sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Opinião do dia: José Serra

A decisão (de manter a taxa Selic) foi correta. Dos males, o menor. Não cabe do nosso lado apostar no quanto pior melhor
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José Serra (PSDB-SP) Senador, sobre os juros, O Globo, 22.01.2016

Roberto Freire: O crime de lesa-pátria do PT na Petrobras

- Diário do Poder

Enlameada com a corrupção trazida à tona pela Operação Lava Jato e vítima do desastre administrativo produzido pelo lulopetismo nos últimos 13 anos, a Petrobras vive a maior crise de sua história e continua mergulhada em um buraco que parece não ter chegado ao fim. Nesta semana, a estatal registrou a maior perda de valor de mercado entre todas as empresas listadas no Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, segundo levantamento da consultoria “Economatica”. Se, em maio de 2008, a companhia era avaliada em R$ 510,3 bilhões, hoje esse valor não passa de R$ 73,7 bilhões – o que corresponde a um tombo de R$ 436,6 bilhões ou 85,5% do valor de mercado em oito anos.

Na última segunda-feira (18), as ações preferenciais da Petrobras desceram abaixo dos R$ 5, cotadas a inacreditáveis R$ 4,80, uma queda de 7,15% em relação ao fechamento anterior. Com o valor corrigido pela inflação, trata-se do menor patamar desde 1999 e, em termos nominais, desde julho de 2003. Somente nos 18 primeiros meses de janeiro, o derretimento das ações da empresa foi de 27%.

Uma das consequências dramáticas da queda vertiginosa no valor das ações é o prejuízo dos cidadãos que investiram seus recursos do FGTS na Petrobras. Criados no início da última década, os chamados fundos mútuos de privatização (FMP) permitem o investimento de até 50% do FGTS em papéis da petrolífera. Assim como muitos brasileiros, esses trabalhadores foram ludibriados pela máquina de propaganda enganosa do lulopetismo e mal sabiam que, ao fim e ao cabo, estavam entregando sua poupança nas mãos de corruptos.

A desvalorização internacional do preço do petróleo, que hoje está no menor patamar dos últimos 12 anos, certamente influencia nos maus resultados da Petrobras. Mas, ao contrário do que querem fazer crer os defensores do atual governo, não é o cenário externo o maior responsável pela situação calamitosa pela qual passa a empresa. Ao contrário: o que levou a Petrobras à bancarrota foi a irresponsabilidade dos governos de Lula e Dilma, aliada ao populismo barato e à corrupção desenfreada que tomou conta do Estado brasileiro desde que o PT ascendeu ao poder central.

Para se ter uma ideia do tamanho do rombo em comparação a duas petroleiras norte-americanas, em 2010 a Petrobras valia 62% da Exxon e 124% da Chevron e, hoje, esse percentual é de 6% e 12%, respectivamente, ainda de acordo com a “Economatica". É importante lembrar que Dilma Rousseff sempre foi peça central dessa engrenagem, ocupando posições de comando, seja como ministra de Minas e Energia, chefe da Casa Civil ou presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Se estivesse nesses cargos em qualquer empresa atingida por uma queda de tamanha proporção, a atual presidente da República já teria sido demitida, na melhor das hipóteses, por absoluta incompetência gerencial.

Hoje vilipendiada por uma gestão que lhe é nociva, a Petrobras tem sua história diretamente ligada à construção de nossa identidade nacional. A campanha “O petróleo é nosso”, que mobilizou o país desde o fim dos anos 1940 e levou à criação da estatal em 1953, contou com participação ativa do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que deu origem ao PPS. Na época, houve forte pressão internacional para que o Brasil não produzisse petróleo, pois isso lhe daria mais soberania, o que não era do interesse estratégico das grandes potências, mas esta luta foi vencida pelos brasileiros. Lamentavelmente, coube justamente a um governo que se diz de esquerda cometer este verdadeiro crime de lesa-pátria contra um símbolo nacional, destruído pela ação de uma quadrilha que assaltou a República.

A gestão temerária levada a cabo pelo PT, que loteou a Petrobras e a transformou em um feudo político da pior qualidade, é o retrato de um governo desmoralizado, corrupto e capaz de levar à lona nossa maior empresa em nome de um projeto criminoso de poder. A sociedade precisa reagir. A Petrobras é nossa, é de todos os brasileiros, e devemos resgatá-la antes que seja tarde demais.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Merval Pereira: Em boca própria

- O Globo

A partir da declaração bombástica do ex-presidente Lula de que não existe ninguém no Brasil mais honesto do que ele, é possível constatar que a Operação Lava-Jato, assim como já acontecera com o mensalão, provoca em caciques petistas uma autorreferente sinceridade que chega às raias da comicidade.

Para começar, sem querer, Lula repetiu, anos depois, a mesmíssima frase que o deputado Paulo Maluf cunhou para se defender das acusações de corrupção. A tal ponto que na internet já surgem montagens afirmando que Maluf queixou-se de que Lula roubara-lhe a frase, logo num debate sobre roubalheiras.

Esquecendo-se do ditado que diz que “elogio em boca própria é vitupério”, Lula foi tão convincente quanto quando se diz pioneiro da boa governança no país: “Se tem uma coisa que eu me orgulho, neste país, é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da Igreja Católica, nem dentro da Igreja Evangélica. Pode ter igual, mas eu duvido”. Disse a blogueiros aliados, sem corar e nem provocar em seus “entrevistadores” reações de espanto ou risos.

Embora beire o ridículo, a frase de Lula tem o objetivo de criar constrangimento às investigações que se aproximam dele, tanto que o ex-presidente continuou em tom de desafio: “Duvido que exista um promotor, um delegado, com a coragem de afirmar que me envolvi em algo ilícito”.

A postura de Lula tem antecedentes em diversos companheiros petistas, alguns deles na cadeia depois de pronunciá-las. A mais famosa e hilária pertence ao ex-ministro todo poderoso José Dirceu, ainda quando estava sendo investigado pelos crimes do mensalão, pelos quais foi condenado. “Estou a cada dia mais convencido de minha inocência”, disse Dirceu, como se a cada reminiscência do que fizera como chefe da Casa Civil de Lula, mais elementos absolutórios fossem agregados à sua memória.

O resultado final dessa revisão foi que Dirceu acabou condenado pelo Supremo Tribunal Federal no processo do mensalão, e está novamente na cadeia, ainda sem condenação, devido à sua atuação nos escândalos do petróleo. E, a cada dia, deve estar mais convencido de sua inocência.

Também a presidente Dilma teve sua oportunidade de dar declarações assertivas sobre seu próprio comportamento. Ao responder a uma pergunta de jornalistas estrangeiros sobre como reagiria se fosse constatado seu envolvimento nos escândalos da Lava-Jato, ela teve uma reação muito semelhante à do exministro José Dirceu. Disse Dilma: "Eu sei que não estou nisso. É impossível. Eu sei o que eu faço”, assegurou ao canal francês TV France 24.

Não fosse sua proverbial dificuldade em se expressar, a presidente Dilma poderia ter respondido a perguntas desse tipo de maneira direta, sem necessitar dar testemunho a seu próprio favor. O mesmo vício de linguagem pode ser encontrado em declarações do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, antes de ser preso na Operação Lava-Jato.

Em uma reunião do PT, ele disse ao microfone a seguinte pérola, sendo muito aplaudido, a respeito da quebra de seu sigilo telefônico: “Eu sei o que fiz. Não vão encontrar nada”. O que tanto pode significar que ele não fez nada de ilegal, como também que está convencido de que escondeu tão bem suas falcatruas que não há chance de ser descoberto.

Depois disso, Vaccari não apenas foi preso, como já foi condenado em primeira instância pelo juiz Sérgio Moro a 15 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa.

Essa reação conjunta de lapsos e atos falhos de petistas graduados só pode ter origem na ansiedade de se livrar de acusações que a cada dia se mostram mais comprováveis, através das delações premiadas que fornecem informações confiáveis aos investigadores.

Hélio Schwartsman: Vacas macérrimas

- Folha de S. Paulo

Numa situação em que falta dinheiro até para manter hospitais funcionando, você ampliaria as verbas destinadas a políticos para usarem em suas campanhas? Pois Dilma acaba de conceder quase R$ 1 bilhão aos partidos.

Eu sei, apelei. Pelo menos até agora, são Estados e municípios que enfrentam problemas de caixa que batem em serviços ao cidadão. E também não me parece muito exato afirmar que Dilma tenha dado esse dinheiro. Ela apenas deixou de vetar o aumento do fundo partidário que havia sido aprovado pelo Congresso. Especialmente agora que o Supremo proibiu doações de empresas, ela teria pouca ou nenhuma condição política de bancar esse veto.

Em termos de resultado, porém, não faz muita diferença. Num momento de vacas macérrimas, o poder público fez crescer a parte do bolo reservada aos partidos políticos, o que contraria noções elementares de prioridade. A manobra fica ainda mais grave quando se considera que não haveria grande prejuízo para a democracia se todos os partidos passassem ao mesmo tempo a fazer campanhas eleitorais franciscanas.

