domingo, 4 de outubro de 2015

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

Talvez um anjo perverso aconselhe à presidente: entregue logo sua alma ao diabo, entre mais fundo no "toma lá dá cá" e salve seu mandato. Pode até conseguir, mas valerá a pena? E acaso isso modifica a dança do País à beira do abismo?
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Fernando Henrique Cardoso é sociólogo e ex-presidente da República. ‘Os reis também morrem’. - O Globo, 4 de outubro de 2015

PMDB comandará orçamento maior do que os petistas na nova Esplanada

• Ministérios que a partir de agora estarão nas mãos dos peemedebistas têm alto poder político e econômico

Alberto Bombig, Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

A reforma ministerial deu fôlego à presidente Dilma Rousseff, mas ela virou refém do PMDB e seus auxiliares temem que o partido cobre faturas cada vez mais altas para emprestar apoio ao Palácio do Planalto, se a crise não arrefecer. O PT nunca esteve tão enfraquecido na correlação de forças com os partidos da coalizão governista desde que chegou ao Planalto, mostra levantamento feito pelo Estado. No novo arranjo da Esplanada, o PMDB tem previsão de administrar ao menos R$ 99 bilhões do Orçamento para 2016, ante R$ 75, 5 bilhões programados para as pastas petistas.

O levantamento também deixa claro que, ao longo dos mandatos, a era petista vem sendo corroída pelo arranjo de forças para dar sustentação ao projeto do partido, alvo de denúncias de corrupção e sob constante ataque dos adversários. Se em 2003, início da primeira gestão Lula, o partido tinha 19 dos 35 ministérios (54% do total de pastas), agora os petistas estarão à frente apenas de 9 das 31 pastas (29% do total).

Principal parceiro do PT, o PMDB entrou no governo com apenas dois ministérios, em 2004: Comunicações e Previdência. Em 2007, no início da segunda gestão Lula, o partido sobe de status e leva a Saúde, a Integração Nacional e a Agricultura. Agora, com Dilma sob ameaça de impeachment e em momento de crise econômica, comandará sete pastas, todas de alto peso político e grande poder orçamentário: Saúde, Minas e Energia, Agricultura, Ciência e Tecnologia, Turismo, Secretaria da Aviação Civil e Secretaria de Portos, que, juntas, têm quase R$ 100 bilhões previstos para o Orçamento de 2016.

Os números ajudam a ilustrar a preocupação de auxiliares da presidente em relação aos aliados. Avaliam que o PMDB pode até ser confiável para que o Planalto possa derrubar a chamada pauta-bomba no Congresso e aprovar a nova fase do ajuste fiscal, que prevê a volta da CPMF (o imposto do cheque) e de outros tributos. Mas os petistas receiam que, superados esses obstáculos, o aliado não se comprometa a evitar o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Os mais céticos avaliam ainda que o PMDB planeja, na verdade, limpar a pauta-bomba e resolver o déficit no Orçamento justamente para ficar em condições ainda melhores de governar o País sem Dilma e o PT.

Para os petistas, uma sinalização nesse sentido ocorreu na noite da quarta-feira passada, quando o vice-presidente Michel Temer, que preside o PMDB, participou de um jantar oferecido pelo líder do partido no Senado, Eunício Oliveira (CE). Em diversos momentos ao longo da festa, Temer foi tratado como “futuro presidente”.

Naquela altura, a reforma ministerial já estava praticamente definida e a ampliação do espaço do PMDB sacramentada. Ainda, o tema principal do jantar foi a possibilidade de impedimento de Dilma. O anfitrião do jantar não admite em público a possibilidade de a reforma ministerial fracassar e não ser suficiente para manter Dilma no Palácio do Planalto, porém, reservadamente, “não aposta R$ 10 no governo”, afirma um de seus interlocutores.

Aritmética. Ao ampliar as cadeiras do PMDB na Esplanada, e não desalojar outros aliados, a presidente tem agora, em tese, número suficiente de votos para se manter no poder. Para barrar um pedido de impeachment, ela precisa de ao menos 172 dos 513 deputados. Na contabilidade do governo, Dilma já conta com 200.

Um dirigente do PMDB disse ao Estado que, com as mudanças no coração do governo, a presidente colherá frutos na política porque os novos ministros “sabem usar o bambolê”. Era uma referência à peça cor de rosa que Henrique Eduardo Alves, então líder do PMDB na Câmara e hoje ministro do Turismo, deu a Dilma em 2008, quando ela chefiava a Casa Civil. “A gente achava que ela era muito dura, muito técnica, e precisava de jogo de cintura”, comentou Alves.

A maior preocupação do Planalto, hoje, é com o Tribunal de Contas da União. Na sexta-feira, o ministro Augusto Nardes, relator do processo sobre as contas de Dilma, distribuiu seu voto recomendando a rejeição do balanço do ano passado. O julgamento pelo plenário da corte ocorrerá na próxima quarta e o Planalto já prevê a reprovação, que pode abrir caminho para a Câmara instalar processo de impeachment.

Se a base aliada votar unida, porém, Dilma deve se salvar. Além disso, o governo conta com a fragilidade do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) – após a informação de procuradores da Suíça de que ele tem ao menos quatro contas secretas naquele País –, para enfraquecer o movimento da oposição e de dissidentes aliados pela saída de Dilma.

Cunha quer que o PMDB desembarque do governo e vai levar essa proposta ao congresso da legenda, marcado para novembro. Hoje, ele perderia. O partido ainda tem, no entanto, uma convenção em março de 2016, que pode servir como nova ameaça.

Crise obriga empresas a vender R$ 150 bi em ativos

• Estatais e grupos privados se desfazem de negócios pouco lucrativos

Companhias tentam driblar recessão e dólar alto. Empreiteiras sofrem também com Lava-Jato

A crise econômica levou as principais empresas brasileiras a realizarem uma verdadeira liquidação de ativos. Entre negócios recentemente vendidos e outros que ainda buscam comprador, companhias de diferentes setores estão se desfazendo este ano de R$ 150 bilhões. A lista inclui desde participações em aeroportos até fábricas de alimentos e uma mina de carvão. A situação é mais grave nas empreiteiras por causa da Lava-Jato. “Para algumas empresas, era vender ativos ou quebrar”, diz Ricardo Carvalho, diretor da Fitch Ratings. O dólar alto tornou o preço dos ativos em reais mais baixo e pode facilitar a venda, afirmam analistas.

Um saldão de R$ 150 bilhões

• Recessão, alta do dólar e Lava-Jato levam empresas pública e privadas a vender ativos

Bruno Rosa, Danielle Nogueira, Danilo Fariello, Geralda Doca, João Sorima Neto e Ana Paula Machado - O Globo

RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO - Afetadas pela crise econômica, preocupadas em aumentar a geração de caixa ou em se adaptar à nova realidade do mercado — focando em segmentos mais estratégicos e lucrativos —, empresas públicas e privadas estão promovendo um verdadeiro saldão de ativos. Levantamento feito pelo GLOBO em diferentes setores aponta que as companhias estão tentando se desfazer de ao menos R$ 149,6 bilhões. Para se ter uma ideia do tamanho desta operação, a cifra equivale ao Produto Interno Bruto (PIB) da Bahia no ano passado. É comparável ainda ao orçamento de seis usinas Belo Monte. Ou ainda: o montante é pouco superior ao impacto causado pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, na economia brasileira em 2015, segundo cálculos da GO Associados (R$ 140 bilhões).

Na lista de empresas, estão Petrobras, Vale, Eletrobras e Infraero. As construtoras, afetadas pela Operação Lava-Jato, também entraram em temporada de liquidação, que inclui a venda de participações em diversas concessões. Analistas destacam que, apesar da instabilidade econômica, a forte alta do dólar — muito próximo dos R$ 4 — contribui para atrair investidores estrangeiros.

— O Brasil está barato. Houve desvalorização de 60% a 70% no valor dos ativos nos últimos 12 meses por causa da alta do dólar. E a liquidez internacional é gigantesca — diz Fabio Silveira, diretor de pesquisa da GO Associados.

Ele avalia que a crise econômica pode durar até três anos e que a turbulência política, apesar de criar instabilidade institucional, é menor que os problemas políticos e sociais de outros emergentes, como os países do Leste Europeu e do Oriente Médio.

Governo pode levantar R$ 10 bi com aeroportos
Mas há desafios. Especialistas citam o caso da Petrobras, que vem sentindo os efeitos da crise econômica e da Operação Lava-Jato. Em meio ao maior escândalo de sua história, a estatal foi obrigada a cortar investimentos e vender ativos para reduzir seu nível de endividamento, que deve ter chegado a R$ 500 bilhões no fim de setembro, agravado pela alta do dólar e pela queda do preço do petróleo. Sua meta é se desfazer de US$ 15,1 bilhões (R$ 59,6 bilhões) até o fim do ano que vem.

— A companhia precisa vender ativos, mas ainda não conseguiu bom resultado. Até a abertura de capital da BR Distribuidora foi adiada — diz Eduardo Roche, sócio-gestor da Canepa Asset Brasil.

Com o fim do superciclo das commodities, principalmente devido à desaceleração da China, a Vale apertou o passo de seu programa de venda de ativos. Para este ano, a expectativa da mineradora é levantar de US$ 6 bilhões a US$ 7 bilhões (até R$ 27,6 bilhões) com desinvestimentos e parcerias. No rol dos ativos que foram para a prateleira estão participações no corredor logístico de Nacala e uma mina de carvão, ambos em Moçambique.

