sexta-feira, 4 de março de 2016

Opinião do dia – Sérgio Moro

Embora o ex-¬Presidente mereça todo o respeito, em virtude da dignidade do cargo que ocupou (sem prejuízo do respeito devido a qualquer pessoa), isso não significa que está imune à investigação, já que presentes justificativas para tanto

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Sérgio Moro, nno despacho que deflagrou nesta sexta-feira, 4, a Operação Aletheia

Alvo de nova fase de Lava-Jato, Lula será levado à Polícia Federal

• Ex-presidente deve cumprir mandado de condução coercitiva. Nova fase da Operação, batizada de 'Aletheia', é realizada em SP, RJ e BA. Ao todo, foram expedidos 44 mandados judiciais

Polícia Federal faz buscas na casa do ex-presidente Lula

• Nova fase da operação Lava-Jato é realizada em três estados

Por O Globo

RIO - A Operação Lava-Jato, que começou em março de 2014 e investiga um esquema bilionário de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, chegou na 24ª fase nesta sexta-feira. Segundo a PF, a operação ocorre na casa do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, em São Bernardo do Campo, em São Paulo, e na residência do filho dele, Fábio Luiz Lula da Silva, na capital paulista, onde são realizadas buscas.

A ação foi batizada de “Aletheia” e é uma referência a uma expressão grega que significa “busca da verdade”. Esta etapa é cumprida em três estados: Rio, São Paulo e Bahia. Ao todo, foram expedidos 44 mandados judiciais, sendo 33 de busca e apreensão e 11 de condução coercitiva - quando a pessoa é obrigada a prestar depoimento.

Um dos mandados de condução coercitiva tem como alvo o ex-presidente Lula, que será obrigado a ir à sede da Polícia Federal para prestar depoimento.

Na capital paulista, há também agentes da PF no Instituto Lula e na Odebrecht. Há mandados para Atibaia e Guarujá, onde estão o sítio e tríplex do ex-presidente.

Às 6h da manhã, os carros da Polícia Federal chegaram à casa de Lula, em São Bernardo do Campo, e permanecem no local. Às 6h50m, policiais estavam em frente ao Instituto Lula, em São Paulo.

Na casa de Fábio Luíz Lula da Silva, também conhecido como Lulinha, dois carros da PF e um da Receita Federal são usados na diligência. Quatro carros entraram na garagem do prédio de Lula e cerca de dez agentes ficaram na portaria.

Delação de Delcídio põe Dilma no centro da Lava- Jato

• Presidente é acusada de interferir na investigação

• Delator: Lula mandou comprar silêncio de Cerveró

• Ministro do STF vai homologar acordo com MP

Em depoimento prestado na negociação para uma delação premiada, o senador Delcídio Amaral ( PT- MS), líder do governo até novembro, pôs a presidente Dilma no centro da Lava-Jato ao afirmar que ela atuou para interferir nas investigações. No depoimento, revelado pela revista “IstoÉ”, Delcídio disse que, a pedido de Dilma, negociou o voto de um ministro do STJ para tentar soltar os empresários Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo. Afirmou também que ela sabia das irregularidades na compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, e que o ex-presidente Lula ordenou a tentativa de comprar o silêncio do ex- diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Embora o senador diga que não confirma a reportagem, o ministro Teori Zavascki, do STF, vai homologar a delação. A oposição exigiu a renúncia de Dilma e decidiu incluir as acusações no pedido de impeachment. A presidente condenou o vazamento de dados, mas não comentou o conteúdo da delação.

Delcídio estremece Planalto

• Delação de senador lança acusações contra Dilma, pela primeira vez no centro da operação

- O Globo

- BRASÍLIA, SÃO PAULO e RIO - Veio de um aliado próximo o primeiro petardo disparado na direção da presidente Dilma Rousseff, entre tantos já trocados na Lava- Jato. A delação premiada do senador Delcídio Amaral ( PT- MS), que será homologada pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal ( STF), envolve Dilma em tentativas de interferir nas investigações sobre o escândalo da Petrobras. O teor das acusações, divulgado ontem pela revista “IstoÉ”, levou Dilma e o Palácio do Planalto para o centro da crise, e estimulou a oposição, que chegou, no começo da tarde, a pedir a renúncia da presidente e a encorpar o discurso de impeachment.

A delação de Delcídio, líder do governo no Senado até ser preso, em novembro, é a primeira de um político que atuou no centro do poder, por isso acrescenta ainda mais pressão ao núcleo próximo a Dilma.

Nove horas depois da publicação da reportagem, a defesa de Delcídio, em nota, afirmou desconhecer os documentos apresentados pela revista, sem, contudo, negar a existência da delação. Dilma, sem entrar no mérito das acusações, disse repudiar o “uso abusivo de vazamentos como arma política”. A resposta oficial do Planalto veio depois de um dia de reuniões com ministros e assessores mais próximos, que se mostravam “anestesiados”. A avaliação é que a delação é “danosa”, por ter também repercussão econômica, já que o avanço de propostas no Congresso, cada vez mais ressabiado com o governo, tende a se tornar imprevisível.

Delcídio, segundo trechos de depoimentos publicados pela revista, cita uma suposta tentativa de ingerência da presidente no Superior Tribunal de Justiça ( STJ), para garantir a liberdade de presos na Lava- Jato. Também dá uma versão nova para a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, segundo a qual Dilma, então integrante do Conselho da Petrobras, sabia de tudo sobre as cláusulas da negociação.

Revelada pelo GLOBO, a delação garantiu ao senador a transferência da cadeia para prisão domiciliar após o carnaval. A operação em torno do acordo, sigilosa, o levou a prestar depoimentos no Natal e no Ano Novo. Os advogados do petista negavam a existência da delação.

O ex-presidente Lula, segundo documentos frutos do acordo, também teria tentado agir para proteger personagens envolvidos na Lava- Jato. Delcídio disse que Lula teria mandado comprar o silêncio do ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró. O ex-presidente afirmou que jamais participou de ilegalidade. O PT reagiu alertando que as declarações acelerarão o processo de expulsão de Delcídio. Mas o rol de acusações contra Lula, que já vinha crescendo com as investigações sobre imóveis ligados a ele, aumenta ainda mais e agrava a pressão sobre o ex-presidente.

As revelações do ex-líder do governo

1. LAVA- JATO

O QUE DISSE DELCÍDIO:
Que Dilma Rousseff e o então ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, tentaram em três ocasiões interferir na Lava- Jato. Duas foram frustradas: em encontro em Portugal com o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, que se recusou a agir a favor de empreiteiros, e quando o desembargador Newton Trisotto não aceitou votar pela libertação de Marcelo Odebrecht e Otavio Azevedo, em troca da nomeação de Nelson Schaefer, do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, para vaga no STJ. Delcídio diz que Marcelo Navarro Ribeiro Dantas só foi indicado ao tribunal porque aceitou trabalhar para libertar os empreiteiros. O próprio Delcídio teria conversado com Navarro.

O QUE ACONTECEU:
Dilma e Cardozo realmente se encontraram com Lewandowski na cidade do Porto, mas o motivo alegado para a conversa foi a discussão de um projeto de reajuste do salário de servidores do Judiciário. Já Newton Trisotto ocupou interinamente o cargo de ministro do STJ, antes de Navarro tomar posse. O atual ministro sugeriu a libertação dos executivos, mas foi voto vencido.

O QUE DIZEM O GOVERNO E ENVOLVIDOS:
Cardozo e Dilma negam qualquer ato ilegal. Trisotto diz que nunca houve tal proposta. E Navarro nega ter feito qualquer acordo em troca da indicação.

2. PASADENA

O QUE DISSE DELCÍDIO:
Dilma, então presidente do Conselho de Administração da Petrobras, sabia do esquema de superfaturamento associado à compra da Refinaria de Pasadena, nos EUA, em 2006.

O QUE ACONTECEU:
Em 2008, o Conselho de Administração da petroleira questionou o negócio. O TCU apontou que a compra da refinaria causou prejuízo de US$ 792 milhões à estatal. Em delação, o ex- diretor da estatal Nestor Cerveró disse que Dilma sabia dos detalhes da transação.

O QUE DIZ O GOVERNO:
A decisão de compra de Pasadena foi baseada em um resumo técnico falho sem todas as informações necessárias.

3. NOMEAÇÃO DE CERVERÓ

O QUE DISSE DELCÍDIO:
O senador diz que Dilma atuou para manter Nestor Cerveró na diretoria internacional da Petrobras, mas, por pressão do PMDB, ele perdeu o cargo. Delcídio disse que recebeu ligações de Dilma no dia da aprovação do nome de Cerveró para uma das diretorias da BR Distribuidora. Ela teria perguntado se Cerveró já havia sido indicado e, depois, teria ligado confirmando a nomeação.

O QUE ACONTECEU:
Substituído por Jorge Zelada, Cerveró foi retirado do cargo de diretor internacional da Petrobras em 3 de março de 2008. No mesmo dia, o Conselho da Petrobras anunciou a ida de Cerveró para a diretoria financeira da BR Distribuidora, na qual permaneceu até 21 de março de 2014, quando foi demitido.

