domingo, 22 de fevereiro de 2015

Dilma tenta conter rebelião da base aliada no Congresso

• Governo pode apressar divisão de cargos no segundo escalão dos ministérios

• Propostas que ameaçam ajuste fiscal e expectativa criada por ações contra políticos aumentam tensão

Márcio Falcão, Gabriela Guerreiro – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff e seus assessores preparam uma ofensiva para tentar controlar ameaças de rebelião em sua base aliada no Congresso, onde as resistências ao Palácio do Planalto atingiram o nível mais preocupante desde que Dilma assumiu o governo, em 2011.

A ideia da equipe da presidente é usar as votações previstas na Câmara e no Senado nesta semana para calcular o real tamanho da base governista e mostrar a disposição do Planalto de atender demandas e ampliar o diálogo.

A principal preocupação do governo é que ganhem fôlego projetos com forte apelo social, mas que tragam um grande impacto financeiro.

Há ameaça de derrubada de vetos de Dilma que afetam diretamente o caixa do governo, como o que rejeitou a redução para 6% das alíquotas da contribuição previdenciária tanto para patrões como para empregados domésticos. A medida reduz a arrecadação do governo em cerca de R$ 600 milhões por ano.

Outro temor é que os congressistas mantenham a correção de 6,5% na tabela do Imposto de Renda, com impacto nas contas públicas de R$ 7,9 bilhões em 2015. Dilma defende o índice de 4,5%.

Também está prevista para esta semana a instalação de uma nova CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a Petrobras. Governistas se mobilizam para tirar do PT a relatoria da CPI, que tem poder para influenciar o andamento da investigação e proteger o governo.

A expectativa de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentará à Justiça nos próximos dias os nomes dos políticos que serão investigados por suspeita de ligação com o esquema de corrupção aumentará a tensão.

Principal aliado da presidente, o PMDB tem criado dificuldades na Câmara e no Senado. Além do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que comandou derrotas impostas por deputados nas primeiras semanas de atividade da Casa, peemedebistas avisaram que estão dispostos a garantir correção maior do Imposto de Renda.

No Senado, as articulações do PMDB também deixam o governo em alerta. O partido tem se recusado a indicar um nome para a liderança do governo. O gesto foi interpretado como um recado de que a interlocução na Casa poderá ficar mais difícil neste ano.

O governo programou encontros dos principais ministros com os congressistas nesta semana. Os ministros da área econômica farão um apelo pela preservação da essência do pacote de ajuste fiscal, que restringe benefícios trabalhistas e previdenciárias em busca de uma economia de R$ 18 bilhões neste ano.

Ministros do núcleo político do governo vão procurar líderes do PMDB para tentar reaproximação. Ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o apelo será para evitar a sessão para análise dos vetos presidenciais.

Auxiliares de Dilma deverão procurar ministros para que pressionem as bancadas de seus partidos e garantam apoio mas votações. O governo também pensa em apressar a divisão de cargos do segundo escalão nos ministérios e nas empresas estatais.

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