seu espetáculo

- O Globo

• As acusações que pesam sobre Luiz Inácio Lula da Silva não encontram paralelo na nossa tradição

Como é possível um governo lambuzado em dezenas de casos de corrupção, e tendo o seu principal líder acusado de graves crimes, continuar agindo e dirigindo os negócios públicos como se o país vivesse em plena bonança econômica e respeito aos valores republicanos? Vivemos uma situação anômala. O mais estranho é que os dias vão passando, as crises — pois são várias — vão se sucedendo e se aprofundando, mas nada muda. Nada no sentido da interrupção deste perverso processo. É como se estivéssemos condenados ao fogo eterno, cada vez mais quente e mais devastador.

A sucessão das denúncias e as condenações na operação Lava- Jato — quase uma centena, até agora — são recebidas como algo natural, parte intrínseca da política. Diversamente dos Estados Unidos, o nosso destino manifesto seria conviver com a corrupção. Sempre teria sido assim — e sempre será assim. O que em outros países encerraria a carreira de um político aqui passou a ser entendido como um ato falho, de falta de esperteza.

Não é preciso ir muito longe na nossa história ou buscar formas metafóricas para tratar da conjuntura brasileira e de seus personagens. As acusações que pesam sobre Luiz Inácio Lula da Silva não encontram paralelo na nossa tradição e nem na contemporaneidade ocidental. Isto porque, além dos indícios de ocultação de patrimônio denunciados pelo Ministério Público, são estabelecidas relações com o maior desvio de recursos de uma empresa pública da história, o petrolão. E que levaram a Petrobras a uma situação pré-falimentar.

Lula continua agindo como se vivesse em um país imaginário e que sobre ele não pesasse nenhuma acusação ou — o que é pior — fosse inimputável. Quando disse que era a alma mais honesta do Brasil, a afirmação foi recebida como chacota. Mas não: ele acredita que é intocável, como os nossos imperadores de acordo com a Constituição de 1824 — ressaltando, claro, que nenhum deles, Pedro I ou Pedro II, cometeram ilícitos da magnitude do petrolão. Evidentemente que não imagino que Lula leu a Constituição Imperial. Qual o quê. Não leu nem a de 1988 — penso até em sugerir uma edição exclusiva para ele e, para deixar a árdua tarefa mais palatável, poderia colorir artigo por artigo.

Dilma considera que tudo vai bem. Ficou — ou fingiu? — indignada com a avaliação do FMI sobre a economia brasileira. Fala de um Brasil que não existe. As entrevistas com os jornalistas, às sextas-feiras, foram patéticas — patéticos também foram os jornalistas: alguns tiram selfies com a presidente. Estamos na maior depressão econômica da nossa história, e Dilma age como se tivéssemos crescendo a ritmo chinês. A reunião do tal Conselhão — que não tem legalidade constitucional; o que há na Constituição é o Conselho da República, que nunca foi convocado por ela — foi mais um exemplo de dissociação entre o mundo imaginado pela presidente e o cenário de caos econômico que vivemos. O mais patético foram os representantes empresariais que compareceram e legitimaram a farsa.

Teremos um 2016 onde as crises ética e econômica vão se agravar. A Lava- Jato — e outras eventuais operações da Polícia Federal — deverão devassar ainda mais os crimes deste triste método de governança adotado desde 1 º de janeiro de 2003. Tudo indica que a economia deve ter um desempenho igual ou pior que 2015, ou seja, a recessão deve chegar a um resultado negativo do PIB próximo de 4%. É como se assistíssemos a um naufrágio de dentro do navio, com acesso aos botes salva- vidas, mas sem que façamos qualquer movimento, inertes, passivos, quase que um suicídio histórico.

