sexta-feira, 28 de maio de 2010

Hillary vê risco para o mundo no acordo Brasil/Irã

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, disse que a Casa Branca tem "discordâncias muito sérias" com o Brasil em relação ao Irã, informa Andréa Murta.

Foi a maior demonstração pública de contrariedade dos EUA desde que Brasília anunciou o acordo com Teerã, na semana passada.

Para Hillary, a atuação do Brasil no caso "ajuda o Irã a ganhar tempo e evita uma posição internacional unânime", o que, diz ela, "torna o mundo mais perigoso".

Como a Folha revelou ontem, o acordo para troca de urânio seguiu roteiro sugerido pelo presidente Barack Obama em carta a Lula.
No Brasil, o premiê turco, Recep Tayyp Erdogan, que participou das negociações do acordo, chamou os críticos de"invejosos".

Hillary vê discordância séria com Brasil

Para americana, acordo entre Brasília e Teerã só ajuda o Irã a ganhar tempo e torna o mundo mais perigoso

Secretária de Estado dos EUA afirma já ter feito ao governo brasileiro alerta de que o país está sendo usado pelo Irã

Andrea Murta

WASHINGTON - Na maior exposição pública de contrariedade dos EUA com o Brasil desde o anúncio do acordo entre Brasília e Teerã no início da semana passada, a secretária de Estado dos EUA disse ontem que Washington tem "discordâncias muito sérias" com o governo brasileiro quanto à abordagem da questão.

Hillary falava em Washington sobre a nova Estratégia de Segurança Nacional da Casa Branca quando foi indagada se o Brasil passou a ser considerado pelos EUA como "parte do problema" -especialmente após a insistência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em tentar evitar sanções a Teerã por seu programa nuclear.

"Certamente temos discordâncias muito sérias com a diplomacia brasileira em relação ao Irã.

Dissemos ao presidente Lula e ao ministro [Celso] Amorim [Relações Exteriores] que ajudar o Irã a ganhar tempo e evitar uma posição internacional unânime contra seu programa nuclear torna o mundo mais perigoso", respondeu.

Como a Folha revelou ontem, o acordo que Brasil e Turquia fecharam com Teerã segue roteiro traçado pelo presidente dos EUA, Barack Obama, em carta enviada a Lula em abril.

Apesar de o Brasil seguir a receita dos EUA, porém, o pacto foi esnobado por Washington. No dia seguinte à sua divulgação, a Casa Branca apresentou ao Conselho de Segurança da ONU esboço de resolução com novas sanções ao Irã, referendado pelos demais membros permanentes do órgão (Rússia, China, França e Reino Unido).

Procurada pela Folha para explicar a mudança de posição, a Casa Branca disse que não comenta correspondência diplomática.

Hillary afirmou ontem ter dito ao governo brasileiro "que o Irã está usando vocês, que achamos que é hora de ir ao Conselho de Segurança e que só depois de ação [nesse fórum] o Irã se engajará de fato" na discussão sobre seu programa nuclear.

A secretária insistiu, porém, que a discordância "de forma alguma mina o compromisso dos EUA em ter o Brasil como parceiro efetivo neste hemisfério e além"."O Brasil é parte de solução; em um grande número de temas o Brasil é um parceiro responsável e eficaz."

Ela mencionou como exemplos positivos a atuação conjunta após o terremoto no Haiti, na ação relacionada à mudança climática e na relação comercial.

Em outro momento, Hillary também elogiou o Brasil por ter carga tributária alta em relação ao PIB, o que segundo ela favorece o desenvolvimento econômico.

DOCUMENTO

O texto da Estratégia de Segurança Nacional de Obama, divulgado ontem, menciona brevemente o país, sem considerá-lo porém um "centro-chave de influência".

Essa distinção foi reservada para os outros países do grupo dos Brics -China, Índia e Rússia.

O Brasil foi citado como "país de influência crescente", ao lado de África do Sul e Indonésia.

Em outro momento, o documento diz que os EUA "apreciam a liderança do Brasil e seu esforço para ir além das antigas divisões Norte-Sul" na abordagem de temas internacionais.

Por fim, o texto diz que os EUA trabalharão com o Brasil no G20 e na Rodada Doha.

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