sexta-feira, 27 de março de 2015

Bernardo Mello Franco - O país da memória curta

- Folha de S. Paulo

O escritor Ivan Lessa tinha uma boa definição para a nossa falta de memória coletiva: "A cada 15 anos, o Brasil esquece o que aconteceu nos últimos 15 anos".

A frase ajuda a explicar uma notícia publicada há quatro dias na Folha: "Batalha entre PT e PSDB alivia rejeição a Collor, indica pesquisa".

O levantamento é da Fundação Perseu Abramo, que foi à avenida Paulista nas manifestações de 13 e 15 de março. A primeira reuniu a turma pró-governo; a segunda, bem maior, os insatisfeitos com a presidente Dilma Rousseff e com tudo o que está aí.

A fundação, que é ligada ao PT, perguntou aos participantes dos dois atos qual foi o governo com mais casos de corrupção na história recente.

No "protesto a favor" da sexta-feira, 40% dos entrevistados apontaram o dedo para a gestão de Fernando Henrique Cardoso. Fernando Collor ficou em um distante segundo lugar, com 29% das menções.

No protesto do domingo, que ecoou o panelaço contra o governo, a ordem se inverteu. Para 47% dos manifestantes, o governo mais corrupto foi o de Lula. Dilma levou a prata, com 29%. Collor ficou para trás, com modestos 11% das citações.

A conclusão da pesquisa é que o ex-caçador de marajás se beneficiou da polarização do debate brasileiro. Convertidos em torcedores de partidos, muitos petistas e tucanos passaram a vê-lo como um mal menor.

Isso deve ter ajudado o ex-presidente a voltar a Brasília e ao noticiário de escândalos. No dia em que a enquete foi noticiada, ele usou a tribuna para fazer novos ataques ao procurador Rodrigo Janot, que o investiga nos inquéritos do petrolão.

O impeachment que varreu Collor do Planalto vai completar 23 anos. Pela lei de Ivan, oito a mais do que a nossa memória alcança.

De Graça Foster, à CPI da Petrobras: "Gostaria que tudo isso fosse mentira e que não tivesse tido propina alguma". Nós também, Graça.

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