segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Dança das cadeiras no cenário político

Ricardo Villa Verde
DEU EM O DIA

Mais de 20 parlamentares e suplentes iniciam troca-troca de partidos. Procuradora estuda se abre ação contra deputados que mudarem

Rio - Apesar da chamada janela, que permitiria políticos trocarem de partido um ano antes das eleições, não ter sido aprovada pelo Congresso, deputados estaduais e federais do Rio devem protagonizar uma farra de troca-troca partidário nesta semana. Mais de 20 parlamentares e suplentes vão mudar de legenda até sábado, dia 3, prazo final definido pelo calendário eleitoral para os que querem disputar as eleições de 2010 se filiarem a um partido.

Wagner Montes admite que recebeu convites de cinco partidos

A lista inclui o deputado estadual Wagner Montes, que vem despontando nas pesquisas para o governo estadual. Ele admite que pode deixar o PDT. “Recebi convites de cinco partidos”, afirma Wagner, que se reúne neste domingo com o presidente do PDT e ministro do Trabalho, Carlos Lupi, para discutir o assunto. Wagner quer que o PDT assuma sua candidatura a governador. “Que o PDT reconheça que tem candidato”, explica ele. Entre os que querem o pedetista está o PP.

O maior troca-troca vai acontecer na Assembleia Legislativa (Alerj). Além de Wagner Montes, outros 10 ocupantes de cadeiras na Casa, e pelo menos cinco suplentes, devem trocar de partido. O caso mais inusitado é o de André Lazaroni, ex-André do PV. Há cerca de dois meses, quando decidiu abandonar o PV, o deputado passou a utilizar o sobrenome de batismo, tirando a sigla partidária do nome pelo qual ficou conhecido desde o início da carreira. André deve ir para o PMDB.

A bancada peemedebista também deve ganhar reforço de Pedro Fernandes e Marcelino D’Almeida, que deixarão o DEM. O PSC, que já perdeu Tucalo para o PP, pode perder ainda Sabino para o PT e Coronel Jairo para o PMDB. Altineu Cortes, ex-PMDB e ex-PT, pode ir para o PR, do ex-governador Anthony Garotinho. Jorge Babu, ex-PT, também estaria analisando seguir Garotinho.

Na bancada federal, o ex-governador já atraiu Geraldo Pudim, que trocou o PMDB pelo PR , e ainda pode atrair Bernardo Ariston, também do PMDB.

O troca-troca vem sendo facilitado pela maioria das direções partidárias, que estão liberando os políticos para deixarem seus quadros. O entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) porém é de que os diretórios de partidos não têm competência para autorizar detentores de mandatos a deixarem seus quadros. A troca de legenda pode caracterizar infidelidade partidária e pode levar à perda do mandato. A procuradora regional eleitoral, Silvana Batini, disse que poderá entrar com ações contra deputados que trocarem de partido. “Vamos analisar caso a caso”, explicou a procuradora.

Disputa muito além dos gramados

O troca-troca na política também chegou ao Vasco da Gama, onde o ex-deputado federal Eurico Miranda (PP) e o presidente do clube, Roberto Dinamite (PMDB), deputado estadual e candidato à reeleição na Alerj, travam briga declarada.

Depois que Romário, antigo aliado de Eurico, trocou o PP pelo PSB, o ex-dirigente deu o troco, chamando Edmundo para ser candidato a deputado estadual. “Com certeza, ele vai tirar votos do Dinamite”, aposta o deputado estadual Dionísio Lins, do PP.

Envolvidos em questões judiciais — Romário com o fisco e pensão alimentícia, e Edmundo, condenado na primeira instância pela morte de três pessoas em acidente — os dois já foram presos. Para o advogado constitucionalista Ivan Ferreira, a imunidade parlamentar só vale no exercício do mandato. Parlamentares eleitos que forem condenados em última instância podem ser presos. “No caso do Edmundo, se a condenação for mantida, perde até o mandato se for eleito”, diz.

Distribuição, repulsa e sossega leão

Fábio Wanderley Reis
DEU NO VALOR ECONÔMICO


No domingo, 20 de setembro, Vinicius Torres Freire publicou um artigo curioso em sua coluna do caderno "Dinheiro" da "Folha de S. Paulo" ("Paz social: o povo é barato"). Avaliando os dados da Pnad do IBGE, Freire salienta, em contraste com certa excitação resultante de dados anteriores sobre a redução da desigualdade de renda, a "letargia" que seria agora produzida pela "mediocridade sustentável" que estaríamos experimentando ("a isto chegamos"...), consequência de um "pacto social" precário, "nada radical", na verdade um "sossega leão popular": "partidos políticos e movimentos sociais não se interessam em produzir mudança de monta - ou não têm motivos ou capacidade para tanto". E constata, desalentado, que os governos de FHC e Lula foram dos melhores da nossa história - "mesmo com seus defeitos repulsivos"...

Contraposta à desqualificação da política como tal que vemos frequentemente na imprensa, a perspectiva de Freire tem talvez a peculiaridade de que não se trata de apontar política corrupta, sem mais, mas de demandar desenvolvimento social: presumivelmente, um pacto social autêntico e apropriadamente radical. É revelador que Freire não deixe de pagar tributo a um moralismo antipolítico de alcance mais amplo: se se vai falar bem de governos recentes, "dos melhores de nossa história", é preciso advertir para seu lado "repulsivo", nada menos. Nas nossas condições gerais, há talvez algo de saudável em que esse moralismo ganhe um conteúdo especificamente social. Mas qual é mesmo o alcance da denúncia, o que é que se pretende por no lugar de governos repulsivos em que as coisas, bem ou mal (mediocremente), avançam e os avanços se tornam sustentáveis? Qual é mesmo o radicalismo que se deseja?

A indagação remete ao passado recente de um PT de retórica radical em que a expressão "socialdemocracia" era anátema (socialdemocracia que, naturalmente, sempre recebeu o mesmo tipo de crítica dos adeptos de um socialismo revolucionário). Ou permite lembrar que um programa como o Bolsa Família, de clara relevância nos avanços medíocres, foi, e ainda é, objeto de críticas ferozes, não obstante o processo político-eleitoral da democracia ter acabado por fazer dele algo dificil de remover da agenda de qualquer governo que venhamos a ter proximamente. Nessas condições, até que ponto, em vez de denunciar, não caberá festejar, com realismo e talvez certa dose de ironia amarga, a própria "mediocridade" que tanto desgosta a Freire?