O QUE DIZ O GOVERNO:
O advogado- geral da União, José Eduardo Cardozo, disse que a delação é formada por “um conjunto de mentiras”.

4. MESADA A CERVERÓ

O QUE DISSE DELCÍDIO:
Segundo o senador, Lula foi o mandante dos pagamentos para comprar o silêncio de Nestor Cerveró, com o objetivo de que o ex- diretor da Petrobras protegesse o pecuarista José Carlos Bumlai nos depoimentos.

O QUE ACONTECEU:
Delcídio foi preso no dia 25 de novembro de 2015, acusado de obstruir as investigações da Lava- Jato. Em uma gravação feita por Bernardo Cerveró, filho do ex- diretor da Petrobras, Delcídio aparece planejando a saída de Cerveró do país e propondo uma mesada.

O QUE LULA DIZ:
O Instituto Lula repudiou as acusações e negou a participação do ex- presidente em irregularidades.

5. MEDIDAS PROVISÓRIAS

O QUE DISSE DELCÍDIO:
O senador diz que Lula estava preocupado com o surgimento do nome de um dos seus filhos no escândalo da compra de medidas provisórias na CPI do Carf. Lula teria pedido várias vezes que ele “agisse para evitar a convocação” de lobistas.

O QUE ACONTECEU: 
Lobistas do escritório Marcondes e Mautoni foram presos na Operação Zelotes, acusados de intermediar a compra de MPs. Investigadores recolheram documentos que mostram que a LFT, empresa do filho de Lula, recebeu R$ 1,5 milhão dos lobistas.

O QUE LULA DIZ: 
Em nota, o Instituto Lula disse que as acusações ao ex- presidente divulgadas pela “IstoÉ” são “completamente falsas”.

6. MENSALÃO

O QUE DISSE DELCÍDIO:
O senador afirmou que Lula e o ex-ministro Antonio Palocci articularam um pagamento que chegaria a R$ 220 milhões para que o publicitário Marcos Valério, operador do mensalão, se calasse sobre a investigação. De acordo com o senador, o dinheiro foi prometido a Valério por Paulo Okamotto, hoje presidente do Instituto Lula.

O QUE ACONTECEU: 
Marcos Valério foi condenado a 37 anos de prisão. Na ocasião, Valério não colaborou com a investigação, mas, no início deste ano, o advogado Marcelo Leonardo informou que o publicitário tinha interesse em fazer um acordo de delação premiada no âmbito da Operação Lava- Jato.

O QUE LULA DIZ: Lula afirma que os vazamentos são “ilegais” e nega a participação em qualquer ilegalidade, “antes, durante ou depois” de seu governo.

7. CPI DOS CORREIOS

O QUE DISSE DELCÍDIO:
O senador, então presidente da CPI dos Correios, disse que testemunhou “tratativas ilícitas” entre parlamentares da base do governo e da oposição para a retirada de Lula e de um de seus filhos, Fábio Luís, da lista de indiciados. O acordo teria livrado Lula do impeachment.

O QUE ACONTECEU: 
O relatório da CPI mostra que os deputados Roberto Jeferson, José Múcio e Aldo Rebelo participaram de reuniões em que o ex- presidente Lula foi avisado sobre o mensalão. O senador Álvaro Dias apresentou um voto em separado pedindo o indiciamento de Lula, mas o pedido não foi aceito. Um relatório do deputado ACM Neto citava a Gamecorp e o fato de a empresa pertencer a Lulinha. O nome da empresa foi mantido, mas a referência ao filho do ex-presidente foi suprimida do relatório.

O QUE LULA DIZ: 
O ex-presidente diz que “jamais participou” de qualquer ilegalidade.

8. ATIBAIA E BUMLAI

O QUE DISSE DELCÍDIO:
De acordo com o depoimento, Bumlai chegou a contratar um arquiteto e um engenheiro para realizar uma reforma no sítio Santa Bárbara, em Atibaia, frequentado por Lula e familiares. Segundo o senador, no entanto, o executivo Léo Pinheiro, então presidente da OAS, se prontificou a fazer o serviço. O senador disse ainda que Bumlai tem grande proximidade com Lula, atuando como uma espécie de “consigliere” da família.

O QUE ACONTECEU: 
A Operação Lava- Jato investiga se Lula é o dono de fato do sítio, que está em nome dos empresários Fernando Bittar e Jonas Suassuna, sócios de Lulinha. A investigação aponta ainda que OAS e Odebrecht atuaram na reforma do imóvel.

O QUE LULA DIZ: 
O ex-presidente diz que não é dono do sítio e que o imóvel pertence a amigos.

9. CPI DO CACHOEIRA

O QUE DISSE DELCÍDIO:
Houve operação de caixa dois na campanha de Dilma em 2010 realizada pelo doleiro Adir Assad, condenado na Lava- Jato. Segundo o senador, o tesoureiro da campanha, José de Filippi, orientou empresários a fazerem contratos com empresas de Assad, que repassavam os recursos à campanha. Delcídio afirmou que o esquema seria descoberto pela CPI do Cachoeira, e o governo usou o apoio no Congresso para barrar as investigações.

O QUE ACONTECEU: 
Depois de oito meses de trabalho, a CPI chegou ao fim em dezembro de 2012 sem apontar responsáveis. Uma manobra da base governista, em outubro daquele ano, impediu a votação de requerimentos de quebra de sigilos e de convocação de novos depoentes.

O QUE DIZ O GOVERNO: 
O advogado- geral da União, José Eduardo Cardozo, disse que essa acusação “não faz sentido”.

Delcídio faz acordo de delação premiada e acusa Dilma de interferir na Lava Jato

• Segundo revista 'IstoÉ', senador apontou tentativa de Dilma de interferir na Lava Jato via STJ e disse que Lula ordenou acordo com Cerveró

Por Andreza Matais, Vera Rosa e Fausto Macedo – O Estado de S. Paulo

O senador Delcídio Amaral (PT-MS) fez acordo de delação premiada perante o grupo de trabalho da Procuradoria-Geral da República na Operação Lava Jato. Ele citou vários nomes, entre eles o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e detalhou os bastidores da compra da refinaria de Pasadena pela Petrobrás, entre outros assuntos. As primeiras revelações do ex-líder do governo fazem parte de um documento preliminar da colaboração.

Após vir à tona a revelação da delação, a presidente Dilma Rousseff mudou sua agenda e convocou os ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e o agora ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo para definir qual será a reação do governo.

Nesta fase, o delator indica temas e nomes que pretende citar em seus futuros depoimentos após a homologação do acordo. Delcídio foi preso no dia 25 de novembro do ano passado acusado de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato e solto no dia 19 de fevereiro. Desde que saiu da prisão, Delcídio nega ter feito delação premiada.

A revista IstoÉ divulgou os detalhes da delação de Delcídio que teria 400 páginas e trechos do depoimento. O senador acusou a presidente Dilma Rousseff de atuar três vezes para interferir na Operação Lava Jato por meio do Judiciário. “É indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido de promover a soltura de réus presos na operação”, afirmou Delcídio na delação, segundo a revista.

Cardozo deixou esta semana o ministério alegando sofrer pressões do PT para interferir na Lava Jato. Ele foi nomeado por Dilma para a Advocacia Geral da União (AGU).

Uma das investidas da presidente Dilma passou pela nomeação do desembargador Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). “Tal nomeação seria relevante para o governo”, pois o nomeado cuidaria dos “habeas corpus e recursos da Lava Jato no STJ”, informou a IstoÉ. Delcídio contou aos procuradores que a estratégia foi discutida com Dilma no Palácio da Alvorada, residência oficial dos presidentes da República, e que sua tarefa era conversar “com o desembargador Marcelo Navarro, a fim de que ele confirmasse o compromisso de soltura de Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo”, da Andrade Gutierrez. Conforme a IstoÉ, o senador se reuniu com Navarro no Palácio do Planalto, no andar térreo, em uma pequena sala de espera. Fato que poderia ser comprovado pelas câmeras de segurança. No STJ, Navarro votou a favor da soltura dos empresários, mas foi voto vencido.

De acordo com a Istoé, Delcídio afirmou que um dos temas que “mais aflige” o ex-presidente Lula é a CPI do Carf, que apura a compra de Medidas Provisórias durante o governo do petista para favorecer montadoras e o envolvimento do seu filho, Luiz Claudio, no esquema.

Como revelou o Estado em outubro de 2015, uma das empresas de Luiz Cláudio, a LFT Marketing Esportivo, recebeu pagamentos de Mauro Marcondes, um dos lobistas investigados por negociar a edição e aprovação da MP 471 durante o governo Lula. A norma prorrogou incentivos fiscais para o setor automotivo. Luis Cláudio, que também é dono da empresa Touchdown, confirma o recebimento de R$ 2,4 milhões.

