quarta-feira, 22 de julho de 2009

Lula pressiona PT paulista a apoiar Ciro em São Paulo

Soraya Aggege e Gerson Camarotti
DEU EM O GLOBO

Irritado com vazamento de reunião que teria com petistas, que preferem candidatura própria, presidente cancela reunião

SÃO PAULO E BRASÍLIA. Irritado com o vazamento de uma reunião que teria hoje à noite com um grupo de petistas de São Paulo - para apresentar seu plano de lançar o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) candidato ao governo do estado -, o presidente Lula cancelou o encontro. A conversa seria antes de um encontro já previsto com Ciro, que deve ser mantido. O presidente teria decidido manter sua estratégia, mas sem consultar o grupo paulista.

Ontem, o presidente decidiu cobrar responsabilidade do PT no lançamento de candidaturas próprias nos estados e na definição da política de alianças.

- Eu não sou membro da direção do PT. Não tenho como me reunir para discutir o problema deste ou daquele estado. As pessoas sabem o que penso e, portanto, acho que o PT tem de ter uma ação de responsabilidade, saber qual a força que temos em cada estado, qual a perspectiva que a gente tem de fazer ou não aliança política. O PT já aprendeu, o PT tem 29 anos de história e sabe que tem de fazer política de alianças para ganhar eleição - afirmou Lula.

Lula teria comentado internamente que "o PT paulista não tem juízo". O presidente mandou um assessor telefonar à tarde para cerca de dez convidados, informando apenas que o encontro, para o qual fora convidado, estava desmarcado "porque houve um imprevisto". O imprevisto foi entendido como o vazamento da reunião, divulgada pelo "Valor Econômico", em sua edição de ontem.

Lula pedira sigilo absoluto sobre o encontro e já havia adiantado a alguns convidados que, se houvesse vazamento, "nunca mais" chamaria o PT paulista para um diálogo. O presidente teria argumentado que não quer a imprensa envolvida nos primeiros debates. O PT paulista está dividido com a proposta de "importar" Ciro para a disputa em São Paulo. Vários grupos já apresentaram pré-candidatos, além de um rosário de motivos contra a estratégia de Lula.

O presidente do PT paulista, Edinho Silva, negou ontem que haveria uma reunião com Lula:

- Essa reunião nunca existiu. Eu não fui convidado.

Petistas querem dois palanques para Dilma

Mas vários outros petistas confirmaram a informação.

- Não existe reunião confidencial quando se convida mais de duas pessoas. A mim, por exemplo, sequer foi pedido sigilo - disse um petista convidado.

Lula quer resolver dois problemas ao fazer o PT apoiar Ciro em São Paulo: incomodar o PSDB, que governa São Paulo há 14 anos, e ter menos candidatos à sua sucessão, para que a eleição seja "plebiscitária", entre a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) e um candidato tucano (o governador de São Paulo, José Serra, ou o de Minas, Aécio Neves) apoiado pelo DEM.

Os petistas contrários ao projeto Ciro Gomes afirmam que o melhor para Dilma será ter dois palanques em São Paulo: o PSB lançaria Ciro, paralelamente ao do PT. Na reta final, os dois se aliariam. Enquanto isso, o PT teria tempo de ampliar sua candidatura no estado.

Em conversas reservadas, Lula também tem feito duras críticas à disputa interna pela presidência do PT. Ele avalia que isso pode deixar sequelas, além de tirar o foco do partido do objetivo principal. Ele chegou a afirmar a alguns interlocutores que o PT deveria se concentrar, neste momento, na candidatura de Dilma. Por essa avaliação, o partido ficará de julho até novembro discutindo candidaturas internas, quando deveria estar organizando as campanhas nos estados e no plano nacional.

Disputam o comando do PT o ex-senador José Eduardo Dutra (SE), da tendência Construindo um Novo Brasil (ex-Campo Majoritário), o deputado José Eduardo Cardozo (SP), da Mensagem ao Partido, o deputado Geraldo Magela (DF), do Movimento PT, a deputada Irini Lopes (ES), da Articulação de Esquerda, e Markus Sokol, da corrente O Trabalho.

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