O projeto criminoso de poder ainda tem muita lenha para queimar. E estão queimando. Destruíram a maior empresa brasileira. Atacaram com voracidade os fundos de pensão dos bancos e empresas estatais. Agora, estão solapando as bases do FGTS com a complacência das centrais sindicais pelegas. Possuem uma ampla base de apoio que é sustentada pelo saque do Estado. A burguesia petista ainda tem os bancos e benesses oficiais como suas propriedades. Os sindicatos nunca tiveram tanto dinheiro, produto do famigerado imposto sindical. Os tais movimentos sociais sobrevivem com generosas dotações governamentais sem que haja qualquer controle da utilização destes recursos. E são milhares de sindicatos e associações. Isto sem falar em outros setores, como os blogueiros e jornalistas amestrados, os artistas — em tempo: o que Chico Buarque acha do triplex e do sítio do Lula? São tenebrosas transações? Pseudointelectuais et caterva.

Estamos em meio a uma selva escura. E, pior, sem que um Virgílio nos conduza. Fazer o quê? Este é o paradoxo que vivemos. O projeto criminoso de poder nunca esteve tão debilitado, desmoralizado. Sobrevive porque não encontra obstáculos na estrutura legal do Estado — as instituições, diferentemente do que dizem as Polianas, não funcionam —, e inexiste uma oposição política digna deste nome. Há esforços isolados, quando muito. Os líderes oposicionistas não estão à altura do momento histórico. São fracos, dispersivos. Não gostam de serem obrigados a ter de enfrentar o governo e seus asseclas. Preferem o ócio, a conciliação parlamentar. Acreditam que a Lava- Jato e a gravidade da crise econômica vão, por si só, derrotar a quadrilha que tomou conta do aparelho de Estado. Não entenderam que, assim como o hábito não faz o monge, a crise pode não conduzir mecanicamente a uma queda imediata do petismo. Pode sim empurrar o Brasil para uma depressão econômico-social nunca vista na nossa história. E quando forem assumir o governo, só haverá ruínas.

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Marco Antonio Villa é historiador

Luiz Carlos Azedo: As flores murcharam

• O governo até se esforçou para vender a imagem de que está tudo dominado, dos caciques da base governista aos empresários e banqueiros do país. Mesmo com o carnaval, não é assim que a banda toca

- Correio Braziliense

Com o fim do recesso, acabou a moleza para a presidente Dilma Rousseff e os estrategistas do Palácio do Planalto, que somente não aproveitaram melhor as flores do recesso porque são mestres em pisar no próprio jardim. Tudo bem que a Operação Lava-Jato roubou a cena no recesso, ainda mais com a investigação sobre o Condomínio Solaris, uma espécie de Edifício Balança Mas Não Cai petista. O governo até se esforçou para vender a imagem de que está tudo dominado, dos caciques da base governista aos empresários e banqueiros do país. Mesmo com o refresco do carnaval, não é assim que a banda toca.

Por exemplo, ontem a britânica The Economist mostrou para o mundo que o mise-en-scène oficial não funcionou: a revista ironiza ao afirmar que o Brasil é uma festa à beira do precipício, numa alusão ao nosso carnaval de rua. Para os investidores, a folia não será uma trégua para a crise. A revista resume os indicadores econômicos negativos — inflação, deficit público, falta de investimento, desvalorização da moeda —, avalia que o impeachment continuará na pauta do Congresso e mostra que a crise social pode ser ainda mais dramática por causa da epidemia de zika vírus e sua possível relação com a microcefalia. Tudo verdade.

O país visto por nós, porém, tem mais sutilezas. Uma delas é a situação do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), cujo afastamento do cargo e do mandato foi pedido pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ambos estiveram juntos, ontem, na abertura dos trabalhos do Judiciário, e não se cumprimentaram. Janot sequer citou o presidente da Câmara, terceiro na linha de sucessão da presidente Dilma, em seu discurso, como seria de praxe. Há expectativa de que o pedido seja levado ao plenário pelo presidente do STF, Ricardo Lewandowski, a pedido do ministro-relator da Operação Lava-Jato, Teori Zavaski, nas sessões de quarta ou quinta-feira.