O que de pior poderia acontecer é caírem um pouco as taxas de renovação (candidatos menos conhecidos dependem mais de exposição para ter sucesso), mas baixos índices de troca não estão entre os problemas da política brasileira. A renovação do Congresso, por exemplo, tem variado entre os 40% e os 60%, valores altos na comparação internacional, e nem por isso temos assistido a uma melhora qualitativa na representação. A tendência é que o eleitor troque seis por meia dúzia.

Meu ponto aqui é que o governo Dilma chegou a um ponto em que não tem mais força nem para fazer o óbvio, que seria vetar o despropositado aumento. E, num cenário de impeachment, a situação de Temer não seria melhor. Ao que tudo indica, infelizmente, a crise política continuará pelo menos até a próxima eleição.

Luiz Carlos Azedo: Desobediência civil

• O manifesto da OAB e das entidades empresariais é mais um sinal de cansaço da sociedade em relação à crise

- Correio Braziliense

O manifesto articulado pela Ordem dos Advogados do Brasil e subscrito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), Confederação Nacional de Saúde (CNS), Confederação Nacional do Transporte (CNT) e Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) contra a recriação do antigo imposto do cheque, a CPMF, que agora poderia ser cobrado on-line, isto é, em tempo real, é uma resposta ao autismo da presidente Dilma Rousseff quanto à relação entre Estado e sociedade.

O fato novo não é os empresários serem contra a criação de impostos, o que é a opinião também dos cidadãos que já pagam uma infinidade de contribuições, taxas e tributos. Afinal, o nome já diz: “Imposto”. A novidade é a OAB questionar a legitimidade da presidente Dilma Rousseff para fazê-lo e bater na tecla de que a presidente da República está cometendo um estelionato eleitoral. Diz o manifesto:

“Uma campanha eleitoral serve, no mínimo, para que o candidato apresente um programa de governo e com ele se comprometa publicamente em implementar. A presidente Dilma Rousseff não tratou de aumento de carga tributária ou de criação de tributo durante a sua campanha eleitoral.” E acrescenta: “As entidades que subscrevem esse manifesto vêm apresentar a sua firme convicção no sentido de que falta legitimidade política para a Presidência da República propor medidas que aumentem a carga tributária no Brasil, seja criando a CPMF ou aumentando a alíquotas dos tributos existentes”.

Dilma reiterou a intenção de recriar a CPMF, manteve as previsões de receita do imposto no Orçamento da União de 2016 e pretende dobrar a resistência do Congresso com cargos e verbas. Aposta também no desespero de governadores e prefeitos, cujas administrações entraram em colapso, para pressionar deputados e senadores de oposição. Com o comando absoluto da condução da economia, uma vez que o ministro da Fazenda, Nélson Barbosa, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, são seus paus-mandados, acredita que a força do Estado e sua presença na economia é que salvarão o país da crise.

Receita taxável
Pretende restabelecer o equilíbrio das contas públicas com aumento de impostos e expansão do crédito, sem levar em conta que o cidadão é quem decide se endividar e o empresário, investir. E que o ambiente é desfavorável para isso: inflação acima de 10%; juros de 14,25%; recessão de 3,9%; e taxa de desemprego de 10%. É um beabá da economia, mas Dilma parece ignorar a Curva de Laffer, uma das equações econômicas mais conhecidas sobre os limites para cobrança de impostos.

Popularizada na década de 1970 pelo economista norte-americano PhD Arthur Laffer, trata-se de uma fórmula muito antiga, também utilizada pelo famoso economista John Maynard Keynes, patrono dos desenvolvimentistas. Foi uma sacada do tunisiano Ibn Khaldun no século XIV. É uma representação teórica da relação entre o valor arrecadado por um imposto a diferentes taxas, a chamada “elasticidade da receita taxável”. Para se construir a curva, considera-se o valor obtido com alíquotas de 0% e 100%, na qual a primeira e última geram receita zero. O gráfico da Curva de Laffer forma uma parábola na qual, a partir de um determinado ponto, o imposto aumenta, mas a arrecadação cai.

Não existe um percentual determinado para estabelecer o ponto de queda de arrecadação, mas é o que já está ocorrendo com o governo federal, os estados e os municípios. Esse ponto de inflexão pode variar de um local para outro, mas tem impacto nos investimentos. Um caso emblemático de como reage o mercado em relação à carga tributária é a decisão da Ford, no final dos anos 1990, de suspender a instalação de uma fábrica no Rio Grande do Sul, levando US$ 2 bilhões de investimentos para a Bahia, onde gerou, à época 8, mil empregos diretos e 80 mil indiretos.

Havia um acordo para instalar a fábrica no Rio Grande do Sul, feito em 1998 pelo governador Antônio Brito (PMDB). Olívio Dutra (PT) assumiu o governo em 1999 e resolveu “renegociar” os incentivos fiscais. Perdeu o investimento, que chegou a produzir 250 mil veículos por ano em Camaçari (BA). Na época, o ex-secretário do Tesouro Arno Augustin (ele mesmo, os das “pedaladas fiscais”) era secretário da Fazenda, e Dilma Rousseff era secretária de Energia, Minas e Comunicação de Dutra. Hoje, a fábrica da Ford de Camaçari, que produz os modelos Ford K, Ford K (sedã) e EcoSport, suspendeu o terceiro turno e executa um programa de demissões voluntárias que pode chegar a 1.500 operários. No fim do ano passado, chegou a interromper a produção dos veículos e dar folgas coletivas aos seus 3.500 trabalhadores.

Voltemos, porém, ao tema de início. Jonh Locke, patrono do individualismo liberal, dizia que o governante “age contrariamente ao seu dever quando ou emprega a força, o tesouro ou os cargos da sociedade para corromper os representantes e atraí-los a seus próprios fins, ou quando alicia abertamente os eleitores e lhes impõe à escolha alguém que ganhou para seus desígnios por meios de promessas, ameaças e solicitações, ou por outra maneira qualquer” O manifesto da OAB e das entidades empresariais é mais um sinal de cansaço da sociedade em relação à crise, que pode derivar para manifestações de desobediência civil, uma situação latente. É por aí que a crise pode evoluir, pois ninguém vai comprar ou investir só porque o governo quer. A desobediência civil, é bom lembrar, é um estatuto liberal, que remonta à Revolução Inglesa e aos princípios dos direitos civis.

Claudia Safatle: Banco Central vê o mundo em espiral

• Manutenção da bandeira vermelha e Cide preocupam BC

- Valor Econômico

Após participar da reunião do Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Basileia (Suíça), nos dias 9 e 10, Alexandre Tombini mudou de ideia sobre o que deveria ser a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), esta semana. Ali ele se informou melhor sobre os rumos da desaceleração da China e sobre o futuro dos preços internacionais do petróleo. Ambos com consequências desinflacionárias para o restante do mundo.

Embora os documentos oficiais do Copom e os pronunciamentos do presidente do BC tivessem formado a percepção no mercado de que o Copom aumentaria a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, ainda dava tempo de comunicar uma mudança de rota ao mercado, ao deixar claro que todas as informações, inclusive as do Fundo Monetário Internacional (FMI), seriam avaliadas pelo Copom.

Na quinta-feira da semana passada Tombini foi avisado pelo FMI da revisão para pior que a instituição faria, em comunicado na terça feira desta semana, nas projeções de crescimento do Brasil para este (-3,5%) e para o ano que vem (zero).

O presidente do BC cogitou deixar os dados do FMI falarem por si, mas acabou decidindo usá-los como justificativa para um novo comunicado ao mercado. Chamou Anthero de Moraes Meirelles, diretor de Fiscalização, e ambos redigiram na noite de segunda-feira a nota que foi divulgada na manhã de terça, uma hora após o anúncio das novas projeções do Fundo.

Se entre os economistas, mesmo os mais conservadores, havia forte questionamento sobre a utilidade da elevação da taxa de juros, a grande maioria dos operadores do mercado financeiro convergiam para um aumento de 0,5 ponto percentual, que elevaria a taxa Selic para 14,75% ao ano.

Reunir o Copom na terça e quarta feira e não subir a Selic, sem dar um sinal prévio ao mercado, poderia gerar comoção nacional e até despertar suspeitas de vazamento de informações. Tombini optou por divulgar a nota mesmo sabendo que receberia severas críticas e que essa iniciativa arranharia a credibilidade do BC.

Convencido de que o mundo entrou em uma "espiral", ele resolveu arriscar, conta uma fonte. "É melhor ter perda de credibilidade do que fazer uma coisa sabendo que está equivocada", comentou.

