segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Frente a frente :: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

" O presidente Lula me deixou um legado, que é cuidar do povo brasileiro. Eu vou ser a mãe do povo brasileiro". (Dilma)

Marcado para a próxima quinta-feira nos estúdios da TV Bandeirantes, em São Paulo, o primeiro debate entre candidatos a presidente ocorrerá à sombra da mais recente pesquisa nacional de intenção de votos do Ibope, que conferiu a Dilma Rousseff cinco pontos de vantagem sobre José Serra. Não poderia haver para Serra situação mais delicada.

Este é o principal mantra da campanha de Serra: o melhor. Serra deseja ser visto pelos eleitores como o melhor candidato à vaga de Lula. Porque tem maior experiência administrativa. E também maior experiência política. O que esperar, pois, de quem se apresenta assim? No mínimo, que vença qualquer debate.

Antes da pesquisa Ibope, o Datafolha apontara um empate entre Serra e Dilma. O objetivo de Serra era mantê-lo até o início no próximo dia 17 da propaganda eleitoral no rádio e na TV. Poderia se dar ao luxo de ganhar por pontos o primeiro debate. Depois da pesquisa Ibope, terá de ganhá-lo com folga para tentar se reaproximar de Dilma.

O que isso significa? Que Serra terá de se arriscar mais. Ser claramente superior - sem, no entanto, esmagar Dilma para que as pessoas não sintam peninha dela. Em 1998, Cristovam Buarque, governador do Distrito Federal pelo PT e candidato à reeleição, esmagou Joaquim Roriz (PMDB) durante um debate. Acabou saindo dele derrotado.

Há meses que Dilma vem sendo treinada pelo marqueteiro João Santana e por outros conselheiros para atravessar o debate sem amargar graves escoriações. Falta carisma a Dilma - e a Serra também. Zero a zero. Serra, porém, tem uma larga folha corrida de debates - Dilma, não. Conhece todos os truques e macetes para vencê-los.

Dilma deu um jeito até aqui de escapar a confrontos diretos com Serra. Para isso valeu-se da surrada desculpa de que sua agenda estava sempre repleta de outros compromissos. Por fim concordou em participar de somente cinco debates - um deles via internet, os outros promovidos por emissoras de televisão.

Ao longo de uma campanha, o debate é a única ocasião onde o candidato - qualquer um deles - fica menos protegido. O treinamento é importante para que tenha um bom desempenho. Mas ele por si só não basta. Mário Covas, por exemplo, ex-governador de São Paulo, triturou em debate na TV Bandeirantes dois calejados adversários.

O primeiro foi Guilherme Afif Domingos. Covas e ele concorreram à presidência da República em 1989. Covas lembrou como Afif votara alguns temas cruciais na Assembléia Constituinte encerrada um ano antes. Tirou de cena o Afif simpático, bonzinho e liberal que se exibia nos programas de TV. Resgatou o Afif de direita.

O segundo foi Paulo Maluf. Covas, governador, foi candidato à reeleição em 1998. Maluf imaginava roubar-lhe o lugar. Covas fez do caráter de Maluf o tema central do debate. Foi impiedoso. Mas as pessoas não sentiram piedade de Maluf, que evitou retribuir as pancadas de Covas. Maluf perdeu o debate e a eleição.

O mais famoso debate da História entre candidatos a presidente se deu nos Estados Unidos em 1960 e reuniu John Kennedy e Richard Nixon. Quem assistiu pela televisão achou que Kennedy vencera. Quem ouviu o debate no rádio achou que o vencedor fora Nixon. Kennedy se elegeu por escassos votos. E votos negociados com a Máfia.

Quem ganha debates não se elege necessariamente. É difícil, contudo, que um candidato se eleja tendo perdido todos os debates. Só perde de verdade quem derrapa feio. Na maioria das eleições, o primeiro debate costuma ser o mais importante. Em eleições acirradas, o debate mais importante é o último.

Lula teve tudo a seu favor para liquidar a eleição de 2006 no primeiro turno. Aí preferiu faltar ao último debate. Quando soube que disputaria o segundo turno, encolerizou-se e quebrou um copo. A inexperiente Dilma não repetirá o erro. E que ninguém se surpreenda se ela surpreender Serra debatendo com ele de igual para igual.

2 comentários:

Diego Corte disse...

Olá, Gilvan

Já faz um tempo que não lhe faço uma visita, né!? É que ando um pouco azafamado.

Sobre este post: Acredito que os debates não elejam um candidato, mas ajuda muito. É nos debates que se percebe o quanto os candidatos estão seguros do que pretendem apresentar como caminho a direcionar o país. Acho que, por mais que esteja treinado para este momento, o candidato vacila quando dá não efetiva importância/resolução/legalidade de sua posição.


Forte abraço, Gilvan

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Anônimo disse...

se o debate for igual o que o Serra e seus aliados vem fazendo uma perfeita baixaria - achando que o povo é palhaço, eu desligo a televisão e não ligo mais para nenhum mais debate e voto na canditada Dilma