terça-feira, 14 de junho de 2016

Altos e baixos de Temer - Míriam Leitão

- O Globo

O primeiro mês do governo Michel Temer não foi o sucesso que ele diz que foi, mas na área econômica houve mais acertos que erros. Temer convenceu ao escolher uma equipe econômica com pessoas competentes, já testadas em experiências no governo. Errou ao nomear pessoas envolvidas com a Lava-Jato, como o ex-ministro do Planejamento.

O governo conseguiu retomar a aprovação de projetos no Congresso, depois de um longo período de paralisia na administração da presidente afastada Dilma Rousseff. Aprovou o que Dilma não havia conseguido: a nova meta fiscal, a Desvinculação das Receitas da União, sem falar no nome do novo presidente do BC no Senado. O rombo de R$ 170,5 bilhões não chega a ser uma meta, no sentido de um objetivo a alcançar, mas foi o resultado possível diante do estrago feito nas contas públicas pelo governo Dilma. Há críticas de que esse valor foi exagerado e acabou sendo uma licença para ampliar gastos, mas a administração anterior tinha subestimado despesas e superestimado receitas e deixou um déficit oculto, que precisava ir para os números.


Era certo que o senador Romero Jucá levaria o governo a algum constrangimento. A surpresa foi apenas a rapidez com que isso aconteceu — 12 dias — e na forma: a gravação feita pelo ex-presidente da Transpetro. Depois de afastar Jucá, o governo manteve o interino Dyogo de Oliveira no cargo de ministro. No dia da posse de Maria Silvia Bastos Marques no BNDES, o discurso do ministro interino, que veio do governo Dilma, foi meio fora de tom, por ensaiar elogios à antiga direção do banco que fez, a propósito, escolhas opostas às que têm sido indicadas no atual governo.

O governo Temer errou na economia ao dar sinais contraditórios nos gastos. Avisou que faria ajuste fiscal, mas deu apoio a aumentos salariais para o funcionalismo; anunciou corte de cargos em comissão, depois criou inacreditáveis 14 mil cargos, e em seguida disse que não iria ocupá-los.

Várias medidas de ajuste ainda não viraram projeto. Foi o que ocorreu com o limite para os gastos. A ideia foi divulgada e, em seguida, o governo ficou paralisado entre as várias opiniões a respeito do assunto. Isso é um erro comum em governos: anunciar o que ainda não foi pensado.

A reforma da previdência é mesmo um tema espinhoso, difícil de formular, propor e convencer. Mas dois erros não podem ser cometidos e Temer cometeu os dois. Primeiro, ir anunciando as restrições ou exigências antes de ter uma proposta. E várias informações já saíram — idade mínima aos 65 anos, redução do valor de pensão — antes de haver um projeto de reforma propriamente dito para se discutir com a sociedade. O segundo erro é achar que chamar as centrais sindicais é o mesmo que abrir o diálogo com a sociedade. Todas as centrais sempre dizem não para qualquer reforma da previdência. Por aí não se vai a lugar algum.

Depois de um tempo cansativo, em que diariamente a presidente Dilma recebia grupos de militantes para usar o Palácio do Planalto como sede partidária e fazia discursos histriônicos, foi um alívio o estilo do presidente em exercício com mais respeito à liturgia do cargo.

O presidente interino disse que “só os autoritários não recuam” para explicar algumas reviravoltas no governo. Nesse curto período, Temer voltou atrás algumas vezes e corrigiu erros como o fim do Ministério da Cultura. Na primeira crítica feita a ele, pela ausência de mulheres no Ministério, tentou se corrigir, mas mostrou não ter entendido a lógica da reação. Temer até agora não reagiu às críticas atacando os críticos, como fazia o governo anterior. O que é um alívio, e um bom começo.

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