Entretanto, os estrategistas do Palácio do Planalto torcem para que Cunha permaneça no cargo e responda ao processo de cassação do mandato no Conselho de Ética da Câmara, o que seria uma maneira de manter o bode no meio da sala, embaralhando as cartas para a opinião pública. À frente da Casa, Cunha desgasta a proposta de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ao mesmo tempo, ambos travam uma batalha de vida ou morte pelo controle da liderança do PMDB na Câmara. Dilma defende a reeleição do atual líder da bancada, Leonardo Picciani (PMDB-RJ). Cunha apoia a candidatura do deputado Hugo Motta (PMDB-PB), seu aliado fiel. O STF definiu que caberá aos líderes indicar os nomes dos integrantes da comissão especial que examinará a admissibilidade do pedido de impeachment. O PMDB tem oito integrantes na comissão de 62 nomes, o que praticamente define a maioria.

No Senado, onde a base governista é mais estruturada, o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), também está sob investigação da Lava-Jato, mas é um mestre na arte da sobrevivência política. Foi um dos artífices da recondução do procurador-geral Rodrigo Janot e se comporta como bom cabrito toda vez os procuradores da Lava-Jato vazam alguma informação comprometedora: não berra. Calheiros tem uma carta na manga que pode virar de pernas para o ar as relações entre os partidos no Congresso: a promulgação da emenda constitucional que abre uma janela de 30 dias para o troca-troca de partidos. A proposta surgiu com objetivo de esvaziar a oposição e enfraquecer o PMDB, mas a situação política do país se alterou profundamente desde quando foi urdida pelos alquimistas de Dilma.

A presidente Dilma Rousseff amarga grande impopularidade, o governo é desaprovado pela ampla maioria, o PT se atolou na lama do pré-sal e o ex-presidente Luiz Lula Silva nada contra a correnteza da Lava-Jato. O passe livre para os deputados ainda pode servir para o governo controlar a liderança do PMDB, mas o risco colateral é engordar as bancadas da oposição, inclusive a da Rede, de Marina Silva, que já goza de grande popularidade e poderia ampliar seu tempo de televisão com a entrada de novos deputados.

No Congresso também se decidirá outro assunto vital para o Palácio do Planalto: a recriação da CPMF, o antigo imposto do cheque, que enfrenta grande oposição na sociedade. O governo ainda não tem votos suficientes para aprovar o tributo, cuja arrecadação foi incluída no Orçamento de 2016, embora ele nem exista ainda. Estima-se em R$ 10 bilhões a receita a ser obtida com o tributo, a partir de setembro. Para isso, precisa ser criado até maio, pois somente pode ser cobrado 90 dias após a promulgação.

Raymundo Costa: Explicações mais ou menos convincentes

• Dirceu podia não conhecer, mas sabia quem era Duque

- Valor Econômico

O depoimento do ex-ministro José Dirceu ao juiz Sergio Moro, na sexta-feira, revela uma mudança de comportamento entre os investigados ou no radar da Operação Lava-Jato. Dirceu falou mais do que sempre deu a entender que poderia falar e estabeleceu um limite para as próprias responsabilidades. No sábado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não é investigado, segundo o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), tratou de dar explicações sobre o tríplex no Guarujá que supostamente seria de sua propriedade.

Vendo o cerco se fechar, Lula deu uma explicação bastante razoável e detalhada sobre o tríplex, embora tardia e cheia de contradições com o que antes dizia seu advogado de defesa. Houvesse falado há um, dois meses e teria talvez esgotado o assunto. Mas Lula fazia ar de ofendido. Desde o início ele devia essas explicações: se há uma pessoa no país que não pode dizer que não esteve em determinado lugar tendo estado, essa pessoa é Lula. Haverá sempre um porteiro para reconhecê-lo ou alguém querendo uma selfie.

Assim como o ex-presidente, o capitão de seu time, José Dirceu, não tinha como esconder o que era irrefragável. Segundo a defesa, Dirceu "admitiu seus pecados". A saber, a reforma de um apartamento bancada pelo lobista Milton Pascowitch, que ele ficou de pagar depois e não pagou, e pegar caronas em jatinhos de empreiteiras.

Dois casos em que negar seria pior. A reforma de um apartamento deixa pistas documentais, como recibos, e testemunhais, inclusive dos operários empregados na obra. Um porteiro, como no caso de Lula. Já a decolagem de um jatinho requer plano de voo, data, dia, hora e o nome dos passageiros a bordo. No mensalão, boa parte dos envolvidos não imaginava que a identificação rotineira feita na portaria do prédio onde funciona o Banco Rural serviria mais tarde de prova.

