quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Opinião do dia – Merval Pereira

Enquanto a política brasileira segue nessa pasmaceira, pioram as previsões para a economia também em 2016 e a crise tripla — política, econômica e moral — não parece ter uma saída plausível, pois os acordos políticos já não obedecem a parâmetros civilizados.

Os players desse jogo truncado ganham com a paralisia das ações, e não há regras morais que as limitem. Vale tudo para alcançar o objetivo imediato, que é o de sobreviver no cargo.

Esse, como se vê, não pode ser o caminho virtuoso de um país em busca de seu destino. Não temos hoje na vida pública figuras que inspirem confiança, e por isso não é surpreendente que pesquisas de diversas procedência informem a rejeição maciça aos políticos e aos partidos.

Forma-se nessa marcha a condição para uma disputa presidencial em 2018 mais fragmentada do que a de 1989, a primeira eleição direta para presidente da República depois dos anos ditatoriais e a transição para a democracia iniciada com a eleição indireta de Tancredo Neves.

A não ser que saiam das operações Lava-Jato, Zelotes e similares definições de culpa que mudem o panorama atual e encurtem o caminho.

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Merval Pereira, jornalista. ‘Os caminhos da crise’. O Globo, 10 de novembro de 2015.

Para PT, objetivo de Moro é "acabar com a sigla"

Por Cristiane Agostine – Valor Econômico

SÃO PAULO - Em meio a denúncias de corrupção, o PT divulgará hoje um documento para municiar a militância com fortes críticas ao juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato, e ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal. No recado aos petistas, o comando partidário afirma que o alvo de Moro, da Lava-Jato e de Mendes é acabar com o partido.

"O juiz Sergio Moro e sua 'equipe' de delegados da PF e procuradores do MPF do Paraná fazem de tudo (até mesmo anistiar criminosos confessos) para atingir o PT. Eles não querem detectar os crimes e acabar com a corrupção. O objetivo é prejudicar a imagem do PT e de seu governo", diz o partido.

Na cartilha "Em defesa do PT, da verdade e da democracia", com 32 páginas, a legenda diz que há uma campanha de "cerco e aniquilamento" de setores do Judiciário, do Ministério Público, da Polícia Federal e da mídia para cassar o registro da sigla. De acordo com o PT, opositores ao governo "mentem sob a proteção da toga, nos mais altos tribunais, afrontando a consciência jurídica".

"Desde a campanha de 2014, nossos adversários escolheram as investigações da 'Operação Lava-Jato' para insistir em criminalizar o PT. Repetindo o método do mensalão, tentam atribuir ao PT - e exclusivamente ao PT - os crimes de bandidos confessos, vinculados a diversos partidos, inclusive da oposição, que agiam impunemente há décadas e hoje negociam depoimentos em troca de benefícios, sem apresentar provas", diz. Com críticas à delação premiada, afirma que Moro beneficiou "criminosos" que desviaram de recursos da Petrobras, ao mesmo tempo em que criminaliza a sigla.

A legenda também ataca Gilmar Mendes e diz que "são notórias" as ligações do ministro com os tucanos, "assim como é escancarado seu comportamento faccioso contra o PT, tanto no STF quanto no Tribunal Superior Eleitoral". O partido diz ainda que o ministro age "como um coronel da Velha República".

PT, PMDB e PP devem ser únicas siglas atingidas

Por André Guilherme Vieira, Cristiane Agostine e Fernando Taquari – Valor Econômico

SÃO PAULO - PT, PMDB e PP deverão ser os únicos partidos responsabilizados pelos prejuízos causados à Petrobras em decorrência de um esquema de corrupção investigado pela Operação Lava-Jato. Outras siglas, como o PSDB, que tiveram parlamentares citados na investigação, poderão ficar de fora de ações civis públicas ajuizadas pelo Ministério Público Federal (MPF).

A intenção é que as legendas sejam obrigadas a indenizar os cofres da estatal, que sofreu desfalque superior a R$ 20 bilhões, segundo a Polícia Federal (PF). Conforme a força-tarefa, PT, PMDB e PP foram os partidos responsáveis pela corrupção instalada na petrolífera entre 2004 e 2014, conjuntamente com empresas que cartelizariam os contratos com a estatal.

Os investigadores consideram que a responsabilidade dos partidos está clara, principalmente no caso do PT. Um ex-tesoureiro da sigla está sob investigação - João Vaccari Neto, preso e processado por corrupção e lavagem. Dois ex-tesoureiros de campanhas presidenciais, José Filippi Júnior e o ministro da Secretaria da Comunicação Social, Edinho Silva, foram citados pelo delator e dono da UTC, Ricardo Pessoa.

Em sua defesa, o PT insistirá na tese de que só tem conhecimento de doações lícitas, declaradas à Justiça Eleitoral, e que se houve o recebimento de recursos desviados da Petrobras, foi por conta de uma ação pessoal, individual, do tesoureiro. O comando petista alegará também que empresas investigadas pela Lava-Jato doaram a outros partidos e por isso não poderia ser a única sigla responsabilizada.

O partido ainda deve alegar que o PT não é parte de processos penais da Lava-Jato e que não poderá ser criminalizado nem condenado. "Todas as doações foram legais. Sou da Executiva e não tenho conhecimento de nenhuma irregularidade. O PT recebeu recursos da mesma forma como outros partidos", disse o dirigente Florisvaldo Souza. "O que está havendo é uma tentativa de judicialização da política e criminalização dos partidos. Isso é um ataque à democracia".

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, deve procurar dirigentes do PMDB e PP para articular uma reação conjunta e impedir a tentativa do MP de cobrar de partidos o dinheiro desviado pelo esquema de corrupção.

O PP enxerga como remota a hipótese de ter que ressarcir os cofres públicos por desvios na Petrobras. Alvo da Operação Lava-Jato, o presidente do partido, senador Ciro Nogueira (PI), desqualificou a medida ao considerá-la uma tentativa da imprensa e do MP em criar um fato. "Não vejo consistência nessa informação e não acredito que vá prosperar. Além disso, acho difícil ser executada a cobrança. Primeiro, vão ter que provar que houve desvio dos partidos", disse.

"Se a tese avançar, vamos preparar a defesa jurídica", acrescentou o senador, que evitou antecipar a estratégia do PP. Procurado, o tesoureiro do PMDB, senador Eunício Oliveira (CE), disse que apenas o vice-presidente Michel Temer poderia comentar o assunto. Temer está em Angola, onde participa das comemorações de 40 anos de independência do país africano. O foco da Lava-Jato nos três partidos já havia sido antecipado pelo Valor Pro em janeiro.

Em cartilha, PT ataca Moro, Gilmar, procuradores e delegados

Catia Seabra – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O comando do PT lança nesta quarta-feira (11) uma cartilha em que ataca o juiz Sergio Moro, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, além de criticar nominalmente procuradores e delegados da Polícia Federal.

O nome de Moro é citado 19 vezes num documento de 34 páginas. "todos os ex-dirigentes da Petrobras investigados na 'Operação Lava Jato' eram altos funcionários da estatal no governo FHC. Mas, como diz o juiz Sergio Moro, 'isso não vem ao caso'", acusa o texto que será publicado do site do partido.

Gilmar Mendes é citado quatro vezes: "As manobras e declarações antipetistas de Mendes, incompatíveis com a imparcialidade e o recato exigidos de um juiz, não são capazes de mudar a realidade: quem escancarou a influência do poder econômico na vida política brasileira foi o governo do PSDB, o mesmo que corrompeu o Congresso para introduzir a reeleição", diz.

Os dois não são os únicos citados. O texto acusa ainda a procuradoria de engavetar casos referentes à máfia dos trens em São Paulo. "Se não tivesse sido investigado fora do Brasil, esse caso também seria jogado para debaixo do tapete. Com auxílio do procurador Rodrigo de Grandis, o processo estava engavetado".

Assinado pela direção do PT, a cartilha menciona a relação de Sergio Moro com a ministra Rosa Weber, do STF. "Moro foi assistente de Rosa Weber na AP 470 ('Mensalão')", diz.

O texto diz ainda que "o juiz Sergio Moro e sua 'equipe' de delegados da PF e procuradores do MPF [Ministério Público Federal] do Paraná fazem de tudo (até mesmo anistiar criminosos confessos) para atingir o PT".

Os delegados que atuam nas investigações são citados um a um. "O delegado da PF Márcio Anselmo: declarou 'Alguém segura esta anta, por favor', sobre uma notícia cujo título era: 'Lula compara PT a Jesus Cristo'", diz o texto.

Outro delegado criticado é Igor Romário de Paula. O PT o acusa de usar as redes sociais durante a campanha eleitoral de 2014 para elogiar o senador Aécio Neves, candidato do PSDB.

A cartilha condena o procurador do Ministério Público Federal Deltan Dallagnol: " Em uma "pregação" em uma igreja evangélica, apresentado como "servo" e "irmão" disse acreditar que Deus colabora com a "Operação Lava Jato", afirma o partido.

A cartilha reserva um capítulo para ataques à imprensa e afirma que "comandada pela mídia monopolizada, a campanha de cerco e aniquilamento [do PT e do ex-presidente Lula] conta com a colaboração solerte de políticos de vários partidos, de setores do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal"

Ao falar do que chama de "vícios da Lava Jato", o PT cita a "condenação sem provas do companheiro João vaccari Neto". O petista já foi condenado a 15 anos de prisão e é réu em outros dois processos na Lava Jato, acusado de ter intermediado propina para o partido resultantes de contratos na Petrobras.

