domingo, 8 de agosto de 2010

Debate sem debate:: Eliane Cantanhêde

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - José Serra, Dilma Rousseff e Marina Silva deveriam acender uma vela à TV Globo, que transmitiu a emocionante semifinal da Copa Libertadores no mesmo horário do insosso primeiro debate dos presidenciáveis na Band. O jogo teve 32 pontos no Ibope, enquanto o debate ficou em míseros 2,9. Sorte dos debatedores.

Entre mortos e feridos, ninguém se salvou -a exceção foi Plínio de Arruda Sampaio, porque investiu bem e tudo o que viesse seria lucro. Ele estava visivelmente se divertindo, enquanto os outros mal conseguiam se mover dentro do gesso imposto por pesquisas, marqueteiros, conveniências.

Serra ficou divagando sobre programinhas e não provocou o confronto. Dilma estreou a arriscada estratégia de se livrar da sombra de Lula e ganhar contornos próprios. Marina foi Marina, comovente ao falar da própria biografia, mas não convincente para governar o país. Naquele trio, ninguém tinha a ganhar com ibope alto, a não ser constrangimento.O fiasco de público escamoteou o fiasco de desempenho.

Mas, se ninguém ganhou, alguém ganhou. Explica-se: o empate técnico cristaliza a eleição como está. É ruim para Serra e Marina, mas é bom para Dilma. Eles precisam fazer gol. Ela só precisa não levar. O time e o tempo a mais de propaganda gratuita fazem o resto.

A comparação mais gritante foi com o charme intelectual de Fernando Henrique, o carisma e empatia de Lula e o talento de Mário Covas -que, numa pernada, desestabilizou a ascensão de Guilherme Afif Domingos em 1989. Nenhum dos dois nem chegou ao segundo turno, é verdade, mas Covas entrou para a história dos debates.

Sem FHC, sem Lula, sem tipos como Covas e sem confronto de ideias e de qualificação, para quê debate? Mais valem os 50 segundos diários no "Jornal Nacional" do que mil debates sem debate.

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