As pressões políticas do PT e do ex-presidente Lula contra o aumento dos juros estavam estampadas diariamente nos jornais. Os pronunciamentos da presidente Dilma Rousseff e do ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, de que o BC tem autonomia para decidir sobre juros foram, em geral, de pouca valia para os agentes do mercado. Têm a mesma força de persuasão de quando se declara que o técnico de futebol "está prestigiado".

"Aqui ninguém se move por pressão política ou por pressão do mercado", costumam afirmar os membros do Copom a cada suspeita de que a presidente passou alguma determinação para a política monetária.

Dilma achava que o comitê aumentaria a Selic em 0,5 ponto percentual, rezava para que fosse apenas 0,25 ponto percentual e foi surpreendida tanto pela nota de terça-feira quanto pela manutenção dos juros, sustentavam fontes oficiais ontem. Para esses informantes há uma grande diferença entre como as coisas ocorrem no governo e como a opinião pública suspeita que elas ocorram. Nas conversas entre a presidente e Tombini não há uma terceira pessoa para testemunhar o que de fato acontece. Sabe-se, também, que poucos vão acreditar nesses argumentos.

O BC divulgou no dia 8 a carta aberta ao ministro da Fazenda explicando por que a inflação fugiu da meta no ano passado, chegando a 10,67% para um teto de 6,5%.

Embora as notícias vindas da China já chacoalhassem os mercados desde o dia 4 de janeiro, todos leram a carta como mais uma reiteração de que os juros subiriam 0,5 pontos esta semana. Ontem, porém, estudiosos da política monetária no governo comentavam que a carta já indicava algumas pistas "dovish". Entre os parágrafos 30 e 38 o BC mencionava pelo menos três elementos que poderiam ser interpretados como sinal de que não era líquido e certo o aumento dos juros de 0,5 ponto percentual. Eram eles: "efeitos cumulativos que se manifestam com defasagem", um desenho de "política fiscal convincente e sustentável" e a referência ao "hiato do produto em território desinflacionário".

Na avaliação dos economistas oficiais, a atividade ainda não chegou ao fundo do poço. A retração continua, mas o ajuste externo impulsionado pela desvalorização cambial tem sido forte, e o ingresso de investimentos para a aquisição de negócios que ficaram baratos é substancial. Só na quarta-feira houve entrada líquida de US$ 850 milhões.

Nas reuniões da Basileia os dois assuntos mais discutidos a portas fechadas foram a piora da situação da economia na China - que em 12 meses até dezembro já perdeu US$ 900 bilhões em investimentos - e as razões para a queda de 15% nos preços do petróleo este ano.

A derrubada do preço do petróleo é preocupante, explica o corte de cerca de 50% nos investimentos norte-americanos nesse setor e a liquidação de ativos por parte de fundos soberanos. Os efeitos foram mais rápidos sobre os investimentos que sobre o consumo de derivados.

China e petróleo produziram queda de 13% do Ibovespa e no índice Dow Jones e queda de cerca de 20% nas bolsas chinesas neste início de ano. As bolsas dão a dimensão da confiança dos empresários.

Mas se há alguns supostos efeitos desinflacionários vindos do exterior, aqui a situação está longe de um conforto.

Pelo menos dois riscos inflacionários à frente podem atrapalhar os prognósticos do Copom para limitar a inflação de 2016 ao teto de 6,5%: a elevação da Cide e o preço da energia.

O BC não conta mais com a entrada em vigor da bandeira verde nas contas de energia este ano, prevista para abril ou maio. A informação é que a bandeira vermelha prevalecerá por todo o ano. Mesmo com toda a chuva no país, o custo da energia para consumidores residenciais e industriais se manterá elevado, pela continuidade do uso das usinas térmicas. Isso mostra que o curso da política monetária, agora, é uma questão em aberto.

Vinicius Torres Freire: No mato sem cachorro

- Folha de S. Paulo

Economistas do governo de Dilma Rousseff diziam ontem que foi mesmo a piora da situação da economia mundial que levou o Banco Central à reviravolta sobre a taxa de juros que tanto bafafá tem causado –e ainda causará.

Os motivos do BC talvez fiquem menos obscuros apenas na semana que vem, quando se divulga uma espécie de explicação do que se decidiu fazer a respeito dos juros, a "Ata do Copom".

Sejam quais forem as razões e as consequências da decisão, ao menos nos próximos meses o Brasil terá entrado em um universo de política econômica em que não há mapa, bússola ou mesmo controle da direção.

Esses economistas do governo afirmam, claro, que não houve pressão da presidente para que se evitasse um aumento da taxa "básica" de juros (Selic) na reunião do BC de quarta. Até a primeira semana de janeiro, pelo menos, o BC na prática dizia que era necessário elevar a Selic.

Explicam que "a maioria" dos diretores do BC mudou de ideia nos últimos dez dias, por aí, porque houve "precipitação de acontecimentos e intensificação das dúvidas" sobre a economia e finança mundiais. São citados o caso de China, petróleo e fuga de capitais dos países "emergentes", além do risco de deflação mundial e, pois, de redução de crescimento também no mundo rico.

Qual o efeito preciso disso no Brasil e na política do Banco Central? Não querem adiantar a explicação.

Em teoria, não se aumenta a taxa de juros, mesmo com inflação indesejável, quando, por exemplo, se imagina que o remédio vai matar o paciente por outras vias: juros mais altos arrebentam os gastos do governo. Ou quando se acredita que o remédio vai fazer efeito contrário: a inflação vai subir (teoricamente, acredita-se que é possível).

Ou, então, quando se imagina que o efeito combinado da taxa de juros no nível em que está com o efeito daninho do tumulto mundial vai fazer o serviço. Isto é, recessão ainda maior e quedas mundiais de preços vão conter a nossa inflação. Nesse caso, espera-se uma queda bem horrenda dos salários.

Seja como for, estamos agora em um universo desconhecido de política econômica, se algum.

Não haverá tempo para se inventar e menos ainda consolidar um modo diferente, ora misterioso, de lidar com as alavancas básicas da economia. Não haverá tão cedo como recuperar as ferramentas antigas, danificadas ou perdidas.

Isto é, não há vontade ou possibilidade de controlar o aumento da dívida pública (o que não soa bem para o destino dos juros e para a inclinação a investir em novos negócios, para fazer um resumo grosso).

Não se sabe mais nada do que será da taxa de juros que "orienta" todas as demais (Selic). Não há instrumentos críveis para tentar controlar a inflação dentro de certos limites, nem a inclinação a utilizar os que havia. Em suma, não se sabe bem qual é a política monetária (juros, crédito) e, voltando-se a saber, levará um tempo para se acreditar que é para valer.

Por ora, não há nem mesmo como remediar parte dessa situação por meio de terapias heroicas, tal como tentar fixar a desordem por meio de uma taxa de câmbio mais ou menos controlada, o que tenderia a provocar apenas uma corrida de pânico em direção à porta de saída (grande desvalorização do real).

Míriam Leitão: Governo sem trégua

- O Globo

Não haverá trégua para a presidente Dilma Rousseff em 2016, no que depender da economia. A situação, que estava ruim, ficou ainda mais difícil com o vacilo do Banco Central, porque isso elevou o risco inflacionário. Ontem, o dólar bateu no maior nível do real, o que provoca aumento de vários custos. Esse e outros problemas da economia manterão a pressão contra o governo.

Se o ambiente fosse de retomada do crescimento, seria possível uma mitigação da crise política. Mas com a deterioração concreta das condições de vida da população, a possibilidade de melhora política fica mais remota. Economistas acham que dificilmente haverá recuperação durante o mandato da presidente Dilma porque ela está fazendo o que acredita, e isso não tem dado certo.

O economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio e da Opus Gestão de Recursos, prevê uma inflação de mais de 1% em janeiro.

— Na Opus, nós estávamos prevendo 8% no ano, mas a partir da decisão do BC vamos rever — disse, numa entrevista que me concedeu na Globonews.

A maioria dos economistas não está com previsão de inflação em dois dígitos, mas vários consideram que a atuação vacilante do Banco Central ajuda a passar o sinal de que não haverá combate à inflação eficiente. Não porque os juros foram mantidos, mas pela forma desencontrada como se comunicou.

O economista Márcio Garcia explica que é delicada essa relação entre o BC e os sinais que ele emite.

— Eu achava que os juros deveriam subir, mas Affonso Celso Pastore, por exemplo, achava que não deveria. Não é a decisão em si o problema. O BC se amarrou ao dar tantos sinais de que elevaria fortemente os juros e, depois, durante a reunião indicou o contrário. A política de metas precisa desses sinais e quanto mais eles são entendidos, e o BC vai acertando, mais consegue agregar credibilidade. E quanto mais ele perde credibilidade maior terá que ser a dose do remédio amargo que é o juro alto.

José Márcio havia dito em meados do ano passado que o crescimento só ocorreria em 2018. Márcio Garcia concorda com essa previsão porque não acredita que o governo Dilma consiga reverter o quadro.

— Como ninguém sofre impeachment por patente incompetência, o meu cenário é que a presidente Dilma ficará até o fim do mandato. A política econômica será mais do mesmo. Vai oferecer crédito, mas não vai adiantar; vai tentar gastar mais, mas não terá como. Ninguém muda. A presidente é a mesma e vai continuar fazendo aquilo no qual ela acredita — diz Márcio Garcia.

José Márcio acha que o BC errou duplamente, ao se comunicar e ao manter os juros:

— A economia está ofertando menos e as pessoas estão consumindo menos, não adianta tentar crescer a demanda se as empresas estão diminuindo a oferta. Só se consegue com isso gerar inflação. É preciso que a queda da demanda seja maior do que a queda da oferta. Dificilmente a inflação ficará abaixo de 10% este ano.

Além disso, o problema fiscal permanece. Márcio Garcia acha que o pagamento das pedaladas também foi feito de forma equivocada, e que o descontrole fiscal continuará alimentando a crise:

— O problema fiscal é sempre o pano de fundo da crise brasileira e piorou muito no governo Dilma, que gastou demais e gastou por fora do Orçamento. Quando pagou aos bancos com recursos da Conta Única do Tesouro Nacional, é como se ele tivesse sacado dos recursos que poupou no passado para fazer superávit primário. Ou seja, é como se estivesse descumprindo as metas anteriores. E isso gera mais incerteza.

José Márcio também não acredita em melhora da economia durante o atual governo:

— É impossível. Ela perdeu qualquer capacidade de recuperar a credibilidade por tudo o que fez, pelos erros que cometeu no passado. E não é apenas a presidente. É uma forma de pensar que está levando o país ao desastre. O Brasil fez uma revolução pacífica entre 1994 e 2005. Espetacular. Fez várias reformas, reduziu a pobreza, privatizou. De 2005 para cá, fizemos uma contrarrevolução.

Com cenários econômicos negativos, a presidente continuará tendo dificuldade no Congresso. É difícil para um político apoiar um chefe de governo que provocou inflação, recessão, crise fiscal e desemprego.

Renato Andrade: Celebrando o bronze

- Folha de S. Paulo

Os resultados práticos da economia brasileira em 2015 começaram a ser divulgados e, como esperado, são um show de horror.

O exemplo mais concreto do desastre foi registrado no mercado de trabalho. Mais de um milhão e meio de pessoas perderam o emprego no ano passado. Mesmo assim, Miguel Rossetto,o amigo da presidente que comanda o Ministério do Trabalho e da Previdência Social, encontrou elementos para celebrar a derrota.

Apesar de tanta gente ter ido para o olho da rua, a assessoria do ministro destacou, em nota, que o "estoque de empregos" acumulado até o ano passado ainda era o terceiro melhor da série iniciada em 1992.

Houve queda no emprego em todos os Estados. São Paulo, sozinho, respondeu por quase um terço das demissões registradas nos últimos 12 meses. A agricultura foi o único setor que conseguiu assinar mais carteiras de trabalho do que oferecer "novos desafios" aos seus colaboradores.

Mesmo assim, Rossetto e equipe consideraram válido comemorar a medalha de bronze. Afinal de contas, as coisas poderiam ter sido bem pior.

Como de bobo o governo petista só tem o séquito que ainda acredita nas histórias inventadas nos gabinetes de Brasília, ao comentar os dados ontem, Rossetto vendeu otimismo para 2016, mas não se comprometeu com projeções sobre a geração efetiva de empregos até dezembro.

A Receita Federal, que divulgou ontem outro exemplo do desempenho magistral que a atividade econômica teve no ano passado, também evitou estimar taxas de evolução da máquina de cobrar impostos.

Depois de amargar um tombo de 5,6% na arrecadação de tributos, reflexo direto da freada na produção industrial e na venda de bens e serviços, os técnicos do Fisco reconheceram que ninguém deve esperar grandes coisas nos próximos meses.

A despeito das apostas do ministro Rossetto, não há nada no horizonte que aponte para uma recuperação do mercado de trabalho neste ano.

País fecha 1,5 milhão de vagas e analistas preveem piora

Brasil fechou 1,5 milhão de vagas formais em 2015, o pior resultado desde 1992

• Um terço das vagas foram fechadas apenas no mês de dezembro; resultado é bem diferente do de 2014, quando foram gerados 420,8 mil postos com carteira de trabalho

Bernardo Caram - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O País fechou em 2015 um total de 1,542 milhão de postos de trabalho com carteira assinada. O dado é o pior da série histórica, iniciada em 1992 pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social. No mês de dezembro - quando geralmente há mais demissões em função do desligamento de temporários -, foram fechadas 596,2 mil vagas.

O saldo do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do ano foi resultado de 17,7 milhões de admissões e 19,2 milhões de demissões.
Se comparado com anos anteriores, o dado de 2015 mostra a profunda deterioração do mercado de trabalho brasileiro. Foram geradas 420,8 mil vagas formais em 2014 e 1,1 milhão em 2013, pela série com ajuste, que inclui dados entregues com atraso pelas empresas. O fechamento de postos em 2015, portanto, anula todo o avanço do emprego formal nos dois anos anteriores.

Mesmo assim, o resultado de 2015 ficou um pouco melhor do que as expectativas de mercado. De acordo com pesquisa AE Projeções com 16 instituições, o saldo do Caged do ano passado ficaria entre um corte de 1,556 milhão a 1,785 milhão de vagas, com mediana negativa de 1,696 milhão.

O ministro do Trabalho e Previdência Social, Miguel Rossetto, admitiu que o dado de 2015 foi pior que o esperado pelo governo, mas disse que o fechamento recorde de vagas não foi suficiente para reverter as conquistas obtidas pelo trabalhador brasileiro no passado recente. "A crise não foi capaz de destruir as conquistas dos últimos anos." Segundo ele, o governo tem trabalhado para retomar a atividade econômica e, por consequência, a geração de empregos.

Em período de retração econômica e restrição do poder de compra das famílias, Rossetto afirmou que há espaço para a expansão do crédito no País, como motivador de ampliação da demanda.

Como argumento para uma possível reversão no quadro negativo do emprego, o ministro disse ainda que o ajuste do câmbio começa a trazer resultados positivos, que há uma reversão da inflação e ampliação de investimentos. Ele ressaltou também que o governo tem tomado medidas necessárias para essa retomada, mesmo em meio a um ambiente internacional mais restritivo.

Dentre os setores, a indústria de transformação foi a responsável pelo maior número de vagas fechadas em 2015. No ano passado, o segmento encerrou 608.878 vagas com carteira assinada. Em dezembro, o saldo do emprego na indústria ficou negativo em 192.833. O único setor que apresentou abertura de vagas em 2015 foi a agricultura, com um saldo positivo de 9.821. Em dezembro, contudo, teve saldo negativo de 58.853 postos.

Remuneração. A deterioração do mercado de trabalho também se refletiu naremuneração dos trabalhadores. Pela primeira vez desde 2003, ss salários de admissão registraram queda real em 2015, com recuo de 1,6% na comparação com 2014.

Rossetto avaliou que o número mostra uma resistência na renda do País, ao argumentar que a queda na quantidade de empregos foi muito forte no ano, com o fechamento de 1,542 milhão de postos, ou uma redução de 3,74% no estoque do mercado formal de trabalho.

Reajustes salariais perderam para a inflação em dezembro

• No mês anterior, salários já haviam encolhido 0,3%; melhor mês para o trabalhador em 2015 foi janeiro, quando reajustes foram 1,3% acima da inflação

André Italo Rocha - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Os acordos de negociação salarial firmados em dezembro não conseguiram acompanhar o ritmo da inflação e, com isso, o trabalhador brasileiro terminou o ano com perda real em seu salário. É o que aponta levantamento feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), com base em dados do Ministério do Trabalho (MTE). No ano passado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) subiu 11%, enquanto os trabalhadores com carteira assinada tiveram em dezembro, na mediana, aumento salarial de 10%.

Em novembro os salários já haviam encolhido 0,3%, descontada a inflação, também levando em consideração a mediana dos reajustes. Novembro e dezembro foram os dois únicos meses do ano em que houve perda real de salários. De julho a outubro, os acordos conseguiram repor a alta dos preços. De janeiro a junho sempre houve algum avanço real, mesmo que de apenas 0,1%, como em abril. O melhor mês para o trabalhador foi em janeiro, quando os salários tiveram alta mediana de 1,3% acima da inflação.

Nos 12 meses encerrados em dezembro, o setor de atividade que apresentou a maior queda foi o do agronegócio da cana-de-açúcar, com perda real de 1,3% nos salários. Os trabalhadores de extração e refino de petróleo aparecem logo em seguida, com recuo de 0,4%. As cinco atividades que apresentaram maior ganho real foram limpeza urbana, asseio e conservação (1,8%), distribuição cinematográfica (1,5%), confecções e vestuário (1,2%), vigilância e segurança privada (1,2%) e refeições coletivas (1,1%).

No recorte geográfico, os cinco Estados com reajustes reais mais significativos nos 12 meses encerrados em dezembro foram Ceará (1,2%), Maranhão (1%), Alagoas (0,9%), Sergipe (0,9%) e Paraná (0,7%). Na parte de baixo do ranking, com perda real dos salários, ficaram Amazonas (-0,8%), Amapá (-0,8%), Espírito Santo (-0,6%), São Paulo (-0,3%) e Acre (-0,2%).

Tarifas e alimentos elevam inflação no início do ano

Por Arícia Martins – Valor Econômico

SÃO PAULO - Reajustes de tarifas de transporte urbano acima do esperado e os efeitos das chuvas sobre os preços dos alimentos in natura estão pressionando a inflação neste início de ano, o que deve impedir uma queda mais acentuada do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 12 meses. A correção do salário mínimo em mais de 11% e os reajustes das mensalidades escolares também devem contribuir para manter o índice pressionado.

A expectativa era que o IPCA recuasse bastante nos primeiros três meses do ano. O problema é que, neste mês, já foram anunciados reajustes de tarifas de ônibus urbano em quatro das 13 capitais nas quais é feita a apuração dos preços para o IPCA: São Paulo, Rio, Salvador e Belo Horizonte. A alta média foi de 9,8%, segundo cálculos dos economistas Salomão Quadros e André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV).

"A preocupação é que os reajustes dessas quatro capitais deem o tom do que vai ocorrer nas cidades onde ainda não foram corrigidos os valores cobrados pelo serviço", dizem Quadros e Braz no último Boletim Macro do Ibre. "Se for assim, o resultado fechado do ano ficará bem acima do projetado pelo Ibre para as tarifas de ônibus, de aumento de 7%. A consequência será a revisão para cima da estimativa de inflação em 2016, hoje de 7,5%".

Por causa das eleições municipais, analistas esperavam reajustes menores nas tarifas de ônibus. Fábio Romão, da LCA Consultores, elevou de 5,5% para 8,7% sua estimativa de aumento médio das passagens em 2016. Em 2012, ano da última eleição municipal, a correção média foi de 5,26%. Romão explica que o aumento da alíquota do ICMS da gasolina influenciou a alta de 1,2% prevista para o combustível em janeiro, período em que normalmente esses preços costumam cair ou registrar correções modestas.

Em razão da crise fiscal, 18 Estados e o Distrito Federal começaram o ano elevando alíquotas do ICMS de um a três pontos percentuais. Há, ainda, o impacto da tributação mais alta sobre produtos como cigarros, energia elétrica e telecomunicações, diz Basiliki Litvac, da MCM Consultores. Para ele, o grupo alimentação e bebidas terá aumento de 3,6% no primeiro trimestre, 0,1 ponto percentual acima do registrado em 2015.

Pressão de alimentos e transportes impede recuo maior do IPCA no 1º tri
Por conta, principalmente, da desaceleração das tarifas de energia, a inflação do começo deste ano certamente será menor que a de igual período de 2015, mas o cenário está longe de ser tranquilo. Reajustes de transporte público e efeitos de problemas climáticos sobre os preços de alimentos in natura vieram acima do esperado, e vão impedir perda de fôlego mais acentuada do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 12 meses.

Também contribuem para a redução mais lenta do indicador pressões que já estavam na conta, como o forte reajuste de mensalidades escolares e os efeitos da correção do salário mínimo.

Em janeiro, foram anunciados aumentos de tarifas de ônibus urbano em 4 das 13 capitais que compõem o IPCA: São Paulo, Rio, Salvador e Belo Horizonte. A alta média foi de 9,8%, apontam os economistas Salomão Quadros e André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), abaixo, portanto, da taxa de 13,3% registrada no começo do ano passado.

"A preocupação é que os reajustes dessas quatro capitais deem o tom do que vai ocorrer nas cidades onde ainda não foram corrigidos os valores cobrados pelo serviço", dizem Quadros e Braz no Boletim Macro de janeiro. "Se for assim, o resultado fechado do ano ficará bem acima do projetado pelo Ibre para as tarifas de ônibus, de aumento de 7%. A consequência será a revisão para cima da estimativa de inflação em 2016, hoje de 7,5%."

Em função das eleições municipais, eram esperados reajustes mais fracos nessas tarifas, concorda Fabio Romão, da LCA Consultores, que elevou de 5,5% para 8,7% sua estimativa para o avanço de ônibus urbano em 2016. Em 2012 - último ano com eleições municipais -, o item subiu 5,26%.

Ainda nos transportes, Romão menciona que o aumento da alíquota do ICMS da gasolina influenciou a alta de 1,2% prevista para o combustível em janeiro, período em que normalmente esses preços costumam cair ou registrar taxas bastante modestas.

Há, ainda, o impacto no IPCA da maior tributação sobre outros produtos, diz Basiliki Litvac, da MCM Consultores, como cigarros, energia elétrica e telecomunicações. Esse efeito se dará ao longo de todo o primeiro trimestre, período em que, segundo seus cálculos, a inflação será de 2,3%. Ao todo, pelo menos 18 Estados e o Distrito Federal começaram o ano elevando alíquotas de ICMS entre um e três pontos percentuais.

Os cigarros, afirma Litvac, vão refletir não só a alta do ICMS, mas também diversos reajustes efetuados pela Souza Cruz em 31 de dezembro, diferenciados por marca e região, com exceção dos Estados de São Paulo, Rio e Paraná. Em Brasília, por exemplo, a alta dos cigarros no IPCA deve chegar a 25% neste mês, tendo em vista a mudança na tributação e a alta de mais de 23% da principal fabricante do país.

"Temos vários focos de pressão neste começo de ano", diz Basiliki, com destaque para alimentos. A MCM trabalha com aumento de 3,6% do grupo alimentação e bebidas de janeiro a março, 0,1 ponto acima do observado no primeiro trimestre de 2015. Em janeiro, o grupo deve ter alta de 1,9%. Os primeiros meses do ano são sempre marcados por preços maiores de itens in natura, afirma economista, tendência agravada neste ano pelo fenômeno El Niño.

Para Thiago Curado, sócio da 4E Consultoria, a inflação de alimentos não será muito diferente neste primeiro trimestre do que a registrada nos primeiros três meses de 2015, porque, ao contrário do ocorrido no início do ano passado, o mês de março já deve mostrar alguma devolução das fortes altas nos dois meses anteriores. Mesmo assim, diz, as coletas apontam que janeiro terá resultado bastante ruim para o período na parte de alimentação, bem perto do avanço observado em dezembro (1,5%).

Passado o primeiro mês do ano, avalia ele, a inflação ainda sofrerá impactos em fevereiro e março do repasse cambial para alguns bens, contido nos últimos meses de 2015 pela intensa redução do nível de atividade. Segundo Curado, sofrerão reajustes por conta do câmbio, ainda que modestos, produtos como vestuário, eletroeletrônicos e eletrodomésticos. Para o primeiro setor, o economista estima alta de 0,18% nos primeiros três meses do ano, quando normalmente esses preços caem. De janeiro a março de 2015, a deflação foi de 0,71%.

Apesar das pressões de curto prazo, o IPCA acumulado do primeiro trimestre de 2016 será consideravelmente menor do que o de 2015, pondera Flávio Serrano, economista-sênior do Haitong. Isso porque os três primeiros meses do ano anterior absorveram a maior parte do "realismo tarifário" aplicado às contas de luz, que saltaram 36,3% de janeiro a março. Neste ano, sem reajustes extraordinários e mudança para pior do regime de bandeiras tarifárias, a alta não deve superar 1%, estima.

Por outro lado, partindo de um nível próximo de 11% no fim de 2015, a inflação acumulada em 12 meses vai demorar bastante para chegar ao patamar de 7% previsto para o fim deste ano, destaca Serrano. "Herdamos uma inflação muito elevada do ano passado", diz.

Romão, da LCA, estima que o IPCA em 12 meses terá desaceleração de cerca de 1,5 ponto percentual até o fim do primeiro trimestre, chegando a 9,12% em março. Há cerca de um ano, a expectativa da LCA era que essa descompressão pudesse chegar a três pontos. "O estrago foi feito pelos alimentos in natura, pelos reajustes de ônibus e pelo ICMS de combustíveis."

Oposição vê com descrença proposta de diálogo

• Apesar dessa avaliação, líderes partidários admitem conversar com Dilma

Maria Lima - O Globo

-BRASÍLIA- Líderes do PSDB, DEM, PPS e PSB se mostraram descrentes ontem e consideraram tardia a predisposição da presidente Dilma Rousseff de chamar a oposição para discutir saídas para a crise. Eles dizem que sempre se colocaram à disposição para discutir o assunto, mas Dilma e o PT preferiram a agressão e os ataques às ideias propostas. Os líderes acreditam que a proposta é um jogo de cena da presidente.

Apesar dessa avaliação, esses líderes admitem que poderão conversar com a presidente, desde que ela faça um meaculpa público e apresente uma pauta clara, que tenha consenso na base governista.

— Sempre nos colocamos abertos ao diálogo, apesar dos ataques constantes e das agressões incessantes. Desde que haja uma agenda clara, com propostas sinceras e um pedido de desculpas ao país, pelos equívocos cometidos, estaremos sempre abertos a ouvir. Resta saber se ainda há tempo para esse diálogo — reagiu o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB).

— A oposição se coloca ao lado dos interesses do país. Antes de propor interlocução com a oposição, a presidente precisará exibir unidade do governo em torno da agenda que venha a propor. A partir daí, a oposição se posicionará — completou o presidente do DEM, senador José Agripino (RN).

Vice-presidente do PSB, Beto Albuquerque disse que Dilma não dialoga com ninguém, “só gosta de montar cena” para parecer que está ouvindo.

— Depende sobre o que dialogar. Qual a pauta? A agenda do governo ou da sociedade? E o governo está disposto a ouvir mais do que falar? Ou será jogo de cena, como já aconteceu em momentos de crise, em reuniões de mão única com governadores e prefeitos? Não há tradição da Dilma dialogar nem com sua base, imagine com a oposição. Hoje, nossas pautas estão opostas — criticou Albuquerque.

O presidente do PSB, Carlos Siqueira, também desconfia das reais intenções de Dilma.
— Diálogo é parte integrante da política democrática. Porém, é necessário que ele aconteça em torno de propostas objetivas, aceitáveis e viáveis para o país — diz Siqueira.

 PT reage a iniciativa tucana
Já os petistas reagiram com ironia à representação feita pelo PSDB à Procuradoria Geral Eleitoral, na qual os tucanos pedem uma investigação sobre o suposto recebimento, pelo PT, de recursos de origem estrangeira. O PSDB também pede a extinção do partido, se comprovada a prática. A Constituição e a Lei dos Partidos vedam que partidos políticos recebam recursos de entidades ou governos estrangeiros. Caso comprovada a prática, após trânsito em julgado de decisão, é cancelado o registro civil e o estatuto do partido que tenha infringido a norma.

A representação tomou por base informações do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, delator da Lava-Jato. Segundo Cerveró, a campanha à reeleição do ex-presidente Lula , em 2006, recebeu R$ 50 milhões em propina da estatal angolana Sonangol,
provenientes de uma negociação para a compra de blocos de petróleo na África em 2005.

— É absolutamente uma medida com falta de seriedade. O Sampaio (Carlos Sampaio, líder do PSDB na Câmara), que viu naufragar a tentativa de impeachment em aliança que estabeleceu com Eduardo Cunha e, após inúmeras tentativas para não reconhecer o resultado final das eleições, tenta como cartada final o fim do PT — criticou o vice-líder do PT, deputado Paulo Pimenta (RS).

Para o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), Sampaio tenta partir para a ofensiva e criar uma cortina de fumaça porque sabe que o PT cobrará do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a abertura de investigação conta os tucanos citados na delação.

— Querem criar uma cortina de fumaça para proteger o Aécio (Neves, presidente do PSDB), citado pela segunda vez nas delações. Sabem que vamos cobrar que Janot investigue isso também — disse Lindbergh. (Colaborou Isabel Braga)

Distensão estratégica

• Para ter apoio do PMDB contra impeachment, governo recebe desafetos em busca de pacificação

Júnia Gama - O Globo

BRASÍLIA- No esforço para distensionar a relação com o PMDB, o Palácio do Planalto faz movimentos estratégicos para ter o partido a seu lado, o que inclui aproximação até com quem é tido como adversário do governo. Na quarta, a presidente Dilma Rousseff se encontrou pela primeira vez este ano com o vice-presidente Michel Temer, buscando esfriar as desavenças abertas pela carta de queixas que o peemdebista lhe enviou ano passado; e, nos últimos dois dias, ministros receberam o candidato a líder do PMDB, Hugo Motta (PB), lançado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Motta entrou na disputa sob o patrocínio de Cunha para impedir a vitória do governista Leonardo Picciani (RJ) já no primeiro turno. Apesar do propósito explícito, Motta foi recebido por dois ministros próximos à presidente — Ricardo Berzoini (Governo) e Edinho Silva (Comunicação Social) — e deles ouviu que o governo não irá interferir na disputa. Em retribuição, Motta disse que, se eleito, vai dialogar com o governo.

O Planalto avalia que a disputa da liderança pode ir para o segundo turno. Com isso, a estratégia é “desarmar” os setores do PMDB que, até o fim do ano passado, ensaiavam um desembarque do governo, movidos pela perspectiva de o processo de impeachment triunfar no Congresso. Com o recesso do Legislativo e o arrefecimento das pressões sobre o governo, há uma disposição de trazer o PMDB de volta ao núcleo do governo para impedir que o impeachment volte a ganhar força quando as discussões no Congresso forem retomadas. Do outro lado, percebendo a dificuldade de levar Temer ao poder, os peemedebistas também voltaram a buscar uma melhor relação com o governo.

Hugo Motta começou sua peregrinação junto aos ministros antes mesmo de anunciar publicamente que disputaria a liderança. Na quarta-feira, foi recebido no Palácio do Planalto por Edinho Silva. Ontem, esteve com Berzoini, e aguarda ser recebido nos próximos dias pelo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. O deputado faz também uma ofensiva sobre apoiadores do atual líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), como o ministro da Saúde, Marcelo Castro.

O primeiro efeito do lançamento da candidatura de Motta foi jogar de vez em banho-maria a nomeação do deputado Mauro Lopes (PMDBMG) para a Secretaria de Aviação Civil. Segundo assessores do governo, é preciso esperar o desenrolar da disputa pela liderança do partido aliado para definir que destino será dado à pasta. Há uma avaliação no Planalto que, embora Picciani seja a melhor alternativa, Motta não é um nome ruim porque, apesar de ser aliado de Cunha, não tem perfil oposicionista e está buscando, desde já, o diálogo com o governo.

No encontro com Berzoini, o deputado se esforçou para se descolar de Cunha. Fez questão de pontuar que não é candidato do presidente da Câmara e que, caso vença a eleição, terá uma atuação independente.

— O Eduardo não é candidato a líder. Quem vai conduzir a bancada sou eu — disse Motta a Berzoini, segundo relatos.

Pauta de confronto x agenda positiva
Na conversa, Berzoini externou que o governo não pretende interferir na escolha do líder do PMDB. O ministro acrescentou, de acordo com relatos, que o governo respeitará a decisão da maioria e buscará o diálogo com o líder escolhido pela bancada para alinhar os posicionamentos. A reunião foi pedida por Motta, que telefonou ao ministro antes de anunciar o lançamento de sua candidatura. A aliados, Motta afirmou ter saído da conversa com Berzoini com a impressão de que o Planalto quer sair da pauta de confronto e construir uma agenda positiva para o país.

O deputado, que já se declarou contrário ao impeachment da presidente Dilma, concordou que a pauta do afastamento não deve ser exclusiva e que é preciso que o Congresso trabalhe outros temas. Além disso, defendeu que a indicação dos nomes para a comissão que analisará o impeachment siga a proporcionalidade exprimida pela bancada.

— A tendência é que Temer volte ao núcleo do governo, mesmo que a relação entre ele e a presidente nunca chegue a ser de confiança. Mas, com o esfriamento do impeachment, o que ele vai ficar fazendo até 2018? Certamente ele vai querer manter os sete ministérios do PMDB — afirma um auxiliar palaciano.

A candidatura de Motta foi gestada no gabinete de Cunha, que decidiu entrar de cabeça na disputa pela liderança do PMDB e articulou o lançamento de um terceiro nome para tentar dividir os votos e levar a disputa para o segundo turno. Motta é amigo da filha do presidente da Câmara, Danielle Cunha, também investigada na Lava-Jato. Além da relação pessoal, o deputado mantém contratos de assessoria em marketing político com a filha de Cunha. Motta presidiu a CPI da Petrobras, que encerrou os trabalhos sem indiciar parlamentares, e foi criticado por blindar Cunha na comissão.

'Só quem for idiota acredita que Temer quer se aproximar de Dilma', diz Ciro

• Ex-ministro afirmou, porém, que a presidente 'não deve repudiar' a movimentação, já que 'a política vive desses bailados'

Igor Gadelha - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) afirmou nesta quinta-feira que só quem for “idiota” acredita que o vice-presidente Michel Temer está querendo, de fato, se reaproximar da presidente Dilma Rousseff. Ele ponderou, contudo, que a petista não deve repudiar isso.

“Só quem for idiota acredita. Agora isso não quer dizer que a presidenta tenha que repudiar isso. Até porque a política vive desses bailados”, afirmou, em entrevista ao lado do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi. “O que é importante é não acreditar, porque ele está no golpe e é capitão dele”, emendou.

Dilma e Temer vem ensaiando uma reaproximação política. Ontem, eles se reuniram por cerca de uma hora e meia no Planalto. Interlocutores da presidente e do vice reconhecem, contudo, que essa aproximação pode ser momentânea e tem interesses de ambos os lados.

Alvo da discussão de um processo de impeachment na Câmara, Dilma precisa mostrar que conta com apoio do PMDB, partido que Temer preside desde 2001. Já ao vice interessa a neutralidade do Planalto na disputa pela presidência nacional do PMDB, prevista para março, em que tentará reeleição.

Histórico. Ciro e seu irmão, o ex-ministro da Educação Cid Gomes (PDT), têm um histórico de críticas a figuras do PMDB. Recentemente, Temer processou Cid pelo fato de o ex-governador cearense ter chamado o peemedebista de “chefe da quadrilha de achacadores que assola o Brasil”.

Lupi oferece Ciro Gomes ao PT como ‘plano B’ em 2018

• Presidente do PDT diz que tem se reunido com petistas por apoio a uma candidatura presidencial do ex-ministro

Igor Gadelha - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Dando como certa a candidatura do PDT à Presidência da República em 2018, o presidente nacional do partido, Carlos Lupi, disse ontem que tem procurado dirigentes do PT em busca de apoio à candidatura do ex-ministro Ciro Gomes (CE). O pedetista afirmou que tem ouvindo de uma “parcela significativa” de líderes do partido da presidente Dilma Rousseff que Ciro pode ser uma opção para o PT.

“Tenho tido conversas com muitos dirigentes do PT, hoje (ontem) mesmo estive almoçando com um, e a receptividade ao nome do Ciro é muito boa”, disse Lupi, sem mencionar os nomes desses petistas. “Em resumo, eles dizem que o Ciro pode ser uma opção para o PT.”

A possibilidade de o PT não ter candidato para suceder a presidente Dilma Rousseff em 2018 tem sido admitida por integrantes da base aliada e até mesmo do PT, em razão da crise pela qual a legenda passa em decorrência das investigações da Operação Lava Jato.

Lupi ressaltou que seu partido e o PT tem uma relação de “fraternidade antiga”. Entre idas e vindas, o PDT participa de governos do PT desde a gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Atualmente, a legenda ocupa o Ministério das Comunicações, com o deputado André Figueiredo (CE).

A presidente Dilma tem uma relação especial com o PDT. Antes de entrar no PT, ela foi filiada ao PDT. Hoje, a petista deve participar da reunião do diretório nacional do partido de Lupi, quando a sigla pretende fazer um ato em defesa do mandato dela. O diretório deve referendar posição contrária ao impeachment, já aprovada pela executiva nacional da legenda em dezembro.

Em mais um gesto de apoio a Dilma, o diretório deve reiterar o pedido de afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), desafeto político do Planalto. O peemedebista foi o responsável por abrir o processo de impeachment da petista, em dezembro do ano passado.

O diretório nacional do PDT também deve aprovar a tese de candidatura própria em 2018. Segundo Lupi, essa decisão já tinha sido avalizada pela executiva nacional desde o início de 2015, mas, assim como a posição contra o impeachment, precisa ser referendada.

O presidente nacional do PDT ressalta que o partido terá candidatura própria em qualquer que seja o cenário de 2018, até mesmo se Lula for candidato. Ele disse pessoalmente já ter informado ao ex-presidente, Dilma e à direção do PT sobre a decisão. “Aliás, o Lula falou isso para mim: ‘é um direito legítimo do PDT.”

Apesar de ponderar que outros nomes do PDT poderão disputar a indicação da sigla, Lupi acha “difícil” alguém bater Ciro. O ex-ministro, que já foi candidato a presidente duas vezes – em 1998 e 2002, ambos pelo PPS – tem feito um giro pelo País em busca de apoio. Atualmente, ele trabalha na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), comandando os trabalhos da construção da ferrovia Transnordestina.

‘Vários PTs’. Ontem, Ciro fez elogios ao PT. Em entrevista, o ex-ministro disse que conhece o partido profundamente e sabe que existem “vários PTs”. “Conheço muita gente boa, muita gente séria no partido. Diria até que a maioria do PT”, afirmou. “Isso não quer dizer, entretanto, que não tenha azedíssimas críticas ao comportamento de uma fração bandida do PT.”

Cunha e Temer. Por outro lado, Ciro acusou o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de conquistar protagonismo político por meio de práticas de corrupção, numa referência a casos de corrupção investigados pela Operação Lava Jato. “De onde vem o protagonismo do Eduardo Cunha? Vem do fato de ele roubar uma montanha de dinheiro e distribuir 80% disso entre os colegas”, afirmou.

O ex-ministro também atacou o vice-presidente Michel Temer. Disse que só quem for “idiota” acredita que o Temer está querendo, de fato, se reaproximar da presidente Dilma Rousseff. Ele ponderou, contudo, que a petista não deve repudiar isso. “Só quem for idiota acredita. Agora isso não quer dizer que a presidenta tenha que repudiar isso. Até porque a política vive desses bailados”, disse. “O que é importante é não acreditar, porque ele está no golpe e é capitão dele.”

Cunha e Temer afirmaram que não rebateriam as declarações de Ciro e que só conversam com o ex-ministro na Justiça. A assessoria do vice-presidente informou que deve entrar em breve com processo contra Ciro.

Após panelaço, PT tira Dilma e Lula das inserções na TV

Catia Seabra – Folha de S. Paulo

Estrela das propagandas petistas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não aparecerá nos comerciais que o PT levará ao ar nas duas primeiras semanas de fevereiro. Lula e a presidente Dilma Rousseff ficarão de fora das inserções por uma decisão da cúpula do partido, que diz ter decidido priorizar a defesa da imagem da sigla, abalada pelos escândalos do mensalão e do petrolão.

Em agosto do ano passado, a aparição de Lula e Dilma na TV foi acompanhada por uma onda de panelaços em 16 capitais e no Distrito Federal.

Embora tenha decidido não expor suas maiores estrelas, o PT ainda não concluiu o formato das inserções, que serão exibidas nos dias 2, 4, 6, 9 e 11 de fevereiro, algumas em meio ao Carnaval.

Ainda segundo integrantes da cúpula do PT, o conteúdo do programa maior, de dez minutos e com apresentação programada para o dia 23, vai depender do clima político no país após a volta dos trabalhos no Congresso.

Sobre a ausência de Lula e Dilma nas inserções, os petistas dizem que a decisão não foi tomada por temor de novos panelaços.

"Os panelaços podem acontecer mesmo sem eles", justifica o presidente estadual do PT, Emídio de Souza.

Em pronunciamento de rádio e TV no Dia da Mulher, 8 de março, Dilma foialvo de panelaços em ao menos 12 capitais. Após o episódio, a petista evitou aparecer na televisão e gravou vídeos para a internet no Dia do Trabalho e se pronunciou em redes sociais no Dia das Mães, em maio.

A presidente também ficou de fora do programa nacional do PT exibido no mesmo mês. A peça, no entanto, trazia o depoimento do ex-presidente Lula e foi recebida com protestos em 11 capitais.

Lula e Dilma voltaram a aparecer em rede nacional somente em agosto, em um novo programa partidário que ironizava os panelaços.

PT se 'autoassassinou' e governo está terminal, diz Cristovam Buarque, ex-ministro de Lula

Adriano Britoda BBC Brasil São Paulo

- Folha de S. Paulo

Há pouco mais de dez anos, o senador Cristovam Buarque deixou o PT após uma série de desgastes que levaram à sua demissão, por telefone, do cargo de ministro da Educação e no embalo da eclosão do escândalo do mensalão –ele foi um dos integrantes que não concordaram com a resposta dada pelo partido e pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva às irregularidades reveladas à época.

Hoje, ensaia um novo desembarque, desta vez do PDT, que, nas palavras de Cristovam, "não existe" como partido, pois virou um "puxadinho do PT" controlado pelo ex-ministro Carlos Lupi que já colocou como candidato à próxima corrida presidencial um nome escolhido por Lula –Ciro Gomes– para "preencher o vazio" caso o petismo não se recupere a tempo de 2018.

Segundo o senador, "o PT se autoassassinou" ao desconsiderar a meritocracia na nomeação de cargos e não pensar um projeto de longo prazo para o país.

Diz ainda que o "fracasso" da gestão Dilma Rousseff se deve principalmente a erros cometidos pela presidente em seu governo, que está em "fase terminal".

Aos 71 anos, o ex-governador do Distrito Federal e ex-reitor da UnB (Universidade de Brasília) defende, porém, que se pense menos no resultado do pedido de impeachment da presidente, e mais em que governo o país terá após o processo –com ou sem Dilma.

Confira trechos da entrevista à BBC Brasil, feita por telefone.

BBC Brasil - A ex-senadora Marina Silva defendeu ao jornal Folha de S.Paulo que se agilize o processo contra a presidente Dilma Rousseff no TSE (Dilma e seu vice, Michel Temer, podem ter o mandato cassado se o Tribunal Superior Eleitoral entender que a chapa cometeu irregularidades na campanha), em detrimento ao pedido de impeachment em curso no Congresso. Como vê isso?

Cristovam Buarque - Para mim, o importante não é saber como isso termina, mas como começa o próximo momento. O chamado day after (dia seguinte). Acho que lamentavelmente a Marina não trabalha com o day after. Estou menos preocupado com se isso vai terminar com a continuação da Dilma, o impeachment ou a cassação.
Teremos o dia seguinte com o Temer em um governo de unidade nacional? Ou com a Dilma, com um governo de coalizão nacional? Se houver a cassação, a eleição em 90 dias vai permitir a construção dessa coalizão com um projeto alternativo? Essa é a minha preocupação.

Qual seria o cenário ideal?

Hoje, e nós dissemos isso a ela em agosto, a melhor alternativa seria a Dilma, mas com um governo que não fosse da Dilma. Ela sendo a "Itamar" dela própria. No que consiste isso: ela dizer que não é mais do PT, nem de qualquer outro partido, a não ser do "Partido do Brasil".

Dizer que precisa da oposição e de todos para governar, compor um ministério de unidade e com um programa de unidade, no qual a estabilidade monetária seja objetivo imediato, desde que não sacrifique conquistas sociais nem investimentos em infraestrutura. Definindo quem vai se sacrificar para que o Brasil seja reorientado e como vamos atravessar os três anos até a próxima eleição.

Seria a continuidade do governo Dilma sem Dilma, uma espécie de presidente sem ser chefe de governo, com um "primeiro-ministro" –entre aspas, não precisa de parlamentarismo para isso. O Itamar (Franco, ex-presidente) conseguiu: o Fernando Henrique (Cardoso) foi o primeiro-ministro. Isso seria o ideal.

Mas não vejo na Dilma condições para isso. Tanto que nós, um grupo de senadores, fomos até ela em agosto, levamos um documento, propusemos isso, dissemos que estávamos dispostos a apoiá-la. Ela ouviu com seriedade, carinho, nos dedicou muito tempo, mas não aconteceu nada. Perdeu a chance.

Na sua visão, por que o governo chegou a esse ponto? Quem tem mais culpa, Dilma ou o PT?

Acho que a grande culpa é do PT. O PT se autoassassinou. Há uma diferença entre autoassassinato e suicídio: suicídio é um gesto consciente, em que existe até uma dignidade; o autoassassinato nem é consciente nem carrega dignidade.

O PT se autoassassinou por recusar o mérito nos seus dirigentes: nomeava ministro, vice-ministro, subministro, diretores apenas por interesses imediatistas, corporativos. Se autoassassinou por não pensar o médio e longo prazo do Brasil, por ficar prisioneiro da próxima eleição, por abrir mão das reformas necessárias que poderia ter feito, sobretudo com a grande liderança que era Lula.

Agora, a Dilma colaborou. Ela poderia ter se "independizado" do PT, mas continuou dependente dele, e com isso destruiu seu governo.

Como vê o papel do seu partido, o PDT, na base aliada?

O PDT, como partido, não existe: é uma associação, um clube de militantes sob o comando absoluto do Carlos Lupi.

Em 2007, ele assumiu o Ministério do Trabalho. De lá para cá, continua sempre junto ao governo em troca de ministério e isso destruiu o PDT como partido, fez dele o que o Pedro Taques (ex-senador e atual governador do Mato Grosso) chamava de "puxadinho do PT".

E a situação é essa, ao ponto de hoje ele ter colocado um candidato a presidente escolhido pelo Lula, o Ciro Gomes, cujo papel é preencher o vazio que haverá se o PT e o Lula não se recuperarem do impacto.

Do impacto da Operação Lava Jato?

Da Lava Jato e do fracasso do governo Dilma. E é um erro achar que esse fracasso decorre da Lava Jato. Do ponto de vista ético, sim, mas também dos erros que ela cometeu na condução do governo.

Se fosse a Lava Jato sem inflação, com a economia crescendo, seria diferente: apenas o PT carregaria o problema. Mas temos recessão, inflação, infraestrutura desorganizada, crise de gestão. O problema é a soma com a crise socioeconômica.

E o PDT optou equivocadamente, e digo isso desde 2007, em vez de ser uma alternativa para o Brasil, por ser coadjuvante de um partido e de um governo em fase terminal.

O que o manteve no PDT até hoje, então?

Primeiro porque sair de um partido é algo muito dolorido, complicado. E você sempre fica acreditando que ele pode mudar.

E segundo, porque essa é uma crise geral dos partidos.

É como se não houvesse para onde ir?

É isso. Não é só o PDT. O PDT perdeu a vergonha, mas os outros não demonstram ainda o vigor transformador.

Creio que um partido precisa de duas coisas: vergonha, do ponto de vista ético, e vigor transformador, do ponto de vista político. A gente sente que muitos têm vergonha na cara, mas fica se perguntando se têm esse vigor.

Além disso, é importante dizer com clareza: há três anos o Carlos Lupi diz que vai sair do governo no mês seguinte. Reunia a nós senadores e dizia: "no próximo mês nós estamos fora do governo". 

Passava o mês, a gente esperava, ele nos reunia e dizia a mesma coisa. Não vou negar que cometi o erro de ficar esperando por esse mês seguinte.

A imprensa dá como certo que o senhor vai para o PPS, que o convite já foi feito.

O convite foi realizado pelo meu velho amigo Roberto Freire, que é meu companheiro desde a política estudantil em Pernambuco, ainda nos anos 60. Mas não vou tomar essa decisão em um período de recesso, antes de conversar com meus colegas do PDT do Distrito Federal e ouvir diferentes forças ligadas a mim.

Mas houve o convite, e eu não disse não.

O senhor foi procurado por outros partidos?

Outros partidos me procuraram, mas a sintonia com o PPS é maior.

Está em seus planos se candidatar à Presidência em 2018?

Quando conversei com o Roberto Freire, ele falou nisso. Mas deixei claro: não vou para o PPS exigindo ser candidato à Presidência, e nem com o compromisso de ser candidato se o PPS quiser. Não será por essa razão (a eventual mudança).

Até porque... Eu disse a ele que, na idade da gente, antes de tomar uma decisão tão ousada como ser candidato a presidente, precisamos pensar se já não é hora de começar a pensar mais na memória do que já fez do que na aventura do que vai fazer.

O senhor tem um histórico ligado aos chamados partidos de esquerda. Indo para o PPS, migraria para uma sigla que, para muitos, está mais à direita e é criticada como uma espécie de satélite do PSDB. Seus eleitores não estranhariam esse movimento?

Diferencio a palavra partido da palavra sigla. Não mudo de partido. Já mudei de sigla: era PT, virei PDT, mas sem mudar de partido. Se sair do PDT, e for para outra sigla, não mudarei de partido. Meu partido é de que a gente precisa transformar a sociedade brasileira, e isso exige uma revolução. E o elemento fundamental dessa revolução é garantir escola de qualidade para todos, por o filho do trabalhador na mesma escola do filho do patrão, entre outros aspectos.

Agora, a sigla PPS vem do Partido Comunista. Você pode dizer que o Roberto Freire esteve ao lado de gente do PSDB, mas você não pode dizer que ele e os militantes do PPS são conservadores e de direita.

Continuo dividindo a política entre direita e esquerda. Mas não divido por sigla, e sim por compromissos. Para mim, compactuar com corrupção é coisa de direitista. Mesmo que seja do PT, do PC do B.

O PT vai sobreviver a essa crise?

Veja bem, sobreviver, vai. Mas vai sobreviver cambaleante. E a pergunta para a qual eu gostaria de ter uma resposta é sobre o que virá depois desse período em que o PT vai cambalear.
Vai cambalear para o lado dos corruptos, dos acomodados socialmente? Ou vai cambalear para o lado dos éticos e dos revolucionários? Isso não dá para saber.

A Câmara e o Senado são comandadas por parlamentares implicados na Lava Jato. Como isso influencia o funcionamento do Congresso neste ano?

Se continuar nesse ritmo, o impeachment será um tema para todos, não só para a Dilma. E poderá vir, sim, o povo na rua pedindo eleição geral, para todos os cargos. Porque não é só a Dilma que está sob suspeição. Todos nós, que temos mandato, estamos.

Há os "Cunhas" da vida, os outros, mas também os que não aparecem. Somos hoje um Parlamento sob suspeição, e nenhum de nós, portanto estou no meio, está fora da suspeição, da dúvida, do questionamento da população.

Temo que, se não formos capazes de cassar logo os corruptos conhecidos, vamos cair num processo de reação tão forte da população que teremos de fazer uma eleição geral para todos.