terça-feira, 23 de setembro de 2014

Eliane Cantanhêde: Silêncio ensurdecedor

- Folha de S. Paulo

Com esse papo de direita e esquerda, o PT conseguiu esconder uma triste realidade dos governos Lula e Dilma: os movimentos sociais sumiram. E como fazem falta!

A UNE virou puxa-saco do poder. A CUT nunca ficou tão fora dos microfones. O MST está esperando sentado a alternância no governo para voltar a infernizar.

A Petrobras é dilapidada e não se ouve um só grito de estudantes e de sindicatos. O silêncio é ensurdecedor. Se há pressão, é das redes sociais e do novato movimento dos Sem-Teto, que passa ao largo de partidos e polarizações e agita a cena social.

E, já que o próximo domingo é o dia latino-americano de defesa do aborto seguro: até os avanços pela descriminalização, para proteger milhares de mulheres pobres por ano, estão congelados.

Os movimentos feministas eram nervosos e provocativos em aliança com o PT. Bastou Lula botar o pé na rampa do Planalto para amortecê-los. E nem com a posse da primeira mulher na Presidência retomaram o rumo.

Dilma nomeou para a Secretaria da Mulher Eleonora Menicucci, de longas batalhas feministas, de corajosa defesa do direito da mulher sobre seu corpo. Eleonora assumiu e virou mais uma figurante no poder.

Saudade do PT na oposição, das forças vivas, da pressão legítima, da indignação produtiva. Saudade de jovens críticos, não cooptáveis.

Foi por esse vácuo de representação, e não só da partidária, que milhões foram às ruas em junho de 2013. Por direitos, contra a pasmaceira. Os vândalos acabaram com a brincadeira e lá ficamos nós sem UNE, sem CUT, sem MST e sem as manifestações de junho, dependendo só da imprensa para incomodar os poderosos de plantão, questionar dados e versões, pressionar por avanços, exigir de volta a nossa Petrobras.

É hora de lembrar que governo é governo, imprensa é imprensa, movimentos sociais são movimentos sociais. Na democracia, "cada macaco no seu galho".

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