A Vale frisa que a reorganização de portfólio foi iniciada em 2011, quando passou a focar em “ativos de classe mundial, com baixo custo, vida longa e potencial de expansão”. O objetivo é fazer caixa para tocar projetos essenciais, como o S11D (expansão do Complexo de Carajás, no Pará), o maior da história da companhia, orçado em US$ 16 bilhões.

A CSN é outra que está à caça de compradores. São dois os ativos oficialmente à venda: o terminal de contêineres de Sepetiba (Rio de Janeiro), avaliado em cerca de R$ 1 bilhão, segundo fontes de mercado, e a fatia da empresa na Usiminas. Mas não está descartada a venda de ações que a siderúrgica detém na MRS e as subsidiárias de embalagem.

Em recente relatório, a agência de classificação de risco Fitch avaliou que a empresa precisa vender R$ 4 bilhões nos próximos dois anos para reduzir seu endividamento. A dívida líquida da companhia no fim do segundo trimestre estava em R$ 20,7 bilhões. A CSN não comenta.

A empresa estava correndo contra o tempo para negociar com potenciais compradores, mas conseguiu fôlego mês passado, ao alongar cerca de R$ 5 bilhões de sua dívida de curto prazo. O cenário não ajuda. Além da sobreoferta mundial de aço, a demanda por produtos siderúrgicos vem caindo no Brasil, com a desaceleração econômica.

Marco Aurélio Barbosa, estrategista da CM Capital Markets, que acompanha 180 companhias de capital aberto no país, lembra que a venda de ativos é uma saída extrema para evitar a quebra:

— Antes, ela pode reduzir investimentos, enxugar custos, demitindo pessoas ou revendo contratos, por exemplo. Mas, quando há um descasamento enorme entre a geração de caixa e os custos para se manter, a saída é vender. O problema é que o comprador acaba oferecendo valor muito depreciado e, com a economia em retração, isso se potencializa.

No setor aéreo, o governo planeja vender os 49% de participação da Infraero nos aeroportos já concedidos à iniciativa privada — Brasília, São Paulo (Guarulhos e Viracopos), Galeão (no Rio) e Confins (Belo Horizonte). Segundo estimativas da equipe econômica, a meta é faturar ao menos R$ 10 bilhões. Na nova rodada de concessão, prevista para 2016, os aeroportos de Fortaleza, Salvador, Florianópolis e Porto Alegre deverão ser integralmente entregues ao setor privado.

— Haverá demanda dos estrangeiros. Os ativos estão baratos e a instabilidade econômica e política também pesa, o que pode deixá-los mais em conta — diz o advogado Roberto Nasser.

Nas montadoras, saída é cortar vagas
Entre as empreiteiras, a Lava-Jato colocou sob os holofotes pesos-pesados como OAS, Odebrecht, Galvão Engenharia e UTC. Endividadas, com contratos cancelados e sem crédito, ao menos cinco empresas, com dívidas que somam R$ 15 bilhões, pediram recuperação judicial. E vão vender ativos para tentar quitar dívidas. Caso da OAS, que colocou à venda sua fatia de 22,44% na Invepar, empresa que tem participação no aeroporto de Guarulhos, Metrô Rio, entre outros. A empreiteira espera arrecadar R$ 2,2 bilhões com a venda. Já a UTC está vendendo os 23% que detém no aeroporto de Viracopos. O valor estimado é de R$ 450 milhões. Procuradas, as empresas não comentam.

— Para algumas empresas era vender ativos ou quebrar — afirma Ricardo Carvalho, diretor da Fitch Ratings.

Há exemplos até no setor de carnes processadas. Em junho, a Marfrig vendeu para a JBS por US$ 1,5 bilhão (R$ 4,5 bilhões ao câmbio da época, R$ 3,10) a marca de alimentos Moy Park, com base na Irlanda do Norte. A empresa ganhou fôlego para reduzir o endividamento, de R$ 10 bilhões, sendo 92% em moeda estrangeira, segundo o analista Felipe Martins, da Coinvalores. A BRF se desfez de ativos não prioritários — concluiu a venda da unidade de lácteos em julho para a francesa Lactalis — para se concentrar em bovinos e suínos e produtos processados. A unidade de lácteos representava 10% da receita líquida, justifica a empresa.

Na indústria automobilística, a opção foi recorrer a suspensões temporárias do contrato de trabalho ( lay off), férias coletivas, licenças remuneradas, adoção do Programa de Proteção ao Emprego (PPE) e demissões. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), até agosto foram fechadas quase 10 mil vagas. No centro das turbulências que atravessam o setor elétrico e com negócios sob investigação na Operação Lava-Jato, a Eletrobras vai encolher e concentrar suas atividades em setores onde o governo considera a presença estatal estratégica: as grandes hidrelétricas e linhas de transmissão. Na quarta-feira, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, recebeu da consultoria Roland Berger levantamento dos ativos que poderiam ser colocados à venda. Participações da Eletrobras e suas subsidiárias estão no radar.

— Estamos trabalhando em um projeto de reestruturação e em uma nova estratégia da holding, bem como a de cada uma das coligadas e das distribuidoras. Temos 154 Sociedades de Propósito Específico embaixo da Eletrobras. A nossa meta é fazer um grande enxugamento nisso, mas temos de avaliar cada uma delas. Isso está sendo feito — disse o ministro ao GLOBO.

Celg: valor estimado de R$ 8 bi
Além dessas participações, a Eletrobras planeja se desfazer das distribuidoras de energia nos estados, ou pelo menos de parte desses ativos. A primeira a ser vendida é a Celg, de Goiás, onde a estatal tem 51% de participação. A companhia tem valor de mercado estimado em R$ 8 bilhões. Outras seis distribuidoras poderão ser vendidas, ou pelo menos parte dos ativos: Cepisa, do Piauí; Ceal, de Alagoas; Eletrobras Amazonas; Ceron, de Rondônia; Eletroacre, do Acre; e Bovesa, de Roraima. Também estão na lista a CEA, do Amapá; e a CERR, de Roraima, onde a Eletrobras tem apenas participação.

— O Brasil está à venda. O grande problema dessas distribuidoras é má gestão da Eletrobras, que sofre com indicações políticas. Mas são empresas interessantes com um grande mercado e que vão dar retorno a seus investidores. A Equatorial, por exemplo, comprou a distribuidora do Maranhão e a do Pará, e as empresas já são lucrativas. O mesmo vai ocorrer com a Energisa, que comprou o Grupo Rede, que estava sob intervenção, e agora já se fala até em dividendos — diz Nivalde de Castro, coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), do Instituto de Economia da UFRJ.

A estratégia do governo é começar a se desfazer dos ativos da Eletrobras menores, como usinas eólicas, pequenas hidrelétricas e linhas de transmissão curtas. Isso porque são considerados ativos mais líquidos e com demanda garantida, conforme revelaram leilões recentes, segundo uma fonte do governo.

Na quarta-feira, o ministro Eduardo Braga recebeu o presidente do conselho da Eletrobras e atual diretor de Infraestrutura do BNDES, Wagner Bittencourt, para tratar da venda da Celg e debater o relatório da Roland Berger. Segundo Braga, o governo ainda espera procedimentos do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para vender a distribuidora goiana.

Apetite chinês
Mais do que arrecadar recursos para a União, a venda de ativos do setor elétrico visa a reduzir o endividamento da Eletrobras e fortalecê-la financeiramente nas áreas em que o governo considera fundamental a presença forte da estatal. Essa seria uma alternativa para resolver os problemas de caixa dentro da própria empresa, uma vez que o acesso a financiamentos ficou mais restrito, disse uma fonte.

Segundo especialistas, as distribuidoras vão atrair interesse dos investidores estrangeiros, sobretudo, os chineses.

— Os grandes concorrentes serão os chineses até por causa do dólar — lembra Nivalde, explicando que os grupos nacionais estão sem caixa para investir nesses projetos.

Procurada para comentar suas projeções de investimentos e vendas de ativos, a Eletrobras limitou-se a enviar fato relevante sobre o Plano de Negócios 2015 a 2019, aprovado em 31 de julho, e informou que “qualquer comentário adicional será feito em comunicado ao mercado quando necessário”.

Governo se arma para conter ação de Cunha pelo impeachment

• Dilma pede a ministros que se preparem para reagir ao presidente da Câmara

Governo teme ação de Cunha para viabilizar impeachment

• Dilma pede a ministros que se preparem para reagir ao presidente da Câmara

• Planalto avalia que deputado pode tentar deflagrar processo, mesmo depois de ser alvejado pela Lava Jato

Natuza Nery, Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Horas depois de concluir a reforma de seu ministério, que abriu espaço para o PMDB no governo na esperança de barrar os pedidos de impeachment contra ela, a presidente Dilma Rousseff mandou os auxiliares se prepararem para reagir se o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se movimentar para deflagrar o processo.

Com a reforma ministerial anunciada sexta (2), Dilma entregou ao PMDB o controle de sete ministérios, incluindo as pastas da Saúde e da Ciência e Tecnologia, que serão dirigidas por deputados do baixo clero, alinhados a Cunha.

Mesmo assim, o governo teme que o presidente da Câmara dê nas próximas semanas os passos necessários para pôr em marcha o impeachment, na tentativa de camuflar o desgaste que ele tem sofrido desde que se tornou alvo da Operação Lava Jato.

A Procuradoria-Geral da República denunciou Cunha ao Supremo Tribunal Federal por suspeita de corrupção, acusando-o de receber US$ 5 milhões em propina de fornecedores da Petrobras. O Supremo ainda não decidiu se aceitará a denúncia e abrirá processo contra o deputado.

Na semana passada, o Ministério Público da Suíça informou que encontrou quatro contas bancárias controladas por Cunha e seus familiares, ampliando as suspeitas sobre ele. O deputado nega possuir contas no exterior.

Na avaliação do Palácio do Planalto, as acusações contra Cunha tiram força do movimento pró-impeachment, mas os auxiliares de Dilma apostam que o deputado insistirá em deflagrar o processo, com o objetivo de criar uma cortina de fumaça que o ajude a se defender das denúncias.

Cabe ao presidente da Câmara decidir se um pedido de impeachment deve ou não ser analisado pelos deputados. Cunha recebeu 19 petições desde fevereiro e já engavetou 11 até a semana passada.

O principal pedido, formulado pelo jurista Hélio Bicudo, que rompeu com o PT há alguns anos, e pelo ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior, que trabalhou no governo Fernando Henrique Cardoso, continua em sua mesa.

É possível que Cunha também rejeite esse pedido, numa manobra combinada com a oposição, que em seguida recorreria ao plenário para que a maioria dos deputados desse a palavra final sobre o assunto. Seria possível assim abrir o processo de impeachment e afastar Dilma da Presidência sem vincular Cunha diretamente à iniciativa.

Na próxima semana, o TCU (Tribunal de Contas da União) deve rejeitar as contas do governo referentes a 2014, o que pode realimentar a crise, reforçando o discurso dos que defendem o impeachment.

Apesar dos riscos, a presidente chegou ao fim da semana aliviada com o desfecho da reforma ministerial. Em almoço com governadores aliados após o anúncio da nova equipe, ela estava "feliz da vida", segundo um assessor.

Dilma disse acreditar que as mudanças no primeiro escalão e a reaproximação com o PMDB ajudam a atenuar a crise e reduzem os riscos de abertura de um processo de impeachment na Câmara.

A presidente reconheceu, porém, que será necessário trabalhar daqui para a frente para tentar reaver a estabilidade política de maneira mais consistente. A reforma ministerial foi apenas o primeiro passo neste sentido.

Dilma pretende participar mais ativamente do trabalho de articulação política, como fez no processo de montagem de nova equipe. A petista assumiu as negociações e conduziu diretamente a maior parte das conversas para escolha dos novos ministros.

A presidente quer manter o grupo do vice-presidente Michel Temer (PMDB) na coordenação política. Sua intenção é que o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, aliado do vice, trabalhe com o novo chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, e o ministro Ricardo Berzoini, da nova Secretaria de Governo, na definição de estratégias para votações no Congresso Nacional.

A presidente acredita ainda que conseguiu reduzir uma de suas fragilidades no Congresso ao abrir canal direto com o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), o que pode ajudar o Planalto a se contrapor a Cunha.

Recomeço
Auxiliares de Dilma dizem que, com o fôlego obtido na reforma ministerial, a presidente teria reunido condições para superar aos poucos a instabilidade política e enfrentar a crise econômica.

Neste recomeço, Dilma fez concessões também ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu antecessor e padrinho político, algo que tentava evitar desde o início do segundo mandato. A partir de agora, Dilma terá três lulistas ao seu lado dentro do Palácio do Planalto: Wagner, Berzoini e o chefe da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva.

Ao entregar sete ministérios ao PMDB, a presidente procurou contemplar os principais líderes do partido, distribuindo as pastas a aliados do vice Michel Temer, de Cunha e do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL).

A sétima ministra peemedebista é a senadora Kátia Abreu, na Agricultura. Recém-chegada ao PMDB, ela é amiga de Dilma e não é considerada pelos peemedebistas uma indicação partidária.

Estratégia é empurrar impeachment até 2016

• Líderes governistas avaliam que calendário apertado deixaria possível abertura do processo de impedimento da presidente para o próximo ano

Erich Decat - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Uma possível abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff no Congresso, baseado nas pedaladas fiscais do governo, deve ficar apenas para 2016, avaliam líderes da base governista com base no calendário apertado deste final de ano.

Os ministros do Tribunal de Constas da União (TCU) devem se reunir na próxima quarta-feira para emitir um parecer a respeito das maquiagens feitas pelo governo no Orçamento da União do ano passado. A decisão dos ministros será posteriormente analisada pelos congressistas e, a depender do resultado, dar origem a um processo de impedimento.

O primeiro passo após a decisão do TCU é o recebimento do parecer por parte da Comissão Mista do Orçamento (CMO), que o transformará em um Projeto de Decreto Legislativo. Segundo o regimento do colegiado, o prazo para votação do texto é de até 85 dias. Mesmo se o entendimento dos ministros seja o encaminhado à CMO no dia seguinte à sessão do TCU, a princípio não haveria tempo para a comissão concluir a análise das contas de Dilma antes de dezembro, quando se encerra a tramitação.

Outro ingrediente a favor do Palácio do Planalto é o fato de os congressistas entrarem em recesso no dia 23 de dezembro e só voltarem às atividades em 1.º de fevereiro de 2016. “Neste caso ainda terei que nomear o relator e para tudo temos que seguir os prazos”, afirmou ao Estado a presidente da CMO, senadora Rose de Freitas (PMDB-ES). “Há ainda na frente outras prestações de contas para serem votadas. Além disso, há o recesso e eu não posso fazer uma votação sem que o Congresso esteja funcionando.”

A quantidade de proposta na pauta da CMO é mais um potencial empecilho para se avançar nas discussões em torno da prestação de contas. Entre os projetos pendentes de votação está a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2016; o Plano Plurianual (PPA); o Orçamento da União do próximo ano e prestações de contas referentes aos anos de 2009 a 2012. Para integrantes da oposição, a expectativa é de que a decisão do TCU seja adiada novamente, o que deixaria o calendário ainda mais apertado.

Opositores alegam, porém, que um processo de impedimento independe do desfecho da corte de contas. “Nós não estamos na expectativa de ter que julgar as contas no Congresso para poder avançar no processo de impeachment. O julgamento do TCU é uma etapa a mais, reforça a tese”, afirmou o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE).

Após passar pela CMO, mesmo que os prazos sejam encurtados, o Projeto de Decreto Legislativo é encaminhado para a secretaria do Congresso e no regimento interno não está estabelecida nenhuma data para o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), distribuir o texto para uma das Casas. Segundo o Estado apurou, o peemedebista tem dito a pessoas próximas que o tema “não é prioridade” e que pedaladas fiscais não são motivo para um impeachment.

Reforma também tornou Dilma mais dependente de Lula

• Com mais influência no governo, ex-presidente pede cuidado com Cunha e sugere a ministro conversar com oposição

Alberto Bombig e Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

A reforma ministerial também tornou Dilma Rousseff mais dependente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que nos últimos dias comandou as articulações internamente no PT e com os aliados. Foi ele quem pediu a deputados e senadores do PT que tomem cuidado com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), rompido com o governo e com inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal, e não solicitem o afastamento dele do cargo. Na quinta-feira, um dia antes do anúncio da reforma, Lula conversou com um grupo de parlamentares, em Brasília, e cobrou a blindagem de Dilma no Congresso.

Com mais influência no governo, ele também aconselhou o novo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, a chamar a oposição para conversar. Wagner é considerado mais habilidoso do que Aloizio Mercadante, que na Casa Civil comprou briga com o PMDB e até com petistas e voltou para o Ministério da Educação por insistência do ex-presidente. Em nove meses de gestão, o governo que tem o lema “Pátria Educadora” já abriga o terceiro titular da pasta. “O Plano Nacional de Educação é muito bom, mas ninguém conhece”, reclamou Lula, em conversa com Dilma e ministros do PT.
"O ajuste fiscal é um remédio amargo. Tomar remédio amargo tudo bem, mas a pergunta é: vai sarar? Então a gente precisa construir uma agenda positiva depois dessa reforma.”

Vetos. Para o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), o partido vai ajudar Dilma a governar e manterá os vetos da presidente, na votação de terça-feira, às propostas que aumentam despesas do governo. Nessa lista estão o reajuste aos servidores do Judiciário, com impacto de R$ 36 bilhões até 2019, e a extensão do aumento do salário mínimo a todos os aposentados.

“Com a reforma, a bancada do PMDB na Câmara se sente mais confortável. O PMDB é o maior partido da coalizão e temos agora o espaço adequado à nossa representação no Congresso”, resumiu Picciani. Dois ministérios ficaram com deputados da sigla: Saúde e Ciência e Tecnologia. O PT, por sua vez, viu seu número de pastas diminuir de 13 para 9.

“Esse redesenho da Esplanada será muito importante para a aprovação de projetos fundamentais para recuperar a economia”, argumentou o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS). Ao ser questionado sobre o corte dos ministérios do partido, ele respondeu: “Vão-se os anéis. Ficam os dedos.”

‘Época’: Lula fez lobby para Odebrecht na Guiné

• Segundo ‘Veja’, OAS pagou reforma em imóvel no Guarujá do ex-presidente

O Globo

Documentos secretos do Itamaraty obtidos pela revista “Época” revelam que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez lobby para a empreiteira Odebrecht em 2013, na Guiné Equatorial — país governado há 36 anos pelo ditador Teodoro Obiang. Em março daquele ano, Lula esteve com empreiteiros brasileiros, que reclamaram sobre a demora do BNDES e do Banco do Brasil para liberação de financiamentos na África. Depois, Lula se encontrou com o vice-presidente da Guiné, Ignacio Milán Tang.

No encontro, segundo a revista, Lula usou sua influência para conseguir contratos para a Odebrecht. A reunião foi testemunhada pela embaixadora do Brasil na Guiné Equatorial, Eliana da Costa e Silva Puglia.

“Lula citou, então, telefonema que dera ano passado ao presidente Obiang sobre a importância de se adjudicar (ganhar a licitação de) obra de construção do aeroporto de Mongomeyen à empresa Odebrecht”, registrou Eliana em telegrama enviado ao Itamaraty.

Segundo “Época”, a diplomata constatou a atuação do expresidente a favor da Odebrecht. A Andrade Gutierrez, que também participava da concorrência do aeroporto, não teve a ajuda de Lula. A revista informou que os documentos confidenciais estão sendo analisados pelo Ministério Público Federal em Brasília.

Depois da visita à Guiné, Lula ainda passou por Acra, capital de Gana, onde foi recebido pelo chefe de Estado do país, John Dramani Mahama. Segundo a revista, numa conversa privada, Mahama pediu o apoio de Lula para conseguir a liberação do financiamento de US$ 1 bilhão para projetos de infraestrutura no país.

“O ex-presidente Lula disse acreditar que o BNDES teria condições de acolher a solicitação da parte ganense e, nesse sentido, intercederia junto à presidenta Dilma Rousseff”, registra o telegrama do Itamaraty.

Então, o presidente de Gana entregou nota formalizando a solicitação de crédito para a construção de uma rodovia em Gana. Quatro meses depois, o BNDES liberou o dinheiro para um consórcio formado pela Odebrecht e pela Andrade Gutierrez, ambas empreiteiras investigadas na Operação LavaJato. A Odebrecht Infraestrutura disse à “Época” que mantém relação institucional com Lula.

Apartamento de Lula
Reportagem da revista “Veja” informa que a construtora OAS, envolvida no escândalo da Lava-Jato, pagou a reforma da cobertura triplex que pertence à família de Lula no Guarujá, litoral paulista.

De acordo com a revista, a OAS contratou a Tallento Inteligência em Engenharia, uma firma especializada em reformas luxuosas, para cuidar da obra ano passado. “Veja” reproduz declarações de funcionários que participaram da empreitada e publica fotos de como ficou o apartamento.

“Nos dias em que eles marcavam para visitar a obra, a gente tinha de parar o trabalho e ir embora. Ninguém era autorizado a permanecer no apartamento. Só ficamos sabendo quem era o dono muito tempo depois, pelos vizinhos e funcionários do prédio, que reconheceram dona Marisa e o Lulinha (Fábio Luís Lula da Silva, o filho mais velho do ex-presidente)”, reproduz a revista.

A OAS assumiu as obras no edifício, localizado na Praia das Astúrias, após a Bancoop — a Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo — abandonar a obra. O Instituto Lula reafirmou que o apartamento pertence à OAS e que a esposa de Lula, Marisa, possui apenas cotas do empreendimento.

OAS pagou reformas em apartamento de Lula, afirma revista

• Assessoria diz que triplex é da empresa

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A empreiteira OAS, acusada de envolvimento no esquema da Petrobras, custeou reformas em apartamento cuja opção de compra pertence à família do ex-presidente Lula, informou a revista "Veja".

Segundo a revista, documento de 2014 mostra que a OAS contratou uma empresa especializada em reformas de alto padrão para, entre outras coisas, instalar um elevador privativo no triplex em Guarujá, no litoral paulista, avaliado em R$ 2,5 milhões. O empreendimento, iniciado pela Bancoop (cooperativa dos bancários de São Paulo), foi assumido pela OAS em 2009.

Procurada, a assessoria do Instituto Lula afirmou que o apartamento ainda pertence à OAS, já que Lula e Marisa adquiriram uma cota do imóvel, mas não chegaram a concluir o negócio e, por isso, cabe à empreiteira arcar com custos referentes ao empreendimento, inclusive uma eventual reforma.

Dilma foi alertada pelo TCU sobre contas em 2014

• Na próxima quarta (7), contabilidade do governo federal pode ser rejeitada pela corte pela primeira vez

• Pedaladas eram apuradas desde o ano passado por especialista em contas públicas premiado pela Fazenda

Dimmi Amora – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Estádio Itaquerão (SP), 12 de junho de 2014. Numa sala reservada, a presidente Dilma Rousseff recebeu o então presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), Augusto Nardes, que lhe informou de problemas na sua prestação de contas de 2013.

Irregularidades eram cometidas sem que o governo adotasse medidas para saná-las. O relator das contas, Raimundo Carreiro, cogitava rejeitá-las, o que poderia impedir Dilma de concorrer à reeleição.

A presidente mostrou-se preocupada e disse não ter conhecimento de tudo. Momentos depois, a Croácia abriu o placar contra a Seleção Brasileira –que fez gol contra.

Carreiro foi procurado por integrantes do governo com a promessa de que os problemas seriam sanados. O ministro considerou que rejeitar as contas naquele momento, próximo da eleição, poderia parecer um ato político. Fez críticas, mas aprovou-as com 26 ressalvas em junho.

A seleção virou o jogo contra a Croácia. A presidente Dilma foi reeleita meses depois.

O destino da Seleção após a cambaleante estreia é conhecido: a inédita goleada 7 a 1 para a Alemanha. O destino da presidente parece seguir o mesmo caminho. A vitória na aprovação da mambembe conta de 2013 deve virar uma inédita goleada este ano.

Investigação
Das 12 irregularidades apontadas para rejeitar as contas de 2014, uma era investigada desde o ano passado, a "contabilidade criativa".

Com a arrecadação já em queda, o governo manobrava para manter seus gastos em níveis crescentes, escondendo que já tinha deficits primários, o que não era permitido até uma mudança de última hora na lei orçamentária.

A Caixa teve que pedir uma arbitragem na Advocacia-Geral da União para receber do governo o que lhe era devido. O Banco Central chegou a ordenar que o banco contabilizasse o rombo como dívida.

Para a investigação, o TCU escalou Antônio D'Ávila, especialista em contas públicas e duas vezes premiado pelo Ministério da Fazenda por suas monografias. D'Ávila não teve dúvidas em apontar que não havia criatividade.

Em março de 2014, o ministro do TCU José Múcio Monteiro considerou ilegais as manobras, já reapelidadas de "pedaladas", na ação que apura seus responsáveis. Dezessete ex-ministros e servidores podem ter que pagar multa e ressarcir o prejuízo. Esse processo não está finalizado.

O sinal de alerta acendeu no governo, que oscilou sua defesa entre a agressividade (acusou o TCU de fazer o mesmo), a banalidade (todo mundo fez) e o risco jurídico (mudança nas regras do jogo).

Diante de provas cada vez mais robustas, terminou a semana com a "estratégia da misericórdia", criando decreto para impedir o que a lei já proíbe: que bancos públicos banquem despesas federais.

Voto
Na próxima quarta (7), os nove ministros do órgão votam se seguem ou não o parecer de Nardes pela rejeição.

Na semana passada, em coro, os ministros pediram para que o processo fosse votado o mais rapidamente possível.

Sentem-se cansados da disputa política que se gerou em torno do trabalho, que avaliam como técnico. Querem que o Congresso Nacional, que tem a palavra final sobre as contas, decida.

Dirigente partidária, a nova face de Marina

• Após criação da Rede, ex-ministra molda discurso 'sonhático' com a função de líder da nova legenda

Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

Quatro anos após iniciar o movimento de construção de seu partido político, a Rede Sustentabilidade, a ex-ministra Marina Silva enfrenta agora o desafio de adequar o discurso "sonhático" - e em defesa da "nova política" - à realidade pragmática de dirigente partidária. Este atual momento de autonomia da ex-senadora contrasta com passagens marcadas por atritos em cúpulas de outras três legendas, do PT, do PV e do PSB.

A partir de agora, ela passa a dirigir sua própria sigla, tendo assim que administrar eventuais conflitos internos, uma vez que o partido conta com nomes com projetos de poder próprios, como a ex-senadora Heloísa Helena (AL), o senador Randolfe Rodrigues (AP) e o ex-ministro das Comunicações Miro Teixeira (RJ)

Apesar de estrear na condição de "nanico" (são apenas 5.600 militantes registrados no Brasil), o partido nasce sob a expectativa de ser a base de lançamento de Marina na disputa pelo Palácio do Planalto em 2018.

Depois de conseguir o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no dia 22 de setembro, a Rede estreou com cinco deputados federais, um senador e a promessa de fazer oposição moderada ao governo da presidente Dilma Rousseff.

No 2.º turno das eleições presidenciais, Marina apoiou o tucano Aécio Neves (MG), mas agora posicionou seu partido fora do bloco oposicionista pró-impeachment no Congresso Nacional. Todos os deputados do PSDB fazem parte da frente.

Bancada. Dos cinco deputados da recém-criada bancada da Rede, quatro vieram da base do governo: Alessandro Molon (RJ), ex-vice líder do PT na Casa; Miro Teixeira (RJ), que deixou o PROS, e dois egressos do PC do B, João Derly (RS) e Aliel Machado (PR). Mas é a maranhense Eliziane Gama (ex-PPS), única parlamentar oriunda da oposição na bancada da Rede, quem deve assumir a liderança do bloco. Aliada de Marina desde a eleição de 2010, ela é a preferida da cúpula do novo partido para exercer a função de maior visibilidade da Rede.

Um integrante da direção conta que a Rede poderia ter oito deputados, mas divergências "programáticas" e disputas locais inviabilizaram a migração de três parlamentares que já estavam de malas prontas. Prevaleceu na negociação a máxima cunhada por Marina: "A Rede buscará qualidade".

Caso se confirme a indicação de Eliziane, que será definida em uma reunião nesta semana em Brasília, a deputada orientará seu voto contrário a qualquer tentativa de impedimento da presidente que seja colocada em pauta pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Pelo menos por enquanto. "Consideramos que, hoje, não estão colocadas as condições para o impeachment", afirma Bazileu Margarido, porta-voz da Rede Sustentabilidade.

O partido também se colocará contra a aprovação de medidas da chamada "pauta-bomba", que oneram as contas públicas. "Vamos analisar os casos no mérito, mas somos contra a criação de impostos em um País com a carga tributária tão elevada", diz Margarido.

Espectro ideológico. O perfil dos quadros do partido, dentro e fora do Congresso, mostra que a agremiação se tornou um refúgio para políticos de esquerda insatisfeitos com a gestão Dilma Rousseff. Depois de filiar o senador Randolfe Rodrigues (AP), que deixou o PSOL, partido que nasceu das costelas do PT, a Rede está "conversando" com os senadores Paulo Paim (PT-RS), Walter Pinheiro (PT-BA) e José Antônio Reguffe (PDT-DF). "A Rede está ocupando um espaço que era do PSOL: um partido que faz oposição a Dilma pela esquerda", destaca o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília.

Em novembro, o partido promove, em Brasília, seu primeiro congresso nacional para revisar seu estatuto e eleger sua nova direção. "Dificilmente teremos vetos a partidos políticos específicos em 2016. Nossas coligações serão orientadas por questões programáticas", ressalva Margarido. Na prática, isso significa que a sigla poderá se aliar a legendas com propostas variadas.
Com 5.600 filiados, a Rede surge como um partido nanico, apesar de apresentar 21 diretórios estaduais. Contará com apenas 1% do tempo de TV reservado aos partidos no horário eleitoral na TV, o que equivale a poucos segundos.

Fernando Henrique Cardoso - Os reis também morrem

• O mandado de Dilma ainda dura três anos e pouco, e o tempo urge. Ou bem a presidente reage ou ela é ‘renunciada’; chegará a hora de acelerar decisões

- O Estado de S. Paulo

Num dos sábados do mês de setembro encontrei tempo e motivação para escutar a Orquestra do Estado de São Paulo (Osesp), sob o comando do maestro Isaac Karabtchevsky, tocar os Gurre-Lieder de Arnold Schönberg. Com a força expressiva do autor, os versos novecentistas do dinamarquês Jens Peter Jacobsen, traduzidos para o alemão por Robert Franz Arnold, ganham uma dramaticidade wagneriana. Dizem os entendidos que, ademais de Wagner, os acordes transpiram também a Mahler. Não saberia avaliar. O que senti, especialmente quando os instrumentos entoaram sons de uma marcha fúnebre, foi o inevitável da morte e a angústia dos próximos que ficam.

Essa sensação talvez me tenha vindo porque, na última vez que fui à Osesp em sua companhia, Ruth teve a crise cardíaca que, dias depois, terminou sendo fatal. Estive a recordar o tempo todo que em setembro ela faria 85 anos.

O rei Waldemar, no poema, chora a morte de sua amada e diz: "Mas Tove está aqui e está lá, está tão perto e está tão longe". Revolta-se contra os próprios deuses e proclama: "Senhor Deus, teus exércitos de anjos cantam sempre tua glória; entretanto, o que necessitarias era de um anjo que te soubesse censurar. Mas quem se atreveria?".

Da angústia existencial da morte concreta, a dos mais próximos e a própria, passei a pensar na morte política para não me afligir ainda mais. Grave e grande problema: como passar de uma situação de poder a outra? Os reis podem abdicar e assim, sem morrer, renunciam ao poder. Penam em vida, eventualmente, a ausência do poder. Agora, até os papas renunciam; devem rezar na paz de Castel Gandolfo pelo êxito do sucessor.

No parlamentarismo são os deputados que, formando uma nova maioria, ora ressuscitam o primeiro-ministro moribundo, ora simbolicamente o decapitam, escolhendo outro. No presidencialismo o eleito, em tese, deve esperar que o tempo se esvaia até que o povo escolha novamente um "rei". O anterior, de bom grado ou de mau grado, sobrevive fisicamente, ora tentando voltar ao trono, ora conformado com o que já fez; ora ajudando o sucessor a governar, ora o atrapalhando.

Às vezes, entretanto, não há sucessão à vista e o rei já não governa. Quando o presidente, no caso de República democrática, agride a Constituição, ainda sobra o remédio do impedimento, uma espécie de morte assistida. Ou, então, ele abre mão voluntariamente do poder pela renúncia. O tema, na ciência política, sem ter a dramaticidade do Gurre-Lieder, é sempre tratado com circunspecção e interesse.

Não por acaso voltou à baila em algumas Repúblicas presidencialistas contemporâneas o discutível instituto do recall: a velocidade da vida e dos meios de comunicação tornam precocemente envelhecidos governos democraticamente eleitos. Estamos diante dessa encruzilhada. Trombetas, trompas e fagotes já entoam o final, falta apenas a percussão dos címbalos para que todos saibam que o rei morreu. Este, entretanto, detém o poder e não encontra ninguém, como o anjo que Waldemar queria que se atrevesse diante do próprio Deus, para lhe dizer: acabou!

Por enquanto, falei no figurativo. Mas vamos aos fatos.

O povo não vê no ajuste financeiro a glória futura, mas, sim, o aperto cotidiano. Os programas e promessas são palavras que a experiência mostrou natimortos pela inércia da administração ou por sua incompetência. Os políticos já não sabem quantos mais anéis pedir à presidente para cumprirem o que, em princípio, já lhes foi pago, pois querem mais. Para não falar nos mercados, que buscam refúgio no dólar, embora não se tenha crise cambial à vista.

Estamos assistindo a uma corrida contra o tempo. Repito o já sabido e dito: as forças dinâmicas do quadro brasileiro vêm sendo a crise econômica e a Operação Lava Jato. Só que o desdobramento de uma, a judicial, independe da outra, que, entretanto, sofre suas consequências. Não obstante, as lideranças políticas, a começar pela maior da República, parecem assistir conformadas ao mergulho do País no poço fundo da crise pela falta de confiança.

Daí a angústia: há urgência para que as decisões políticas nos permitam enfrentar os desafios econômicos e sociais. Estes são de magnitude: os compromissos legais de financiamento a serem cumpridos pelo governo, seja por diretivas constitucionais, seja por mandamentos legais, seja por compromissos políticos assumidos, não cabem no Orçamento e o País não quer pagar mais impostos. Não quer porque não vê que deles resulte melhoria palpável para as contas públicas nem para a população, dadas a continuidade da gastança, a incompetência da gestão e a corrupção.

A quadratura desse círculo exige a reconstrução da confiança perdida. Daí a corrida contra o tempo. O mandato ainda dura três anos e pouco e o tempo urge. Ou bem a presidente reage (e vê-se que não tem gás para tanto) ou ela é “renunciada”. Mesmo que se cogite de impedimento, este está limitado pelo decorrer de prazos legais. Haverá tempo? Como conciliar, sempre dentro da Constituição, as urgências da economia e da vida com a morosidade dos tempos políticos?

Não tenho vara de condão para me levar ao futuro. Arrisco dizer, no entanto, que nessa pugna entre os meneios político-partidários e as necessidades concretas das pessoas e das empresas chegará o momento de acelerar decisões. Talvez um anjo perverso aconselhe à presidente: entregue logo sua alma ao diabo, entre mais fundo no "toma lá dá cá" e salve seu mandato. Pode até conseguir, mas valerá a pena? E acaso isso modifica a dança do País à beira do abismo?

Quanto antes os mais responsáveis percebam que ou agem ou serão tragados pela voragem da crise, melhor. Ainda há tempo. Pouco, contudo.

Luiz Werneck Viana - As praias cariocas e a política

- O Estado de S. Paulo

A linguagem das ruas registra o uso da expressão "desgraça pouca é bobagem", pois se não nos bastasse conviver com a ração amarga que diariamente nos é servida, vinda da polícia e dos tribunais sobre o atual estado de coisas degradado da nossa política, somam-se, agora, as notícias do circo de horrores que tomou conta das praias cariocas. Seus protagonistas são jovens pobres das periferias e das classes médias da zona sul, envolvidos num cenário clássico de gangues juvenis em disputa por território.

O conflito entre eles tem data marcada, os fins de semana ensolarados, quando bandos de jovens das periferias se apinham nos ônibus e começam a encenar no espaço público os rituais com que alardeiam o ressentimento que lhes dói na alma numa cidade que os exclui. A diversão não está nos folguedos praieiros, mas no ato da ocupação do território que lhes é estrangeiro e naturalmente hostil por significar uma marca de distinção entre os de dentro e os de fora da cidade. Em reação a eles, os jovens naturais do lugar os recebem com ações violentas de grupos organizados, e tudo se passa como uma teatralização selvagem de luta de classes diante de um público incerto em tomar partido entre os dois litigantes.

É preciso estar no mundo da lua para não ligar essas duas pontas, como se a política fosse ingênua a elas. A socióloga Maria Alice Rezende de Carvalho, em artigo seminal ainda nos idos de 1995, caracterizou essa síndrome como a de cidade escassa, aludindo com essa expressão à afluência em massa para a cidade de setores sociais historicamente dela apartados, vivendo nas periferias destituídas de equipamentos públicos de toda sorte, os de lazer incluídos. O contato entre essas duas partes da cidade, como inevitável, tem-se dado pelos seus pontos mais sensíveis, ora de forma velada, ora aberta, como nesses atuais incidentes conflituosos na orla carioca, e não por que falte espaço físico - os direitos é que são escassos.

Não são necessárias antenas de grande precisão para detectar esses pequenos abalos sísmicos que têm atuado sobre setores subalternos da nossa sociedade, visíveis nas manifestações dos grupos autodesignados pelo prefixo sem - sem-terra, sem-teto - e mal camuflados nessas aparentes simples travessuras de adolescentes da periferia do Rio. Esses abalos são registrados em toda parte, não só nos grandes centros urbanos, e sua tradução não pode ser feita à margem do código da política, na medida em que podem estar indicando algo de mais grave - judiciosa sugestão de Tocqueville. Aí, uma chave de leitura que nos remete a temas como o do Estado, de sua falta, tal como na enérgica denúncia das jornadas de junho de 2013, o de uma política "que não nos representa", e o da ausência de valores cívicos que não contam, faz tempo, com a animação dos partidos políticos, encapsulados na trama de interesses particularistas dos seus dirigentes, na ambição de ganhos materiais ou de poder pelo poder.

Somos um caso clássico de uma modernização que não concedeu espaço para o moderno. Na era Vargas, quando se inicia de modo planejado a intervenção do Estado para os fins da modernização econômica, em particular no regime de 1937, embora o associativismo dos trabalhadores tenha sido posto sob tutela de agências estatais, não se descuidou da dimensão ética, concebendo-se os sindicatos como instâncias de transmissão de valores, entre os quais o de valorização do trabalho como elemento essencial para uma vida digna dos subalternos urbanos.

Nesse registro, o modelo autoritário da fórmula corporativa então vigente, mesmo que centralmente orientado para o exercício da coerção, concebeu práticas a fim de reforçá-lo com a introdução de elementos consensuais. Na perspectiva da época, o objetivo em mira era o da indução da harmonia entre o mundo do trabalho e o capital sob os auspícios da ação estatal. Muito dos seus fundamentos, como se sabe, foram preservados no regime de 1946, como sempre denunciou a opinião democrática, inclusive a dos sindicalistas do ABC.

O surto de modernização trazido pelo regime militar subverteu essa modelagem, instrumentalizando-a sans phrase para seus fins de aceleração do crescimento econômico, deixando como herança uma sociedade civil que, embora emergente, como se viu nos episódios pelas Diretas-Já, entre outros, se encontrava destituída de valores cívicos e desencontrada das instituições democráticas que ainda subsistiam. Em suma, aquele novo giro da modernização burguesa no Brasil, escorado na repressão do que havia de organizado na sociedade civil, tinha destampado um individualismo selvagem, em que cada qual apenas reconhecia como legítimos os seus apetites, mesmo que em desacordo com as leis.

A Carta de 88, uma decidida aposta no moderno, inicia sua trajetória nesse vácuo de cidadania que não à toa foi determinante para o desastre da sucessão presidencial de 1989. Com o impeachment de Collor, sob os mandatos de Itamar e Fernando Henrique o espírito que a animava inicia seu lento processo de materialização, augurando-se para ele um andamento ainda mais rápido com a candidatura de Lula pelo PT na sucessão de 2002, então identificado com uma história de denúncia do processo de modernização brasileiro, até mesmo de muitas de suas principais instituições, como a CLT.

O programa do moderno, sem dúvida, não era de fácil realização - demandava tempo e não facilitava uma reeleição, mas deixaria, de qualquer modo, um lastro positivo. Nada, porém, poderia ser pior que o cavalo de pau que nos devolveu ao ciclo da modernização sem alma, que ora jaz moribundo sem que o moderno dê sinais de que ainda vive. E não será dos restos insepultos do sistema político que aí está que poderá renascer. Nessa desordem em que recaímos, não há juiz Sergio Moro que nos livre. E, pelo que se vê, nas praias também não há quem nos acuda.
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* Sociólogo, PUC-Rio

Sérgio Fernando Moro - Caminhos para reduzir a corrupção

O Globo

Condenados em 2ª instância deveriam ir para prisão. A corrupção faz parte da condição humana. Isso não é um álibi, mas uma constatação. Sempre haverá quem, independentemente das circunstâncias, ceda à tentação do crime. Outro fenômeno é a corrupção sistêmica, na qual o pagamento de propina torna-se regra nas transações entre o público e o privado. Isso não significa que todos são corruptos ou que todas as interações entre agentes privados e públicos envolvam sempre propina. Mas, na corrupção sistêmica, o pagamento da propina, embora não um imperativo absoluto, torna-se um compromisso endêmico, a regra do jogo, uma obrigação consentida entre os participantes, normalmente refletida no pagamento de percentuais fixos de comissões sobre contratos públicos. 

Os custos são gigantescos. 

A economia perde eficiência. Além dos custos óbvios da propina, normalmente inseridos nos contratos públicos, perde-se a racionalidade na gestão pública, pois a apropriação dos valores passa a guiar as decisões do administrador público, não mais tendo apenas por objetivo a ótima alocação dos recursos públicos. Talvez seja ela a real motivação para investimentos públicos que parecem fazer pouco sentido à luz da racionalidade econômica ou para a extraordinária elevação do tempo e dos custos necessários para ultimação de qualquer obra pública.

Mais do que isso, gera a progressiva perda de confiança da população no estado do direito, na aplicação geral e imparcial da lei e na própria democracia. A ideia básica da democracia em um estado de direito é a de que todos são iguais e livres perante a lei e que, como consequência, as regras legais serão aplicadas a todos, governantes e governados, independentemente de renda ou estrato social. Se as regras não valem para todos, se há aqueles acima das regras ou aqueles que podem trapacear para obter vantagens no domínio econômico ou político, mina-se a crença de que vivemos em um governo de leis e não de homens. O desprezo disseminado à lei é ainda um convite à desobediência, pois, se parte não segue as regras e obtém vantagens, não há motivação para os demais segui-las.

Pior de tudo, a corrupção sistêmica impacta o sentimento de autoestima de um povo. Um povo inteiro que paga propina é um povo sem dignidade.

Pode-se perquirir quando o problema começou, mas a questão mais relevante é indagar como sair desse quadro.

Há uma tendência de responsabilização exclusiva do poder público, como se a corrupção envolvesse apenas quem recebe e não quem paga. A iniciativa privada tem um papel relevante no combate à corrupção. Cite-se o empresário italiano Libero Grassi. Em ato heroico, no começo da década de 90 na Sicília, denunciou publicamente a extorsão mafiosa, recusando-se a pagar propina. Ficou isolado e pagou com a vida, mas seu exemplo fez florescer associações como o Addiopizzo, que reúne atualmente centenas de empresários palermitanos que se recusam a ceder à extorsão. Não se pretende que empresários daqui paguem tão alto preço para tornarem-se exemplos, mas, por vezes, poderão se surpreender como a negativa e a comunicação às autoridades de prevenção, que podem mostrar-se eficazes.

Mas o poder público tem igualmente um papel relevante. As regras de prevenção e repressão à corrupção já existem. É preciso vontade para torná-las efetivas. Se a Justiça criminal tratasse a corrupção com um terço da severidade com que lida com o tráfico de drogas, já haveria uma grande diferença. Em parte, a inefetividade geral da lei contra a corrupção e contra figuras poderosas é um problema de interpretação e não de falta de regras. O exemplo do Supremo Tribunal Federal no julgamento da Ação Penal 470 deve ser um farol a ser considerado por todos os juízes.

Dizer que as regras existem não significa que não é preciso melhorá-las.

O que mais assusta, em um quadro de naturalização da propina, é a inércia de iniciativas para a alteração das regras legais que geram as brechas para a impunidade. O processo penal deve servir para absolver o inocente, mas também para condenar o culpado e, quando isso ocorrer, para efetivamente puni-lo, independentemente do quanto seja poderoso.

Não é o que ocorre, em regra, nos processos judiciais brasileiros. Reclama-se, é certo, de um excesso de punição diante de uma população carcerária significativa, mas os números não devem iludir, pois não estão lá os criminosos poderosos. Para estes, o sistema de Justiça criminal é extremamente ineficiente. A investigação é difícil, é certo, para estes crimes, mas o mais grave são os labirintos arcanos de um processo judicial que, a pretexto de neutralidade, gera morosidade, prescrição e impunidade.

Um processo sem fim não garante Justiça. Modestamente, a Associação dos Juízes Federais do Brasil apresentou sugestão ao Congresso Nacional, o projeto de lei do Senado 402/ 2015, que visa eliminar uma dessas grandes brechas, propiciando que, após uma condenação criminal, em segunda instância, por um Tribunal de Apelação, possa operar de pronto a prisão para crimes graves e independentemente de novos recursos. Críticos do projeto apressaram-se em afirmar que ele viola a presunção de inocência, que exigiria o julgamento do último recurso, ainda que infinito ou protelatório. Realisticamente, porém, a presunção de inocência exige que a culpa seja provada acima de qualquer dúvida razoável, e o projeto em nada altera esse quadro. Não exige, como exemplificam os Estados Unidos e a França, países nos quais a prisão se opera como regra a partir de um primeiro julgamento e que constituem os berços históricos da presunção de inocência recursos infinitos ou processos sem fim. O projeto não retira poderes dos Tribunais Superiores que, diante de recursos plausíveis, ainda poderão suspender a condenação. Os únicos prejudicados são os poderes da inércia, da omissão e da impunidade.

Mas há alternativas. Em sentido similar, existe a proposta de emenda constitucional 15/2011, originária de sugestão do ministro Cezar Peluso, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal. O Ministério Público Federal apresentou dez propostas contra a corrupção que deveriam ser avaliadas pelo governo e pelo Congresso, assim como os projetos citados, com a seriedade que a hora requer.

O fato é que a corrupção sistêmica não vai ceder facilmente. Deve ser encarada da forma apropriada, não como um fato da natureza, mas como um mal a ser combatido por todos. Os tempos atuais oferecem uma oportunidade de mudança, o que exige a adoção, pela iniciativa privada e pela sociedade civil organizada, de uma posição de repúdio à propina, e, pelo Poder Público, de iniciativas concretas e reais, algum ativismo é bem-vindo, para a reforma e o fortalecimento de nossas instituições contra a corrupção. Milhões já foram às ruas protestar contra a corrupção, mas não surgiram respostas institucionais relevantes. O tempo está passando e o momento, em parte, está sendo perdido.
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Sérgio Fernando Moro é juiz federal

Fernando Gabeira- A lama do Rock in Rio

- O Globo

Li que a lama do primeiro Rock in Rio foi vendida por R$ 185, num pequeno pacote. Se soubesse disso, não tinha lavado meus sapatos e a calça que usei há 30 anos. Eles se afundaram naquela preciosa massa, quando cobria a festa para a revista “Afinal”, dirigida pelo amigo Fernando Mitre.

Na mesma noite, vi na televisão uma reportagem afirmando que o entulho das construções no Brasil daria para fazer 3,5 milhões de casas populares e milhares de quilômetros de estrada. Se fosse reciclado, é claro.

Em estado de emergência, discutimos a crise do ponto de vista de corte de despesas e aumento das receitas. Há um grupo do governo dedicado às contas de chegar. O sonho é voltar a crescer. O crescimento parece um cachorrinho que sumiu de casa e vai voltar um pouco mais magro, abanando o rabo. Ao invés de apenas desejar as coisas como eram antes, por que não refletir um pouco como poderiam ser melhores no futuro?

O país precisava também articular medidas inovadoras que, ao mesmo tempo, produzam cortes de despesas. Quantos exemplos não podem ser somados à possibilidade de reciclar o entulho? A seara do consumo individual é complexa demais. Hoje o estilo de consumo está muito muito ligado a uma busca de identidade. Consumidores da Harley-Davidson, por exemplo, identificam-se tanto com a marca que tatuam o nome dela no braço.

No âmbito das contas de chegar, Dilma fez uma exposição fantasiosa na ONU. Os vilões da crise brasileira são as commodities e a crise externa. As commodities já caíram no princípio da década, e a crise mundial, apesar da Europa, foi superada em 2011.

No dia seguinte, ela falou do futuro. Prometeu cortar emissões, aumentar a eficiência energética. Mas o mesmo discurso, ouvido por um estrangeiro, soa diferente para mim. Ela ignorou os ecossistemas fora da Amazônia.

Para o público externo, o Brasil é muito identificado com a Amazônia. Mas quem vive aqui sabe que é maior que ela. Numa recente viagem ao cerrado mineiro, visitei o refúgio de vida silvestre do Rio Pandeiros. O rio é o berçário da maioria das espécies do São Francisco. É protegido por uma unidade de conservação de 310 mil hectares. Nos últimos anos, foram desmatados 50 mil hectares. Com a seca e os reflexos do El Niño, viajar pelo norte mineiro é encontrar incêndios e ver fumaças ao longe. A pequena área que visitei registra metade dos incêndios de Minas.

Falar em eficiência energética depois de tantos erros não admitidos, só serve para nos entristecer pelo tempo perdido. Se houvesse mesmo uma política, esse objetivo seria uma prioridade do BNDES. Que espaço haveria para financiar a produção de carne de boi?

O consolo na crise é que, apesar da miséria do processo político, a própria sociedade vai amadurecer. Não tenho ilusões sobre uma revolução cultural, nem costumo usar o clichê “crise é oportunidade”. Vejo- a como um percurso doloroso no qual podemos ou não achar a saída. Os políticos decidem os caminhos do governo, mas a crise pode colocar também a velha questão: qual a melhor vida para as pessoas? É uma discussão que transcende a roubalheira e a limitação dos partidos, uma vez que as decisões de consumo são tomadas em nível individual, fortemente influenciadas pelas relações interpessoais. Não acredito em discursos culpabilizantes. Mesmo porque a transgressão é um forte atrativo para o consumo. Mas um grande debate cultural teria a chance de agregar valor simbólico ao consumo consciente.

Consumo consciente é modo de dizer, porque há sempre muito de irracional no impulso da compra. Os publicitários falam também para essa dimensão inconsciente. Não creio que seja manipulativo falar também para ela, agregando valor emocional a um tipo de consumo que leve em conta as novas gerações.

É difícil determinar o que é um consumo inteligente. De um ponto de vista individual, o preço da lama do Rock in Rio compensou a gratificação. E, além do mais, não trouxe nenhum dano ambiental. Mas quando consumimos recursos partilhados como a água, as coisas ficam mais claras. A água é a condição de vida no planeta e promessa de vida em Marte.

Na chamada economia maior, o horizonte é apenas retomar o crescimento, o que implica numa fé quase religiosa no progresso. Intelectuais do PT querem até seguir gastando a rodo, sem perceber que serão atropelados pela espiral inflacionária.

Na dimensão do consumo, os mesmos hábitos podem nos levar a uma freada brusca diante da escassez de recursos naturais. Em outras palavras, a realidade vai sempre nos apresentar a conta.

Como responder a todas essas manifestações da crise de uma forma coordenada? O governo só pensa em sobreviver. Dele não espero nada, exceto sua queda. Mas do debate cultural, nesse sentido mais amplo, (qual a melhor vida para as pessoas?), espera-se um pouco mais. O ritmo será lento e irregular, mas é assim que o quadro se move em nossas cabeças.

Ferreira Gullar - Pobre é ladrão?

• Vamos admitir que basta ser pobre para ser bandido? Seria uma ignomínia contra aqueles que trabalham duro

- Folha de S. Paulo

Logo após o fim de semana, quando a zona sul do Rio foi tomada pelos arrastões, assisti a um programa de televisão em que se debatia o assunto. De fato, foram dois dias –um sábado e um domingo– que deixaram as pessoas apavoradas, sem falar daquelas que sofreram diretamente a ação dos pivetes.

Eles agiram em grupos de dez, quinze assaltantes que, nas praias, tomavam dos banhistas celulares, bolsas, cordões de ouro, relógios, enfim, tudo o que pudessem levar.

Em meio a tanta gente, corriam e sumiam, sem que nem mesmo os policiais conseguissem pegá-los. Alguns foram presos, mas, como disse um delegado, logo seriam soltos para voltar a assaltar. É que são menores.

Pois bem, durante o debate, a opinião dos participantes era de que a razão dessa crescente ação dos pivetes está na maneira como agem as autoridades, usando apenas a repressão policial, quando o problema é social. Ou seja, de nada adianta reprimir a ação dos pivetes, uma vez que a causa está na desigualdade: esses assaltantes são jovens de classe baixa, filhos de famílias pobres, que muitas vezes não têm nem mesmo o que comer.

Isso, sem dúvida alguma, é verdade. Mas, partindo dessa constatação, o que fazer para evitar que eles continuem a assaltar? Na opinião dos debatedores, naquele programa, o governo deveria oferecer a esses jovens atendimento capaz de reintegrá-los à vida social. Noutras palavras, é a desigualdade social que os leva a roubar.

Vamos examinar essa tese. Quantos menores pobres existem na cidade do Rio de Janeiro? Não sei ao certo, mas acredito que cheguem a muitos milhares, a centenas de milhares. Se aqueles jovens assaltam por serem pobres, por que não há muitos milhares de assaltantes em vez de algumas dezenas? Os que agiram naquele fim de semana não chegavam a cem.

Diante disso, concluo que não é apenas por ser pobre que o cara se torna assaltante. Ou vamos admitir que basta ser pobre para ser bandido? Seria uma ignomínia contra os pobres que, pelo contrário, em sua absoluta maioria trabalham para ganhar o pão de cada dia. Na verdade, a maioria dos que pegam no pesado são os pobres. E o pessoal do Petrolão, rouba por quê? Por não ter o que comer certamente não é. Será por vocação?

Citei, certa vez, numa de minhas crônicas, o que disse uma senhora favelada: "Tenho cinco filhos, duas meninas e três meninos. Quatro deles estão estudando. Só um deles não quis estudar e virou assaltante". Vejam bem; todos eles foram criados na mesma casa, na mesma favela, pela mesma mãe, enfrentando as mesmas dificuldades. Por que só um deles optou pelo crime? Semana passada, um desses garotos declarou que rouba por prazer e não estuda porque não quer.

A desigualdade social existe e, no Brasil, chega a um nível vergonhoso. E há desigualdade, maior ou menor, em todos os países, até naqueles de alto desenvolvimento econômico, como os Estados Unidos. Deve-se observar também que, durante séculos, a humanidade enfrenta esse problema e luta para livrar-se dele. Admito que talvez nunca cheguemos à sociedade justa, mas ela pode ser menos injusta, sem dúvida alguma. Só que isso vai demorar –e muito.

Voltemos, então, à tese daquele pessoal do tal programa. Se é verdade que os pivetes assaltam porque nasceram numa sociedade desigual, significa que, enquanto a desigualdade se mantiver, haverá assaltantes, os quais não devem ser punidos, pois são vítimas da sociedade desigual. Puni-los seria cometer uma dupla injustiça, certo? No fundo, é mais ou menos essa visão do problema que levou à benevolência das leis brasileiras contra os criminosos, tenham a idade que tiver.

Mas como fica a mocinha inglesa que teve sua bolsa levada pelos pivetes com todo o seu dinheiro e todos os seus documentos? Chorando, ela prometeu nunca mais voltar ao Brasil. Como fica o assassinato daquele senhor, morto pelo pivete que queria roubar sua bicicleta?

Se a causa dos crimes é a desigualdade social, e ela vai custar muito a ser superada, vamos ter de viver o resto da vida trancados em casa ou andar apavorados pelas ruas da cidade. Será que está certo?

Merval Pereira- O informante

- O Globo

Se já havia quem desconfiasse que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, havia extrapolado suas prerrogativas ao definir que o ex-presidente Lula só poderia ser ouvido pela Polícia Federal no inquérito da Operação Lava-Jato na qualidade de “testemunha”, pois a lei não lhe confere esse direito, o ministro Teori Zavascki melhorou a emenda, definindo que Lula será ouvido como “informante”, e não testemunha.

Além de ser uma decisão totalmente atípica, pois Lula já não tem foro privilegiado, o ministro do Supremo está criando uma figura que não existe nos inquéritos, mas apenas nos processos criminais, cíveis ou mesmo administrativos, como adverte o criminalista Ary Bergher. Nos inquéritos existem apenas os investigados e as testemunhas.

Nos processos, quando a testemunha é parente ou ligada ao réu, não recebe o status de testemunha porque não poderia jurar dizer a verdade. É então rotulada de informante. Como o ex-presidente Lula é ligado ao PT, não pode ser testemunha, parece ter raciocinado o ministro Teori Zavascki.

É o que se deduz de sua decisão sobre a relação de pessoas que o delegado Josélio de Souza pretende ouvir, todas ligadas ao PT: “No caso, as manifestações dessas autoridades são coincidentes no sentido de que as pessoas a serem ouvidas em diligências complementares não ostentam a condição de investigadas, mas, segundo se depreende do requerimento da autoridade policial, a condição de informantes”.

A testemunha presta o compromisso “de dizer a verdade”, o informante não. Segundo outro criminalista, Cosmo Ferreira, boa parte da melhor doutrina de Direito Processual Penal entende que “informante” não é testemunha. Existe, porém, a discussão sobre se quem não presta o compromisso “de dizer a verdade” poderá ser sujeito ativo do crime de falso testemunho, descrito no artigo 342, caput, do Código Penal.

O entendimento majoritário é que sim, pois, aquele tipo penal não faz menção ao compromisso, mas, há vozes autorizadas no sentido do não. O que levou o ministro a asseverar “informante” em vez de testemunha? As más línguas dirão que foi para blindar Lula da prática do crime de falso testemunho, na esteira da doutrina minoritária.

A condição de “informante” traz ainda uma carga pejorativa para Lula que faz ligação ao livro de Tuma Junior, que o acusa de ter sido “informante” do Dops quando lá esteve preso sob a guarda de seu pai, Romeu Tuma.

Já Ary Bergher acha que, se ficar demonstrado nas investigações que Lula faltou com a verdade no seu depoimento, ele se tornará automaticamente indiciado no inquérito. Se se recusar a responder a determinadas perguntas, embora tenha este direito, o comportamento poderá ser considerado como sinal de envolvimento.

Ele lembra, a título de comparação com o direito nos Estados Unidos, que o ex-presidente Bill Clinton escapou do crime de perjúrio quando estava sendo investigado sobre seu caso com a estagiária Monica Lewinsky porque admitiu que havia tido “comportamento inadequado” para responder se mantivera relações sexuais com a estagiária. Isso por que, nos Estados Unidos, a noção de perjúrio é muito mais inflexível que no Brasil, onde o falso testemunho pode ser resolvido com uma correção de declaração.

Ary Bergher não descarta a possibilidade de o delegado Josélio de Souza, dependendo das respostas de Lula, indiciá-lo imediatamente depois do interrogatório, se as investigações até o momento derem condições de demonstrar que o ex-presidente está escondendo a verdade.

Dora Kramer - Governante governada

• A 'presidenta' que já quis mandar na língua portuguesa. Hoje não manda nem em si

- O Estado de S. Paulo

Tempo houve, não faz muito, que Dilma Rousseff pretendia mandar até no uso e costume da língua portuguesa. Exigiu ser chamada de “presidenta”, no que foi atendida por subordinados. Funcionais e mentais. Hoje a presidente Dilma Rousseff já não manda em coisa alguma. Nem no governo nem em si.

Na prática, tornou-se impedida de governar. Em preciso jogo de palavras, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso bem definiu a situação ao dizer que depois dessa nova rodada de negociações com o baixo-clero do PMDB Dilma não governaria, seria governada.

É de se acrescentar a título de reforço: não preside, é presidida. Por Luiz Inácio da Silva, pelo andamento da Operação Lava Jato, pela vontade dos ditos aliados, pela repercussão de suas ações. A presidente está entregue aos acontecimentos, na realidade, interditada.

O afastamento de Aloizio Mercadante da Casa Civil é um ato que não soluciona. A saída dele não resolve. Na avaliação de colegas de governo e de partido, Mercadante fora da Casa Civil não é uma solução para a crise, mas sua permanência seria garantia do agravamento da situação.
O problema é que na Casa Civil ou na Educação, Dilma vai continuar ouvindo Aloizio Mercadante, seu pior conselheiro.

Vida Severina. Por um “pixuleco” de R$ 10 mil mensais pagos pelo dono do restaurante interessado em operar na Câmara, Severino Cavalcanti perdeu a presidência da Casa. A situação do deputado Eduardo Cunha é muito mais complicada.

Não porque mantenha contas em bancos suíços. Não é proibido depositar dinheiro no exterior. Qualquer pessoa pode abrir uma conta de maneira legal e transparente. Mas um parlamentar não pode mentir sem que o ato se configure quebra de decoro. E Eduardo Cunha mentiu na CPI da Petrobrás ao negar peremptoriamente a existência não de quatro, conforme apontam as investigações, mas de uma conta sequer.

Se nessas contas estiver depositado dinheiro de origem ilegal, configura-se um crime. Nada menos do que quatro delatores “premiados” afirmaram terem sido intermediários de pagamento de propina ao deputado Cunha. Quando da primeira denúncia, ele fez um escarcéu. Rompeu com o governo e atribuiu ao Planalto uma urdidura contra ele. Criava um factoide a fim de desviar a atenção sobre o fato.

E fato é que o presidente da Câmara perdeu a condição de presidir a Câmara. Mais não seja até a comprovação das acusações, porque mentiu. Mentira que levou à cassação de Luiz Estevão, no Senado, à renúncia de Renan Calheiros ao posto e à delegação ao ostracismo de figuras como Antônio Carlos Magalhães e Jader Barbalho.

Quanto mais adiar a renúncia à presidência, mais o presidente da Câmara dos Deputados desgasta a instituição.

Viravolta. Marta Suplicy já foi odiada nas hostes tucanas. Hoje, filiada ao PMDB, é muito bem recebida na oposição. Há gente de altíssimo calibre no PSDB disposta a votar em Marta para a prefeitura de São Paulo, caso o partido de José Serra e Fernando Henrique Cardoso escolha João Dória Júnior como candidato à Prefeitura no lugar de Andrea Matarazzo.

Na pesquisa qualitativa feita pelo partido, Andrea é visto menos como político e mais como administrador capaz de dar conta dos problemas de São Paulo porque é honesto e tem amor à cidade.