domingo, 31 de outubro de 2010

Aonde a Dilma vai, o governo vai atrás

DEU EM O GLOBO

Máquina pública, tendo à frente o "comandante" Lula, esteve a serviço da campanha da petista nos últimos meses

Cristiane Jungblut

BRASÍLIA. A participação efetiva do presidente Lula, ministros de Estado e assessores do governo na maratona eleitoral para tentar eleger hoje a candidata do PT, Dilma Rousseff, foi uma das marcas mais fortes da campanha presidencial de 2010. Diferentemente de 2006, quando foi candidato à reeleição e fez uma campanha mais light, Lula se empenhou todos os dias dos últimos meses como o principal cabo eleitoral da candidata escolhida e imposta por ele. A máquina pública, acusam os adversários, esteve integralmente a serviço da candidatura Dilma.

O exemplo mais evidente da presença da máquina na campanha eleitoral dilmista foi a tática da agenda casada: eventos oficiais de governo ocorrendo nos mesmos dias, e poucas horas antes, que atos de campanha.

Somente em outubro, as agendas oficiais do presidente Lula registram em 12 dias a expressão compromisso privado, o codinome oficial para eventos de campanha, como comícios ou carreatas. Já no dia 5 de outubro, dois dias depois do primeiro turno sem vitória para Dilma, o presidente realizou, no Palácio Alvorada, sua residência oficial, uma grande reunião com governadores aliados eleitos no Palácio da Alvorada, residência oficial, onde admitiu o salto alto no primeiro turno.

Ministros também se incorporaram a campanha Não só Lula fez uso desse expediente semanalmente, mas também os ministros políticos, em especial o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha. Para o segundo turno, Padilha até licenciou-se do cargo para se dedicar integralmente à campanha de Dilma.

Para sustentar as agendas de Padilha pelo país, o governo inventou reuniões nos estados do chamado Conselhão, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Uma inovação, pois essas reuniões só aconteciam em Brasília antes da campanha.

Dois exemplos de gastos com diárias no serviço público dão uma mostra do tamanho da participação do Estado na campanha eleitoral. Segundo levantamento do site Contas Abertas, somente as diárias da Presidência da República somaram até o último dia 28 um total de R$ 9,05 milhões, dos R$ 12,98 milhões previstos (valor já atualizado) para 2010.

A Empresa Brasileira de Comunicação, cujas equipes têm que registrar todas as ações do presidente, seja em eventos oficiais ou em campanha, para registro histórico, já gastou quase a totalidade dos recursos disponíveis para esse tipo de despesa em 2010: dos R$ 2,92 milhões autorizados, usou R$ 2,79 milhões.

Sempre que questionado sobre sua atuação nesse período inaugurações de obras e visitas a canteiros também serviram como propaganda indireta para a candidatura governista , o próprio Lula argumenta que o governo não pode parar e que ele não abriria mão dessa função. Com esse comportamento, acabou virando modelo para seus ministros.

Embora tenha sido mais atuante, Padilha não foi o único.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, chegou a tirar férias no primeiro turno para se dedicar à campanha, com atenção especial à eleição da mulher, Gleisi Hoffman (PT), para o Senado no que foi bem-sucedido.

A verdadeira rede montada por Padilha na Secretaria de Relações Institucionais utilizou ainda outra agenda para badalar o governo pelos estados durante os três meses da campanha eleitoral: a do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Reuniões de dirigentes da Caixa Econômica Federal responsável por grande parte das obras do Eleições 2010 PAC com prefeitos e políticos locais foram marcadas em locais onde aconteceriam no mesmo dia eventos de campanha.

Além de ser o maior coordenador das agendas casadas, Padilha era também uma espécie de porta-voz da campanha dentro do governo e sempre escalado para dar entrevistas sobre a disputa eleitoral e ações correlatas no governo.

Outros nomes do governo estiveram presentes na campanha de Dilma. O coordenador principal do programa de Dilma, Marco Aurélio Garcia, iniciou a campanha ainda como assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, mas na reta final também pediu afastamento.

Petista histórica e assessora de confiança de Lula, Clara Ant saiu do governo junto com Dilma, no final de março, e é na campanha o principal elo entre Lula e a candidata.

Mas outros permaneceram com duplas funções. O chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, tem que conciliar suas responsabilidade de principal assessor do presidente com atividades de campanha, como ser o canal entre Dilma e a Igreja Católica.

No dia a dia, apesar das recomendações de cautela feitas pela Advocacia Geral da União, os ministros tiveram que se dividir entre eventos oficiais e de campanha.

Na semana retrasada, quando recebeu o apoio de parte do PV em hotel de Brasília, Dilma teve ao seu lado os ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência) e Márcio Fortes (Cidades), entre outros.

Devido à campanha eleitoral, algumas decisões do governo foram deixadas de lado. A apresentação do balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), geralmente realizada em outubro, ficou para novembro.

O PAC é uma das bandeiras da campanha de Dilma.

O governo adiou qualquer negociação sobre o valor do salário mínimo, principalmente depois que o candidato do PSDB, José Serra, propôs um mínimo de R$ 600. Nem mesmo os relatórios preliminares do Orçamento da União para 2011 foram apresentados no Congresso.

O líder do DEM na Câmara, deputado Paulo Bornhausen (SC), disse que Lula praticamente deixou o governo em segundo plano para se dedicar à campanha.

Nunca antes deste país houve o que aconteceu nestas eleições. Um dos setores derrotados foi a Justiça Eleitoral. Há dois anos, ele (Lula) vem abandonando o papel de presidente.

No segundo turno, houve um abandono de funções. Dele e de todos os ministros disse Bornhausen.

Os petistas e governistas sempre reagem às acusações com o argumento de que o presidente tem o direito, previsto em lei, de participar da campanha e que seus gastos são ressarcidos pelo PT. Além disso, o PT reclamou que governadores tucanos, como o reeleito Antonio Anastasia (MG), estariam privilegiando a campanha e não suas funções públicas.

O Anastasia, o único lugar a que ele não vai agora é o Palácio da Liberdade! retruca o vice-líder do governo no Congresso, deputado Gilmar Machado (PT-MG).

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