quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Show para o doutor Ulysses

Após 18 anos sem se apresentar juntos, Caetano e Gil fazem, em Brasília, homenagem ao parlamentar no mês em que sua morte completa duas décadas

Plínio Fraga

Um encontro de poucos minutos no aeroporto foi a experiência direta, e em momentos diferentes, que Caetano Veloso e Gilberto Gil tiveram com o deputado Ulysses Guimarães, cuja morte completou 20 anos neste mês. Mas Gil e Caetano desdobraram esses rápidos momentos num show de uma hora e 15 minutos, na última terça-feira, em Brasília, para saudar a memória do líder peemedebista em 21 canções.

Caetano e Gil se disseram honrados de homenagear Ulysses. Fizeram o público rir ao recordar as vezes em que se encontraram pessoalmente com o parlamentar pela simplicidade do momento.

- Eu estava em Congonhas vindo do Rio, e ele vinha de Brasília. Estávamos na fila do táxi, perto das seis da tarde, no inverno de São Paulo. Ainda não havíamos nos falado e paramos lado a lado. Ele me olhou e disse: "Gillllberto, está frio hoje" - imitou Gil o sotaque apaulistado de Ulysses.

Música inspiradora

Caetano aproveitou a deixa e relembrou seu único encontro.

- No meu caso, a única vez que vi doutor Ulysses foi no aeroporto de Salvador - disse, ouvindo alguém da plateia completar para riso geral: -Mas estava quente!

Caetano cantou "Os argonautas" e explicou que compôs a canção a pedido da irmã, Maria Bethânia.

- É uma canção que foi importante para doutor Ulysses por mencionar uma frase da antiguidade clássica citada por Fernando Pessoa. Bethânia pediu que eu fizesse uma canção e incluísse a frase que a tinha impressionado: "Navegar é preciso, viver não é preciso".

- Eu fiz a canção, Bethânia gravou. Lendo os textos de Jorge Bastos Moreno (publicados no GLOBO), vi que doutor Ulysses se ligou a essa frase e a tinha em mente ligada à minha canção.

Após 18 anos sem se apresentar em conjunto, Caetano e Gil cantaram juntos seis das 21 canções do show: "Desde que o samba é samba", "Saudade da Bahia", "Panis et circensis", "Cajuína", "Soy loco por ti, America" e "Esotérico".

O espetáculo, em memória aos 20 anos da morte do deputado Ulysses Guimarães, reuniu cerca de 600 convidados no Teatro Unip, na Asa Sul. Estavam presentes políticos, ministros, atores e jornalistas, como os senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Eduardo Suplicy (PT-SP), os ministros Garibaldi Alves (Previdência) e Gastão Vieira (Turismo) e os atores Marcos Frota e Paula Burlamaqui.

Caetano elogiou a votação de seu candidato no Rio, Marcelo Freixo (PSOL), disse que era esperada a vitória de Eduardo Paes (PMDB) e comentou a eleição em São Paulo e em Salvador.

- Em São Paulo, acho que quero (Fenrnado) Haddad mesmo, que vai ganhar. A Bahia precisa mudar mais. São Paulo também é uma mudança. Na Bahia é complicado. Eu prefiro que ganhe o ACM (Neto). Se eu morasse lá... Passei a minha vida com problemas em votar em ACM, me opondo ao avô dele. Mas adoraria que ele concordasse comigo, que o nome do aeroporto de Salvador não deve ser o nome do tio dele. Eu odeio isso. Parece o livro de Diogo Mainardi sobre o Nordeste, "Polígono das Secas". Nome de ex-deputado que morreu em acidente bota em aeroporto. É cafona. Não representa a Bahia. Eu adorava o tio dele, era simpático, mas a ideia é péssima. Jacques Wagner devia ter tido peito de mudar. Jacques Wagner é sujeito simpático, gentil, legal, mas um pouco devagar.

Fonte: O Globo

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