quarta-feira, 14 de abril de 2010

Eleições, democracia e estabilidade:: Marcus Pestana*

Após 15 anos de estabilização da economia, com a democracia consolidada e um processo consistente de combate às desigualdades em curso, nos encontramos diante de eleições nacionais decisivas. O embate que se avizinha coloca novamente PSDB e PT no centro da cena. Não se trata de uma escolha qualquer, com consequências superficiais e diferenças cosméticas. As candidaturas Serra e Dilma abrem horizontes radicalmente diferentes. O PT, no governo, incorporou os fundamentos da política econômica tucana (câmbio flutuante, metas de inflação, austeridade fiscal, rigidez monetária). Cabe lembrar que esta estratégia não era consensual dentro do PT, e que Palocci e Meirelles enfrentaram dura oposição de setores que advogavam uma alternativa do tipo “mudar radicalmente tudo que aí estava”. A presença da capacidade negociadora e do pragmatismo de Lula foi decisiva para que o Brasil evitasse uma aventura e consolidasse a estabilidade combinada com aumentos reais na renda da população e a expansão do crédito. Embora a manutenção conjunta de altas taxas reais de juros com câmbio valorizado tenha colocado graves problemas para o horizonte de médio e longo prazo, o crescimento (ainda que a taxas medíocres se compararmos com os BRICs e com grande parte dos países da América Latina) foi sustentado pela expansão da renda interna e pelo desempenho das exportações de produtos primários e intermediários, que usufruíram de um cenário internacional extremamente favorável.

O pragmatismo e a capacidade de adaptação de Lula nos trouxeram a bom porto. Mas a hegemonia do lulismo não sepultou os velhos e aventureiros sonhos de um projeto radical de ruptura com o atual paradigma. Não é demais repetir: Lula é maior que o PT, e o PT não se esgota em Lula. Dilma, apesar de ter sua candidatura inventada e patrocinada por Lula, à revelia do PT, tem suas raízes fincadas na pior tradição de uma esquerda autoritária e descolada do mundo real, colocando-se mais próxima do petismo radical do que do lulismo. Com a vitória de Dilma estaria aberta a possibilidade da reedição tardia e anacrônica de um estatismo nacional-desenvolvimentista, o que colocaria o Brasil na contramão das tendências do mundo contemporâneo. Também no plano internacional, aventuras perigosas poderiam ocorrer no rumo do aprofundamento de alianças com países como Irã, Cuba e Venezuela, levando o país a um isolamento crescente.

Entregar a condução do país a uma atriz política como Dilma é dar um salto no escuro e colocar em risco as conquistas dos últimos 18 anos. Dilma não é Lula, e é aí que mora o perigo, visto que:

a. Dilma não tem experiência para orquestrar alianças complexas e heterogêneas como as necessárias, no Brasil, para garantir a governabilidade. Dilma não tem acúmulo de história pessoal para arbitrar e presidir o difícil jogo de interesses que convergem em direção ao governo central.

b. Dilma vem da esquerda foquista, que a partir da ortodoxia marxista-leninista, alimentou a visão infantil e autoritária, que meia dúzia de jovens destemidos e armados, poderia substituir a sociedade, em especial a classe operária, fazendo na base do voluntarismo a “revolução brasileira”. É bom lembrar que a esquerda independente, o Partido Comunista Brasileiro, a Ação Popular, somados a liberais e democratas, diante do mesmo quadro, optaram pela longa, difícil, complexa e trabalhosa luta pela redemocratização. Essa não é uma diferença qualquer. O voluntarismo, o autoritarismo, a visão instrumental da democracia e do Estado não foram superados por estes segmentos tão bem simbolizados por Dilma.

c. Dilma, para agravar o cenário, revela, a cada dia, traços pessoais de uma personalidade absolutamente autoritária. São dezenas de casos em que a Ministra tem comportamento inadequado e desrespeitoso com interlocutores, jornalistas e assessores, revelando uma diferença fundamental em relação a Lula, que consegue construir sua ação a partir de uma perspectiva mais aberta, negociadora, abordando a realidade através da linha de menor resistência.

d. Inexperiência, formação ideológica autoritária e atrasada, personalidade autocrática: eis aí uma combinação explosiva. Imaginemos uma líder com este perfil comandando um aparato de poder composto por estatais, fundos de pensão, contas de publicidade, OGU, agências reguladoras e os desejados instrumentos de “controle social”.

e. Além disso, poderíamos viver um chavismo tupiniquim modernizado, um “autoritarismo popular” como na Venezuela, já que CUT, MST, entre outras estruturas de organização e mobilização popular, certamente aprofundariam seu papel de aliados do projeto de poder e de ferramenta de intimidação e coação das oposições.


A alternância de poder é sempre positiva, no regime democrático. Em 2010, no Brasil, essa necessidade se coloca de forma dramática.

Nós, do PSDB, lançamos agora o nome de José Serra à Presidência da República. Serra tem uma bela história pessoal: ex-presidente da UNE, militante da democracia, intelectual respeitado, ex-secretário de planejamento do governo Montoro, parlamentar mais atuante no processo constituinte, o melhor ministro da saúde da história do País, prefeito da maior cidade e governador do maior Estado do Brasil. Experiência, capacidade de formulação estratégica, conhecimento profundo da realidade, determinação, talento gerencial, liderança política: todos esses elementos reunidos na ação testada e comprovada de José Serra.

O processo eleitoral está só começando. Muita coisa estará em jogo. As diferenças são profundas, as concepções opostas, os riscos e as oportunidades abertos por cada candidatura são separados por um abismo.

Em Minas, berço da liberdade e da democracia, estaremos atentos. Travaremos o bom combate em defesa dos nossos melhores valores e tradições. E o nome que encarna o espírito de Minas, nestas eleições, é o de José Serra. Com Serra, o Brasil, certamente, pode mais.

*Marcus Pestana é economista e deputado estadual (PSDB/MG)

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