quarta-feira, 15 de julho de 2009

Lula faz campanha ao lado de Collor

Clarissa Oliveira, Palmeira dos Índios
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Aos abraços, eles esquecem o passado

O presidente Lula elogiou generosamente o ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Mello (PTB) ontem, em Palmeira dos Índios, no interior de Alagoas. Ao lado da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseft, disse que fará tudo para eleger sua "sucessora", logo retificando a expressão para "sucessor". Esquecendo o fato de terem sido inimigos políticos dos mais ferozes, Lula e Collor trocaram sorrisos e abraços.

""Quero fazer justiça ao Collor"", diz Lula, ao elogiar ex-presidente

Após viajarem juntos no Aerolula, eles dividem palanque como aliados, em nada lembrando inimigos de 1989

Em visita à cidade de Palmeira dos Índios, interior de Alagoas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elogiou generosamente o ex-presidente da República e atual senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL). Agradeceu o apoio que tem prestado ao governo no Congresso e chegou até mesmo a comparar seu nome ao do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961).

Sorrindo e trocando abraços, após terem viajado juntos no avião presidencial, o Aerolula, nada neles lembrava o fato de já terem sido inimigos políticos, dos mais ferozes. Logo no primeiro evento da agenda que cumpriram em Palmeira dos Índios, a inauguração de uma adutora, Lula disse: "Quero fazer justiça ao senador Collor e ao senador Renan, que têm dado sustentação ao governo em seu trabalho no Senado."

Renan Calheiros (PMDB-AL), que foi derrubado da presidência do Congresso em 2007, em meio a um escândalo envolvendo um lobista, não estava presente para agradecer. Permaneceu em Brasília, ajudando o amigo José Sarney (PMDB-MA), também ameaçado de perda do cargo.

Minutos depois, Lula voltou a elogiar Collor. Ao falar sobre sua afinidade com o povo nordestino, o presidente citou Kubitschek e incluiu Collor na equação. "Não era habitual neste país os presidentes percorrerem o Brasil. Além do Collor, que é de Alagoas, o único presidente a vir aqui foi Juscelino Kubitschek", afirmou.

Ainda em Palmeira dos Índios, o principal jornal da cidade circulou com a manchete "Presidente Lula da Silva apoia Collor de Mello para o Governo de Alagoas".

A manchete pode indicar apenas que Collor já está em campanha. A aproximação cada vez maior entre ele e o presidente, Lula, porém, é sintomática, sinalizando o grau de pragmatismo e a conveniência que define alianças políticas no governo.

Conta a história que Collor chegou à Presidência, na primeira eleição pelo voto direto que o Brasil realizava desde 1960, após ter dito na campanha que seu opositor, o ex-líder sindical Lula, mergulharia o País num "banho de sangue", caso fosse eleito. Às vésperas da eleição, ele veiculou imagens de Miriam Cordeiro, ex-namorada de Lula, dizendo que o petista havia pedido a ela que fizesse um aborto, num episódio considerado por muitos como decisivo para a derrota do PT.

Lula, por sua vez, identificava Collor com as oligarquias políticas mais atrasadas do País. E, dois anos após a eleição, o PT foi um dos líderes da campanha pelo impeachment de Collor, cujo governo naufragou em meio a uma interminável série de escândalos de corrupção.

Depois da inauguração no interior, os dois viajaram para Maceió, para outro evento. E Lula voltou a mencionar o arqui-inimigo.

Collor não falou em nenhum dos dois eventos. Quem não economizou elogios ao presidente Lula foi o governador Teotônio Vilela Filho, que, por sinal, é do PSDB.

Colaborou Ricardo Rodrigues

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