Com um pequeno artifício, a perspectiva de Freire pode ser aproximada da visão elitista de nossas dificuldades atuais no campo das relações entre ética e política que as enxerga como decorrência da democratização da sociedade brasileira. Cento e trinta milhões de eleitores num país desigual significam peso político decisivo para os menos iguais e, supõe-se, correspondente deterioração intelectual e ética na qualidade da representação política. Mas, à parte as muitas fantasias sobre a qualidade intelectual e ética de nossa velha representação oligárquica, é clara a distorção envolvida em omitir, a propósito das nossas ruindades ético-políticas de hoje, a longa tradição de estado cartorial, clientelismo e quejandos que vicejava como parte da política oligárquica (e cujos mecanismos subsistem e moldam de muitas formas o presente) e destacar, ao revés, a democratização que solapa essa política. Naturalmente, avaliações como a de Vinicius Torres Freire reclamam avanços que se opõem ao elitismo; mas compartilham com a leitura elitista da democracia política em expansão e seus problemas a deficiência da desatenção para os pesados traços estruturais negativos do ponto de partida e os difíceis constrangimentos impostos ao jogo político como inevitável instrumento de avanços efetivos.

Felizmente, uma linha de trabalhos recentes no estudo da política, que alguns designam como "novo estruturalismo", vem retomando e refinando velhos postulados de maneira que se tem mostrado fecunda. Como apresentado sinteticamente em ensaio que aqui citei há tempos ("Democracy and Capitalism", de Torben Iversen), ela articula as variadas feições assumidas pelo próprio capitalismo como tal a subespécies de democracia e às interdependências e complementaridades institucionais em que se traduzem. A conformação do espaço de construção institucional aparece aí, em ampla medida, como dependente de condições estruturais "pré-estratégicas" (ou pré-políticas) e dos interesses que se associam com elas. Achados particulares de especial relevância para as verificações da Pnad e as insatisfação ao estilo de Vinicius Torres Freire dizem respeito ao papel da classe média e de sua eventual expansão. Constata-se, na síntese de Iversen, que o grau de desigualdade e o tamanho da classe média moldam de maneira poderosa os incentivos dos agentes políticos ao compromisso: "Uma classe média de grandes proporções serve essencialmente como um amortecedor, sob a democracia, contra demandas radicais por redistribuição". Claro, nas circunstâncias do nosso fosso social, a expansão da classe média que os dados apontam, ainda se tomados com todas as reservas, redunda por si só em redistribuição importante.

Não creio que mesmo o ânimo crítico ao estilo de Freire se dispusesse a incluir entre as razões para objetar ao novo "conservadorismo fernandino-luliano" a de que, ao permitir precariamente a expansão da classe média, ele bloqueia as demandas mais radicais.

Fábio Wanderley Reis é cientista político e professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais. Escreve às segundas-feiras

O bobo de Chávez

Ricardo Noblat
DEU EM O GLOBO

O que pode ser pior? Acreditar que Lula foi de fato surpreendido com a chegada à embaixada do Brasil em Tegucigalpa do presidente deposto Manoel Zelaya? Ou imaginar que a volta de Zelaya ao seu país foi uma operação do consórcio Brasil-Venezuela? Coube a Hugo Chávez despejar a carga nos jardins da embaixada. A Lula, abrigá-la em segurança.

Ajeita daqui, ajeita dali, ficou assim a história oficial da mixórdia contada com pequenas diferenças por Chávez, Zelaya e porta-vozes informais de Lula. Na manhã da última segunda-feira, Xiomara Castro, mulher de Zelaya, procurou Francisco Catunda, o encarregado de negócios da embaixada do Brasil em Honduras e única autoridade ali presente.

Por escolha pessoal, Catunda é um diplomata de terceiro escalão que está perto de se aposentar. Poderia ter sido embaixador. O poeta João Cabral de Melo Neto, por exemplo, foi embaixador em Honduras. Catunda, porém, truncou sua própria carreira ao recusar cargos que o levariam a servir em locais distantes do Ceará, onde nasceu. É fissurado em Fortaleza.

Para genuíno espanto de Catunda, Xiomara lhe disse que Zelaya estava dentro de um carro a poucos metros da sede da embaixada. Em seguida, orientou-o a consultar seus superiores sobre o desejo de Zelaya de obter refúgio. Catunda telefonou para Brasília, que por sua vez alcançou Lula voando para Nova Iorque. Depois do susto, Lula respondeu: tudo bem.

A se acreditar na história oficial, portanto, Chávez armou para cima de Lula. Com meios fornecidos por ele, Zelaya tentara antes duas vezes regressar a Honduras. Da primeira só conseguiu sobrevoar o aeroporto de Tegucigalpa em avião cedido por Chávez. Da segunda foi barrado na fronteira com El Salvador. Fez uma graça, tomou uns tragos e foi embora.

Quem anunciou triunfante o paradeiro de Zelaya uma vez instalado na embaixada do Brasil? Chávez, ora. De duas, uma: ou faltou coragem a Lula para dizer algo do tipo “ninguém empurra nada goela abaixo do Brasil” e negar hospedagem a Zelaya, ou ele concluiu rapidamente que seria uma boa virar um dos protagonistas da crise hondurenha.

Por que Chávez não mandou Zelaya para a embaixada da Venezuela? Porque sabe que não conta com a simpatia internacional – Lula conta de sobra. Por que não mandou Zelaya para a embaixada dos Estados Unidos? Porque lá ele só seria acolhido na condição de asilado. E asilado tem de obedecer a regras seculares de asilo. Uma delas: manter o bico fechado.

Zelaya transformou a embaixada do Brasil na casa da mãe Juanita. Um dia depois de sua chegada, a embaixada estava ocupada por cerca de 300 partidários dele, incluídos guarda-costas armados, uma equipe de televisão da Venezuela, outra de uma rádio local e, sim, um blogueiro norte-americano. Blogueiro é uma praga. Está por toda parte.

Lula deu ordem a Zelaya para não fazer conchavos dentro da embaixada. Brincou, não foi? Como não pode fazer do lado de fora, e como está na embaixada justamente para fazer conchavos capazes de lhe restituir o poder, Zelaya ignorou a ordem de Lula. Passou a conceder audiências a quem o procura. E a dar dezenas de entrevistas diárias.

