quinta-feira, 17 de junho de 2010

Marina. Nova dissidência do PT troca radicalismo de 2006 por modernidade

Jarbas de Holanda
Jornalista

É reduzida, senão pouco provável, a possibilidade de que a senadora Marina Silva, como candidata do pequeno PV dispondo de tempo muito limitado na decisiva propaganda “gratuita” de TV e rádio, consiga evitar a polarização – ou o plebiscito na expressão de seu gosto – entre Dilma Rousseff e José Serra, no primeiro turno da disputa presidencial. Sem o quê ela deverá receber votação bem aquém da ampla simpatia que está despertando nas camadas médias, nos chamados formadores de opinião e até em segmentos do empresariado, bem como do espaço significativo, e basicamente favorável, que tem ocupado na mídia.

Estas respostas sociais decorrem das posturas assumidas por sua candidatura. Da proposta de um ambientalismo articulado com o crescimento da economia, e não ideologizado e contraposto a ele. da defesa do equilíbrio macroeconômico, das metas de inflação, da responsabilidade fiscal e do câmbio flutuante, com o apoio à autonomia do Banco Central. Da cobrança de uma reforma da Previdência baseada na transição do regime atual para o de capitalização. Da exigência do respeito aos direitos humanos e ao pluralismo democrático na política externa do país, com a condenação a práticas violentas e autoritárias dos governos da Venezuela, de Cuba, do Irã. De uma avaliação positiva dos papéis dos governos de FHC e Lula para a estabilidade da economia e a consolidação democrática. Do tratamento respeitoso aos adversários Serra e Dilma, com a rejeição de agressões políticas e pessoais na campanha eleitoral.

Por tais posturas, e com a escolha para companheiro de chapa de um empresário bem sucedido – Guilherme Leal, da Natura -, opção que implicou a ruptura do PSOL, sua candidatura ganhou consistência e respeitabilidade, distinguindo-se por inteiro da de outra dissidente, a primeira, do PT – a de Heloísa Helena, em 2006. Que se caracterizava pela retórica antimercado, pela exacerbação dos conflitos entre capital e trabalho e pela extrema agressividade contra os principais concorrentes. E que, ao cabo, com uma votação de 7%, reteve apenas parte do eleitorado jovem, cujo voto de protesto, não ideológico, foi contabilizado, com óbvia manipulação, como apoio ao extremismo da campanha da candidata do PSOL.

Um fator certamente importante para o ganho de credibilidade da candidatura de Marina Silva foi o estreitamento da relação entre ela, após a saída do governo Lula, e o deputado Fernando Gabeira, principal liderança do PV fluminense, amadurecido por longo processo de superação de utopias socializantes e esquerdistas, que lhe propiciou desvincular, realisticamente, o ambientalismo dessas utopias. Caminhando também nessa direção, Marina Silva está logrando antecipar a temática de um ambientalismo moderno, no debate político e eleitoral deste ano. Abrindo caminho para uma expressiva terceira via em futuras disputas presidenciais. Ademais de, na deste ano, com uma votação provável em torno de 10%, poder cumprir um papel significativo; o de forçar o 2º turno entre os concorrentes governista e oposicionista.

Venezuela aprofunda o autoritarismo e a democracia se fortalece na Colômbia

Os dois países ocuparam ontem bom espaço na mídia brasileira e internacional com as repercussões de fatos que ampliam os contrastes entre os processos econômicos e políticos que vivem.

Ao primeiro, a Folha dedicou a manchete “Chávez intervém em banco ligado a TV”, em reportagem com a seguinte abertura: “O governo da Venezuela interveio ontem, no Banco Federal, cujo presidente é acionista do canal Globovisión, crítico ferrenho de Hugo Chávez”. E o Estadão destacou a reação do governo norte-americano à nova ofensiva da chavismo contra a imprensa: “EUA criticam Chávez por ordem de prisão contra dono de TV”, seguindo-se o lead da matéria: “Para departamento de Estado, esse é o mais recente exemplo dos ataques do governo da Venezuela à liberdade de expressão”.

Já na Colômbia, a perspectiva de normalidade do fechamento do pleito presidencial (domingo próximo) foi reforçada por nova vitória do governo de Álvaro Uribe contra as Farc e suas ameaças de atentados contra o processo eleitoral. Manchete do Estadão sobre o tema: “Desertor das Farc levou o Exército até cativeiro para resgate dos reféns” (quatro militares que estavam seqüestrados havia mais de dez anos). Enquanto a Folha destacou os efeitos políticos eleitorais: “Uribe contabiliza o resgate de 4 reféns dias antes do 2º turno”. No qual o candidato governista, o ex-ministro da Defesa Juan Manuel Santos, que já com 65% das intenções de votos, concorre contra o oposicionista (mas também anti-Farc) Antanas Mockus.

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