terça-feira, 11 de novembro de 2014

Luiz Carlos Azedo - Ministro pra chamar de meu

• Quem deseja grandes mudanças na economia pode esperar sentado. O segundo mandato será mesmo de continuidade

- Correio Braziliense

Uma das coberturas pós-eleitorais mais neuróticas que existe é o bastidor da montagem do novo governo. Todo mundo planta informações sobre os escolhidos, num jogo de pressões que envolve as forças interessadas em ocupar posições estratégicas na Esplanada dos Ministérios. Neste momento, a escolha mais importante, como se sabe, é a do ministro da Fazenda. O cargo é a joia da coroa porque define, digamos, o verdadeiro caráter do governo.

A presidente Dilma Rousseff viajou para a reunião do G20 — as velhas potências mundiais mais os países emergentes — com a promessa de anunciar o sucessor de Guido Mantega quando voltar da Austrália. Para o mercado, já passou da hora de escolher o novo ministro, uma vez que a economia está parada e os investidores aguardam uma indicação do rumo que a petista pretende tomar no segundo mandato.

O nome de novo ministro funcionará como uma espécie de biruta de aeroporto, que aponta a direção do vento. Três nomes foram apontados, a partir de uma conversa, que realmente houve, entre Dilma e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva: os do presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco; do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles; e do ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Nelson Barbosa. Nenhum deles foi convidado, até agora.

Trabuco dificilmente será indicado para o cargo, diante do vazamento de seu nome, porque isso seria considerado uma completa rendição de Dilma ao mercado financeiro. Executivo apontado como sucessor natural de Lázaro Brandão no Conselho de Administração do Bradesco, ele, porém, não teria como recusar um convite da presidente da República sem deixar a instituição que dirige numa saia justa.

Dilma já se encarregou de descartar essa possibilidade quando disse que recebeu um telefonema do executivo depois da eleição para as congratulações de praxe pela eleição, mas não o convidou para o cargo. Fosse Tancredo Neves ou Getúlio Vargas, mandaria dizer que o convidou, mas o mesmo não aceitou.

Mais do mesmo
No círculo próximo do ex-presidente Lula, diz-se que a sugestão dele foi de que Dilma nomeasse Meirelles para a Fazenda e Barbosa para o Planejamento. Faz todo sentido, uma vez que o petista foi o oráculo das insatisfações dos empresários com a política econômica atual e da própria forma como Dilma se relaciona com eles. Meirelles está na muda pra não queimar o próprio filme; como essa solução tem boa aceitação no mercado, ironicamente, isso pode pesar contra ele.

O nome mais quente dos três é o de Nelson Barbosa, que deixou o Ministério da Fazenda por discordar das acrobacias fiscais do secretário do Tesouro, Arno Augustin. Seria uma maneira de agradar o ex-presidente Lula e manter a Fazenda num patamar de baixa autonomia em relação ao Palácio do Planalto, o que não aconteceria com Meirelles.

Pode ser que nenhum desses três nomes seja anunciado por Dilma, mas os sinais emitidos pela presidente da República são de que será alguém que cumpra as diretrizes sobre a economia, o que se encaixa no perfil de Barbosa, que não é homem do mercado, mas um quadro da alta burocracia da área econômica.

A viagem de Dilma à reunião do G20, nesse aspecto, tem muito a ver com isso. Ela vai prospectar os rumos da economia mundial, ouvindo os principais protagonistas — Barack Obama, dos EUA, e Angela Merkel, da Alemanha, principalmente. Mas a China, de Wen Jiabao, e a Rússia, de Vladimir Putin, também contam muito nesse jogo, pois são grandes parceiros comerciais do Brasil.

O horizonte que descortinar na viagem servirá de parâmetro para o ajuste que pretende fazer nas contas públicas. Discípula da professora Maria da Conceição Tavares, como o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, seu principal interlocutor político, Dilma tem afirmado, nas entrevistas, que vai proteger os empregos e fazer ajustes na economia, o que significa manter a inflação longe da meta de 4,5% e raspando o teto, que é de 6,5%. Ou seja, quem deseja grandes mudanças na economia pode esperar sentado. O segundo mandato será mesmo de continuidade.

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