quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Krugman já vê risco de bolha no Brasil

DEU EM O GLOBO

O Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, em palestra em São Paulo, criticou o excesso de otimismo dos mercados globais com o Brasil. Ele disse que vai se desfazer de títulos que tem do país e afirmou:
"A história sugere que não é bom ser a cereja do bolo." A entrada maciça de investimentos estrangeiros pode gerar bolhas, alertou
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Krugman: euforia com o Brasil pode criar bolhas

Prêmio Nobel alerta que real valorizado ameaça exportações e crescimento: "não é bom ser a cereja do bolo"

Ronaldo D’Ercole


SÃO PAULO. A preferência que o Brasil desfruta hoje entre investidores internacionais e a excessiva valorização do real resultante do fluxo de recursos externos para o país são um problema sério, que pode comprometer o crescimento da economia brasileira nos próximos anos. Seja pelo surgimento de “bolhas financeiras” que esse excesso de recursos pode gerar, ou pelo simples comprometimento da capacidade de exportar das empresas brasileiras com o dólar baixo. O alerta é do economista Paul Krugman, Prêmio Nobel de 2008, que participou ontem de evento em São Paulo.

— A história sugere que não é bom ser a cereja do bolo — disse Krugman, citando o México, que no início do anos 1990 era considerado o melhor lugar para se investir e foi à moratória em 1994.

Economista diz que vai se desfazer de títulos do Brasil Krugman reconheceu que, em razão de suas políticas macroeconômicas, pela primeira vez o Brasil teve meios para enfrentar uma crise, adotando medidas e se comportando “como um país mais avançado, como a Suécia e a Grã Bretanha”. A trajetória do país até aqui, disse, é “uma história com final feliz”, e é isso que tem atraído os investidores mundo afora. De uma forma perigosa, em sua avaliação.

— Em termos de taxa de câmbio efetiva, o Brasil está sendo levado a um território desconhecido.

Não existe nada que indique que o país poderá continuar exportando da forma como o real está cotado. Os mercados estão perdendo o contato com a realidade, novamente.

Diante de tanta euforia dos mercados em relação ao Brasil, Krugman disse que está considerando até a possibilidade de se desfazer dos investimentos que tem em títulos brasileiros.

— Não porque eu vejo uma crise vindo por aí, mas porque as pessoas parecem estar gostando demais desse tipo de investimento — disse o economista, que se definiu como um investidor “muito cauteloso” que, apesar dos “amigos da Suécia” (que lhe concederam o Nobel), não tem “tanto dinheiro assim”.


Segundo ele, os mercados internacionais têm se comportado como “se o Brasil fosse se tornar uma superpotência já em 2010”. Quando perguntado sobre como as autoridades brasileiras deveriam agir, o economista respondeu: — É difícil para o presidente do Banco Central (do Brasil) falar sobre a economia. Talvez seja a hora de ele informar os mercados: “Olha, estamos melhores do que éramos antes, mas ainda não somos tão bons assim. Não amem tanto a gente assim”.

Diante da insistência dos jornalistas em saber sua receita para o câmbio, Krugman concordou com as medidas tomadas pelo governo, como a taxação sobre aplicações externas.

Risco de década perdida para a economia global E sugeriu que o BC intensifique o ritmo de aquisição de reservas internacionais.

— Os impostos são medidas que, não sei se estão funcionando muito, mas parece ser o adequado. Diria que é o caso de haver mais intervenções, com o acúmulo de mais reservas, mesmos que vocês não queiram — disse o economista, que é professor da Universidade de Princeton, nos EUA.

Em relação è economia mundial, Krugman disse considerar que a “fase apocalíptica” da crise já foi superada. Ele acredita, contudo, que haverá novos choques, como a crise atual em Dubai, com moratórias e situações de inadimplência. Do ponto de vista do desemprego, entretanto, o pior pode estar por vir, especialmente nos Estados Unidos e na Europa.

— O maior temor não é que venha mais um grande choque, mas que nós nos encontremos num período de economia global deprimida durante muitos anos, que acabe sendo como a década perdida do Japão, só que no mundo todo. Nesse sentido, a crise certamente ainda não está para trás, ainda não passou — disse.

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