terça-feira, 28 de outubro de 2014

Míriam Leitão - A hora dos sinais

- O Globo

Há uma lista de tarefas a fazer para melhorar o clima econômico desde já e abreviar o tempo da incerteza que tem feito muito mal à economia brasileira. O governo precisa anunciar nomes da composição da equipe econômica, nova diretriz e correções de rumo. Ninguém, evidentemente, votou pela continuidade da estagnação com inflação, mas com esperança de que isso possa ser mudado.

A ação da Petrobras despencou ontem por razões óbvias. A empresa está enfrentando ataques em dois flancos: de um lado, uma política de preços que a levou a ficar descapitalizada e com alto endividamento; de outro, um escândalo de proporções oceânicas. As denúncias feitas pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef mostram, além dos crimes em si, um gravíssimo problema de governança e de perda de rentabilidade. Se em cada negócio, cada lote de tubos e conexões, cada refinaria, cada importação, fretamento de navio, havia sobrepreço para pagar o "comissionamento aos agentes políticos" - como Youssef relatou -, tudo fica mais caro. Em alguns casos, como se viu, os preços são proibitivos. A Petrobras perde competitividade em relação às outras empresas do mundo no setor. Por melhor que seja a companhia, ela fica sob suspeição dos investidores se seu acionista controlador não demonstrar que sabe como tirá-la do fundo do poço.

O mercado acionário tem um comportamento conhecido. Com o preço da ação ficando muito baixo, aparecerão compradores e ela vai subir. Mas eles carregarão os papéis até o ponto de venda e a ação cairá de novo. É preciso restabelecer a confiança na governança da companhia. A ação da empresa ontem bateu em R$ 14,2. A maior cotação do ano havia sido R$ 24,9, em setembro, quando saiu a pesquisa com Marina Silva à frente. Houve altas que acompanharam as subidas de Aécio Neves. Em 2008, o papel valia R$ 41,2.

Em moeda local, a Petrobras já chegou ao valor de R$ 510 bilhões e hoje vale R$ 181 bilhões. Os grandes que entraram e saíram, vendendo na alta e comprando na baixa, lucraram com a desdita da companhia. Mas o pequeno ficou segurando a ação na mão.

A comparação com seus pares globais dá uma tristeza enorme. A Ecopetrol, estatal colombiana, que tem reservas bem menores - de 1,9 bilhão de barris contra 16,6 bilhões da brasileira - valia ontem US$ 57 bi, enquanto o valor da brasileira era US$ 72,8 bilhões. De acordo com o levantamento da corretora Mirae, a Exxon vale US$ 399 bilhões; a Shell, US$ 277 bilhões; a Chevron, US$ 218 bilhões. Qualquer que seja a medida, a maior empresa brasileira, cuja ação mergulhou ontem de novo, está com valor muito abaixo do que deveria.

Em relação à economia em geral, há uma queda generalizada dos índices de confiança do empresário. Eles vêm caindo há muito tempo. É preciso atuar nesse ponto. Se o governo der horizonte para as empresas - e não apenas um novo pacote de benefícios localizados e temporários - a confiança pode começar a ser restabelecida, aumentando a chance de mais investimento. O problema é que os sinais são de mais um pacotezinho de ajuda a empresário. Ontem, alguns estavam sendo chamados a Brasília.

Há uma chance de o segundo mandato ser melhor do que o primeiro na economia, até porque a base de comparação será baixa. O crescimento médio anual não deve superar 1,6% no primeiro mandato de Dilma. E a inflação ficou o tempo todo roçando o teto da meta. Mas essa melhora não virá por inércia. Terá que ser construída e quanto mais cedo o governo agir, melhor.

O Tesouro terá que pedir ao Congresso, nos próximos dias, para diminuir a meta fiscal porque não vai cumpri-la. Adianta pouco jogar palavras ao vento como se ainda se estivesse no palanque. Ninguém se convence com declarações como a do ministro Guido Mantega ontem de que a meta fiscal do ano que vem será maior do que a de 2014. Menor não poderia ser, porque hoje na prática nem superávit primário há nos oito meses terminados em agosto.

Com a força que recebeu das urnas, é hora de a presidente dizer como pretende fazer a economia sair da lamentável situação em que está. A demanda é por otimismo, mas é preciso que a presidente demonstre que se cercará de uma equipe capaz de corrigir os rumos e retomar o crescimento.

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