terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Celso Ming - Paralisia

• A percepção geral é a de que a presidente Dilma está atordoada com a perda de força da economia. E, sem rumo claro, o investimento não deslancha

- O Estado de S. Paulo

Em reunião realizada nesta segunda-feira em Istambul, perante autoridades do Grupo dos 20, o Banco Central anunciou um programa destinado a recuperar o investimento no Brasil, que vem caindo assustadoramente (veja o gráfico) e deve cair ainda mais este ano.

A percepção geral é a de que a presidente Dilma está atordoada com a perda de força da economia. E, sem rumo claro, o investimento não deslancha.

Está pintando evolução negativa do PIB em 2015. A inflação vai disparando para acima do teto da meta. O rombo fiscal é muito maior do que o esperado e crescem dúvidas sobre se o ministro Joaquim Levy conseguirá entregar o superávit primário de 1,2% do PIB (R$ 66,3 bilhões) prometido para 2015. As contas externas podem melhorar, mas ninguém garante isso.

A presidente Dilma esperava assumir seu segundo mandato com forte exibição de capital político, mas também aí está dando o contrário. Na área econômica, uma das principais vítimas tende a ser o investimento. E é sobre isso que convém fazer uma avaliação.

O governo aponta para as estatísticas sobre o afluxo de capitais de longo prazo (Investimento Estrangeiro Direto – IED), que chegou a US$ 62,5 bilhões no ano passado, e quer convencer a todos de que está sobrando confiança. Nota-se, também, certa movimentação de investidores chineses, de olho nas matérias-primas e no mercado interno. Mas isso é pouco.

O momento é declaradamente de ajuste da economia. Maiores restrições fiscais e monetárias (alta dos juros) devem provocar ou forte contração do setor produtivo ou alguma recessão, o que desestimula a ampliação dos negócios. O mercado financeiro vem avisando que as operações de crédito serão contidas porque as famílias e as empresas já estão endividadas demais. É fator que freia os negócios. 

O fim das desonerações e dos incentivos fiscais, o aumento da carga tributária e a inflação elevada devem moer o poder aquisitivo. A perspectiva de desaceleração do consumo, por sua vez, deve levar as empresas a atitudes mais conservadoras, à espera da virada.

Paralisadas pela Operação Lava Jato, as empreiteiras vêm reduzindo seu ritmo. As restrições de caixa obrigaram a Petrobrás a parar as obras de três refinarias (Premium 1, Premium 2 e segundo trem da Abreu e Lima) e a rever para baixo seu Plano de Negócios. É movimento que deverá levar milhares de fornecedores a puxar os freios.

Além do déficit geral de confiança, a indústria de transformação enfrenta mais duas sérias incertezas: sobre os suprimentos de energia elétrica e de água tratada. São fatores que tendem a adiar projetos de expansão. A baixa oferta de mão de obra, especialmente da qualificada, é outro dado da equação que estimula mais a espera do que a iniciativa. Talvez ajude a destravar projetos na área de Tecnologia da Informação, que aumenta a produtividade e também poupa mão de obra. Mas isso há de se ver.

Está mais do que na hora de lançar um programa de investimentos. Mas, como outros antes dele, só terá sucesso depois que os fundamentos da economia forem reforçados e a confiança tiver sido resgatada.

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