"No fim da linha está o objetivo de cassar o registro do partido, como ocorreu em 1947 com o antigo PCB", diz o texto da cartilha petista."

‘Lava Jato quer acabar com PT’, diz cartilha do partido

Cartilha do PT diz que Lava Jato difunde mentiras para eliminar partido

• Em documento de 34 páginas, que será distribuído a partir desta quarta-feira, direção petista afirma que força-tarefa da PF e do Ministério Público, o ministro Gilmar Mendes e setores da imprensa fazem campanha para criminalizar Lula e a sigla

Ricardo Galhardo e Valmar Hupsel Filho - O Estado de S. Paulo

Na mais forte reação do PT às denúncias de corrupção contra integrantes do partido, a direção nacional da legenda vai distribuir a partir desta quarta-feira, 11, milhares de cópias de uma cartilha na qual acusa a força-tarefa da Operação Lava Jato, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e setores da imprensa de agirem deliberadamente, com base em "mentiras", para “eliminar o partido da vida política brasileira”.

Em 34 páginas, o documento “Em defesa do PT, da verdade e da democracia” relaciona as conquistas do partido nos 12 anos de poder, inclusive na área do combate à corrupção”, e descreve o que chama de campanha para criminalizar o partido, dirigentes e o seu maior expoente: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Mentem sob a proteção da toga, nos mais altos tribunais, afrontando a consciência jurídica da Nação em rede nacional de TV. Mentem sob a impunidade parlamentar, disseminando o ódio nas redes sociais. Mentem sob a proteção da autonomia funcional, forjando procedimentos investigatórios sem base alguma, apenas para produzir manchetes. Mentem sob a proteção do anomimato covarde, contrabandeando para a mídia dados parciais e manipulados por meio de vazamentos criminosos”, diz o texto.

Conforme a cartilha, “desde a campanha eleitoral de 2014 adversários escolheram as investigações da Operação Lava Jato para insistir em criminalizar o partido”.

Para embasar a tese, o texto cita fatos históricos como o caso de Leme (SP), em 1986, em que um delegado acusou falsamente petistas de atirarem contra trabalhadores rurais, e o sequestro do empresário Abílio Diniz, às vésperas das eleições de 1989, quando a polícia de São Paulo obrigou os sequestradores a vestirem camisetas do partido.

“A maneira sistemática, violenta e insultuosa com que estas mentiras vêm sendo difundidas não deixa dúvidas quanto aos objetivos de seus mentores: querem eliminar Lula e o PT da cena política brasileira, temendo sofrer a quinta derrota consecutiva nas eleições de 2018”, diz o texto.
No domingo, o Estado noticiou que procuradores da Lava Jato devem acionar judicialmente os partidos envolvidos no esquema de desvios da Petrobrás para cobrar o ressarcimento dos valores desviados.

Doações. Embora a cartilha ternha sido elaborada antes da decisão dos procuradores, o PT incluiu na publicação tabelas mostrando valores de doações de empresas investigadas pela Lava Jato ao PSDB. Segundo o PT, as 17 empreiteiras investigadas doaram R$ 619 milhões ao PT e à campanha da presidente Dilma Rousseff e R$ 601 milhões ao PSDB e à campanha de Aécio Neves em 2014. "Se a origem das doações é a mesma, por que criminalizar apenas as contribuições ao PT?”, questiona o documento.

Nesse ponto, a cartilha indaga por que as investigações da Lava Jato se concentram no PT. “As 17 empresas investigadas na Operação Lava Jato não têm contratos apenas com o governo federal, mas com governos estaduais e prefeituras controladas pelo PSDB e outros partidos. Por que investigar e criminalizar somente relações dessas empresas com o PT?”. A cartilha cita ainda que outros partidos “incluindo os moralistas mais hipóicritas: PPS, DEM e Solidariedade” também receberam recursos dessas empresas.

O texto cita como contraponto o caso de São Paulo. “Governado há 22 anos pelos tucanos, São Paulo é o paraíso das doações empresariais. Diferentemente do que ocorre em nível nacional, em que as contribuições são equilibradas entre PT e PSDB, em São Paulo os tucanos receberam 2 vezes mais dinheiro do que os candidatos do PT nas eleições de 2010 e 2014”.

Outro alvo é Gilmar Mendes, autor de um pedido de investigação das contas da campanha de Dilma no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “São notórias as ligações de Gilmar Mendes com os tucanos, assim como é escancarado seu comportamento faccioso contra o PT, tanto no STF quanto no TSE”, diz o texto.

Narrativa. A cartilha vem sendo elaborada pela direção petista desde agosto e será distribuída tanto em formato impresso quanto digital. A ideia, já defendida várias vezes pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é criar uma narrativa própria para a situação política atual.

A ordem da direção petista é difundir o máximo possível o conteúdo do documento por meio dos canais da legenda nas redes sociais, da Agência PT de Notícias e diretórios petistas. No primeiro momento foram impressos 5 mil exemplares que têm como alvo a imprensa, diretórios e parlamentares do partido. Uma segunda edição já foi encomendada.

“É a nossa defesa que vai ser usada agora e na campanha eleitoral, um resumo dos ataques que o PT vem sofrendo desde a fundação”, disse o presidente do PT, Rui Falcão.

Segundo ele, o objetivo não é atacar os adversários mas impedir um processo de criminalização da atividade política. “Não estamos atacando o PSDB. As doações que eles receberam (de empresas investigadas pela Lava Jato) são semelhantes às nossas mas não estamos dizendo que é propina.

Queremos fazer as pessoas refletirem um pouco”, disse Falcão. “Para o PT os procuradores são suspeitos para conduzir a ação porque não são imparciais nem impessoais, exigências do serviço público”.

Integrantes do Ministério Público Federal afirmam que só irão se manifestar depois de terem acesso à íntegra da cartilha. A reportagem aguarda respostas do PSDB e da assessoria do ministro Gilmar Mendes.

Levy sofre um novo desgaste

Atendendo a um apelo do setor automotivo, o governo reabriu o prazo para as indústrias se candidatarem ao PSI, uma linha de crédito subsidiado do BNDES que fora alvo de cortes no ajuste fiscal. O ministro Levy foi contra a decisão, e sofreu novo desgaste com a presidente Dilma.

Governo atende a montadoras e Levy sofre novo desgaste

• Ministro foi voto vencido em decisão sobre empréstimo subsidiado

Martha Beck, Cristiane Jungblut, Maria Lima Ana Paula Machado - O Globo

-BRASÍLIA e SÃO PAULO- Pressionado pelo setor automotivo, o governo reabriu o prazo para que empresas apresentem ao BNDES pedidos de financiamento com recursos do Programa de Sustentação do Investimento (PSI). A medida deixa claro que a presidente Dilma Rousseff está cada vez mais preocupada em atenuar os efeitos da recessão. Embora continue a fazer a defesa pública do ajuste fiscal, Dilma aos poucos se afasta do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que resiste em adotar ações que possam afetar o reequilíbrio das contas públicas. Ele participou das negociações, segundo a Anfavea (associação de montadoras), mas foi voto vencido, em mais um desgaste do ministro no governo.

Em 23 de outubro, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou redução de R$ 30,5 bilhões nos limites para empréstimos do programa. O montante para o PSI, que se encerra no dia 31 de dezembro, baixou de R$ 50 bilhões para R$ 19,5 bilhões. O CMN também fixou prazo que não existia: as empresas tinham até 30 de outubro para pedir os empréstimos.

Isso deu ao setor produtivo apenas uma semana para que os pedidos fossem protocolados. O setor automotivo, que é um dos principais favorecidos pelas linhas subsidiadas do PSI, procurou o governo para pedir prorrogação. Levy resistiu. Ele alegou que a ideia foi reduzir os custos do Tesouro com a diferença de juros do programa em relação ao custo de captação no mercado. A reabertura do prazo poderia gerar mais despesas este ano.

A redução do limite ainda deixava recursos para novos empréstimos. Até outubro, o total financiado foi de R$ 7 bilhões. Havia sobra de R$ 12,5 bilhões. Com o prazo de 30 de outubro, eram baixas as chances de que o valor subisse, pois não haveria tempo suficiente para as empresas.

A pressão das indústrias funcionou. E mesmo com a oposição de Levy, Dilma decidiu ceder aos apelos dos empresários. Interlocutores do Planalto afirmam que o ministro tem ficado isolado, o que o torna enfraquecido e cada vez mais alvejado por seus desafetos dentro e fora do governo. Levy tem participado cada vez menos das reuniões de coordenação política.

Ao mesmo tempo, o ex-presidente Lula tem se movimentado para tentar convencer Dilma a tirar Levy. O nome preferido é do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. Petistas que têm conversado com o candidato de Lula afirmam que Meirelles tem dito que é preciso retomar o crescimento e que não se pode apenas pensar em corte de despesas. Ele também estaria indicando que aceitaria um convite para voltar ao governo. Nos últimos dias, Meirelles chegou a promover uma ofensiva e ligar para senadores para fazer uma avaliação do quadro econômico atual. Segundo interlocutores, Lula disse na semana passada, após encontro com a presidente, que não acredita na permanência de Levy na Fazenda após janeiro.

Em ‘ato falho’, menção a Meirelles
Ontem, o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), cometeu o que chamou de “ato falho” ao ver um cenário econômico melhor com Meirelles. Delcídio foi um dos que teriam se reunido com Meirelles na última semana e pertence à ala do governo e do PT que cobra de Levy plano de recuperação que não seja só o aumento de impostos. Ao comentar a dificuldade de aprovar na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) o projeto do senador José Serra (PSDB-SP) que fixa teto do endividamento público, Delcídio disse que o projeto só seria viável se houver equilíbrio econômico.

— O governo nesse momento não tem meta, não tem orçamento, como vai fazer teto de endividamento? Se o Meirelles vier e estabilizar a economia, aí fica mais fácil — brincou Delcídio, dizendo depois que o comentário foi “um ato falho”.

Governadores que lançaram ontem o Consórcio Brasil Central, para desenvolver projetos de PPPs, cobraram aprovação do ajuste fiscal, mas são contra a CPMF.

— O ministro Levy tem sido correto conosco e não acho que vá sair. Mas ele precisa de apoio — disse o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB).

A Anfavea confirmou que seu presidente, Luiz Moan, pediu autorização ao ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, para anunciar a reabertura do PSI. Segundo um executivo, a Anfavea negociou a medida com o governo durante a semana passada. Levy foi um dos interlocutores, além do Nelson Barbosa, do Planejamento, e de Wagner. Até a presidente Dilma Rousseff teria participado. Segundo ele, Levy foi contra a reabertura do programa.

Lula retoma campanha contra Levy

• Ex-presidente está insatisfeito com o que chama de falta de controle do ministro da Fazenda sobre a Receita Federal em operação da Polícia Federal

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Alvejado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tem dito, em conversas reservadas, que não ficará muito tempo no governo, mas não quer deixar o cargo como comandante da maior recessão do País. Nos últimos dias, Levy intensificou os contatos com políticos de vários partidos e, a pedido da presidente Dilma Rousseff, passou a incluir no cardápio das conversas a defesa de ideias para recuperar a economia depois de aprovado o ajuste fiscal.

Treze dias após orientar o PT a fazer um recuo tático e dar uma trégua ao ministro, em reunião do Diretório Nacional do partido, Lula voltou a atacá-lo, nos bastidores, numa operação para tentar emplacar na Fazenda o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

As críticas de Lula a Levy ganharam força após o vazamento de dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), subordinado ao Ministério da Fazenda, sobre movimentações financeiras feitas por ele e pelos ex-ministros Antônio Palocci (Fazenda), Erenice Guerra (Casa Civil) e Fernando Pimentel (Desenvolvimento), hoje governador de Minas. Os dados foram remetidos à CPI do BNDES na Câmara, que investiga irregularidades em contratos assinados com o banco entre 2003 e 2015.

Lula ficou furioso, ainda, com o fato de a Receita Federal recomendar ao Ministério Público que peça a quebra dos sigilos bancário e fiscal da LFT Marketing Esportivo, empresa de seu filho caçula, Luís Cláudio. A portas fechadas, o ex-presidente continua dizendo que Levy está com prazo de validade “vencido” porque não consegue entregar o que prometeu, não tem plano para o pós-ajuste e não controla órgãos ligados à Fazenda, como o Coaf e a Receita.

Um integrante da equipe econômica disse ao Estado, porém, que relatórios de investigações foram tornados públicos pela Justiça após a última fase da Operação Zelotes, da Polícia Federal. “Não faz sentido nenhum dizer que o vazamento tenha partido da Receita e muito menos por determinação do ministro Levy”, afirmou esse mesmo interlocutor. As informações sobre a movimentação financeira da LILS, empresa de palestras do ex-presidente, não constavam, no entanto, de qualquer investigação.

Dilma ainda resiste a trocar Levy e não gosta de Meirelles, o preferido de Lula, mas já admite ser preciso fazer mudanças na política econômica para injetar crédito na praça. É o que Lula chama de dar um “sinal” para o mercado de que há uma direção a seguir após o ajuste fiscal.

Apesar das negativas sobre a saída do ministro da Fazenda, integrantes do governo avaliam que ele não permanecerá na equipe e deve ficar apenas até a virada do ano.

Ainda nesta terça-feira, 10, Levy almoçou com senadores do PR, PTB, PSC e PRB e jantou com a bancada do PMDB. A todos pediu empenho dos parlamentares para a aprovação do pacote fiscal. A reforma do ICMS é uma das propostas de Levy para a etapa do pós-ajuste, mas a medida tem sido vista como pífia até dentro do governo. “A economia caminha ladeira abaixo e os juros continuam altos. Se a alternativa para retomar o crescimento for isso, estaremos mortos”, disse o senador Blairo Maggi (PR-MT). / Colaborou Adriana Fernandes

Sob nova fritura por petistas e até empresários, Levy ensaia resistência

• No final da tarde, cresceram rumores de que Henrique Meirelles, ex-chefe do BC, substituiria ministro da Fazenda

Valdo Cruz, Giuliana Vallone

BRASÍLIA, SÃO PAULO - Alvo de pressões de petistas e até de empresários, o ministro Joaquim Levy (Fazenda) está disposto a resistir à nova onda para tirá-lo do posto enquanto considerar que tem o apoio da presidente Dilma dentro do governo.

Apesar de se sentir isolado, Levy tem recebido da presidente sinalizações de que mantém o apoio à sua política de ajuste fiscal como passo essencial para garantir a retomada do crescimento da economia brasileira.

Além do apoio de Dilma, o ministro da Fazenda aponta outro motivo classificado por ele como fundamental para sua permanência no governo: aprovar um Orçamento da União para 2016 que garanta um superavit primário.

Dentro do Palácio do Planalto, o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) tem dito que não há motivo para tirar Levy do cargo e que o governo vai priorizar, nesta reta final de ano, a aprovação das medidas do pacote fiscal –o que está em linha com o que defende o ministro da Fazenda.

A Folha apurou, porém, que defensores de que o ministro Nelson Barbosa (Planejamento) substitua Levy estão por trás dos rumores, divulgados ontem, de que estaria sendo costurada a substituição de Levy pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.

Para integrantes do grupo de Lula, a presidente só vai aceitar Meirelles no lugar de Levy quando a situação econômica piorar ainda mais, com nova perda de grau de investimento, dólar em alta e quebra de empresas no país.

Alguns banqueiros acham pouco provável que Meirelles volte ao governo e interpretaram a movimentação como "fogo amigo", uma tentativa de alas do governo interessadas em enfraquecer Levy e forçar sua saída.

No Ministério da Fazenda, a avaliação é que Joaquim Levy está sendo alvo não só de petistas, mas também de empresários insatisfeitos com o corte de subsídios que garantia crédito a baixo custo do BNDES para seus negócios.

O ministro conseguiu o apoio de Dilma para não liberar mais recursos para o BNDES, depois de cortar R$ 30 bilhões do crédito do banco, reivindicado principalmente pelo setor automotivo.

Levy aceitou analisar apenas a ampliação, para o final deste mês, do prazo de adesão ao PSI (Programa de Sustentação do Investimento), que venceu em 30/10.
reação

Reação
As especulações sobre a saída de Levy do cargo mexeram com o mercado financeiro no fim da tarde desta terça (10).

Na Bolsa brasileira, em que o Ibovespa terminou o dia com leve avanço de 0,03% (para 46.206 pontos), as principais ações acentuaram o movimento de alta nas negociações após o fechamento do pregão.

Os papéis preferenciais do Itaú, que possuem o maior peso dentro do índice, tiveram alta de 1,57% nas negociações noturnas —no horário regular, a elevação havia sido de 0,62%. O mesmo aconteceu com as ações do Banco do Brasil, cujo ganhou foi de 0,88% para 1,94%.

O dólar à vista, referência no mercado financeiro, acentuou a queda por volta das 17h, nas negociações realizadas após o fechamento do dia (às 16h, a R$ 3,788). A moeda, que chegou a valer R$ 3,7329, era cotada a R$ 3,7501, em queda de 1,01%, às 20h44 —a variação considera os mercados internacionais, que ainda operavam neste horário.

De acordo com analistas, a tendência da taxa de câmbio já era de queda, influenciada pela estratégia do Banco Central de realizar leilões no mercado como forma de se antecipar à demanda sazonal de fim de ano, quando aumenta o valor enviado ao exterior para pagamento de dívidas e remessas de lucros, por exemplo.

A notícia da possível saída do ministro da Fazenda, no entanto, dominou as negociações no fim do dia. Parte do mercado avalia que a substituição de Levy pode ser positiva, já, de acordo com analistas, o ministro perdeu força para realizar o ajuste fiscal necessário. "A notícia se torna potencialmente boa, mais pela mudança em si do que pelo nome de Meirelles", afirmou um operador.

Para André Perfeito, da Gradual Investimentos, é preciso encarar as especulações com cautela. "Estão demitindo o Levy desde o início do governo. E a presidente Dilma Rousseff tem dado apoio a ele durante todo esse período", disse. "O mercado está numa fase de autoengano muito grande. Tirar o Levy sem um nome para substituir é o o pior dos mundos.

Meirelles já conversa com governistas

Por Andrea Jubé, Ribamar Oliveira, Raymundo Costa e Cristiano Romero – Valor Econômico

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Com aval do ex-presidente Lula, o ex-presidente do BC Henrique Meirelles está conversando com líderes políticos governistas sobre cenários econômicos para o Brasil, em encontros realizados em São Paulo. As conversas estão sendo interpretadas pelos interlocutores como sondagens sobre uma eventual substituição do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Mas uma fonte próxima a Meirelles disse que ele "está quieto em seu canto".

Lula e outros líderes do PT estão há semanas no processo de persuasão da presidente Dilma para que ela aceite a troca. Meirelles tem dito a Lula que aceitaria a missão, desde que possa indicar toda a equipe econômica.

Meirelles começa a discutir cenários com líderes políticos
Com autorização do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles está conversando com líderes políticos governistas sobre cenários econômicos para o Brasil, em encontros realizados em São Paulo. As conversas estão sendo interpretadas pelos interlocutores como sondagens sobre um eventual ingresso do ex-presidente do BC no governo, em substituição ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

O Valor PRO, o serviço em tempo real do Valor, conversou com um desses interlocutores, que ficou impressionado com a clareza da análise do ex-presidente do Banco Central sobre os desafios da economia brasileira que precisam ser enfrentados.

Lula e outros líderes do PT estão há semanas no processo de persuasão de Dilma para que ela aceite Meirelles. Recentemente, Dilma lembrou a Lula de suas restrições ao ex-presidente do BC: "Você sabe que eu não gosto dele", disse a presidente a seu antecessor. Lula respondeu, satisfeito, que a situação está "melhorando", porque "não gostar" é um grande avanço em comparação ao cenário anterior, que era de que Dilma não podia nem ouvir o nome do ex-presidente do BC. "A Dilma também não gosta do Levy", lembrou Lula a um interlocutor.

Meirelles tem dito a Lula, segundo essas fontes, que aceitaria a missão de comandar a economia se for convidado, mas com algumas condicionantes. Ele gostaria de indicar toda a equipe econômica, ou seja, o presidente do Banco Central e o ministro do Planejamento. Segundo esses interlocutores, as mudanças são necessárias porque Meirelles acredita que a equipe econômica tem de ter "unicidade", ou seja, falar a mesma língua.

Entre líderes partidários, inclusive do PSDB, a eventual nomeação de Meirelles para o Ministério da Fazenda é vista como uma barreira ao impeachment da presidente. A posse do ex-presidente do Banco Central de Lula poderia interromper, pelo menos por enquanto, o processo de perda de credibilidade e deterioração da autoridade do governo Dilma.

Essa é uma avaliação corrente no PSDB, mas também em setores do PMDB mais vinculados à ideia de trocar a presidente por seu vice Michel Temer. Na realidade, até o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), em uma intervenção no plenário, sugeriu que é possível a "recuperação da credibilidade" com um novo governo, mesmo mantendo a presidente Dilma à frente.

"Nós precisamos trabalhar para fazer como ter um governo que traga para nós a credibilidade - pode ser até a própria presidente Dilma, se for o caso -, traga uma nova postura, com um novo governo nos seus Ministros, com uma nova postura na relação com os partidos, com o Congresso", disse Cristovam. O senador do Distrito Federal não falou em Meirelles, mas seus partidários avaliam que o figurino cabe à perfeição no ex-presidente do BC.

Fontes do PT, por outro lado, disseram que Meirelles tem condições de estabelecer boas relações com o PSDB, partido pelo qual foi eleito deputado federal em 2002, e no PMDB do vice Michel Temer, ao qual também já esteve filiado. As mesmas fontes asseguram, no entanto, que Meirelles só teria sucesso na empreitada se tivesse carta branca para agir e para nomear os principais nomes da área econômica.

A articulação em torno da "saída Meirelles" resulta da constatação, feita por líderes da base governista, de que o ministro Joaquim Levy não teria mais condições de comandar a economia. "O Levy já não é mais operacional, já não articula as medidas do governo", disse um importante líder. "Não acredito que ele chegue no cargo até o fim deste ano", acrescentou. Na realidade, desde que Lula negociou com Dilma a reforma do ministério, a sorte de Levy estava selada, de acordo com fontes que participaram das reuniões. O que não está definido é o nomes do seu sucessor. Lula quer Meirelles, Dilma preferiria outra solução.

Ontem à noite, o ministro Levy foi convidado para um jantar na casa do líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), que teria a participação de senadores do partido e de senadores independentes.

Ministro teria mão de ferro na Fazenda

Por Angela Bittencourt - Valor Econômico

SÃO PAULO - A nomeação de Henrique Meirelles para a Fazenda renovaria esperanças em um primeiro momento. Mas é necessário considerar que no governo Lula ele nunca foi unanimidade na condução do Banco Central. Meirelles teria mão de ferro na Fazenda e o BC de Alexandre Tombini provavelmente perderia o status de ministério.

Na articulação de Lula, troca está entre a aposta e a fiança
O Brasil pode estar no limiar de mudanças mais profundas do que mercado financeiro supõe -e os políticos também - caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não desista do seu intento e continue trabalhando para, na virada do ano, substituir Joaquim Levy no Ministério da Fazenda e colocar a economia na trilha do crescimento, reservando o posto para Henrique Meirelles, conforme apuração das jornalistas Rosângela Bittar e Andrea Jubé, do Valor, em Brasília. Está convencido o ex-presidente que com a política girando em torno do ajuste, o Brasil não sai da crise, e se não sair, Dilma e o PT estarão banidos da política em 2018.

Um "aceito" do ex-presidente do Banco Central para Lula, se convidado a comandar a Fazenda -algo que hoje parece improvável, tamanha a barafunda jurídica que envolve o governo ou personagens de destaque no governo - não deve ser descartado. A considerar a disposição de Lula de lutar pelo projeto do PT e pelo terceiro mandato e o desgaste da presidente Dilma, agora ampliado pelo movimento dos caminhoneiros que já obstruem estradas e ocupam mais de uma dezena de estradas brasileiras e pela greve dos petroleiros que atinge a produção.

Ontem, a informação distribuída pelo Valor PRO sobre a possibilidade de o ex-presidente insistir na substituição de Levy despertou no mercado financeiro a curiosidade a respeito de quem poderia ser o seu sucessor. Imperou discretamente a cifrada pergunta: "Nelson Barbosa ou Henrique Meirelles?" E as reações ao ministro do Planejamento não foram positivas. Barbosa na Fazenda seria a não mudança, comentou um interlocutor do Casa das Caldeiras, blog do Valor PRO.

O "aceito" de Meirelles renovaria esperanças ao menos em um primeiro momento. Mas é necessário considerar que o ex-presidente do BC não conduziu a instituição sob consenso com outras áreas do governo durante o primeiro e o segundo mandato do ex-presidente Lula.

Meirelles teria mão de ferro na Fazenda se assumisse o seu comando em janeiro próximo ou em janeiro de 2019, caso Lula concorra e vença a próxima eleição presidencial e ainda tenha Meirelles como favorito. Com mão de ferro, o ex-presidente do BC orientaria as importantes secretarias de Estado que estão sob os cuidados do Ministério -Receita Federal e Tesouro Nacional são duas delas.

Com Meirelles na Fazenda, o BC de Alexandre Tombini muito possivelmente perderia, sim, o status de Ministério, o que não aconteceu por um triz quando a presidente Dilma promoveu a sua reforma ministerial para melhor acomodar os partidos aliados.

Henrique Meirelles, conhecedor profundo de questões bancárias e diligente gestor na crise financeira de 2008/2009, dificilmente guardaria distância do Banco Central. Some-se a isso, o fato de ter trabalhado durante anos com todos os integrantes da diretoria comandada por Tombini desde janeiro de 2011 (por sua indicação) à exceção do diretor de Assuntos Internacionais, Tony Volpon, que é um membro egresso da iniciativa privada e não de carreira pública.

Tombini, que durante os dois mandatos de Meirelles à frente do BC ocupou mais de uma diretoria, aceitaria condições de trabalho menos autônomas que as obtidas nos últimos quatro anos - período em que ele preside o banco? A ver.

Meirelles, quando aceitou o convite de Lula para assumir o BC em 2003 onde ficou por oito anos, não hesitou em aumentar a taxa básica de juro na chegada; em levar ao pé da letra o Decreto 3.088, de junho de 1999, que formalizou o regime de metas para a inflação como diretriz de política monetária, implantado por um ícone do mercado, o economista Arminio Fraga; e não deixou de promover um calculado rodízio de ao menos 24 diretores no BC, de forma que as substituições não levassem o mercado a um ataque contra ele.

Meirelles usou de tanta habilidade nas substituições de profissionais tão competentes que abortou ruídos e, por consequência, qualquer suspeita de que a autoridade da instituição respirava fora do seu gabinete. O ex-titular do BC sempre tentou ter a última palavra, quase sempre teve e sempre, para qualquer decisão, teve carta branca do presidente da República.

Lula acerta quando aposta que se existe alguém que pode ajudá-lo, na economia, a conquistar o terceiro mandato, esse alguém é Meirelles. Mas Meirelles não joga para perder.

Embora tenha sido uma derrota o saldo, em 2010, de oito anos dedicados ao combate da inflação na gestão do BC, que assegurou ao Partido dos Trabalhadores (PT) o terceiro mandato na presidência da República, representado por Dilma Rousseff. Meirelles não seguiu a carreira política e deixou o setor público.

Se sentimento de derrota houve, embora não demonstrado, ele está cinco anos distante de Meirelles e de Lula. E também de Dilma, que nunca foi a melhor amiga de Meirelles e vice-versa, mas publicamente sempre dispensaram tratamento cordial um ao outro.

O saldo desses últimos cinco anos, coalhados de momentos em que Dilma não pareceu próxima sequer de Lula e vice-versa, explicava a reação de experientes profissionais que, ontem mesmo, duvidavam da possibilidade de Lula convidar Meirelles para substituir Levy. "De um lado, seria um atestado de encerramento da gestão Dilma Rousseff. Lula seria o presidente de fato", comentou uma fonte da área bancária que confessa ter dúvida de que Lula terá condições de se candidatar em 2018. De outro, quais as garantias que Lula poderá, hoje, dar a Meirelles?"

O momento é outro. Por mais credibilidade e liberdade de ação que tenha o ex-presidente do BC, a gravidade do quadro fiscal torna o Executivo refém do Congresso Nacional. Teria Meirelles toda a experiência necessária para render a um voto por reformas -a um voto patriótico - o parlamento, segmentado hoje entre novos políticos que ele mesmo desconhece e outros que tentam se apartar das denúncias de corrupção?

Meirelles é craque em questões bancárias. Um exemplar gestor de pessoas. Despertou admiração em fóruns internacionais por saber adaptar distorções brasileiras à crise internacional,caso dos compulsórios bancários, que serviram como amortecedores únicos para os efeitos inesperados de tão arrasador acontecimento.

O ex-presidente do BC não é de modismos. Deve estar ouvindo falar que tudo (ou quase) no mundo econômico talvez tenha explicação, neste exato momento, pela 'dominância fiscal', mas talvez Meirelles não esteja ligado. Experiente e nada míope em ondas de mercado, ele parece saber, ou desconfiar no mínimo, que o mal que debilita o Brasil neste final de 1º ano do 2º mandato de Dilma Rousseff é uma endêmica 'dominância política'. O remédio para isso chama-se 'vontade popular'. O brasileiro esqueceu que tem disponível em qualquer esquina.

Por apoio, Dilma entrega presidência dos Correios para o PDT

Gustavo Uribe – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Na tentativa de restabelecer a fidelidade da base aliada no Congresso Nacional, a presidente Dilma Rousseff entregou nesta quarta-feira (11) a presidência dos Correios, uma das principais empresas estatais do governo federal, para o PDT.

Em decreto publicado no "Diário Oficial da União", a petista nomeou para o cargo o ex-deputado federal Giovanni Queiroz (PDT-PA). A indicação foi feita pelo ministro das Comunicações, André Figueiredo, também do PDT, e ocorre pelo modelo de "porteira fechada". Pela fórmula, o titular do ministério indica os ocupantes de toda a estrutura.

Formado em medicina e com atuação na área agropecuária, o novo presidente não é funcionário de carreira e também não faz parte dos quadros técnicos da companhia estatal.

A mudança, que foi antecipada pelo jornal "O Globo", causou insatisfação ao PT, que controla os Correios desde 2011. O partido tem reclamado da perda de espaço nos cargos de segundo e terceiro escalões do governo federal, que têm sido entregues a partidos da base aliada que têm ajudado a impor derrotas ao Palácio do Planalto na Câmara dos Deputados.

O ex-presidente da empresa estatal, Wagner Pinheiro, é aliado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ajudou a coordenar a equipe do governo de transição do petista em 2002.

Além dos Correios, o PT perdeu o comando do Sebrae, que foi entregue ao ex-ministro Guilherme Afif Domingos (PSD), e deve deixar a presidência da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), posto estratégico para a sigla no Nordeste.

No esforço de recuperar a base aliada, o governo federal também tem entregue cargos de segundo e terceiro escalões a leigos. Um turismólogo, por exemplo, vai comandar a Funasa (Fundação Nacional de Saúde) na Bahia e um corretor de imóveis irá gerir a CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos) na Paraíba.

A onda de nomeações também alcança cargos que foram palco da chamada faxina feita pela presidente em seu primeiro mandato, quando demitiu vários por suspeita de corrupção.

Nesses casos, foram contemplados PTB, PP, PR, PSD e PRB, siglas que, em outubro, ajudaram a esvaziar a sessão do Congresso Nacional de análise de vetos presidenciais.

TSE aprova calendário com campanhas reduzidas em 2016

• Propaganda eleitoral será permitida a partir de 16 de agosto

Por Carolina Brígido – O Globo

BRASÍLIA – As campanhas de 2016 serão um mês e meio mais curtas em relação às eleições anteriores. A diminuição foi determinada pela reforma aprovada pelo Congresso Nacional neste ano e oficializada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nesta terça-feira, quando foi aprovado o calendário eleitoral da disputa municipal. No ano passado, a propaganda eleitoral começou em 6 de julho. No ano que vem, será permitida a partir de 16 de agosto.

Também por conta da reforma, os candidatos terão uma semana a menos no horário eleitoral gratuito transmitido em rádio e televisão. No ano passado, esse tipo de propaganda começou a ser veiculado em 19 de agosto. Em 2016, vai iniciar no dia 26 de agosto.

Ainda segundo o calendário eleitoral, o prazo para o pedido de registro de candidaturas termina no dia 15 de agosto. Antes da reforma, esse prazo acabava no início de julho. O texto da norma foi aprovado por unanimidade, em sessão rápida do TSE. O calendário traz todas as datas e prazo para as eleições, que estão marcadas para acontecer em todo o país no dia 2 de outubro. Serão eleitos prefeitos e vereadores.

Moro diz que está cansado de ‘ouvir essa história’

• Ao abrir nova audiência de interrogatório de ex-diretor da Petrobrás, juiz da Operação Lava Jato admite esgotamento; Paulo Roberto Costa cita Renan, Gleisi, Humberto Costa, Sérgio Guerra...

Por Ricardo Brandt, Fausto macedo e Julia Affonso – O Estado de S. Paulo

O juiz federal Sérgio Moro, que conduz todas as ações da Operação Lava Jato em primeira instância, está cansado. Ele próprio admitiu isso ao inaugurar mais uma audiência de depoimento do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa (Abastecimento), na segunda-feira, 9.

“Bem, sr. Paulo sei que o sr. já foi ouvido sobre fatos similares várias vezes, sei que o sr. já manifestou que está cansado de relatar esses fatos, mas é essa é uma outra ação penal. Infelizmente, o sr. tem que relatar parte desses fatos novamente. O sr. está cansado de falar, eu também estou cansado de ouvir um pouco essa história. Isso não é um consolo, mas…”, disse Moro.

“Mas acho que estamos na reta final, Excelência”, respondeu Paulo Roberto Costa.

Primeiro delator da Lava Jato, o ex-diretor tem a obrigação de colaborar com a Justiça. Assumiu o compromisso no contrato que firmou com a força-tarefa do Ministério Público Federal. Ele reside no Rio, mas constantemente se desloca a Brasília e a Curitiba. Depõe na Polícia Federal, é submetido a longas acareações. Tem que falar em todas as ações criminais na Justiça Federal no Paraná.

“Eu vou tentar ser bastante objetivo, então’, prosseguiu Sérgio Moro. “O sr. foi diretor da Petrobrás?”, foi a primeira pergunta do juiz da Lava Jato, a mesma pergunta que faz em todas as audiências de Paulo Roberto Costa.

O ex-diretor ocupou o cargo estratégico na estatal petrolífera entre 2004 e 2012. Em sua delação, fechada em agosto de 2014 – cinco meses depois que a Lava Jato iniciou sua fase ostensiva -, apontou deputados, senadores e governadores como supostos beneficiários de propinas na Petrobrás.

Na segunda-feira, 9, ele foi chamado para depor sobre o cartel de grandes empreiteiras que tomaram posse de contratos bilionários da estatal, segundo o Ministério Público Federal. Desta vez, para falar sobre o suposto envolvimento da Andrade Gutierrez.

As audiências da Lava Jato são filmadas. Mas a defesa do ex-diretor pediu a Moro, mais uma vez, que não deixasse filmar o rosto do delator – tantas vezes filmado em audiências anteriores. O juiz consentiu.

A câmera ficou fixada em algum ponto do teto da sala do magistrado. Aberto o interrogatório, o juiz Moro indagou, mais uma vez, se ele ‘teve amparo político’ para assumir a Diretoria de Abastecimento. “Tive apoio do Partido Progressista.”

“O sr., no exercício desse cargo, teve conhecimento de algo que o Ministério Público denomina cartel de empreiteiras?”, questionou Moro, mais uma vez.

“Sim”, respondeu Paulo Roberto Costa…

“Pode descrever?”, prosseguiu Moro…

“Positivo, Excelência….. Entrei em maio de 2004 na Diretoria de Abastecimento. Nos primeiros anos, 2004, 2005, não tinha obras nem orçamento. Começou no final de 2006. Nesse período não tinha muito contato com as empresas. Esse contato foi aumentando a partir dessa data, onde a área de Abastecimento começou a ter projetos e orçamento…”

O juiz perguntou se houve pagamento da área de Abastecimento para outros partidos, que não o PP. “Houve pagamento de R$ 10 milhões para o senador Sérgio Guerra (PSDB/SP, morto em março de 2014), houve pagamento para o senador Valdir Raupp (PMDB/RO), houve pagamento para a senadora Gleisi Hoffmann (PT/PR), para o senador Humberto Costa (PT/PE), para o senador Lindberg, lá do Rio.

Talvez mais algum outro que não estou lembrando agora…”

Moro perguntou sobre o lobista Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, outro delator da Lava Jato, apontado como operador de propinas do PMDB. “O sr. Fernando Soares efetuava pagamento para outros partidos?”

“O sr. Fernando Soares falou várias vezes que tinha uma relação muito forte com o PMDB e que tinha reuniões frequentes com o senador Renan Calheiros (PMDB/AL). Então, tudo leva a crer que ele tinha uma relação mais do que, vamos dizer assim, social com essas pessoas. O relacionamento do sr. Fernando Soares era uma coisa muito estreita. Ele comentou que teve reuniões com o pessoal do PMDB em relação a como fazer alocação de recursos. E nessa reunião foi dito que os projetos novos que viessem seriam alocados recursos para o PMDB.”

Sérgio Moro indagou do ex-diretor da Petrobrás sobre seus contatos na Andrade Gutierrez. “Rogério Nora, Elton Negrão, Paulo Dalmazzo.”

“Otávio Marques?”, perguntou o magistrado, referindo-se ao presidente da empreiteira. “Eu cheguei a conhecer, conversamos várias coisas. Nunca tratei de valores indevidos com ele.”

Todos os políticos citados por Paulo Roberto Costa negam categoricamente recebimento de propinas do esquema na Petrobrás. A defesa da Andrade Gutierrez diz que só se manifesta nos autos.

O eixo internacional da Lava-Jato

• EUA, Itália e Peru já negociam acordos de colaboração com envolvidos na operação, entre eles Youssef, Barusco e Júlio Camargo; ex-ministro José Dirceu também é alvo

Cleide Carvalho, Renato Onofre - O Globo

CURITIBA, SÃO PAULO - Forças-tarefas de pelo menos três países já negociam acordos de colaboração premiada com delatores da Operação Lava-Jato. Autoridades dos Estados Unidos, Itália e Peru estiveram em Curitiba, em contatos com advogados e procuradores para colher informações. Entre os procurados estão o doleiro Alberto Youssef, o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco e o lobista Júlio Camargo. Os trabalhos mais adiantados até agora, porém, são os da força-tarefa italiana, que apura a participação das empresas Techint e Saipen no esquema de corrupção da Petrobras.

A força-tarefa da Itália já teve acesso a depoimentos de João Antonio Bernardi Filho, que foi funcionário da Saipen e atuou como operador de propina para o ex-diretor da Petrobras Renato Duque. Os investigadores querem saber se ele operou pagamento de propina para a Saipen e para a Techint, empresas italianas. Bernardi forneceu detalhes sobre pagamentos da Saipen, que desembolsou propina para assegurar contrato nas obras do gasoduto submarino, que interliga os campos de Lula e Cernambi. Contou ter movimentado cerca de R$ 9,4 milhões para Duque.

O maior interesse das autoridades italianas, no entanto, é a participação da Techint. Em relatório da Polícia Federal, ela aparece como dona do segundo maior volume de contratos obtidos entre as 27 empresas do cartel, atrás apenas da Odebrecht. O nome da companhia apareceu envolvido nas irregularidades da usina Angra III, por suposto pagamento de propina a Othon Silva, ex-presidente da Eletronuclear. A multinacional colabora com as investigações. Até o fechamento desta edição, a Saipen e Techint não se pronunciaram.

O ex-ministro José Dirceu também é alvo. Investigadores peruanos pediram informações sobre os contratos de consultorias que Dirceu fez. O ex-ministro é acusado de intermediar reuniões com políticos do Peru com auxílio de Zaida Sisson, mulher do ex-ministro da Agricultura do Peru Rodolfo Bravo. Dirceu é alvo ainda da Procuradoria de Portugal, que investiga corrupção em negócios da Portugal Telecom e do Grupo Espírito Santo no Brasil. O advogado do ex-ministro disse que não teve acesso as investigações, mas que tem “certeza de que não há irregularidade” da parte de Dirceu.

Desde o início das investigações, os americanos tiveram acesso às informações da Lava-Jato. O objetivo é garantir ressarcimento de perdas a fundos de investimentos e a fundos de pensão que entraram com ação na Corte de Nova York contra a Petrobras.

Ontem, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa reafirmou que o lobista Fernando Baiano era o operador do PMDB no esquema de corrupção da Petrobras. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, Costa disse que Baiano tinha uma relação próxima com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDBAL), e que “com certeza colocava dinheiro no PMDB”. Desde o início das investigações, Renan nega envolvimento no esquema. Costa voltou a citar políticos que teriam recebido propina.

Economia brasileira pode se recuperar com facilidade, diz Krugman

Toni Sciarretta – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O economista americano Paul Krugman, prêmio Nobel de 2008, traçou um cenário benigno para a economia brasileira que, segundo ele, passa por percalços devido ao fim do ciclo de alta nos preços das commodities e pelo abalo na credibilidade do governo.

Segundo o economista, o país tem tudo para sair da atual crise assim que a inflação cair e o Banco Central puder reduzir as taxas de juros. "Não vai ser neste ano e talvez não seja no próximo. Com a inflação menor, os juros vão voltar a cair e isso vai aliviar as contas do governo", afirmou.

O maior risco, segundo o economista, é a economia mundial mergulhar em uma nova crise derivada da desaceleração do crescimento na China. Nesse caso, Krugman vê uma depreciação adicional no preço de commodities, deflação espalhada pelo mundo e baixo crescimento tanto nos países desenvolvidos quando nos emergentes.

"Não acredito muito nessa possibilidade, mas gostaria de estar mais certo sobre isso. Mas será uma crise menor do que a de 2008 porque não há contaminação nos ativos financeiros", afirmou.

Krugman disse que a economia brasileira está mais sólida do que no passado, especialmente nas contas externas. Afirmou ainda que a inflação atual é alimentada pela alta do câmbio e não por fatores estruturais, como nos anos 90. No entanto, reconheceu que a história brasileira não permite descuidar da alta dos preços.

O economista americano afirmou que o "Brasil saiu de moda" entre os investidores internacionais, que passaram a dar mais atenção aos problemas fiscais e às dificuldades políticas do governo. "Daqui algum tempo verão que houve um excesso de pessimismo", afirmou.

Segundo Krugman, a economia mundial está "persistentemente deprimida", o que deveria inviabilizar um aumento de juros nos EUA. No entanto, Krugmam afirmou que o Fed [Federal Reserve, BC dos EUA] vai subir os juros americanos em dezembro. "será um grande equívoco".

Como consequência da alta de juros americanos, Krugman acredita em uma pressão adicional pela valorização do dólar em relação às moedas emergentes e aos preços das commodities, o que deve dificultar o combate à inflação brasileira.

O economista participou do HSM Expomanagement em São Paulo.

Mudança em Portugal: Esquerda unida derruba premier

Uma inédita aliança de partidos de esquerda em Portugal derrubou, com voto no Parlamento, o governo do recém-reeleito premier Pedro Passos Coelho, jogando o país na incerteza.

Passos Coelho no alçapão

• Em aliança inédita, esquerda derruba governo de centro-direita pela primeira vez em 41 anos

Carolina Jardim - O Globo

Foi o governo mais curto da História de Portugal. Apenas 11 dias após o primeiro-ministro conservador Pedro Passos Coelho tomar posse para o seu segundo mandato, uma aliança inédita da esquerda derrubou o governo minoritário de centro-direita, abrindo caminho para o fim da política de austeridade. Por 123 votos a favor e 107 contra, o Parlamento aprovou ontem uma moção rejeitando o programa do premier, o que causou sua demissão imediata — a primeira derrubada de um governo por moção desde a redemocratização em 1974. A queda do governo de Passos Coelho colocou Portugal de volta num cenário de incertezas, levantando temores sobre a possibilidade de o país seguir o caminho da Grécia. A formação de um governo de esquerda, no entanto, precisa ainda do sinal verde do presidente conservador Aníbal Cavaco Silva, que já se mostrou contrário a uma alternativa liderada pelos socialistas.

Num desdobramento inesperado e colocando de lado profundas divergências ideológicas, o Partido Socialista (PS) se uniu ao Partido Comunista (PCP) e ao Bloco de Esquerda (BE) para obter maioria parlamentar e apresentar uma alternativa à centro-direita. Após a aprovação da moção, o líder do PS, António Costa, destacou que o Parlamento expressou a vontade da maioria.

— O tabu terminou, o muro foi quebrado — afirmou Costa, que arquitetou a ação para derrubar a centro-direita e pode se tornar o novo premier. — Esse é um novo quadro político, a velha maioria não pode fingir ser o que deixou de ser.

O texto apresentado pelos socialistas ao Parlamento faz duras críticas às tesouradas nos gastos públicos.

“O corte nos rendimentos de trabalhadores e pensionistas, a degradação dos serviços públicos, o desinvestimento na educação e na saúde públicas, os cortes na ciência, a desvalorização salarial, a promoção do trabalho precário e o ataque à segurança social tiveram como principal objetivo não a sustentabilidade das contas públicas, mas sim a alteração da relação de forças em Portugal contra os interesses dos trabalhadores, das famílias, das classes médias e dos mais pobres”, criticou o PS no documento.

Centenas de simpatizantes do governo de centro-direita se reuniram em frente ao Parlamento, cantaram o Hino Nacional e frases de apoio a Passos Coelho, enquanto outro grupo manifestava apoio à coalizão de esquerda, comemorando as chances de corte de impostos e proteção dos benefícios sociais.

A perspectiva de um governo apoiado pelos comunistas e pelo Bloco de Esquerda preocupou investidores, provocando temores de que uma recuperação econômica frágil possa descarrilar, num país que acabou de sair de um programa de resgate internacional no ano passado. O governo de Passos Coelho alertou que recuar com a austeridade poderia colocar Portugal numa rota similar à da Grécia.

— Não precisamos imaginar as consequências. Basta olhar para a experiência recente da Grécia e o custo das suas tentativas de terminar com a austeridade. Mais recessão, mais pobreza, mais desemprego e maior dependência de empréstimos europeus e do FMI — advertiu ao Parlamento a ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, acrescentando que a confiança dos investidores já estava diminuindo.

Diante da pressão e do receio do mercado — a Bolsa de Lisboa caiu 4% anteontem e 0,3% ontem — os socialistas insistem que irão respeitar as regras orçamentárias da União Europeia (UE) e que voltar a conceder maiores rendimentos às famílias deverá impulsionar a economia.

‘Presidente deve ceder à esquerda’
Após a queda do governo, o presidente Cavaco Silva iniciará um período de consultas com líderes políticos e outras personalidades do país para decidir quem será indicado ao governo. Analistas traçam três cenários possíveis: ou o presidente acaba cedendo e convida o líder do PS para formar um governo de esquerda ou mantém a coalizão de centro-direita no poder — limitada a um governo de gestão — até que novas eleições sejam convocadas.

— Cavaco Silva não tem prazo para tomar sua decisão, mas acredito que ele deve se pronunciar nos próximos 15 dias. A maioria dos analistas prevê que o presidente vai aceitar o governo de esquerda se o Partido Socialista apresentar estabilidade governista e um acordo sólido. Os partidos de centro-direita, por sua vez, poderiam fazer campanha para pedir eleições antecipadas — afirmou o analista António Costa Pinto, da Universidade de Lisboa, em entrevista ao GLOBO.

Caminhando para o fim de seu mandato, porém, Cavaco Silva não tem mais o poder de convocar novas eleições. A antecipação do pleito ficaria, então, a cargo de seu sucessor, com novas votações sendo previstas somente a partir de junho do próximo ano. O principal desafio do governo socialista, na avaliação de Costa Pinto, será conseguir cumprir o programa de recuperação salarial e, ao mesmo tempo, manter os compromissos orçamentários com a UE.

— O acordo com os partidos à esquerda é muito moderado, não tem críticas ao euro, mas é difícil cumprir. Prometem o fim da austeridade, mas também o cumprimento dos pactos com a UE: de manter o crescimento, a estabilidade e o deficit abaixo dos 3%. Uma das propostas é aumento do salário-mínimo em quatro anos e o fim dos cortes nas pensões para os aposentados — explicou.

O analista político Tiago Fernandes, da Universidade Nova de Lisboa, alertou para uma crise institucional caso o presidente não aprove o governo de esquerda.

— Se Cavaco Silva não aceitar, poderia criar um confronto que seria ruim para a democracia, além de polarizar a sociedade — advertiu.

A coalizão de Passos Coelho venceu com uma vantagem discreta de 38% as eleições de 4 de outubro — consideradas um referendo sobre a política de austeridade. Mantendo a convenção política, ele foi reconduzido ao posto na semana passada pelo presidente. Juntos, os partidos de esquerda obtiveram 50% do apoio do eleitorado.

Merval Pereira: Luta política

- O Globo

Desde que ficou claro que o tempo da bonança havia passado, e que a popularidade de Dilma se mantém em um dígito das pesquisas de opinião, os governistas de modo geral e os petistas em particular deixaram a arrogância de lado, mas não vestiram as sandálias da humildade.

Eles, que gozavam abertamente os 10% que consideravam o governo ruim ou péssimo quando a esmagadora maioria da população o considerava bom ou ótimo, passaram a exigir dos adversários uma posição que jamais tiveram.

Dilma, que na noite em que foi reeleita sequer mencionou o nome do adversário do 2º turno a quem derrotara por só 3% dos votos, após ter sido procurada por um Aécio que àquela altura reconhecia a derrota e demonstrava disposição para o diálogo, passou a exigir comportamento conciliatório da oposição, afirmando em diversas ocasiões que o país não estava dividido.

Mas jamais estendeu a mão para um verdadeiro diálogo, mesmo estando em clara desvantagem na avaliação popular logo depois que as urnas se fecharam, e que os eleitores descobriram que haviam sido iludidos pelo mundo encantado que o marqueteiro João Santana vendeu sem poder entregar.

A insatisfação com o governo só fez aumentar, e logo seus ministros e principais assessores viramse constrangidos em locais públicos pelas manifestações de repúdio ao governo e à corrupção.

Não deveria ser assim, mas o clima de disputa permanente foi instalado no país pelo próprio PT, que, cego pela hubris, acabou sendo punido pelos deuses da política que não gostam dos arrogantes. Foi Lula quem instituiu o “nós contra eles”, e foi a palavra de ordem do PT até mesmo fora do poder que determinou que os adversários tinham que apanhar “nas urnas e nas ruas”, como anunciou um dia José Dirceu, no tempo em que não estava na cadeia e ainda ditava as ordens no PT.

Em que mundo vivem os 10% que criticam o governo Dilma, perguntavam os áulicos do governo petista, insinuando que era impossível não gostar do PT, ou que apenas os com outros interesses, nada confessáveis, estavam na oposição.

Tornou-se uma ação política comum fazer um “esculacho” contra os adversários do PT, legitimada pelas demonstrações em frente às residências de antigos torturadores.

Quando o clima mudou, logo o PT vestiuse de vítima de uma direita agressiva, e passou a denunciar perseguição ao partido e a Lula e sua família, como se Justiça, PF e MP tivessem feito acordo para persegui-los.

O mais recente petista de alto escalão a sofrer “esculacho” foi o ministro do Desenvolvimento, Patrus Ananias, que outro dia foi agredido verbalmente por frequentadores de um restaurante em BH onde almoçava com família e amigos.

Ele mesmo trouxe o caso a público, dizendo que reagiu às acusações de corrupção e ameaçou processar o acusador, como fez o ex-ministro Guido Mantega, que ganhou uma retratação de dois empresários que o acusaram de corrupto em ocasiões distintas em SP.

Não deveria ocorrer, repito, numa democracia em que todos os direitos fossem respeitados. Mas repito que o clima de duelo foi instituído pelo próprio PT. Patrus, homem afável, deu declarações importantes: “Este não será o país do ódio, onde quem grita mais alto tem razão. Este vai continuar sendo o país da democracia, de quem sabe ouvir, compreender e debater”.

Deveria ser assim, mas depende, sobretudo, do PT, que há muito instituiu a “luta política” como comportamento cotidiano. Não me esqueço da conversa que tive com o então presidente da Câmara, João Paulo Cunha, hoje cumprindo pena em prisão domiciliar, quando o PT levou ao Congresso, no primeiro momento do governo Lula, uma reforma da Previdência que em tudo era compatível com a que o governo FH tentara aprovar, com a oposição sistemática do PT.

“Qual a razão dessa mudança?”, perguntei. E ele, candidamente: “Luta política”. Hoje, o PSDB faz a mesma coisa ao aprovar o fim do fator previdenciário, e assim, de “luta política” em “luta política”, o país vai à breca e as pessoas se digladiam nas ruas.

Esse ambiente estressado é um dos maiores obstáculos à superação da crise em que nos debatemos. Mas a cada dia fica mais distante, pelos fatos que vão sendo revelados, a possibilidade de uma conciliação.

Dora Kramer: Operação Paraguai

- O Estado de S. Paulo

A mirabolante e inverossímil versão do presidente da Câmara para insistir que não mentiu quando negou a propriedade de contas no exterior, a despeito das provas apresentadas pelo Ministério Público da Suíça, pode perfeitamente servir como pretexto para que seus muitos aliados defendam sua permanência no cargo e a preservação de seu mandato.

Na vida real – a que vem sendo tocada pela força-tarefa da Procuradoria-Geral da República encarregada das investigações da Lava Jato – a entrevista dada na última sexta-feira por Eduardo Cunha só fez piorar a situação. No intuito de reduzir os danos, além de confessar sonegação o deputado acabou dando margem a que os procuradores decidissem tirar a limpo os detalhes dos negócios com os quais Cunha alegou ganhar o dinheiro administrado, segundo ele, por operadores estrangeiros na base da “confiança”.

Uma história cheia de incongruências, contada com amplo uso de eufemismos e escapismos. Em princípio não parece ter sido boa (do ponto de vista dele) a ideia do presidente da Câmara de antecipar em entrevista sua linha de defesa. Talvez tenha pecado por excesso de segurança em sua capacidade de impor uma narrativa, cuja fragilidade ficou exposta na maneira oblíqua como ele respondeu às perguntas.

Enrolou-se nas palavras e não esclareceu por que não apresentou antes essa explicação por ele tida como veraz. A solução encontrada pelo deputado faz lembrar, na forma e conteúdo, o conto da carochinha relatado à CPI que apurava corrupção no governo de Fernando Collor. Era julho de 1992, um mês depois de instalada a comissão de inquérito, quando Collor resolveu se lembrar de um empréstimo obtido junto a uma operadora de factoring no Uruguai, no valor de US$ 3,75 milhões, mediante a garantia de barras de ouro convertidas com dinheiro alegadamente de sobras da campanha eleitoral.

Com isso, queria justificar gastos pessoais exorbitantes custeados pelo tesoureiro da campanha e arrecadador de propinas entre empresários, Paulo César Farias. Num primeiro momento, houve quem acreditasse que a versão por mais inverossímil que soasse, poderia sustentar a farsa e fornecer um pretexto para evitar o impeachment. A história ruiu quando a secretária do escritório de um empresário onde haviam sido forjados os documentos denunciou a armação à CPI. Denúncia confirmada por perícia da Polícia Federal nos papéis.

E assim desmontou-se a “Operação Uruguai” que entrou para a crônica política do Brasil como símbolo de histórias mal contadas com as quais se tenta explicar o inexplicável.

Volta do cipó. Não merecem aplauso manifestações grosseiras de hostilidade a pessoas que fazem ou fizeram parte dos governos petistas. Há dois meses presenciei uma delas em restaurante de Brasília, contra o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. Deu vergonha alheia do agressor que, aos gritos, pedia que o ministro se retirasse. Cardozo ficou na dele, não deu publicidade à história nem posou de vítima do “ódio das elites”.

Reagiu como se compreendesse a raiz do problema. Outros petistas agredidos estão no direito de reclamar. Não deveriam, porém, esquecer de que o ovo dessa serpente foi chocado na incubadora do PT, com o discurso permanentemente litigante de Lula, o presidente que dividiu os brasileiros entre amigos (nós) e inimigos (“eles”) do governo.

Na época eram maioria no País os que viviam com o PT uma relação de intensa, exagerada e inadequada paixão. Do alto desse altar, o partido abusou. Semeou o vento e agora colhe a tempestade. Simples e claro assim.

Rosângela Bittar: A oitava maravilha

• Ninguém confia mais em ministro da Fazenda do PT

- Valor Econômico

Por que Henrique Meirelles e não Joaquim Levy? Qual a diferença entre os dois nomes do agrado do mercado nacional e internacional e do desagrado do PT? É simples a argumentação do ex-presidente Lula e seus acólitos no processo de convencimento da presidente Dilma Rousseff, dona da caneta que na virada do ano deverá promover a troca de ministro da Fazenda: Levy é o comandante da economia que faz o "ajuste pelo ajuste", e Meirelles poderá fazer o ajuste mas flexibilizará a política econômica com medidas que podem levar a economia a reagir e o país a entrar em uma espiral de crescimento. Com uma providência-mestra: a liberação do crédito para as empresas, os Estados, e as pessoas.

E por que não Nelson Barbosa, o ministro do Planejamento petista, ex-ministro interino da Fazenda no governo petista, economista chefe do Instituto Lula, se é que se pode titular assim o papel que ali exerceu e exerce, e sempre manteve a expectativa de ser lider na execução da política econômica? A resposta também já circula entre os promotores das mudanças: "Ninguém crê no PT comandando a economia e não há tempo para reverter isso", é a verdade admitida.

A pá de cal em Joaquim Levy foi jogada por Pezão, governador do Rio, dia desses, numa roda de autoridades do governo que avaliavam a proposta de mudança feita por Lula e onde se reclamava que o ministro da Fazenda não libera recursos aos Estados. "Levy quer arrochar até matar o paciente, essa é a chave do seu trabalho e da sua personalidade como economista".

O Congresso, nas avaliações do próprio governo, não é tão responsável pela paralisia do país e já aprovou iniciativas e legislação que foram, no âmbito do ajuste fiscal, propostas pelo ministro Joaquim Levy mas não tiveram o efeito esperado. A isso definem como "Levy não deu certo, não conseguiu". Foram entregues: três medidas provisórias, projeto de lei da desoneração, corte de benefícios, aumento da CSLL, manutenção dos vetos a medidas que aumentam despesas, cortes orçamentários.

Nas negociações de cada uma, Levy dizia aos líderes da política que eram medidas duras para liquidar a questão no primeiro semestre de 2015. Mas não resolveram, ele continuou apertando, a crise não saiu do lugar. O governo tem substituto para a CPMF, contam autoridades com acesso às negociações, mas agora Levy decidiu que sem CPMF não há salvação. Entre outros motivos, Levy foi chamado ao governo como recurso para evitar o rebaixamento do Brasil, e vieram as notas reduzidas sem consideração à sua presença. Levy não é transparente, não se sabe onde quer chegar, alegam muitos, com as mesmas palavras.

O argumento inclui ainda a constatação de que Levy não muda o disco porque não sabe. Há dinheiro, asseguram os que conhecem as contas. Podemos conseguir até mais do que o necessário, mas o governo recusa a opção por medidas que aumentam outras contribuições, como a Cide, que somada às criações novas resultariam em mais do que um imposto do cheque. De cabeça, os negociadores da mudança recitam também o trilhão e meio de reais das reservas (US$ 360 bilhões) para atestar que poderiam ser usadas na crise e que Lula recebeu de Fernando Henrique o governo com US$ 37 bilhões, dez vezes menos, sem problemas.

É a essa ideia fixa a restrição que denominam "ajuste pelo ajuste", a resistência a tomar medidas concomitantes para promover saídas, principalmente para as empresas. A rigor, dos pacotes de contenção, só faltam as votações finais da DRU, a MP 688 do setor elétrico e o projeto de repatriação, todos bem encaminhados.

Outra prova arrolada pelos defensores da mudança com base no depoimento dos governadores: Levy não quer liberar nada, os Estados podem se endividar até 2,5% da receita corrente líquida, ele não libera recursos para os governadores. "O Brasil também pode se endividar, qual o problema de se endividar?" Dizem que há recursos do Banco Mundial para obras "estruturantes" cujo empréstimo não é autorizado.

"Não queremos desonerar, queremos livre financiamento para as empresas para aumentar o giro da economia e em consequência aumentar a arrecadação".

Os que discutem as mudanças apontam à presidente Dilma a forma como os países desenvolvidos e mesmo os não desenvolvidos têm saído da crise para concluir que a restrição fiscal em demasia arrebenta com o Brasil. O diagnóstico resume o impacto da crise como sendo forte na indústria, com o desemprego, e no setor público, com os obstáculos para retomada das obras. Dois problemas que Henrique Meirelles, tratado nas negociações como uma espécie de oitava maravilha, saberia resolver ao mesmo tempo em que tocaria o ajuste. Meirelles, definem, é respeitado no Brasil e no mundo, é transparente, tem autoridade política.

O ex-presidente Lula está empenhado em solucionar esse problema por uma única razão, explicam seus interlocutores: O PT está desgastado demais e a única saída para se recuperar é manter viva a expectativa da volta de Lula ao poder em 2018, mesmo que não volte de fato. Para isso, Lula executa um plano político que seus auxiliares na tarefa mostram estar andando: primeiro, unificou o PT; depois voltou-se para os movimentos sociais, para a "Igreja progressista" (termo que inclusive voltou a ser usado), para os sem-terra e sem-teto, a CUT, com a defesa da manutenção dos seus direitos; recompôs o que definem como "a base social do PT". Em seguida teve a dificílima operação da troca de Aloizio Mercadante por Jaques Wagner na chefia da Casa Civil. Tentou o ex-presidente trocar o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, mas como era por questões pessoais e não de Estado, a presidente Dilma não lhe cedeu o espaço. Por último, acha que está passando da hora de tirar Levy e entregar o processo de recuperação a quem pode dar conta dele, Meirelles. A mudança estava pronta há um mês, mas foi abortada por inconfidência de um membro da direção do PT.

Com todas as dificuldades políticas que tem enfrentado, com sua família e ele próprio na boca da Lava-Jato, o ex-presidente, decretado nas pesquisas como derrotado se as eleições fossem hoje, conseguiu índices que os petistas exibem: 38% do Nordeste na espontânea sobre em quem votaria o eleitor consultado. Dilma, na mesma pergunta, foi apoiada só por 12%. Um fenômeno. Lula preocupa-se com a sobrevivência do governo para ter força em 2018, por isso entrou no jogo, por isso a tem convencido que "o rei Levy está nu", conclui, em tom grandiloquente, um dos políticos petistas metido nas providências.

Bernardo Mello Franco: Uma pergunta simples

- Folha de S. Paulo

Complica-se a cada dia a situação do deputado Pedro Paulo Carvalho Teixeira, pré-candidato do PMDB à Prefeitura do Rio em 2016. Há quase um mês, ele tenta se justificar por ter espancado a ex-mulher. O caso foi abafado por cinco anos, até ser revelado pela revista "Veja".

O inquérito já está nas mãos da Procuradoria-Geral da República. Nesta quinta, entidades de defesa das mulheres prometem lotar a Cinelândia para cobrar que o deputado seja punido pela lei Maria da Penha. O ato deve atrair os principais movimentos do setor, à exceção de um: o PMDB Mulher, subordinado ao diretório estadual do partido.

"Eu não vou atirar pedra no Pedro", diz a presidente do grupo, Kátia Lôbo. "Ele é nosso candidato a prefeito. Nós não vamos para a rua para bater nele", acrescenta, com pouco cuidado na escolha das palavras.

Na última sexta, a dirigente reuniu 41 colegas para discutir o caso. Houve protestos, mas todas as militantes saíram com a orientação de defender o aliado. "Para mim, é uma situação bem delicada", diz Kátia. "Mas a gente conversou muito e decidiu que não vai sair falando mal dele."

A presidente do PMDB Mulher jura que não sabia do caso, denunciado à polícia em 2010. Segundo laudo do IML, o deputado deixou a companheira com diversos hematomas e um dente quebrado. "Fiquei perplexa. O Pedro é uma pessoa muito doce, muito educada", diz. Apesar da perplexidade, ela promete se manter fiel ao aliado. "Ele não é um agressor contumaz. O que houve foi um desentendimento", defende.

Kátia não está sozinha. Há três dias, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) declarou que vai "até o fim" com Pedro Paulo, a quem entregou a gestão das obras olímpicas. É uma aposta arriscada. O Rio tem 4,8 milhões de eleitores, dos quais 2,6 milhões (54%) são do sexo feminino. Se Paes não recuar, a disputa pela sua cadeira pode ser definida com uma pergunta simples: "Você votaria num candidato que bate em mulher?"