Delcídio teria dito, segundo a revista, que “por várias vezes Lula solicitou a ele que agisse para evitar a convocação do casal Mauro Marcondes e Cristina Mautoni para depor”. Mauro e Cristina são sócios e estão presos preventivamente.

Mauro Marcondes e o petista têm uma ligação que remonta à década de 1980, quando um era executivo de montadora e o outro sindicalista no ABC. Segundo a revista, Delcídio disse aos procuradores da Lava Jato: “Lula estava preocupado com as implicações à sua própria família, especialmente os filhos Fábio Luís e Luis Cláudio”, fato confirmado a ele por Maurício Bumlai, filho do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula e preso na Lava Jato.

Outros pontos da delação revelados pela IstoÉ:

Dilma. Três supostas tentativas de Dilma Rousseff de interferir na Lava Jato. Segundo a IstoÉ, Delcídio afirmou na delação que um encontro entre a presidente Dilma Rousseff, o então ministro José Eduardo Cardozo e o presidente do STF, Ricardo Levandowski na cidade do Porto, em Portugal, em 07/07/2015 , teve como tema “a mudança nos rumos da Lava Jato. Contudo, a reunião foi uma fracasso, em função do posicionamento retilíneo do ministro Lavandowski, ao afirmar que não se envolveria.”A segunda tentativa envolveria indicar para uma das vagas no STJ o presidente do TJ de Santa Catarina, Nelson Schaefer. Em contrapartida, o ministro convocado para o TJ votaria pela libertação dos acusados Marcelo Odebrecht e Otavio Azevedo. “A investida foi em vão porque Trisotto se negou a assumir tal responsabilidade espúria. Mais um fracasso de José Eduardo em conseguir uma nomeação”, contou a IstoÉ. A terceira tentativa foi a nomeação de Marcelo Navarro para o STJ.

Pasadena. A presidente Dilma Rousseff tinha conhecimento das irregularidades envolvendo a compra da refinaria nos Estados Unidos: “Dilma Rousseff, como então presidente do Conselho de Administração da Petrobras, tinha pleno conhecimento de todo o processo de aquisição da Refinaria de Pasadena e de tudo o que esse encerrava. A alegação de Dilma de que ignorava o expediente habitualmente utilizado em contratos desse tipo, alegando desconhecimento de cláusula como put option, absolutamente convencional, é, no mínimo, questionável. Da mesma forma, discutir um revamp de refinaria que nunca ocorreu, é inadmissível. A tramitação do processo de aquisição de Pasadena durou um dia entre a reunião da Diretoria Executiva e o Conselho de Administração. Delcídio esclarece que a aquisição de Pasadena foi feita com o conhecimento de todos. Sem exceção”.

Lula. Partiu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a ordem para que Delcídio tentasse convencer Nestor Cerveró, preso na Lava Jato, a não implicar José Carlos Bumlai numa eventual delação premiada. Delcídio foi preso ao ser gravado pelo filho de Cerveró prometendo atuar junto a ministros para interferir na Lava Jato. “No caso, Delcídio intermediaria o pagamento de valores à família de Cerveró”. Segundo a IstoÉ, os R$ 50 mil entregues pelo senador ao advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, saíram do bolso do empresário Maurício Bumlai. No total, foram R$ 250 mil. A IstoÉ diz que a revelação pode indicar que o ex-presidente Lula tentou interferir na Lava Jato, mesmo motivo que levou a prisão de Delcídio.

Mensalão. Segundo a IstoÉ, Delcídio também contou aos procuradores que em 2006, Lula e o ex-ministro Antonio Palocci compraram o silêncio do empresário Marcos Valério sobre o esquema do mensalão. O valor prometido foi R$ 250 mil para sanar uma dívida. Valério não teria recebido toda quantia, mas se manteve calado sobre o esquema de compra de apoio político no governo Lula.O senador também mencionou, segundo a revista, ter testemunhado na madrugada do dia 5 de abril de 2006 as “tratativas ilícitas para retirada do relatório da CPI dos Correios (que investigou o mensalão) dos nomes de Lula e do filho Fábio Luís Lula da Silva em um acordão com a oposição”. Delcídio foi o presidente da CPI. E citou que a CPI dos Bingos, que funcionou concomitantemente a do mensalão, foi encerrada quando “o governo percebeu que as várias quebras de sigilo levariam à campanha Dilma 2010.” Ele afirmou, conforme a revista, que “orientados pelo tesoureiro de campanha de Dilma, José Di Filippi, os empresários faziam contratos de serviços com as empresas de Adir Assad, um dos alvos da CPI, que repassava recursos para as campanhas eleitorais”.

Delcídio cita Dilma e Lula em acordo de delação premiada

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Em delação premiada à força-tarefa da Operação Lava Jato, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) revelou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandou comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró e de outras testemunhas.

Detalhes do acordo foram veiculados pelo site da revista "Istoé", que publicou reportagem com trechos dos termos de delação. A informação de que Delcídio fechou acordo de delação premiada foi confirmada à Folha por pessoas próximas às investigações da Lava Jato.

De acordo com os documentos publicados pela revista, o senador também diz que Dilma Rousseff usou sua influência para evitar a punição de empreiteiros, ao nomear o ministro Marcelo Navarro para o STJ (Superior Tribunal de Justiça). O ministro Teori Zavascki, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidirá se homologa ou não a delação.

A principal preocupação do Planalto vai ser explicar as citações a Dilma, não a Lula. Auxiliares da presidente dizem que é o petista quem deve cuidar de sua defesa, não o governo.

Em seu relato, Delcídio cita outros senadores e deputados, tanto da base aliada quando da oposição. Segundo a publicação, o senador petista revelou que Dilma tentou três vezes interferir na Lava Jato com a ajuda do ex-ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. "É indiscutível e inegável a movimentação sistemática do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da própria presidente Dilma Rousseff no sentido de tentar promover a soltura de réus presos no curso da referida operação", afirmou.

O senador diz, segundo a revista, que a terceira investida de Dilma contra a Lava Jato foi a nomeação de Navarro para o STJ. "Tal nomeação seria relevante para o governo", pois o nomeado cuidaria dos "habeas corpus e recursos da Lava Jato no STJ", conta Delcídio.

Anteriormente, afirma a reportagem, a petista tentou influenciar o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, e buscou um acordo com o presidente do TJ de Santa Catarina, Nelson Schaefer. O catarinense seria nomeado para o STJ se o juiz substituto na corte Newton Trisotto, também de Santa Catarina, votasse pela libertação dos empreiteiros.

De acordo com a revista, Delcídio diz que Lula pediu "expressamente" para que ele ajudasse o pecuarista José Carlos Bumlai porque o empresário estaria implicado nas delações de Fernando Baiano e Nestor Cerveró. Para o senador, Bumlai tinha "total intimidade" e exercia o papel de "consigliere" da família Lula, expressão em italiano que remete aos conselheiros dos chefes da máfia italiana. "No caso, Delcídio intermediaria o pagamento de valores à família de Cerveró", afirma o acordo de delação.

Na conversa com o ex-presidente, de acordo com outro trecho da delação, Delcídio diz que "aceitou intermediar a operação", mas lhe explicou que "com José Carlos Bumlai seria difícil falar, mas que conversaria com o filho, Maurício Bumlai, com quem mantinha boa relação".

Depois de receber a quantia de Maurício Bumlai, a primeira remessa de R$ 50 mil foi entregue em mãos pelo próprio Delcídio ao advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, também preso pela Lava Jato e solto em 24 de fevereiro.

Delcídio passou quase três meses preso por determinação do STF após ser gravado por um filho de Cerveró tramando a fuga do ex-diretor da Petrobras. Ele foi solto em 19 de fevereiro e a seguir pediu licença médica do Senado. Na negociação do acordo, conforme informou a Folha em fevereiro, Delcídio se mostrou disposto a implicar senadores do PSDB. O senador presidiu em 2005 a CPI dos Correios, que investigou o escândalo do mensalão.

CARF
Em seu relato no acordo, Delcídio afirma, ainda segundo a revista, que uma das maiores preocupações de Lula é a CPI do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), já que as investigações podem atingir os filhos do ex-presidente, Fábio Luiz Lula da Silva e Luiz Claudio Lula da Silva.

O senador conta que várias vezes foi convocado por Lula para evitar a convocação de Mauro Marcondes e Cristina Mautoni para depor. De acordo com o relatório da Lava Jato, como líder do Senado, Delcídio "mobilizou a base do governo para derrubar os requerimentos de convocação do casal".

Em outro trecho sobre o ex-presidente, o senador afirma que o silêncio do publicitário Marcos Valério, pivô do escândalo do mensalão, foi comprado e diz que o assunto foi discutido com Paulo Okamotto, atual presidente do Instituto Lula. O pagamento, inicialmente estimado em R$ 220 milhões, mais adiante ficou sob "a responsabilidade" do ex-ministro Antônio Palocci.

Pasadena
Uma das partes mais contundentes do acordo aborda a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, pela Petrobras. O depoimento, diz a "Istoé", afirma que Dilma, como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, tinha "pleno conhecimento" do processo de aquisição da unidade e "de tudo que esse encerrava".

A compra da refinaria gerou prejuízo milionário à Petrobras e foi alvo da 20ª fase da Lava Jato, chamada de "Corrosão".

A revista afirma que Dilma atuou de maneira decisiva para que Cerveró fosse mantido no cargo de diretor da área Internacional da Petrobras, em 2008. Ele acabou sendo realocado em uma diretoria da estatal BR Distribuidora.

Delcídio implica Lula e Dilma em delação, diz revista

Repercussão
Após uma reunião com Lula, o presidente do PT, Rui Falcão, disse nesta quinta que, se confirmados, os termos da delações de Delcídio "não merecem credibilidade". "Se é que ele fez essas declarações, não merecem credibilidade. Porque nunca o ex-presidente Lula fez tratativas como as mencionadas, tampouco a presidente Dilma", afirmou.

Falcão fez questão de frisar que Delcídio foi suspenso do PT e que o senador será notificado pela comissão de ética do partido e, a partir daí, terá dez dias para apresentar sua defesa.

Reunida em São Paulo, a cúpula do PT definiu como estratégia, porém, desqualificar o teor das acusações, alegando que o senador está magoado com o partido. A decisão, até agora, é de não se manifestar formalmente e de responder apenas se for oficialmente questionado.

A informação sobre a delação caiu como uma bomba na reunião da executiva nacional do PT. O encontro foi convocado para debater estratégia para as eleições municipais. Mas a notícia mudou a pauta da reunião.

O Instituto Lula afirma, por meio de nota, que o ex-presidente "jamais participou, direta ou indiretamente, de qualquer ilegalidade, seja nos fatos investigados pela operação Lava Jato, ou em qualquer outro, antes, durante ou depois de seu governo".

Durante a cerimônia de posse de novos ministros, nesta quinta, Dilma criticou a delação de Delcídio. "Continuaremos defendendo que a presunção de inocência não pode ser substituída pelo pressuposto da culpa e nem dar lugar à execração pública sem acusação formal. E também à condenação sem processo por meio de vazamentos ilegais e seletivos."

"O combate à corrupção continua sendo uma prioridade em meu governo e nenhum governo realizou um enfrentamento tão duro e eficiente como o meu. E continuará sendo assim", disse Dilma.

A presidente ainda convocou uma reunião de emergência com seus assessores mais próximos no Palácio do Planalto para discutir os efeitos no governo das declarações do senador e a estratégia da presidente diante do assunto.

A ordem inicial no Palácio do Planalto é descredenciar Delcídio, repetir que ele falou mentiras "em outras ocasiões", e que, portanto, "não tem credibilidade" para dar informações.

‘ Anestesiado’, governo teme avanço do impeachment no Congresso

• Impacto de delação é maior pela proximidade entre Delcídio e Planalto

Simone Iglesias, Catarina Alencastro Gabriela Valente - O Globo

- BRASÍLIA- A delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT-MS), publicada pela revista “IstoÉ”, caiu como uma bomba no Palácio do Planalto. Desde cedo, a presidente Dilma Rousseff convocou ministros e assessores mais próximos para avaliar a extensão dos danos. Dilma e seus auxiliares se mostravam “anestesiados”, nas palavras de um participante da reunião. Segundo relato de ministros, a presidente disse ter se sentido traída pelo senador e avaliou que o impacto das declarações será ampliado pelo fato de Delcídio ser, como disse Dilma, “um dos nossos” — um aliado com acesso livre ao Planalto.

Esta é considerada pelo governo a primeira bala que afeta diretamente Dilma, disparada por um aliado de primeira hora, com trânsito livre no Planalto e no Alvorada, residência oficial. A delação de Delcídio, para o Planalto, coloca mais combustível no pedido de impeachment, que parecia adormecido e até mesmo superado.

— Mesmo que tudo isso seja calúnia, o volume é tanto que não dá tempo de fazer defesa, de contestar as informações, de se opor a tudo. É um sentimento de atordoamento que todos estão sentindo — afirmou um auxiliar da presidente.

Este auxiliar considerou “danosa” a delação, porque será mais um elemento a impedir que o governo reaja política e economicamente, já que será improvável o avanço de propostas no Congresso em meio à crise institucional. Interlocutores da presidente temem, inclusive, que um novo pedido de impeachment seja apresentado pela oposição, com base na acusação de que Dilma teria nomeado o ministro Marcelo Navarro para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) para que ele aprovasse habeas corpus para empreiteiros presos no âmbito da Lava- Jato.

A própria presidente decidiu escalar sua equipe para responder ponto a ponto cada informação publicada. Sua preocupação maior foi quanto à repercussão da matéria e à possibilidade de se transformar num linchamento público.
— (Imagina) a festa que vão fazer em cima disso — reclamou, logo após ter tido acesso à revista.

O governo agiu rapidamente para botar em campo uma defesa tripla: desqualificar Delcídio; criminalizar o vazamento da delação e destrinchar o conteúdo revelado pelo senador. Logo após ser empossado como advogado- geral da União, José Eduardo Cardozo, disse, ainda no fim da manhã, que o ex-líder do governo não tinha credibilidade. No início da tarde, Jaques Wagner (Casa Civil) afirmou que o vazamento foi um crime. Novamente, no meio da tarde, Cardozo assumiu o papel de voltar a deslegitimar Delcídio, dizendo que ele mentiu, e rebateu as informações dadas pelo senador.

No dia em que os dados mostraram o pior resultado do PIB desde 1990, integrantes do governo já admitiam — sob a condição de anonimato — que a melhora da economia só virá após a presidente Dilma deixar o cargo.

— Essa delação do Delcídio complica tudo ainda mais para a economia. Isso tudo só vai acabar quando mudar o governo — comentou uma fonte da equipe econômica.

A leitura de pessoas com acesso à presidente é que ela teria tomado tantas medidas equivocadas que não teria mais condições de consertar os rumos da economia. Uma fonte frisou que cresce entre os técnicos do governo a visão de que a mudança do comando do país seria benéfica:

— Não defendo o impeachment, mas se o TSE cassasse o mandato da presidente, a situação melhoraria.

O clima anda tão tenso no Palácio do Planalto que alguns assessores têm confidenciado a colegas a intenção de deixar o governo.

Oposição quer a renúncia da presidente

• Partidos pedem ‘ gesto de grandeza’ e decidem adicionar acusações de Delcídio ao processo de impeachment

Maria Lima, Isabel Braga, Eduardo Bresciani e Lauro Neto - O Globo

- BRASÍLIA- Após reunião de emergência, lideranças de todos os partidos que integram o bloco de oposição — PSDB, PPS, DEM, PV e SD — decidiram ontem adicionar ao pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que tramita na Câmara dos Deputados, as acusações do senador Delcídio Amaral ( PT- MS). Os líderes da oposição decidiram também incorporar ao discurso pressão para que a presidente Dilma “pense no país” e renuncie ao mandato para que um governo de transição possa enfrentar a grave crise econômica, política e institucional.

A avaliação dos oposicionistas é que as acusações podem servir de combustível para inflamar as manifestações contra Dilma previstas para o dia 13. Ontem, em sucessivas reuniões desde cedo, integrantes da oposição passaram a traçar as estratégias para usar o material da delação na guerra contra o governo.

Em conversa com senadores, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves ( MG), se referia aos acontecimentos como “o fim da caminhada”. Os líderes da oposição ficarão de plantão no fim de semana à espera dos desdobramentos.

— Existe uma agenda clamando para ser executada enquanto o governo da presidente Dilma vive a tempestade perfeita. A delação do Delcídio é devastadora. A presidente Dilma precisa ter um gesto de grandeza e renunciar para que, a partir daí, possamos implementar essa agenda de transição, de união nacional, que melhore as contas públicas e estanque o crescimento absurdo da dívida — defendeu Aécio.

Em busca da adesão do PMDB
Na tribuna, outros senadores da oposição se revezaram para pedir a renúncia de Dilma. Aloysio Nunes Ferreira (PSDB- SP) afirmou que a presidente “tem que sair” e convocou todos os partidos de oposição e o PMDB para participarem da discussão de uma agenda de transição para um pós- Dilma a qualquer momento:

— Eu me dirijo aos meus amigos do PMDB. Será que são sete ministérios sem orçamento, desprestigiados, num governo em crise, será esse o preço, a miserável esmola para sustentar um governo que acabou e que soçobra na lama e que vai arrastar na lama o próprio PMDB?

A estratégia das oposições é atrair o PMDB. Segundo um dos presentes à reunião, a avaliação é que se o PMDB aderir ao “barco da oposição”, fica mais fácil outros partidos da base enfraquecerem Dilma na votação do impeachment.

O presidente do PPS, Roberto Freire (SP) e o líder Rubens Bueno ( PR) defenderam a apresentação de um novo pedido de impeachment com as revelações de Delcídio. Mas os demais líderes consideraram que isso poderia jogar o processo na estaca zero e daria ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB- RJ), poder de barganha sobre a decisão de acatar o pedido e estabelecer novos prazos. Acabaram concordando com a proposta de Ronaldo Caiado ( DEM- GO) de fazer aditamento, mantendo o processo no mesmo patamar.

— É um caminho mais seguro que não pode ser usado para procrastinar. E temos que tirar o Cunha como personagem do centro do impeachment — avaliou um dos líderes.

O novo advogado geral da União, José Eduardo Cardozo, disse que não há possibilidade de o pedido de impeachment da presidente Dilma receber novas denúncias, como as de Delcídio.

— Não existe possibilidade de aditamento em pedido de impeachment. Se alguém tentar fazer isso, obviamente incorre numa ilegalidade. Mas vamos aguardar. Não sabemos exatamente nem se há uma delação, se o senador Delcídio afirmou alguma coisa. É muito cedo para se fazer qualquer cogitação — afirmou Cardozo, que substituiu Luís Inácio Adams no cargo.

O coordenador jurídico da oposição, o deputado Carlos Sampaio ( PSDB- SP), também dará ciência ao Tribunal Superior Eleitoral das informações reveladas pela revista. Na Câmara, oposicionistas também subiram à tribuna desde cedo para condenar as revelações de Delcídio. Como no Senado, cobraram que Dilma renuncie ao mandato.

Base aliada vê agravamento da crise
Entre os líderes da base aliada, o sentimento é que é preciso aguardar a conclusão sobre as informações que vieram à tona ontem. Segundo eles, é preciso ver quais são realmente os termos da delação premiada e se ela irá se confirmar. Há a constatação, no entanto, de que há um agravamento da crise política, que poderá refletir também na economia, diante da maior dificuldade para levar adiante as votações no Congresso. Para os líderes aliados, no entanto, ainda é cedo para saber se o sentimento dos deputados em relação ao impeachment — que estava controlado — poderá reascender.

— Para o impeachment, não vejo clima. Mas cresce a crise e isso atinge o país. Agora, é preciso esperar para ver a reação do Ministério Público, do Supremo, eles ainda não se pronunciaram. Vamos ver se são idôneas as informações, que, por enquanto só estão na mídia. Vamos aguardar os novos rumos para reunir a bancada e os partidos — disse o líder do PDT, Weverton Rocha (MA).

Para o líder do PTB, Jovair Arantes ( GO), as novas denúncias reabrem o debate sobre o impeachment na Casa e o sentimento pode se ampliar, dependendo da mobilização de rua no próximo dia 13. A maioria dos líderes aliados aguarda, com cautela, o avanço dos fatos.

— As pessoas já tinham informação anterior de que Delcídio iria fazer a delação. Temos que ver qual é a real delação e como isso repercute na sociedade. Quem vazou? Qual o interesse em jogo? É preciso entender os movimentos. O que sei é que esse povo não vai dormir direito não — disse um dos líderes aliados.

O presidente da OAB, Claudio Lamachia, irá a Brasília hoje para protocolar no Superior Tribunal de Justiça (STJ) um requerimento de acesso à delação premiada de Delcídio. De acordo com Lamachia, se confirmada a interferência de Dilma nas investigações da Lava- Jato, um novo pedido de impeachment poderá ser aberto.

— Se confirmados esses fatos gravíssimos, acredito que a OAB não faltará ao Brasil e tomará as medidas necessárias. Até mesmo a abertura de impeachment — disse Lamachia.

Governo reconhece que estrago político já está consumado

Tânia monteiro - O Estado de S. Paulo

A presidente Dilma fez ontem três reuniões para avaliar a crise provocada pelo depoimento de Delcídio Amaral. Na segunda delas, a cada trecho que lia, na presença do ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, e de seu assessor especial, Giles Azevedo, ela ordenava: “Tem de desmontar ponto a ponto disso”.

Ela listou cada um dos pontos que precisavam ser rebatidos. Em uma terceira reunião, após receber atletas olímpicos de ginástica artística no Planalto, com a presença do novo ministro da Advocacia-Geral da União, José Eduardo Cardozo, Dilma parecia agoniada. “É um conjunto de inverdades. Nada disso se sustenta”, dizia ela, que insistia em saber se Delcídio confirmara que havia dito aquilo.

Como não havia resposta, ficou acertado que Cardozo e Wagner responderiam o quanto antes às denúncias. Mas ambos deveriam ter o cuidado, o tempo todo, de colocar as palavras no condicional, em uma tentativa de relativizar a estratégia de desqualificar o senador Delcídio, pois, até o momento, havia apenas uma “suposta delação”. Em seguida, veio a informação de que Delcídio faria uma nota.

Com a divulgação da nota do senador, na qual ele nega o teor da publicação daIstoÉ, mas não desmentia que tenha feito a delação premiada, a presidente decidiu preparar uma nota com sua assinatura na qual rechaça “o uso abusivo de vazamentos como arma política”.

Dilma mandou ainda que fosse divulgada a defesa que mandou para a Procuradoria-Geral da República, em abril de 2014, sobre a refinaria de Pasadena.

O governo reconhece que “o estrago está feito” e que será preciso “trabalhar muito” para reverter o prejuízo. As preocupações no governo não cessaram já que não se sabe, de fato, o quão bombástico é o conteúdo do que disse o senador petista.

Oposição irá adicionar delação de Delcídio a processo de impeachment

Mariana Haubert – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Parlamentares da oposição decidiram nesta quinta-feira (3) pedir a inclusão das informações contidas nadelação premiada do senador Delcídio do Amaral(PT-MS) no pedido de abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, em tramitação na Câmara dos Deputados.

Segundo o senador Aécio Neves (PSDB-MG), mesmo não tendo sido homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), a delação pode ser incluída no processo para que, durante a sua análise, as informações possam ser checadas.

"Seria uma omissão das oposições não permitir que a comissão do impeachment e o plenário não se debrucem também sobre essas informações. Caberá, obviamente, às investigações e análises comprovar a veracidade ou não do que está na revista, mas é algo extremamente grave e não temos visto, até agora por parte do governo, uma condenação tão enfática que nos faça perceber que essas denúncias não sejam verdadeiras", disse Aécio.

Segundo a oposição, o aditamento é possível porque ainda não houve a defesa prévia da presidente Dilma Rousseff. "Não estamos retirando as prerrogativas da presidente da República", explicou o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO).

O documento será subscrito pelos autores do pedido de impeachment, o ex-petista Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal, e deverá ser protocolado na próxima segunda-feira (7).

Por uma questão de celeridade do processo, os oposicionistas avaliam que um aditamento evita que um novo processo seja aberto e, com isso, etapas já superadas tenham que ser refeitas. "É um caminho mais seguro e não pode ser usado como desculpa para procrastinar", afirmou Aécio.

Por outro lado, os parlamentares também evitam, assim, deixar novamente nas mãos do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a decisão sobre quando e como se daria a abertura do novo caso.

Por unanimidade, os ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) decidiram abrir a primeira ação penal da Operação Lava Jato no tribunal e tornar réu o peemedebista, sob a acusação dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

Questionado sobre a legitimidade de Cunha para conduzir o processo na Câmara uma vez que ele é réu no Supremo, Aécio afirmou que essa não é uma questão apenas do presidente, mas da instituição Câmara dos Deputados. Ele voltou, no entanto, a defender o afastamento de Cunha da presidência da Casa.

"É uma decisão que será tomada por uma comissão representativa da Câmara composta por todos os partidos políticos e, em última instância, pelo plenário. Qualquer um de seus membros, inclusive o presidente, não pode impedir a Câmara de cumprir o seu papel constitucional", disse o tucano.

O senador se reuniu com outros líderes da oposição nesta tarde para discutir a reação conjunta após a divulgação de informações sobre a delação premiada de Delcídio.

As informações foram veiculadas na manhã desta quinta-feira (3) pelo site da revista "Istoé", que publicou trechos do acordo de delação de Delcídio.

Pessoas próximas às investigações da Lava Jato confirmaram à Folha a informação de que Delcídio fechou acordo com a Procuradoria-Geral da República para fazer delação premiada. Nos chamados anexos, o senador teria se comprometido a citar Dilma e Lula.

Aécio avaliou que, se as informações forem confirmadas, o Brasil vive "o momento mais grave de toda essa crise moral por que passa o país". Após a reunião, o tucano voltou a pedir a renúncia de Dilma Rousseff em discurso no plenário do Senado. "A presidente Dilma precisa ter um gesto de grandeza e renunciar à presidência da república para que a partir daí possamos implementar uma agenda de transição", disse.

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Delação de Delcídio reforça pressão por impeachment, avalia PMDB

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A ala do PMDB que defende o afastamento da presidente Dilma Rousseff acredita que, se homologada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), a delação do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) resultará "na mais robusta peça de impeachment" já formulada contra a petista, o que empurrará o restante da sigla para a oposição.

Após a revista "IstoÉ" publicar detalhes do conteúdo do acordo de delação proposto pelo senador, a bancada do PMDB no Congresso oscilou entre a perplexidade e a expectativa sobre os desdobramentos do mais novo capítulo da crise que dragou a administração petista.

O grupo da sigla que ainda oferece suporte ao governo reconheceu que, se confirmadas, as informações prestadas por Delcídio aos investigadores vinculam pessoalmente a presidente ao Petrolão acabam com o discurso que vem sendo usado por ela para travar o impeachment: o de que, pessoalmente, está fora de qualquer suspeita.

Já a ala que é entusiasta da queda de Dilma vive a expectativa da homologação da delação e de sua anexação ao pedido de impeachment que já tramita na Câmara. Esses peemedebistas também não descartam que um novo pedido de afastamento seja apresentado no Congresso.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) acompanhou as movimentações. Pessoas próximas acreditam que, como ele levou à frente uma peça calçada apenas em denúncias de irresponsabilidade fiscal (veja abaixo, no infográfico, os pontos do pedido) –com pouco apelo popular–, Cunha não temeria aceitar um novo pedido formulado com foco nas alegações de Delcídio, que são vistas como mais palatáveis à população.

Pessoas próximas ao deputado chegaram a sugerir que o impacto das novas denúncias teria dado a Cunha um discurso para se afastar da presidência da Câmara.

O deputado poderia conduzir sua sucessão e, assim, negociar uma penalidade branda no Conselho de Ética, se afastando do centro do embate com o governo. A esses, no entanto,o peemedebista rechaçou qualquer possibilidade de deixar o cargo. "Isso está fora de cogitação", disse Cunha, segundo relatos.

Os entusiastas da queda de Dilma esperam as manifestações do próximo dia 13 para mensurar o impacto real das revelações sobre a delação de Delcídio. Nas palavras de um peemedebista, se as atos anti-Dilma no país forem muito grandes será o fim do governo petista.

'Não adianta tapar o sol com a peneira', diz Temer em viagem ao Nordeste

• Ao comentar a crise política e econômica, vice-presidente afirma que são necessárias medidas 'ousadas' para não o País não 'afundar'

Luciano Coelho - O Estado de S. Paulo

No dia em que o vazamento da delação premiada do senador Delcídio Amaral dominou a política em Brasília por causa das citações à presidente Dilma Rousseff e ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Michel Temer percorreu três Estados do Nordeste, com a Caravana da Unidade, que antecede a convenção que o reconduzirá à presidência do PMDB. Em discurso no Maranhão, Temer afirmou que “não adianta tapar o sol com a peneira”, ao comentar a crise política e econômica. Disse ainda que são necessárias medidas “ousadas” para não o País não “afundar” na crise.

No Piauí, Temer lembrou momentos em que o PMDB deu sustentação a governos passados. “Agora não queremos mais apenas governabilidade, queremos governo”, discursou. Nesse momento, foi aplaudido e interrompido por um militante que mencionou indiretamente a possibilidade de impeachment da presidente Dilma.

“Agora, presidente, o senhor vai ser presidente agora, já já”, gritou. Temer riu e voltou ao tema da candidatura própria para presidente. “O PMDB tem muitas figuras de destaque que podem ser candidatas à presidência da República”. O vice afirmou que um dos caminhos para fortalecer a candidatura própria é o PMDB garantir o maior número de prefeituras do País, nas eleições municipais de outubro.

O vice tem repetido em todos os Estados visitados a pregação por unidade partidária para sair da crise e pela divulgação do programa partidário, chamado “Uma ponte para o futuro”. “Temos uma crise politica e econômica muito grave, não adianta tapar o sol com a peneira, não vale a pena. De oito, nove meses para cá, tenho dito que precisamos reunificar o País, pacificar as relações sociais”, afirmou em discurso. “Lançamos teses verdadeiramente ousadas para serem discutidas pela sociedade. Se não adotarmos estas teses mais ousadas, não teremos saída. O que queremos é saída para a crise, estamos trabalhando nessa direção, caso contrário vamos afundando na crise. Quanto mais afundarmos na crise, em um mês, dois meses, um ano, dois anos, três anos, quatro anos, cinco anos, levamos 30 anos para sair dela”, afirmou Temer no Maranhão.

O vice disse ainda que o País vive uma crise institucional “a cada 25, 30 anos”. “Temos que romper esse ciclo histórico, aplicar a Constituição com toda serenidade”, afirmou. Temer era esperado à noite em Alagoas e a previsão era de que dormisse no Mato Grosso do Sul, Estado de Delcídio Amaral, onde cumprirá agenda hoje.

Acompanhando Temer na viagem, os ex-ministros Moreira Franco (Assuntos Estratégicos) e Eliseu Padilha (Aviação Civil) voltaram a defender que o partido lance candidatura própria para a Presidência em 2018. Os dois ex-ministros saíram do governo Dilma no fim do ano passado. Para o presidente da executiva estadual do PMDB no Piauí, João Henrique Sousa, o vice-presidente tem currículo para ocupar o cargo. "Ele (Michel Temer) já foi presidente diversas vezes e tem todas as condições de ser presidente, seja por circunstâncias constitucionais ou políticas, ele será presidente”, assegurou Sousa.

Mudanças. Em sintonia, o ex-ministro Moreira Franco pediu mudanças no País. "O Brasil precisa mudar e estamos construindo as condições para isso. Vamos nos organizar para estarmos preparados para estes anseios de mudança, para deixar de ser o garantidor da governabilidade e segurar as rédeas, sermos governo. Precisamos dar um basta e já”, disse.

Moreira Franco foi ministro em duas pastas de Dilma, Aviação Civil e Assuntos Estratégicos. Hoje é o presidente da Fundação Ulisses Guimarães. Já percorreu 12 Estados e vai percorrer mais três neste fim de semana, como precursor de Temer. Ele disse que o PMDB quer construir um partido grande com o maior número de vereadores, vice-prefeitos e prefeitos, para preceder a eleição geral.

“Temos esperanças de mudanças. Nós temos voz e não temos dono. Vivemos a mais grave crise econômica da história. Temos que buscar condições para a população não perder as conquistas que já teve até agora. O governo desenvolve uma política econômica equivocada. Trouxe a inflação e a carestia de volta. As prefeituras e os estados estão totalmente quebrados, mas temos um quadro com alternativas para sair desta situação. O silêncio do governo nos força a buscar alternativas”, discursou Moreira Franco, ao lado de Temer e Eliseu Padilha, no auditório do PMDB piauiense.

Ele frisou que o PMDB busca alternativas com segurança jurídica e constitucional. “Não optamos por aventuras. Buscamos o crescimento econômico. Mas vimos que o governo vive sem parâmetros e queremos evitar viver uma situação pior”, acrescentou Moreira Franco.

O vice-presidente adotou um tom mais ameno. Temer disse que o PMDB tem um programa de governo pronto para o País. “Queremos o governo e não apenas sermos os garantidores da governabilidade”, frisou. O Piauí foi o 13º Estado da caravana da unidade, e Temer seguiu para Alagoas, terra do senador Renan Calheiros, que ensaiou uma disputa com ele na convenção nacional. Até a próxima semana, a caravana vai fechar 23 estados com o discurso de unidade do partido ou separatista do governo.

“Estamos nessa campanha pelo Brasil para unificar o PMDB e não vamos ter nenhuma disputa no dia 12. Será uma chapa única. Estamos numa crise tão grave que o valor que mais se sobreleva é o fator país, para sair da crise. Há movimentos nessa direção feitos pelo PMDB. Percebemos que precisamos lançar uma mensagem para o País de forma positiva que é a ponte para o futuro”, disse Temer

Lula mandou calar Cerveró, afirma Delcídio

• Senador diz que ex- presidente interveio em favor do amigo Bumlai; em nota, instituto nega as acusações

Cleide Carvalho, Dimitrius Dantas, Mariana Sanches, Stella Borges, Silvia Amorim e Thiago Herdy – O Globo

- SÃO PAULO- Em acordo para delação premiada, o senador Delcídio Amaral ( PT- SP) disse que o ex-presidente Lula sabia do esquema de corrupção na Petrobras e mandou dar dinheiro à família de Nestor Cerveró, ex- diretor da estatal, para comprar o silêncio dele nas investigações da Operação Lava- Jato. De acordo com a reportagem da revista “IstoÉ”, Delcídio disse que o ex-presidente pediu “expressamente” a ele que ajudasse o pecuarista José Carlos Bumlai, seu amigo, porque ele seria citado nas delações premiadas do lobista Fernando Baiano e de Cerveró. Segundo Delcídio, Bumlai tinha “total intimidade” com Lula e exercia o papel de “consigliere” (conselheiro) da família.

De acordo com a revista, Delcídio era o responsável por intermediar os pagamentos à família de Cerveró. O senador disse que acertou os detalhes com o filho do pecuarista, Maurício Bumlai. Ao todo, teriam sido pagos R$ 250 mil a Cerveró, em remessas de R$ 50 mil, entregues pelo advogado Edson Ribeiro e Diogo Ferreira, assessor de Delcídio.

A reportagem diz ainda que Delcídio afirmou que, em 2006, Lula e o ex- ministro Antonio Palocci articularam um pagamento de R$ 220 milhões a Marcos Valério, para evitar que o publicitário se manifestasse sobre o mensalão. Na ocasião, o dinheiro teria sido prometido a Valério por Paulo Okamotto, hoje presidente do Instituto Lula. Em relação ao sítio de Atibaia, o senador afirmou que Bumlai teria contratado um arquiteto e um engenheiro para fazer as obras, mas a operação foi abortada pelo então presidente da OAS, Léo Pinheiro, que se dispôs a colocar a empreiteira para realizar o serviço.

Estratégia é desqualificar senador petista
Entre aliados e assessores próximos a Lula, a avaliação ontem era que Delcídio abriu mão do mandato e da relação com o PT para tentar se salvar. A estratégia agora é desqualificar o senador petista, dizer que ele conta mentiras e bravatas para salvar a própria pele, como já teria feito com Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró.

Ontem, o Instituto Lula negou as acusações de Delcídio: “O ex- presidente Lula jamais participou, direta ou indiretamente, de qualquer ilegalidade, seja nos fatos investigados pela Operação Lava- Jato, ou em qualquer outro, antes, durante ou depois de seu governo.”

Lula passou o dia reunido em seu instituto com petistas. Além do presidente do partido, Rui Falcão, o estrago provocado pela delação ainda foi alvo de discussões com o ex-ministro Luiz Dulci e o ex- secretário da Presidência, Gilberto Carvalho. Nos bastidores, a análise é a de que a situação do governo Dilma, que já era extremamente delicada pela delação dos 11 executivos da Andrade Gutierrez, entrará em fase terminal. As análises sobre a situação de Lula ultrapassaram os muros do Instituto. — Lula está ilhado — disse uma fonte. Preocupação e cautela foram palavras usadas por petistas em São Paulo para resumir a situação

— Isso traz preocupação, mas temos que ver se essa delação vai se confirmar. Vamos ter cautela — reagiu um líder do partido.

Rui Falcão, em rápido contato com a imprensa na sede do Diretório Nacional, seguiu a estratégia de atacar a credibilidade de Delcídio. Ele lembrou que o senador foi afastado pelo partido e que uma comissão de três pessoas analisará a possibilidade de expulsão.

— O ex-presidente Lula não participou de nenhuma tratativa, e a presidenta Dilma não interferiu nas investigações — afirmou Falcão.

Segundo amigos, o ex-presidente jamais esperava que Delcídio incluísse seu nome e o de Dilma numa delação. Para ele, Delcídio era um aliado de confiança, tanto que, depois de sair do governo, deu ao senador a tarefa de levar ao governo as orientações que esperava ver seguidas pela presidente. 

Até ser preso na Lava- Jato, Delcídio vinha semanalmente a São Paulo para encontros com Lula. Era ele quem deixava o ex-presidente a par das articulações políticas e se encarregava de fazer valer junto a Dilma as opiniões do antecessor. Lula se sentiu traído por Delcídio e, pela primeira vez, teria manifestado preocupação com o que está por vir. Nas fileiras internas, há quem não esconda o fato de que Delcídio sabe de detalhes que poucos conhecem.

Força-tarefa investiga denúncias contra Lula

Por André Guilherme Vieira - Valor Econômico

SÃO PAULO - Uma alta fonte a par das investigações da Lava-Jato confirmou ao Valor que a suposta atuação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para frear a operação já estava sendo apurada há algumas semanas pela força-tarefa. Em delação premiada, o senador e ex-líder do governo Delcídio do Amaral (PT-MS) afirmou que o ex-presidente foi o mandante de pagamentos destinados a familiares do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que teriam como contrapartida o silêncio do ex-executivo e a contenção das investigações. O procedimento investigatório é sigiloso.

Delcídio também sustentou ter havido uma suposta participação da presidente Dilma Rousseff no que seria uma trama para reduzir o alcance das investigações conduzidas pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF).

As afirmações de que Dilma teria tentado interferir no Judiciário para soltar empreiteiros presos por corrupção na Petrobras são verificadas por um grupo de trabalho da confiança do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. O tema é tratado como segredo de Estado na Procuradoria-Geral da República (PGR).

Como não dispõe mais de foro privilegiado, Lula está sendo investigado pelos procuradores e delegados que atuam na primeira instância da Justiça Federal, em Curitiba.

Os investigadores evitam comentar os efeitos jurídicos na hipótese de se comprovar uma atuação de Lula para esvaziar a Operação Lava-Jato.

Também não se comenta sobre uma prisão do ex-presidente. O artigo 312 do Código de Processo Penal estabelece que a prisão preventiva poderá ser aplicada para a conveniência da instrução criminal (evitar que o investigado atrapalhe o andamento processual, ameaçando testemunhas ou destruindo provas) e para a garantia da ordem pública e da ordem econômica (impedir que o investigado continue praticando crimes).

"Se for necessária alguma questão de ação judicial [contra Lula], quem vai ser o juiz que vai decidir? " indaga uma fonte, sinalizando que o ex-presidente está sujeito às decisões do juiz Sergio Moro, e fazendo questão de ressaltar que a investigação sobre Lula é conduzida "com toda a cautela e o rigor procedimental que a lei penal e a Constituição determinam".

As declarações feitas por Delcídio foram reveladas pela revista "Isto É". O Valorconfirmou, com fontes a par das investigações, que a delação premiada do senador aguarda homologação (validação jurídica) do ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).

Ao acusar Lula e Dilma por supostas ilicitudes, Delcídio acabou provocando a instauração de procedimento investigatórios confidenciais, em razão da gravidade das afirmações feitas pelo parlamentar e da repercussão política gerada por sua narrativa. Delcídio foi preso em 25 de novembro de 2015 por tentar organizar um plano para evitar que Cerveró revelasse crimes dos quais tinha conhecimento, e garantir auxílio financeiro para que ele fugisse do país. O ex-diretor da estatal tornou-se delator. Delcídio deixou a prisão preventiva em 19 de fevereiro.

A delação do senador já está gerando o chamado "efeito Delcídio" entre investigados pela Operação Lava-Jato. É o caso do pecuarista amigo do ex-presidente Lula, José Carlos Bumlai, preso e processado por corrupção e lavagem de dinheiro por desvios na Petrobras. Ele está considerando a possibilidade de fazer acordo de delação premiada, segundo fontes ouvidas pela reportagem.

De acordo com a versão do senador, Lula teria solicitado que ele ajudasse Bumlai, que seria implicado nas delações de Cerveró e do lobista e operador de propinas Fernando "Baiano" Soares.

Delcídio intermediaria, a pedido do ex-presidente, pagamentos à família de Cerveró e contou ter dito a Lula que conversaria com o filho de Bumlai, Maurício, também acusado na Lava-Jato.

Os advogados de Bumlai negam que ele tenha interesse em se tornar delator, porque, segundo a defesa, ele não tem "nada a revelar".

OAB pede ao STF acesso à delação e cogita novo pedido de impeachment

Thais Arbex – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O presidente nacional da OAB nacional, Claudio Lamachia, pedirá nesta sexta-feira (4) ao STF (Supremo Tribunal Federal) acesso à íntegra da delação do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) e afirmou que as novas revelações podem levar a ordem a apresentar novo pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Em depoimento à força-tarefa da Operação Lava Jato, o senador afirmou que a presidente Dilma Rousseff usou sua influência para evitar punição de empreiteiros, ao nomear o ministro Marcelo Navarro para o STJ (Superior Tribunal de Justiça).

"Se confirmados estes fatos, fatos gravíssimos, nossa instituição não faltará ao Brasil e tomará as providências necessárias. Até mesmo a abertura de impeachment", afirmou Lamachia em coletiva nesta quinta (3), na sede da OAB de São Paulo.

Lamachia disse que, assim que tiver acesso à delação, convocará uma reunião extraordinária do conselho da OAB para definir como a instituição atuará.

A OAB requereu ao juiz Sergio Moro, na semana passada, acesso aos autos da Operação Lava Jato para avaliar a possibilidade de um pedido de impeachment da presidente da República.

Classificando como "deboche" o retorno de Delcídio ao Senado e os termos de sua delação como "fatos gravíssimos", Lamachia afirmou que "tudo que está acontecendo no Brasil nos leva à certeza que vivemos uma crise ética e moral sem precedentes na República".

"Se os fatos forem verdadeiros, estamos diante de uma verdadeira agressão ao Estado Democrático de direito", disse.

O presidente da OAB em São Paulo, Marcos da Costa, afirmou que a falta de homologação da delação de Delcídio pelo ministro do STF Teori Zavascki "não invalida a importância das denuncias". "Elas devem ser, sim, apuradas."

Nova fase da Lava-Jato leva ex-presidente Lula a depor

Por Letícia Casado e André Guilherme Vieira – Valor Econômico

BRASÍLIA e SÃO PAULO - A Polícia Federal cumpre nesta sexta feira mandado de condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele presta depoimento em sala do pavilhão de autoridades do aeroporto de Congonhas, na zona Sul da capital paulista. O local conta com acomodações amplas e é destinado ao embarque e desembarque de autoridades e de ex-detentores de cargos públicos.

Fábio Luis Lula da Silva, o filho do ex-presidente conhecido como Lulinha, também foi conduzido coercitivamente a prestar depoimento, assim como seu sócio, Fernando Bittar, que consta como dono do sítio investigado em Atibaia (SP).

O diretor do Instituto Lula, Paulo Okamotto, também foi conduzido coercitivamente. Houve ainda cumprimento de mandados de busca e apreensão no escritório dele e na casa de Lula, em São Bernardo do Campo (SP).

Nesta manhã, a PF deflagrou a 24ª fase da Operação, batizada de Aletheia, em referência à expressão grega que significa “busca da verdade”
.
Cerca de 200 policiais federais e de 30 auditores da Receita Federal cumprem 44 mandados judiciais - sendo 33 de busca e apreensão e 11 de condução coercitiva - nos Estados de São Paulo, Rio e Bahia.

Ao todo, no Rio, são dois mandados de busca e apreensão; em Salvador, dois de busca e apreensão e um de condução coercitiva; em São Paulo, 18 de busca e apreensão e seis de condução coercitiva; em São Bernardo do Campo, cinco de busca e apreensão e dois de condução coercitiva; em Atibaia, dois de busca e apreensão e um de condução coercitiva; no Guarujá, um de busca e apreensão; em Diadema, um de busca e apreensão e outro de condução coercitiva; em Santo André, um de busca e apreensão; e em Manduri (SP), outro de busca e apreensão.

O depoimento de Lula não acontece na sede da PF, na Lapa, zona oeste de São Paulo. Por ser ex-presidente da República, os investigadores fizeram uma deferência a Lula, para evitar expor o ex-mandatário à imprensa.

A nova fase da Lava-Jato foi deflagrada a partir de informações prestadas pelo senador petista Delcídio do Amaral em delação premiada. O parlamentar, denunciado por obstrução à Lava-Jato, atribuiu a Lula e à presidente Dilma Rousseff uma suposta atuação para barrar o avanço da operação.

A PF vai fornecer novas informações às 10h, em coletiva de imprensa em Curitiba.

Inspiração em Platão
A imagem mítica de Aletheia, nome de nova fase da Operação Lava-Jato, foi usada pelo filósofo Platão para explicar a sua “Teoria das Formas”, base de sua epistemologia ou teoria do conhecimento.

Segundo o mito, Aletheia não bebeu a água do Lethes, o rio mítico, e por isso conservava a sabedoria das coisas tais como são, no mundo superior das essências perfeitas, e não como aparentam ser, como é a característica da existência terrena, marcada pelo engano das percepções sensoriais.

Em Platão, o conhecimento é função da razão, e não dos sentidos, que frequentemente nos induzem ao erro e à confusão.

O começo do fim do projeto de poder do PT

• Fica a lição de que democracia brasileira é forte o bastante para que um partido de bases populares chegue à Presidência, e lá permaneça até cometer erros o bastante para derrubá-lo

João Domingos - O Estado de S. Paulo

O abraço da Operação Lava Jato no ex-presidente Lula, familiares e colaboradores é o início do fim do projeto de poder do PT.

Não só pela queda simbólica do maior ídolo do partido. Mas, principalmente, pelo que o PT representa hoje na percepção da sociedade brasileira, traduzida pelas pesquisas de opinião: corrupção, aparelhamento do Estado, incompetência de gestão e destruição do patrimônio estatal e público.

A passagem do PT pelo poder deixa lições. A principal é a de que a democracia brasileira é forte o bastante para que um partido de bases populares e bandeira política mais à esquerda chegue à Presidência da República. E lá permaneça até cometer erros o bastante para derrubá-lo.

Fica também a lição de que, apesar do aparelhamento do Estado feito deliberadamente pelo PT como forma de exercer a seu favor o controle da máquina pública, o partido não teve êxito.

Houve reação de forças internas do Estado à ambição de poder dos petistas, principalmente daquelas fundamentais ao funcionamento do Estado Democrático de Direito, como a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal.

Também essenciais à democracia, os meios de comunicação permaneceram livres, apesar das tentativas seguidas por parte do PT para aprovar medidas de censura a eles.

E quando o projeto de poder dos petistas ultrapassou todos os limites, descambando para a corrupção, os instrumentos de defesa da democracia se fizeram presentes e mostraram que ninguém está acima da lei. A presidente Dilma Rousseff corre o risco de perder o mandato por abuso do poder econômico na campanha presidencial de 2014, além de responder a um processo de impeachment no Congresso.

Nenhum abalo político sofrido pelo País, por mais forte que seja, conseguiu ameaçar o Estado Democrático de Direito. Essa é uma grande lição.

Quanto ao ex-presidente Lula, que agora está prestando contas à Polícia Federal, ele certamente vai entrar para a História como aquele que se tornou líder popular durante a ditadura, teve papel fundamental na criação de um partido e levou à Presidência da República um operário.

O que vem a seguir - envolvimento com empreiteiras, suspeita de tráfico de influência, deboche da Justiça - entra na conta da ambição desmedida de um projeto de poder. Infelizmente, para Lula, essa passagem também ficará registrada em sua biografia.

Dilma e o chefe - Roberto Freire

- Diário do Poder

Se ainda havia alguma dúvida a respeito da total incapacidade de Dilma Rousseff para governar o país, ela se desfez com a mais nova capitulação da presidente da República em relação ao seu antecessor. A saída de José Eduardo Cardozo do ministério da Justiça, em decisão tomada sob medida para satisfazer os desejos de Lula e do PT, escancara o grau de ingerência do ex-presidente sobre a atual gestão e revela aos brasileiros o que já se sabia há tempos: Dilma não governa e permanece tutelada pelo líder do lulopetismo, que, na prática, assumiu o comando e dita as ordens como se ainda ocupasse a cadeira no Palácio do Planalto.

É forçoso reconhecer que Cardozo nunca foi um grande ministro da Justiça e jamais esteve à altura do cargo, mas foi derrubado por maus motivos – justamente porque não era homem da confiança do ex-presidente, que pretende controlar a Polícia Federal e impedir o avanço das investigações da Operação Lava Jato sobre o escândalo do petrolão. Acuado por uma avalanche de suspeitas e evidências que o associam a diversas ilegalidades, Lula tenta obstruir o brilhante trabalho conduzido pelo juiz Sérgio Moro e pelos procuradores do Ministério Público, além da Polícia Federal. Entretanto, o chefe do PT não terá êxito em sua sórdida investida contra as instituições republicanas se as oposições e a sociedade se mobilizarem em veemente repúdio contra mais esta indecorosa interferência.

Como se não bastasse tamanha desfaçatez, a vaga de Cardozo foi preenchida por Wellington César Lima e Silva, um aliado de primeira hora de Jaques Wagner, chefe da Casa Civil e um dos petistas mais ligados a Lula. O novo ministro da Justiça comandou o Ministério Público da Bahia por dois mandatos consecutivos, durante a gestão de Wagner como governador do estado. Para agravar ainda mais o quadro de absoluta imoralidade que permeia o governo, a indicação fere a Constituição (no Artigo 128, Parágrafo 5º, Inciso II, alínea d), que proíbe os membros do Ministério Público de ocuparem “qualquer outra função pública, salvo uma de magistério”.

As oposições e a sociedade brasileira têm de estar atentas e em estado permanente de alerta para acompanhar os movimentos de Lula e do PT e seus desdobramentos em relação à Lava Jato e às ações da Polícia Federal. É evidente que a troca no comando do ministério da Justiça serve aos interesses daqueles que pretendem cercear as atividades da força-tarefa de Curitiba e escapar das inevitáveis consequências da investigação. A esmagadora maioria da população já manifestou seu apoio a Moro e à Lava Jato e não aceitará qualquer retrocesso no combate à corrupção.

Não podemos mais aceitar uma presidente que se submete às determinações do chefe e mentor político com o único objetivo de atrapalhar as investigações que atingem em cheio seu governo e seu partido. Somente o encerramento do desgoverno que infelicita o país, por meio de uma ferramenta legítima, constitucional e democrática como o impeachment, reconduzirá o Brasil aos trilhos do desenvolvimento e nos fará superar a mais grave crise de nossa história. Trata-se do caminho mais viável e rápido para pôr fim ao desmantelo lulopetista – já que a outra hipótese, a cassação da chapa presidencial pelo TSE, que também pode se concretizar, tende a ser um processo muito mais longo e suscetível às pressões do Executivo sobre os ministros da Corte eleitoral.

No próximo dia 13 de março, temos a obrigação moral e o dever cívico de ir às ruas em defesa da Lava Jato, do Ministério Público, da Polícia Federal, da democracia, das instituições, da Constituição e do império da lei no combate à corrupção. Que venha o impeachment, pelo bem do Brasil!

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS