terça-feira, 19 de janeiro de 2016

As razões do pessimismo – Editorial / O Estado de S. Paulo

Na campanha para sua reeleição, a presidente Dilma Rousseff acusou seus adversários de serem “pessimistas” em relação ao futuro do País. Sua equipe de marqueteiros criou até mesmo um personagem, o “Pessimildo” – que, ranzinza, vivia a prever uma série de desastres econômicos. Seus prognósticos sombrios eram rebatidos com um slogan otimista: “Pense positivo, pense Dilma”. Depois que a petista ganhou a eleição e completou o primeiro ano de seu turbulento segundo mandato, porém, Pessimildo deixou de ser uma piada engraçadinha e passou a encarnar um contingente cada vez maior de brasileiros que, diante da degradação da situação do País, começam a se dar conta de que o prometido paraíso petista da renda e do emprego, à prova de intempéries, não passava de um conto do vigário.

Esse desânimo crescente foi detectado por uma pesquisa do Ibope Inteligência em parceria com a Worldwide Independent Network of Market Research, feita em 68 países, a respeito das expectativas para 2016. Entre os brasileiros, a fatia dos que acreditam que este ano será melhor do que 2015 é de 50%, abaixo da média mundial, que é de 54%. Já os pessimistas, isto é, aqueles que acham que 2016 será pior, chegam a 32% da população, enquanto na média dos países pesquisados essa fatia é de apenas 16%.

Pode-se argumentar que ainda há muitos otimistas no Brasil, confirmando um traço verificado nas pesquisas anteriores, mas impressiona o dado que mostra a expansão acelerada do sentimento negativo em relação ao futuro. O porcentual dos que se dizem pessimistas no País era de apenas 6% em 2011, quando Dilma debutou no Planalto. No ano seguinte passou para 8%, chegou a 14% em 2014, atingiu 26% em 2015 e agora passou dos 30%. Em compensação, a fatia dos que acreditavam na melhora das condições de vida recuou de 73% em 2011 para 57% em 2014 e depois para 49% em 2015. Agora está em 50%, uma melhora insignificante. Ou seja, enquanto o sentimento positivo em relação ao futuro está estagnado, o pessimismo galopa.

“Não é preciso ser clarividente para saber que o problema é a economia do País”, escreveu José Roberto de Toledo, em sua coluna no Estado, ao antecipar alguns números da pesquisa. O jornalista destacou o dado do Ibope segundo o qual as classes de consumo A e B, que eram 30% da população no final de 2014, representavam no ano seguinte apenas 23%. Enquanto isso, a classe C caiu de 54% para 50% e as classes D e E, onde se concentram os mais pobres entre os pobres, passaram a ser 27% em 2015, contra 16% em 2014.

Em poucos anos, portanto, a melhora de vida de uma significativa parcela dos brasileiros, festejada pelo lulopetismo como a prova de sua superioridade moral e gerencial, provou-se insustentável, porque grande parte desse progresso estava lastreada em populismo rasteiro e irresponsabilidade fiscal. O pessimismo crescente não é infundado, pois ainda restam três anos dessa gestão temerária, que ameaça aniquilar os suados ganhos dos últimos 20 anos.

Ademais, um estudo recente, feito por economistas da consultoria Tendências, mostra que o País do PT, em que os pobres se transubstanciaram em classe média, só existe na propaganda do partido. Com base nos dados da Receita Federal, a pesquisa indica que a desigualdade de renda no País pode ser muito maior do que a informada pelos dados oficiais: segundo o levantamento, 37,4% da massa da renda nacional está com a faixa mais rica da população, enquanto a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, do IBGE, estima que esse porcentual seja de 16,7%. Por obra do desgoverno de Dilma, o abismo entre as classes ricas e pobres, que chegou a cair entre 2011 e 2012, voltou a crescer a partir de 2012.

Diante desse quadro de deterioração evidente, em que a alta substancial do desemprego e da inflação indica tempos ainda mais enfarruscados pela frente, não é difícil de entender como um povo tradicionalmente tão otimista como o brasileiro esteja tão acabrunhado. Essa é uma das grandes obras de Dilma.

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