quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Governo terá pouco espaço para estimular a economia

O governo não terá muito espaço para estimular a economia em 2014. Segundo economistas, essa situação ocorre por vários motivos: a inflação está próxima do teto da meta e o governo já usou artifícios para controlá-la, como segurar o reajuste dos combustíveis. Mudanças na economia dos EUA podem pressionar mais o câmbio e as agências de classificação de risco estão de olho no déficit das contas públicas brasileiras.

Em ano de eleição, governo terá pouco espaço para estimular a economia

Luiz Guilherme Gerhélli

O governo terá de lidar com diversas amarras em 2014, o que dará pouco espaço para estimular a economia brasileira. A expectativa é que o padrão econômico do País dos últimos anos se repita com baixo crescimento e inflação elevada.

Se o governo decidir por exemplo, aumentar os gastos para estimular a economia, a situação fiscal tende a piorar ainda mais, e aumenta o risco de o Brasil ser rebaixado pelas agências de risco num ano de disputa eleitoral - em junho, a agência Standard & Poor"s colocou a perspectiva de rating brasileiro de estável para negativo.

"O desejo do governo seria o de colocar o pé no acelerador porque 2014 é um ano eleitoral Mas existe uma restrição dada pelas agências de risco", afirma Juan Jensen, economista e sócio da Tendências Consultoria. A estimativa para 2014 é que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 2,1% e inflação, medida pelo IPCA, fique em 6%.

A inflação, em particular, também tende a ser um incômodo neste ano por causa da pressão dos preços administrados. Em 2013, esse grupo foi beneficiado pelo congelamento das tarifas dos transportes e pelo baixo reajuste do combustível. Assim, os administrados devem subir apenas 1,5% em 2013, nível considerado baixo e que não deve se repetir em 2014.

"A economia está tão amarrada que desamarrá-la não vai ser fácil. A inflação reprimida está muito alta e, se o governo liberá-la, o BC terá de subir os juros para impedir um patamar mais alto da inflação", afirma Armando Castelar, coordenador da área de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). Novas altas da taxa básica juros (Selic) podem esfriar ainda mais a economia brasileira. A expectativa do íbre é que o PIB cresça 1,8% em 2014, e a inflação fique em 6,1%.

O controle inflacionário também deve ser dificultado pela normatização da política monetária dos Estados Unidos, o que trará mais pressão para o câmbio - com a desvalorização do real - e um possível repasse para os preços. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) iniciou em dezembro a retirada dos estímulos da economia. Reduziu as compras mensais de ativos de US$ 85 bilhões para US$ 75 bilhões.

"O fim dos estímulos nos Estados Unidos diminui a liquidez internacional e complica um pouco o mercado brasileiro", afirma Jensen. Para ele, o BC está se aproximando do fim do ciclo de aumento da taxa básica de juros (Selic). Desde abril, os juros subiram de 7,25% ao ano para 10% ao ano.

Para especialistas, o governo também terá de trabalhar parra reduzir os desequilíbrios econômicos apresentados em 2013. Indicadores ruins levaram a uma piora da percepção sobre o Brasil, sobretudo desde o fim de outubro, quando foi divulgado o déficit de R$ 9 bilhões nas contas públicas de setembro. A queda de 0,5% no PIB do terceiro trimestre também piorou o cenário.

O problema é que o governo quer evitar ajustes que possam prejudicar o crescimento da economia em 2014, por causa da eleição. "Em 2015, o Brasil vai ter de fazer alguns ajustes na política econômica, independentemente de quem vença as eleições. Hoje, há incerteza da magnitude desse ajuste", diz o sócio da Tendências.

Para Castelar, as consequência de um eventual ajuste seriam redução no reajuste do salário mínimo e alta 110 desemprego. "Acho que o governo não quer tocar demais no bem-estar da população. O custo é tão grande que o governo deve empurrar com a barriga", diz. Embora afirme que o ajuste terá de ser feito algum dia, o economista acredita que as reservas internacionais podem ajudar a adiar mudanças pouco populares.

Bancos dizem que eleição reforçará cenário instável
A eleição deste ano deverá ser mais um elemento para turvar o cenário econômico do Brasil. Para saber como deve se comportar a economia em 2014. O "Estado" ouviu bancos que se destacaram no Ranking Broadcast Projeções Top 10 Geral, elaborado pelo AE Projeções, da "Agência Estado".

Na avaliação do economista-chefe do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, o investimento vai sofrer. Deve passar dos 5,5% registrados em 2013 para uma pequena alta de 0,5% em 2014. "O investimento tende a crescer menos por vários fatores: aperto monetário, a percepção do lado real da economia que o Brasil tem uma política mais intervencionista e o quadro eleitoral", disse Carvalho.

A projeção do BNP Paribas é que 0 País poderá ter um crescimento de 1,5% e que a inflação oficial pode chegar a 6,5%.

O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, também projeta uma redução do "ímpeto do investimento". "O primeiro ponto (para retomar a confiança) seria reforçar o tripé macroeconômico: uma política fiscal com meta crível, uma política monetária que persiga o centro da meta inflacionária e uma taxa de câmbio que seja flutuante", afirmou.

O Banco Fibra também prevê um 2014 marcado por uma piora no perfil da economia. Estima que o País vai crescer 1,5% e que inflação atinja os 0,3%.

O desejo seria colocar o pé no acelerador porque 2014 é um ano eleitoral Mas existe uma restrição dada pelas agências de risco.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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