Dirceu recuou e incursionou por um território nunca antes desvendado por ele com tantos detalhes. Na frente do juiz Sergio Moro, o ex-ministro disse que só conheceu Renato Duque depois que ele já estava na diretoria de Serviços da Petrobras. É possível. Ao que se sabe, Dirceu arbitrou uma disputa entre Silvio Pereira e Delúbio Soares, então secretário-geral e tesoureiro do PT, respectivamente.

Uma das celebridades do mensalão, Silvinho entrou na Lava-Jato por meio de Fernando Moura, um lobista conhecido, amigo de Dirceu. Na Justiça, Moura refez sua delação premiada para dizer que Dirceu apenas bateu o martelo em favor da nomeação de Duque, mas que a indicação fora do antigo secretário-geral do PT (depois disse que voltou atrás por se sentir ameaçado).

De acordo com as investigações da Lava-Jato, Duque seria o braço do PT no esquema de corrupção da Petrobras. Nas conversas intramuros de Brasília, sempre foi o "homem do Zé Dirceu" na estatal. "Essa lenda percorre dez anos da minha vida", disse o ex-ministro. Dirceu não citou o nome de Silvinho, mas assumiu a responsabilidade pela decisão que, afinal, era da Casa Civil.

"Ao final desse processo [de indicações] eu concordava ou não com os nomes apresentados", disse Dirceu, "como é normal em qualquer governo presidencialista".

Quem acompanhou a formação do governo Lula, no seu primeiro ano, sabe que Silvinho tratou de praticamente todas as nomeações para o segundo escalão. O secretário-geral do PT recebia as indicações, anotava em uma planilha os nomes dos padrinhos políticos, seus partidos e os encaminhava ou não para a Casa Civil da Presidência. Eram centenas de currículos.

Havia de fato à época uma disputa entre Silvinho e Delúbio. Silvinho queria ir para os Correios e Delúbio, para o BNDES. Dirceu cortou as asas de Silvio Pereira e Lula deixou para Delúbio e o PT de São Paulo a gestão do FAT. O tripé era completado pelo ex-secretário de Comunicação do PT Marcelo Sereno, que foi para a Casa Civil trabalhar com Dirceu.

A triagem das indicações, no Palácio do Planalto, era feita por Sereno, nome que mais tarde ilustraria os diagramas do mensalão com Delúbio e Silvinho. O nome de Renato Duque não saiu do diretório do PT de São Paulo. Pode ser que o aprofundamento das investigações chegue até quem soprou o nome de Duque para Silvinho. Por enquanto, ele é o último elo da cadeia, antes de Dirceu "bater o martelo". Delúbio também tinha uma indicação para o cargo. Quem comparou e avaliou qual seria a melhor escolha foi Dirceu.

Questionado por Moro, o ex-ministro disse que não teve "nenhuma participação especial" na escolha do ex-diretor de Serviços da Petrobras. Afirmou que não fugiria de responsabilidades, mas que assumiria apenas aquelas que eram suas. Deu o seu recado. Dirceu sem dúvida podia não conhecer Renato Duque, mas sabia quem ele era, pois as planilhas de Silvinho eram completas sobre cada candidato a um cargo no governo do PT.

Míriam Leitão: Todas as armas

- O Globo

Brasil precisa usar todas as armas e combater em todas as frentes o vírus zika. A decisão da Organização Mundial de Saúde ( OMS) coloca a crise do vírus zika em seu devido tamanho: é uma emergência global. Depois dessa decisão, caberá ao Brasil elevar o nível de todas as ações. Tudo o que foi feito até agora no país, o epicentro desse terremoto, foi pouco, porque o vírus se alastra fazendo suas vítimas entre os mais vulneráveis.

O que foi determinante para que a OMS decretasse a emergência global foi a microcefalia, a ligação entre a doença e a má formação do cérebro dos bebês. O mundo vai trabalhar mais rápido, as pesquisas poderão ser aceleradas e os países vão aumentar o grau de cooperação no combate à doença. É a hora de o Brasil fazer mais do que tem feito.