O dono do pedaço é Zelaya. O Brasil emprestou sua soberania para que Zelaya tente derrubar o governo que substituiu o dele. Se a história oficial for mentirosa, se existirem de fato manchas verdes e amarelas na operação de retorno de Zelaya a Honduras, o Brasil deu uma de país imperialista interferindo diretamente nos assuntos internos de outro país.

Mas se a operação carregou com exclusividade as cores da Venezuela, por mais que me doa à alma isso significa dizer que Chávez fez Lula de bobo (nada de inédito). Pois ao fim e ao cabo, o resultado será o mesmo: a interferência nos assuntos internos de Honduras do Brasil candidato a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, o país do “cara”, do pré-sal e da marolinha vencida vapt-vupt.

Despreparo e improviso

Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Como já escreveu Janio de Freitas, a partir de agora a crise instalada em Honduras diz respeito à capacidade de os latino-americanos conseguirem ou não ajudar a restaurar minimamente as regras democráticas naquele país. Golpes de Estado devem ser rechaçados. Sem relativização.

Se houve trapalhada na ocupação da Embaixada do Brasil, o mais fácil é apontar o dedo só na direção do governo Lula. Há uma histórica falta de preparo do Estado brasileiro quando se trata de protagonizar certas ações internacionais. Impera um vácuo crônico no serviço público a respeito desse tema.

Os acontecimentos em Honduras são um caso para estudo. A versão oficial é que Manuel Zelaya, presidente deposto, materializou-se em frente à embaixada brasileira. Tudo teria saído da cabeça do hondurenho, com a ajuda prestada pelo venezuelano Hugo Chávez.

A ser verdade tal relato, há então uma triste constatação: a extrema inoperância de diplomatas, assessores presidenciais, congressistas especializados em assuntos internacionais e agentes da Abin. Muitos deveriam acompanhar os passos de Zelaya e de Chávez, mas não foram capazes da apurar a trama -na hipótese, é claro, de o Brasil ter sido apanhado de surpresa.

Há 583.367 funcionários públicos federais no Poder Executivo brasileiro. No Congresso, são 24.608 pessoas à disposição de deputados e de senadores. Ninguém teria sido comissionado para tomar ciência do que se passava e antecipar a montagem da operação.

Completa esse enredo de despreparo e improviso a viagem de uma missão de deputados brasileiros a Honduras. Devem partir na terça-feira. O objetivo é ajudar a resolver o impasse. Essa iniciativa congressual, quase uma peça de humor involuntário, é a ação mais concreta oferecida até o momento pelo Brasil -deputados brasileiros zanzando pelas ruas de Tegucigalpa.

Recuperação econômica - a hora da verdade

Luiz Carlos Mendonça de Barros
DEU NO VALOR ECONÔMICO


O gráfico neste artigo reproduz o padrão dos indicadores de atividade nos Estados Unidos e na Europa ao longo da crise que vivemos. Nele podemos identificar os três grandes movimentos que ocorreram a partir de julho de 2007, quando a crise do chamado "subprime" começou a ser precificada pelos mercados.

Na primeira etapa- que vai até o inicio de 2008 - o crescimento vigoroso que ocorria no mundo se desacelera e as economias americana e europeia entram em estagnação. Em um segundo momento - a partir de março de 2008 - inicia-se uma contração da atividade que vai até o fim do primeiro trimestre de 2009. A inclinação desta parte da curva acelera-se a partir do colapso do banco Lehman Brothers em setembro.

Finalmente, em abril deste ano, inicia-se uma fase de recuperação, com os indicadores da indústria e do setor de serviços mostrando um crescimento acelerado. O leitor pode identificar claramente que a recuperação segue o padrão em V, tantas vezes citado pela imprensa. Não por outra razão os mercados de ações também apresentam uma recuperação com o mesmo desenho. Nada de bolha especulativa como muitos defendem, mas apenas um movimento racional de resposta ao que ocorreu no lado real da economia.

Temos hoje uma visão clara do que aconteceu com a economia mundial a partir de setembro do ano passado. O setor privado entrou em pânico, mas as ações corajosas da maioria dos governos conseguiram reverter esta situação irracional. O volume de recursos mobilizados pelos bancos centrais mais importantes foi suficiente para evitar que o colapso dos mercados financeiros arrastasse o mundo para uma verdadeira depressão. Da mesma forma, os recursos fiscais liberados pelos governos criaram uma força anticíclica importante para compensar a redução dos gastos privados.

Com esta ação decisiva do setor público, a demanda final ficou acima da que estava implícita nos planos de produção da maioria das empresas. Os estoques caíram a níveis insustentáveis e a resposta racional foi a de voltar a aumentar seus níveis de atividade. O pânico nas empresas foi muito maior do que o vivido pelos consumidores neste conturbado período que vai de setembro de 2008 até março de 2009.

Chamo agora a atenção do leitor do Valor para a parte final do gráfico acima. Ela mostra as três possibilidades que existem hoje para a trajetória futura das economias mais avançadas. Embora ainda seja cedo para identificar com mais clareza qual dos ramos da curva vai prevalecer uma coisa é certa: a recuperação em V já é coisa do passado. Como dissemos anteriormente, a volta da atividade produtiva dos últimos meses esteve diretamente ligada ao descompasso entre a produção e a demanda final que ocorreu no período pós Lehman Brothers. Os gastos do consumidor, a nível global, ficaram praticamente estáveis mas empresas privadas agiram como se o mundo tivesse acabado. Cortaram agressivamente a produção e reduziram seus estoques a níveis muito baixos, o que as obrigou depois a aumentar o ritmo de produção.

Nos próximos meses viveremos uma situação diversa, com a atividade produtiva correndo de forma mais alinhada à demanda. Nada mais natural que ocorra uma redução no ritmo de crescimento da produção, ou mesmo uma pequena queda. Nesta nova dinâmica será o comportamento do consumidor que deve definir o ritmo de atividade econômica em 2010. Por isto os olhos dos analistas estão voltados para o mercado de trabalho, principalmente os dados de emprego e de renda dos salários. Será fundamental que ocorra uma estabilização do emprego até o fim deste ano e até o momento os dados caminham nesta direção.

Também serão importantes as informações relativas ao mercado imobiliário, pois o valor das residências representa parte importante no equilíbrio financeiro das famílias americanas. Nos últimos meses houve estabilização dos preços das casas e uma incipiente retomada de vendas que, se continuada, seria um forte elemento estabilizador.

Do lado monetário será preciso que ocorram sinais mais claros de um crescimento sustentado do multiplicador bancário. Até agora a expansão monetária provocada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) permitiu a redução dos spreads e a volta das emissões de títulos de dívida privada. Mas o financiamento bancário permanece restrito tanto para consumidores e para empresas. Sua normalização é importante para que a economia volte a funcionar de maneira sustentada. Por isto acompanho com cuidado as estatísticas relativas ao M2 americano, que são divulgadas todas as quintas-feiras. De outro lado, o sucesso do Fed em aumentar o multiplicador bancário será acompanhado da intensificação do debate já em curso sobre sua "estratégia de saída", isto é, a retirada do que pode vir a se configurar como um excesso de liquidez no sistema bancário. Certamente este será um desafio capaz de trazer volatilidade aos mercados em 2010.

Por fim, também faz parte desta equação os próximos movimentos do governo em relação aos estímulos fiscais criados durante a crise. Esta transferência fiscal tem sido importante para evitar a redução dos gastos em um momento em que o consumidor está sendo obrigado a reduzir seu endividamento. A possibilidade ou não de um segundo pacote fiscal vai fazer parte da agenda do mercado nos próximos meses. Sem uma ação mais decisiva, até o final de 2010 deve ocorrer um aperto fiscal por conta do término de vários programas de redução de impostos, inclusive os criados no início do governo Bush.

Ainda não tenho segurança para fazer uma escolha final da trajetória de crescimento. Minha intuição é que teremos uma inclinação compatível com um crescimento de 1,5% a 2% para o ano de 2010 nas economias dos EUA e da Europa. Neste cenário, o mundo emergente teria condições para continuar a crescer a taxas próximas a 5% ao ano. No momento adoto um viés de alta para estas projeções, mas sua realização depende dos fatores acima chegarem a bom termo nos próximos meses.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações. Escreve mensalmente às segundas.

Individualismo feroz

Luiz Carlos Bresser-Pereira
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A resistência enfrentada por Barack Obama reflete uma elite que busca substituir a fraternidade pela caridade

A DIFICULDADE que o presidente Barack Obama está enfrentando para aprovar legislação universalizando os cuidados de saúde é tão surpreendente quanto previsível. É surpreendente porque é inconcebível que o país com a maior renda do mundo por habitante não garanta atendimento de saúde gratuito a todos os seus habitantes, enquanto países com renda per capita menor, inclusive o Brasil, asseguram esse direito. Em relação a outros bens públicos como educação universitária, prestígio social, número de amigos, e mesmo na graça divina, é razoável que os indivíduos que revelam maior aptidão ou maior interesse tenham maior participação.

Não há, porém, teoria de justiça que justifique que os mais ricos tenham acesso a melhores cuidados de saúde do que os pobres. Os países que dispõem de sistemas universais de atendimento de saúde estão longe desse ideal de justiça, mas deram um passo importante nessa direção. Surpreendentemente, não é o caso dos Estados Unidos.

O fenômeno, entretanto, é previsível quando consideramos que a existência de um sistema universal de saúde assegurado pelo Estado pressupõe certo grau de fraternidade -virtude incompatível com o individualismo feroz que prevalece naquele país. Condições históricas favoráveis, principalmente a colonização da Nova Inglaterra por puritanos que puderam reproduzir a sociedade inglesa sem suas graves desigualdades sociais, permitiram que os EUA se desenvolvessem de forma extraordinária até a Segunda Guerra.

Aquele, porém, foi um momento de auge; foi provavelmente o limite a que pode chegar uma sociedade baseada em individualismo tão forte. Desde então, enquanto os países europeus e alguns países em desenvolvimento reorganizaram suas sociedades em nome tanto do desenvolvimento econômico como da solidariedade e montaram um Estado social ou do bem-estar, os EUA perdiam gradualmente poder e influência.

O colapso da União Soviética representou uma retomada para os EUA, mas, à medida que se baseou em uma ideologia, o neoliberalismo, que radicalizava o individualismo, foi uma retomada com voo curto.

O presidente americano e muitos dos seus concidadãos reconhecem a injustiça envolvida na falta de um regime universal de saúde, e querem resolver o problema. A resistência que enfrentam, entretanto, reflete uma elite que não quer pagar mais impostos e busca substituir a fraternidade estatuída na lei pela caridade.

Reflete também o atraso democrático de um país que admite como "natural" que as empresas de seguro e de convênios médicos, que defendem seus interesses privados, sejam vistas pela imprensa como detentoras da mesma legitimidade que os cidadãos que discutem em nome do interesse público.

Essa incapacidade de distinguir a natureza dos debatedores é o resultado de um individualismo neoliberal que rejeita a ideia de interesse público ou de bem comum e afirma que apenas existem interesses privados. Estes competiriam pelas políticas públicas de forma muito semelhante àquela através da qual as empresas competem no mercado por lucro. A sociedade transforma-se assim em mercado, com uma diferença: enquanto que para este funcionar bem basta o preço definido na concorrência, para que a sociedade funcione bem a concorrência pelo poder não basta: é necessária também a solidariedade. As dificuldades que o presidente Obama está enfrentando para aprovar a universalização dos cuidados de saúde indicam quanto o individualismo feroz é ainda forte em seu país.

Luiz Carlos Bresser-Pereira, 75, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), da Administração e Reforma do Estado (primeiro governo FHC) e da Ciência e Tecnologia (segundo governo FHC), é autor de "Macroeconomia da Estagnação: Crítica da Ortodoxia Convencional no Brasil pós-1994".

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Chávez torce por Dilma

Jailton de Carvalho
DEU EM O GLOBO

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou que a ministra Dilma Rousseff é sua candidata para 2010 e que ela será a "próxima presidente do Brasil". Lula disse que ele foi gentil e lamentou o fato de Chávez não ser um eleitor no Brasil.

"Minha candidata é Dilma", afirma Chávez

Lula diz que foi só "gentileza" do presidente da Venezuela declarar publicamente seu apoio à candidatura de ministra

ISLA DE MARGARITA, Venezuela. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, manifestou apoio irrestrito à chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmando que a ministra é a sua candidata nas eleições presidenciais de 2010 no Brasil.

- Dilma será a próxima presidente do Brasil - afirmou em seu discurso, anteontem, durante a abertura da 2ª Cúpula América do Sul-África, realizada em Isla Margarita, na Venezuela.

Chávez fez a declaração depois de mencionar seu bom relacionamento com o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, mentor e padrinho da candidatura.

O venezuelano disse ainda que sabia estar correndo o risco de ser acusado de intromissão nos assuntos internos do Brasil. No entanto, afirmou, não poderia deixar de fazer a declaração, porque estava agindo "com o coração".

- Sei que vão me acusar de ingerência, mas meu coraçãozinho é que está falando. Minha candidata é Dilma.

O líder venezuelano também lamentou, diversas vezes, que o presidente brasileiro esteja em fim de governo. Para ele, o consolo é que Dilma ganhará as eleições.

E completou:

- Mas Lula não se vai. Ele fica, assim como Néstor Kirchner (ex-presidente da Argentina), que se foi, mas não se foi - afirmou Chávez, em referência à eleição da presidente Cristina Kirchner como sucessora do marido.

Ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comentou a declaração de apoio do colega à provável candidatura da ministra. Segundo Lula, Chávez apenas tentou ser gentil com ele e com a Dilma.

- Acho que o Chávez fez um gesto de gentileza. Só lamento que ele não seja eleitor para ir votar lá (no Brasil) - disse Lula, pouco antes de deixar a Venezuela e retornar a Brasília.

Marina critica governo em ato do PV no Rio

DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Embora insista que somente em janeiro se posicionará sobre a disputa pelo Planalto, senadora é saudada nas ruas como candidata e cobra postura clara do governo sobre questões ambientais

RIO - Em clima de campanha, a senadora Marina Silva (AC), provável candidata do PV à Presidência da República, participou ontem do primeiro ato público desde sua filiação ao partido, após a saída do PT. A caminhada “Brasil no clima” foi organizada pelo PV com o pretexto de cobrar do governo federal uma posição mais clara em relação às mudanças climáticas, mas foi marcada por gritos de “Brasil Urgente, Marina presidente”, base do slogan da campanha de Lula em 1989.

Debaixo de sol forte, cerca de 400 pessoas participaram do ato, entre militantes do PV e banhistas que se juntaram à caminhada, do Leblon ao Arpoador. Em meio a bandeiras do PV, e como centro das atenções, a senadora evitou falar nas eleições presidenciais. Quando perguntada sobre o assunto, repetia que a candidatura só será definida em 2010. Assumiu, no entanto, que é “pré-candidata prioritária” da legenda. “O PV honrosamente me colocou nessa condição”.

Em relação às mudanças climáticas, a senadora e ex-ministra do Meio Ambiente cobrou do governo federal uma postura ousada e transparência em relação à posição que o Brasil levará para a reunião de Copenhague, em dezembro, que vai estabelecer um novo tratado mundial para redução das emissões de carbono. “Quando eu era ministra, já havia posições refratárias em relação às mudanças climáticas. Mas não podemos ser surpreendidos em cima da hora com uma proposta do governo brasileiro, pois isso tem que ser feito com a população”, advertiu.

A senadora passou a caminhada ao lado do deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) e do vereador Alfredo Sirkis (PV). Gabeira é o provável candidato do partido ao governo do Rio. O PV vive impasse com o PSDB sobre uma possível coligação das duas legendas no Rio. Gabeira disse que há reunião marcada para outubro entre PV, PSDB, DEM e PPS para definir as candidaturas. “A dificuldade com o PSDB é que são dois palanques. Eles vão apoiar Serra e eu, Marina”, disse.

CLIMA QUENTE

Na Venezuela, ainda sem saber das críticas de Marina Silva, Lula defendeu que a existência de florestas nos países tropicais seja usada como trunfo nas negociações do novo acordo do clima. “Quem tem novidade para oferecer ao mundo são exatamente os países do sul (África e América do Sul). Precisamos fazer disso uma vantagem comparativa”, afirmou Lula, após reunião de cúpula com presidentes dos dois continentes. O presidente apoiou a ideia de países ricos criarem um fundo para ajudar a combater o desmatamento, mas cobrou ação direta. “Eles não estão assumindo o compromisso de quanto vão deixar de emitir de gases de efeito estufa”, concluiu.

Ciro quer dar vaga de vice em sua chapa para o PDT

Christiane Samarco, Brasília
DEU EM O ESTDO DE S. PAULO

O pré-candidato do PSB à Presidência, deputado Ciro Gomes (CE), cogita oferecer o posto de vice em sua chapa ao ministro do Trabalho, Carlos Lupi, do PDT. O objetivo do PSB é aumentar o tempo na propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV. O desafio é montar seu palanque sem ferir a aliança com o governo, da pré-candidata Dilma Rousseff (PT).

Ciro deve oferecer vice ao PDT para ter tempo na TV

Posto seria destinado ao ministro Carlos Lupi e garantiria maior espaço no horário eleitoral gratuito

O pré-candidato do PSB à Presidência, deputado Ciro Gomes (CE), tem um trunfo para fechar a aliança com o PDT do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, e viabilizar sua candidatura com maior espaço na propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Um aliado de Ciro que acompanha as negociações da corrida sucessória informa que o pré-candidato deve oferecer o posto de vice em sua chapa justamente ao ministro Lupi, que é presidente licenciado do PDT.

Além dessa oferta aos pedetistas, o PSB de Ciro trabalha para reeditar o bloquinho que funcionou na Câmara com o PDT e o PC do B porque só tem garantido 1 minuto e 11 segundos em cada um dos dois blocos diários de 25 minutos de propaganda eleitoral na TV. O tempo pode dobrar com a divisão da sobra dos minutos que couberem aos partidos que não apresentarem candidatos a presidente. Ainda assim é pouco.

O desafio de fortalecer o palanque eletrônico não é o único que ocupa os aliados de Ciro. O PSB não pode confrontar com o PT da pré-candidata e ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e tem de contar com a "compreensão" do governo para fechar as alianças com partidos aliados ao presidente Lula.

"Temos de montar o palanque do Ciro sem desmontar o palanque da Dilma", resume o senador Renato Casagrande (PSB-ES), certo de que é possível manter um bom relacionamento na base governista para que os aliados estejam juntos no segundo turno da corrida presidencial. "Mesmo com duas candidaturas teremos diálogo nos Estados." Casagrande é um dos que veem no PDT um bom parceiro para compor a vice com os socialistas. Adverte, porém, que por enquanto não existe uma proposta oficial de seu partido à direção pedetista.

Um interlocutor comum de Ciro e Lupi aposta que o ministro aceitaria o convite e acrescenta que ele tem autonomia para fazê-lo, na condição de presidente nacional licenciado do PDT. Pondera, no entanto, que Lupi precisará obter o aval de Lula para fechar o acordo. O mesmo interlocutor explica que o ministro do Trabalho não faria nada que contrariasse uma determinação presidencial.

Em qualquer cenário, Ciro terá de enfrentar a resistência de alguns setores do PDT. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) é um dos que admitem que a parceria "faz sentido" dentro do processo eleitoral, mas diz que tem dificuldades para compreender a candidatura Ciro como uma alternativa progressista para o País. Ele defende a tese de que a melhor opção para fortalecer o partido seria o lançamento de um nome próprio para disputar a Presidência, em vez da candidatura a vice.

Vários pedetistas também se queixam de que a experiência da última eleição não foi boa e dizem que Ciro anunciou apoio a Lula no segundo turno de 2002 sem antes consultar os companheiros. "O discurso dele passa a ideia de um homem conservador e emocionalmente instável", diz Cristovam. "É um discurso sobre taxa de crescimento que faz com que ele passe a ideia de candidato a ministro da Fazenda, e não de um estadista que defende uma inflexão na história do Brasil."

Esnobado pelo PT, Hélio Costa negocia com Aécio

Raquel Ulhôa e Cristiano Romero, de Brasília
DEU NO VALOR ECONÔMICO

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), têm intensificado as conversas sobre uma eventual coligação entre seus partidos nas eleições estaduais de 2010, à medida que vai ficando mais difícil a composição local entre PMDB e PT. "Em Minas, o caminho natural do PMDB seria compor com o PT e outros partidos da base aliada do governo Lula. Mas casamento se faz quando os dois querem. Não adianta eu ficar mandando beijinho para o PT e sempre ter alguém virando a cara para mim", diz o ministro Hélio Costa.

O que o PMDB almeja é uma aliança em torno da candidatura de Costa a governador, sem a contrapartida do apoio dos pemedebistas à provável candidatura do governador José Serra (SP) à Presidência da República, caso seja ele o escolhido pelo PSDB para a disputa.

Mesmo sem aliança com o PT, Costa mantém apoio à candidatura da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a presidente. Se o acordo entre PSDB e PMDB prosperar, caberá a Aécio construir um palanque alternativo para Serra. A hipótese mais forte para o governador mineiro, caso ele perca para Serra o posto de candidato do PSDB a presidente, é a disputa ao Senado.

Na avaliação de pemedebistas, Aécio poderia, como candidato a senador, fazer campanha pelo Estado com Serra, independentemente de sua aliança com o ministro. "As campanhas de Minas são feitas assim: eu era candidato ao Senado (2002) e apoiava a candidatura do presidente Lula. Mas o candidato a governador na época (Newton Cardoso), apoiava outro. Eu fazia o meu palanque de senador e nele o candidato a presidente era o Lula", disse. Cardoso, na verdade, não apoiou nenhum concorrente ao Palácio do Planalto.

Uma aliança com Costa poderia ser eleitoralmente conveniente a Aécio. O vice-governador, Antonio Anastasia (PSDB), seu candidato ao governo, aparece nas pesquisas com cerca de 5% das intenções de voto, enquanto Costa tem uma média de 40%. A eleição do governador ao Senado é considerada absolutamente tranquila, mas o ideal seria também deixar o governo tendo eleito o sucessor.

Costa acredita que, com apoio do governador, ganharia no primeiro turno "disparado". No entanto, prevê dificuldades se concorrer sem alianças, num cenário em que o PT e Aécio lançarem candidatos.

O secretário-geral do PSDB, deputado Rodrigo de Castro (MG), aliado de Aécio, afirma que as conversas com o PMDB existem, mas estão longe da fase de definições de candidaturas.

"Temos muitos pontos de convergência, mas ninguém ofereceu cabeça-de-chapa e vaga de senador. Tanto um quanto o outro pode encabeçar", diz Castro. Segundo ele, nenhuma definição de aliança local poderá acontecer em Minas antes da decisão do PSDB sobre o candidato a presidente. "O PSDB estadual tem o desejo de ver Aécio na Presidência."

O próprio Hélio Costa reconhece que seu apoio a Dilma na sucessão presidencial só seria colocado em xeque se Aécio fosse candidato a presidente. "Aí todo mineiro teria que voltar para a prancheta, discutir tudo de novo. O máximo que eu poderia fazer, como ministro do governo, é ficar neutro na história", afirma.

As negociações entre Costa e Aécio com vistas a 2010 avançam por causa da recusa de setores do PT estadual - à frente o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel - em abrir mão de uma candidatura própria a governador. Embora o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento e Combate à Fome) lidere uma ala do PT disposta a negociar com o PMDB local, as resistências permanecem insanáveis.

"A conversa prospera mais com Aécio do que com o PT, à medida que uma ala do PT não quer conversar", confirma Costa. "Da minha parte, tem muita chance sim (de aliança com os tucanos). Não tenho a menor dificuldade em fazer essa aliança."

O presidente Lula tem manifestado ao ministro a intenção de pôr fim às divergências entre Patrus e Pimentel e trabalhar por uma coligação do PT com o PMDB em Minas. Patrus admite a aliança e tem bom relacionamento com Costa, mas Pimentel se opõe. Pemedebistas avaliam que Lula não está conseguindo pacificar o PT - ou não está se empenhando para isso.

Costa e seus aliados alertam que uma composição entre as duas siglas em Minas Gerais teria forte influência na decisão que o PMDB tomará em convenção nacional, em junho de 2010, sobre aliar-se ou não ao PT na chapa presidencial. Além de Minas, PT e PMDB enfrentam dificuldades de relacionamento em vários outros Estados, como Bahia, Pará, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro.

O PSDB aproveita para avançar sobre os pemedebistas desses Estados. A conversa está adiantada no Rio Grande do Sul, onde há uma chance de a governadora tucana Yeda Crusius desistir de disputar a reeleição. Nessa hipótese, o PSDB apoiaria o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça (PMDB).

Em São Paulo, Pernambuco e Santa Catarina a aliança do PMDB já é com o PSDB. O ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, presidente do PMDB estadual, tem sido o principal articulador do apoio do partido à candidatura Serra. Na semana passada esteve em Brasília para atacar a tentativa do presidente nacional licenciado do PMDB, Michel Temer (SP), presidente da Câmara dos Deputados, de antecipar o acordo nacional com o PT para 2010.

Quércia argumenta que até a realização da convenção nacional, a tendência atual pró-Dilma poderá ser revertida, diante das dificuldades entre PT e PMDB em vários Estados. O ex-governador paulista esteve com Aécio para defender a aliança com o PMDB no Estado.

É pelo rol de problemas à aliança em torno de Dilma que aliados de Costa alertam para a importância de Lula interferir no Estado. Ao contrário de outros Estados, Minas ainda não é visto um caso perdido para a aproximação entre PT e PMDB, assim como o Rio de Janeiro - onde o prefeito petista de Nova Iguaçu, Lindberg Farias, lançou-se candidato a governador, contra o atual governador, Sérgio Cabral (PMDB), aliado do presidente. Mas, se Lula não conseguir unir PT e PMDB nem nesses dois locais, a aliança nacional pode correr risco.

Angela Merkel é reeleita para segundo mandato

Graça Magalhães-Ruether
DEU EM O GLOBO

Com 33,8% dos votos, um dos piores resultados da história de seu partido, chanceler alemã anuncia coalizão com liberais

BERLIM. A chanceler Angela Merkel foi reeleita para mais quatro anos de governo. Nas eleições parlamentares de ontem, a União Democrata Cristã (CDU) foi o partido mais votado, com 33,8%, e poderá formar uma aliança com o Partido Liberal (FDP), que ficou com 14,6% - meta que já teve há quatro anos, quando assumiu o governo, não atingida por falta de votos. A legenda Social Democrata (SPD) sofreu uma derrota histórica, detendo apenas 22,9% dos votos, enquanto os três partidos pequenos, os Verdes, 10,7%, o da Esquerda, 12%, e o próprio FDP, tiveram bons resultados.

- Nós conseguimos algo sensacional, atingir nossa meta eleitoral, uma maioria estável na Alemanha em um novo governo - disse Merkel.

Partido Social Democrata deixa o governo

Na verdade, a CDU teve um de seus piores resultados, ainda inferior ao pleito de 2005 (quando Merkel foi eleita), em que registrou 35,2%. Já o SPD, que nos últimos quatro anos foi parte do governo numa solução de emergência, por falta de possibilidade de outras alianças, teve o pior resultado da sua história. Após 11 anos de governo, sete com o ex-chanceler Gerhard Schröder, e quatro com Merkel, o partido de mais de 100 anos de tradição volta ao banco da oposição.

-- Hoje é um dia amargo para a social-democracia - disse o candidato Frank Walter Steinmeier, ao reconhecer a derrota.

Steinmeier, de 53 anos, vice-chanceler e ministro do Exterior de Merkel, anunciou que pretende liderar a parte oposicionista do SPD. Analistas preveem, porém, um acerto de contas com a ala de esquerda do partido, que se calara nos últimos anos, mas, com a derrota, deve voltar a exigir suas posições tradicionais.

Vinte anos após a reunificação alemã, o novo Partido da Esquerda (Die Linke), formado por ex-comunistas do Leste e a ala esquerda da social-democracia ocidental, conseguiu definitivamente se estabelecer em toda a Alemanha, com grande força no Parlamento. O Partido da Esquerda será importante no bloco da oposição, ao lado do SPD e dos verdes. Oskar Lafontaine, presidente da legenda, diz que o novo governo será neoliberal, mas a oposição será forte:

- Vamos controlar ainda mais do que antes o governo!

A CDU e o FDP formaram o governo ideal prometendo baixar impostos e evitando assuntos polêmicos como a energia atômica e o Afeganistão. Guido Westerwelle, presidente do FDP e possível futuro ministro do Exterior, tentou afastar o receio de uma nova era do capitalismo selvagem na Alemanha com a volta dos liberais ao poder. O partido, que participou do governo do ex-chanceler Helmut Kohl, da CDU, por 16 anos, até 1998, "lutará por redução dos impostos, mais chances de educação e direitos civis", disse.

Mas o novo governo terá grandes desafios. Segundo o cientista político Lothar Probst, após a acumulação da dívida pública em consequência da crise, a próxima coalizão deverá adotar as medidas que não teve coragem de anunciar durante a campanha. Em vez de reduzir os impostos, terá de aumentar as cargas tributárias. E talvez seja necessário aumentar a idade da aposentadoria para 67 anos e cortar a garantia de pagamento integral do benefício, financiado pela contribuição de trabalhadores ativos, diz o economista Rudol Hickel.

Socialistas vencem em Portugal, sem maioria

DEU EM O GLOBO

Eleições legislativas têm o mais baixo índice de participação desde volta da democracia

José Sócrates terá de fazer alianças

LISBOA. O Partido Socialista de Portugal (PS), de centro-esquerda, atualmente no poder, venceu as eleições legislativas realizadas ontem no país. Apesar de favorita, porém, a legenda não conseguiu a maioria absoluta no Parlamento, como já indicavam as pesquisas de boca de urna. Até a noite de ontem, detinha 36,56% dos votos apurados, longe dos 45% garantidos no pleito de 2005. Assim, o partido do primeiro-ministro José Sócrates, de 52 anos, precisará articular alianças para dar prosseguimento a seu programa de governo no novo mandato.

Os socialistas conquistaram 96 assentos do total de 230 no Parlamento. Já o principal partido de oposição, o Social-Democrata (PSD, de centro-direita), cuja candidata era Manuela Ferreira Leite, obteve 29,09% dos votos, e garantiu 78 deputados. E três partidos menores também asseguraram lugares: o marxista Bloco de Esquerda, com quase 10% dos votos; o conservador Centro Democrático Social-Partido Popular, com 10,5%, e a coalizão de comunistas e verdes, com quase 8%.

As eleições foram marcadas pela baixa participação dos eleitores. O índice de abstenções supera 40%, quase 10% a mais que em 2005. É o pior índice em pleitos legislativos em Portugal desde a redemocratização em 1974. Pelo menos 9,4 milhões de portugueses estavam habilitados a votar.

Os socialistas prometeram um pacote de estímulo ao crescimento baseado em grandes gastos e projetos de obras públicas. Portugal enfrenta uma grave crise econômica, com a mais alta taxa de desemprego dos últimos 20 anos. E o primeiro-ministro socialista, José Sócrates, anunciou que vai manter as reformas sociais e econômicas, que irritaram os sindicatos.

Já a oposição afirmou que as obras públicas deixarão uma grande dívida para as futuras gerações. O PSD, de Manuela Ferreira Leite, propôs facilidades para estimular a iniciativa privada, inclusive com isenções tributárias.

Pelo menos 500 mil perderam seus empregos

A economia do país se retraiu em 3,7% no segundo trimestre, em comparação com o mesmo período do ano passado. Pelo menos 500 mil pessoas, 9% da força de trabalho, perderam seus empregos. As sondagens prévias indicavam que os portugueses manteriam o Partido Socialista no poder, apesar do alto índice de desemprego.

Honduras barra a OEA e faz ameaças ao Brasil

Jailton de Carvalho e Ricardo Galhardo
DEU EM O GLOBO

Lula rejeita ultimato que põe em risco imunidade da embaixada brasileira


O governo de Honduras deu ultimato ao Brasil para que decida, em dez dias, o status do presidente deposto, Manuel Zelaya, sob pena de a embaixada brasileira perder sua imunidade diplomática. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu irritado ao comunicado e disse que não acata "ultimato de um golpista". O governo de Roberto Micheletti elevou ainda mais a tensão com a Organização dos Estados Americanos (OEA), ao proibir a entrada no país de uma missão de diplomatas. A pedido de Lula, o chanceler Celso Amorim repreendeu Zelaya por pregar, de dentro da embaixada, a revolta popular no país.

Governo ameaça missão brasileira

Lula reage a ultimato de Micheletti e repreende Zelaya sobre incitação popular

SOLDADOS hondurenhos cobrem pichações pró-Zelaya no muro da embaixada brasileira na capital

UM SEGUIDOR de Zelaya limpa o pátio da embaixada do Brasil, cujas janelas são usadas como varal


Opresidente Luiz Inácio Lula da Silva rechaçou ontem o ultimado do governo de fato de Honduras para que o Brasil decida, em dez dias, o status do presidente deposto Manuel Zelaya. O governo interino ameaça retirar a imunidade diplomática da embaixada do Brasil em Honduras, segundo informou comunicado da chancelaria hondurenha divulgado na noite de sábado, em Tegucigalpa. Caso não haja uma definição nos próximos dez dias, o governo de Roberto Micheletti, no comando do país da América Central, tomará "medidas adicionais conforme o direito internacional".

"Nenhum país pode tolerar que uma embaixada estrangeira seja utilizada como base de mando para gerar violência e romper a tranquilidade, como o senhor Zelaya está fazendo desde sua chegada ao território nacional", disse o comunicado.

"Nem Pinochet violou embaixada"

Manuel Zelaya está abrigado há uma semana na embaixada brasileira na capital hondurenha. Para Lula, é inaceitável que Micheletti, "um usurpador", ameace o governo brasileiro.

- O governo brasileiro não acata ultimato de um golpista e nem reconhece como governo interino. O governo brasileiro não negocia com ele. Quem tem que negociar é a OEA (Organização dos Estados Americanos) e o Conselho de Segurança da ONU - disse Lula, após se reunir com chefes de Estado na Cúpula América do Sul-África em Isla de Margarita, na Venezuela.

Lula também condenou a decisão de Zelaya de pregar desobediência civil e convocar protestos populares a partir da embaixada. Preocupado com os supostos abusos, determinou que o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, telefonasse ao presidente deposto e dissesse que não incitasse protestos de qualquer natureza enquanto ali estiver abrigado. Na última sexta-feira, Zelaya concedeu entrevistas e pediu que a população reagisse ao governo de Micheletti.

- O Celso Amorim ligou anteontem para a embaixada e pediu para o Zelaya não fazer provocações. Obviamente, se o Zelaya extrapolar, nós vamos falar com ele que não é politicamente correto incitação a qualquer coisa - afirmou o presidente, acrescentando que Zelaya é hóspede da embaixada brasileira e lá deverá permanecer até que a ONU e a OEA decidam o que fazer para resolver o impasse.

Lula elevou o tom na resposta à nova ameaça de Micheletti, mas não acredita que o hondurenho cumpra a promessa de invadir ou atacar a embaixada brasileira. Lula lembrou que a embaixada está protegida por leis internacionais e argumentou que, historicamente, embaixadas serviram de abrigo a quem sofria perseguições políticas:

- Nem a ditadura de Pinochet (Augusto Pinochet, ditador chileno), que foi a mais sangrenta de todo o continente, violou uma embaixada.

Por sugestão do governo brasileiro, na noite de sábado, os chefes de Estado que participavam da reunião de cúpula aprovaram uma resolução condenando o golpe em Honduras e pedindo a restituição de Zelaya ao poder.

- Seria muito mais fácil de resolver tudo isso: Micheletti pedir desculpas e ir embora; permitir que o presidente eleito voltasse e convocasse eleições - disse Lula.

Na tarde de ontem, em entrevista coletiva, o chanceler do governo interino de Honduras, Carlos Contreras, falou sobre as "medidas adicionais":

- O direito do Brasil de ter uma missão em Honduras acaba em dez dias - disse ele, que acusou o Brasil de ajuda financeira para trazer Zelaya a Honduras. - Uma coisa é uma pessoa que se encontra em um país e se sente ameaçada buscar refúgio em uma embaixada estrangeira. O que está acontecendo aqui é totalmente inédito porque ele veio de fora, inclusive com patrocínio financeiro.

A ameaça poderia abrir espaço para que a embaixada fosse invadida e Zelaya, capturado, embora Contreras tenha reiterado as garantias de inviolabilidade da representação.

- Algumas interpretações podem dar a impressão de que estamos fazendo uma declaração de guerra ao Brasil, mas é uma situação normal - disse a vice-chanceler, Marta Alvarado.

Contreras ironizou a chance de Zelaya pedir asilo diplomático ao Brasil.

- O Brasil é um bom país para alguém viver exilado. Além de ter um bom futebol - disse ele, que rebateu a declaração de Lula de que não negociaria com um governo golpista. - Pelo menos ele reconhece de forma indireta a existência do governo de Honduras. Pode qualificar como quiser.

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