terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Todos iguais – Editorial / Folha de S. Paulo

• Pesquisa Datafolha mostra que 71% dos brasileiros não têm partido de preferência, um recorde; número de simpatizantes do PT desaba

Na sexta-feira (6), num evento organizado em Belo Horizonte para comemorar os 35 anos do PT, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou que a legenda venha se tornando "um partido igual aos outros", deixando de ser uma agremiação de base "para se transformar num partido de gabinete".

Na mesma ocasião, a presidente Dilma Rousseff afirmou, sem citar nomes, que as pessoas devem pagar por seus erros, mas ressalvou a legenda: "Devemos preservar a história deste partido".

Falava sobre o escândalo na Petrobras, assunto que também preocupa José Dirceu. Condenado no julgamento do mensalão e cumprindo prisão domiciliar, o ex-ministro tem dito a amigos que, sem uma reação, a Operação Lava Jato pode vir a representar a "pá de cal" na imagem da agremiação.

Pesquisa Datafolha publicada nesta segunda-feira (9) mostrou o quanto os três estão certos. A fatia dos entrevistados que declara preferência pelo PT encolheu de 22%, em dezembro, para 12% agora.

Ainda se trata da legenda com mais simpatizantes, mas já não se distancia tanto de PSDB (5%) e PMDB (4%). Em seu melhor momento, registrado em abril de 2012, o PT tinha o apoio de 31% dos brasileiros, no mínimo 27 pontos a mais do que qualquer outro partido.

Desde que o Datafolha faz esse levantamento, jamais houve queda tão acentuada na predileção por uma legenda. Quanto ao PT, seu novo patamar o deixa em posição mais desconfortável do que a vista na esteira do mensalão, quando caiu a 15% das preferências.

Talvez mais simbólico, o percentual atual devolve a agremiação de Lula e Dilma ao nível de dezembro de 1998. Na pesquisa seguinte, de fevereiro de 1999, pela primeira vez o PT conquistaria mais adeptos do que o PMDB (15% a 12%).

Beneficiando-se da perda de popularidade do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) no segundo mandato, o PT consolidou-se como oposição e logo seria o único a sempre ostentar dois dígitos nos levantamentos sobre opção partidária.

Esse patrimônio, que parecia bastante sólido após ter resistido ao mensalão, dá sinais de que vai ruir. O fracasso na economia e a percepção do estelionato eleitoral, aliados aos bilionários desvios na Petrobras, levam cada vez menos gente a se identificar com o Partido dos Trabalhadores.

Após 12 anos no poder, a agremiação caminha para se igualar às demais também na baixíssima capacidade de representar o eleitor --hoje, 71% dos brasileiros não têm legenda de preferência, um recorde nas medições do Datafolha.

Na nossa democracia, a classe política mostra-se cada vez mais disposta a agir em nome dos próprios interesses, e não surpreende que a maior apreensão dos líderes petistas neste momento seja com a imagem e a história; simplesmente não lhes ocorre que deveriam se preocupar antes com as atitudes de seus correligionários.

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