Até agora, desde que a doença começou a fazer suas vítimas, e os pesquisadores descobriram a ligação entre o vírus e a microcefalia, o governo reagiu lentamente, o ministro Marcelo Castro fez declarações estranhas, e a presidente Dilma pouco apareceu. As ações começaram a ganhar mais substância nas últimas horas. Só agora se tem uma medida que permite ao Estado entrar nas casas que tenham focos do mosquito Aedes Aegypti. Ontem, o ministro disse que o caso pode ser ainda pior do que o imaginado.

Numa hora como esta, de emergência, de aguda aflição para as mães de crianças com microcefalia, de pânico entre casais que esperam seus filhos nascerem, o Brasil precisa de um ataque a esta tragédia em todas as frentes, com todas as armas. As histórias contadas neste jornal na edição de domingo são completamente inaceitáveis. As famílias têm que enfrentar a demora no diagnóstico, a falta de estrutura para que os bebês recebam o tratamento adequado. Em Pernambuco, onde houve mais casos da doença, há apenas quatro locais de reabilitação. Já em meio ao surto, houve falha no envio de larvicida para o Nordeste.

Estamos enfrentando o primeiro verão com esse surto, mas o Ministério da Saúde, o governo como um todo, não tem tempo para aprender porque a doença está avançando de forma “explosiva”, como disse a Organização Mundial de Saúde.

Neste difícil momento do Brasil, tudo parece ter vindo ao mesmo tempo. Recessão, inflação, colapso das contas públicas. No caso, os cortes no Orçamento não podem negligenciar o que é urgente. O tempo da escassez de recursos exige mais dos gestores públicos. Eles precisam saber as prioridades, aquelas às quais destinar o dinheiro dos contribuintes.

O país tem que refletir sobre todos os aspectos desse drama. Inclusive, se provocado, o STF precisa decidir a favor da vontade da gestante na interrupção da gravidez. Uma mulher, vítima da incompetência do país em conter o avanço do mosquito, não pode fazer às escondidas, a preços exorbitantes, a interrupção da gravidez, caso tenha optado por isso. Nunca será uma escolha fácil. A mulher que assim decidir precisa ser apoiada e não tratada como criminosa.

As famílias que tiverem os filhos precisam de todos os recursos que a ciência dispõe no momento para estimular as crianças e assim reduzir as limitações que certamente a criança terá. Tudo isso é tão dilacerante que todos os outros dilemas da vida brasileira, a crise econômica, a desordem política, tudo fica menor. Este é o pior dos nossos problemas, e a ele o país tem que dar a máxima atenção.

Bastou um caso nos Estados Unidos para uma reunião das áreas de saúde e segurança nacional. O Brasil já coleciona 4.180 casos de microcefalia suspeitos de estarem ligados ao vírus zika e só nos últimos dias se vê a Presidência mais envolvida com o problema. Até agora, tudo se passava como se fosse assunto do ministro da Saúde, que foi indicado para o cargo não por suas credenciais para tratar um problema dessa dimensão, mas para compor o xadrez político da presidente Dilma. Ontem, após a OMS decretar emergência global, Dilma convocou uma reunião ministerial e decidiu falar à Nação. Tarde e pouco.

Ainda se pode evitar os casos não acontecidos, ainda se pode tentar minorar o sofrimento dos atingidos pela tragédia, ainda se pode amparar as mães que tomarem a difícil decisão de não levar adiante a gravidez, ainda se pode montar uma estratégia nacional eficiente contra esse inimigo.

Paulo Paiva*: O emprego reflete a economia

- O Estado de S. Paulo

2015 terminou com taxa média de desemprego (6,8%) superior à de 2014 (4,8%), que havia sido a mais baixa registrada pelo IBGE desde 2003. Examinando o comportamento do mercado de trabalho com os dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), poder-se-ia concluir que a queda da economia brasileira só afetou o emprego em 2015. De fato, não obstante flutuações na variação do PIB ao longo dos anos, na série da PME as taxas médias anuais de desemprego caíram consistentemente de 2003 (12,3%) para 2014 (4,8%). A única exceção foi o leve aumento de 7,9% para 8,1%, de 2008 a 2009, quando a economia brasileira sofreu mais diretamente o impacto da crise financeira internacional.

Alguém menos atento poderia dizer que a crise na economia só começou em 2015. Aliás, durante a campanha de 2014, a candidata à reeleição usou e abusou dos índices de desemprego como evidência do sucesso de sua política econômica, afirmando ser o emprego a maior prioridade de seu governo e tudo o que fazia era para preservá-lo.

A aparente dissociação entre o desempenho da economia e do mercado de trabalho levou vários analistas a identificarem um possível paradoxo – queda simultânea da produção e do desemprego – quando a economia brasileira entrou em fase de desaceleração.

Os indicadores de desemprego no Brasil não são sensíveis às flutuações da economia pois, entre outros fatores, existe grande fluidez entre os setores formal e informal do mercado de trabalho. Parte dos trabalhadores demitidos se acomoda em atividades autônomas, cujo ajuste se faz pelo rendimento, e não pelo volume de vagas; daí as taxas de desemprego serem relativamente estáveis. Mas os dados do Caged, do Ministério do Trabalho, que registram os saldos de trabalhadores admitidos e demitidos mensalmente no setor formal, contam outra história.

De 2000 a 2003, quando a taxa média de variação do PIB foi de 2,5%, foram gerados 850 mil empregos formais por ano. De 2004 a 2007, esse número dobrou, resultando em saldo médio anual de 1.660 mil novos empregos, em linha com a expansão da economia, cuja média de crescimento no período foi de 4,8%. A crise internacional (2008-2009) reduziu ligeiramente a abertura de vagas no mercado formal de trabalho. E, quando o PIB cresceu 7,5%, em 2010, foram criados mais de 2.500 mil empregos, recorde na história do mercado de trabalho brasileiro.

A partir de 2011, contudo, com a queda nos preços de commodities e o esgotamento da expansão do consumo doméstico, a criação de empregos formais vem caindo anualmente. De 1.945 mil novos empregos criados em 2011, chegou-se, no fim de 2015, ao fechamento de mais de 1.500 mil postos de trabalho. Entre 2011 e 2015 foram abertas, em média, 644 mil novas vagas de emprego formal por ano, bem menos do que se abria de 2000 a 2003.

Os dados do Caged indicam, pois, que o mercado de trabalho formal responde às variações da demanda e vem mostrando o impacto da desaceleração da economia sobre o nível de emprego formal.

Os resultados negativos de 2014 (criação de só 398 mil novas vagas) e de 2015 (redução de 1.542 mil empregos) expõem o desastre da política econômica do governo Dilma sobre o mercado de trabalho. 

E as perspectivas para a retomada do crescimento da economia e consequente criação de empregos não são nada positivas. O governo vive conflito interno sem precedentes entre suas convicções ideológicas e a realidade imposta pelo mercado. Sem um programa consistente, proposições parciais de ajuste fiscal, como as apresentadas na reunião do chamado Conselhão, não agradam ao partido da presidente e dificilmente obterão apoio no Congresso. Ademais, as investigações da Operação Lava Jato poderão paralisar mais ainda o governo.

Sem mudança nos rumos da política econômica, mais postos de trabalho serão fechados. Os trabalhadores, sem emprego, continuarão pagando a conta da incompetência do governo, ajeitando-se como podem nas atividades informais. Até quando?
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*Paulo Paiva é professor da Fundação Dom Cabral e foi ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento

Pablo Neruda: O teu riso

Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas
não me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a flor de espiga que desfias,
a água que de súbito
jorra na tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
por vezes com os olhos
cansados de terem visto
a terra que não muda,
mas quando o teu riso entra
sobe ao céu à minha procura
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, na hora
mais obscura desfia
o teu riso, e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

Perto do mar no outono,
o teu riso deve erguer
a sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero o teu riso como
a flor que eu esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
curvas da ilha,
ri-te deste rapaz
desajeitado que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando os meus passos se forem,
quando os meus passos voltarem,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas o teu riso nunca
porque sem ele morreria.

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Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda