sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Opinião do dia: Roberto Freire

"Os banqueiros nunca riram tanto quanto nos governos do PT. Dilma deveria ter vergonha de agredir quem por ela foi tão bajulado."

Roberto Freire (PPS-SP), presidente nacional do PPS, sobre os ataques do PT à proposta de Marina Silva de institucionalizar a autonomia do Banco Centra, Folha de S. Paulo, 11 de setembro de 2014.

Em MG, Aécio ataca PT por preterir investimentos no Estado

• Tucano lembrou que Lula concedeu benefícios para levar fábrica da Fiat para Pernambuco, do aliado Eduardo Campos

Marcelo Portela - O Estado de S. Paulo

O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, voltou a criticar nesta tarde, após uma carreata do aeroporto de Montes Claros (MG) ao Automóvel Clube, o PT e a adversária Marina Silva (PSB) em ato com centenas de aliados e cabos eleitorais.

Em seu discurso, o tucano lembrou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva editou medida provisória "no apagar das luzes" de seu governo concedendo benefícios tributários para que uma nova fábrica da Fiat, inicialmente prevista para ser construída em Minas, fosse transferida para Pernambuco - então governado por Eduardo Campos, que na ocasião era aliado do governo federal.

O presidenciável, que classificou a MP como uma "traição a Minas", ressaltou ainda que uma emenda estendia os incentivos fiscais para o norte mineiro e o Vale do Jequitinhonha. "A presidente Dilma Rousseff, que veio aqui com sorriso pedir o voto de vocês, vetou esse artigo", salientou, referindo-se a uma visita da petista e de Lula à mesma cidade em agosto passado.

Os ataques de Aécio podem ser considerados como uma tentativa de reverter o atual cenário mostrado pelas pesquisas eleitorais no Estado. Minas é o principal reduto eleitoral do tucano, mas pesquisa Datafolha divulgada ontem, com margem de erro de três pontos porcentuais para mais ou para menos, mostrou que ele tem 26% da preferência do eleitorado mineiro, em empate técnico com Marina, que tem 25%, enquanto Dilma aparece com 33%.

E não foi só ao PT que Aécio dirigiu ataques. Tanto em seu discurso quanto em entrevista concedida antes, o tucano fez questão de pontuar uma série de "incoerências" entre as posições adotadas por Marina Silva no passado e as propostas que apresenta atualmente. Para o senador, o eleitor tem "o dever e o direito de saber como pensa cada candidato". E ainda voltou a associar a socialista à presidente Dilma. "Vejo muitas semelhanças hoje no discurso da candidata Marina, que respeito pessoalmente, com o discurso da candidata Dilma quatro anos atrás. Até porque conviveram muito tempo juntas no próprio PT", concluiu.

Mais cedo, Aécio tinha classificado também como "absolutamente condenável" as acusações pessoais feitas por Dilma à Marina, e afirmou que não entrará num "vale tudo" para ganhar o pleito, fazendo apenas críticas no "campo político". "Essa eleição é diferente de tudo que vimos até aqui. Há 30 dias era outro cenário. Já tinha gente tomando uma porque nós íamos para o segundo turno e íamos ganhar a eleição. A coisa mudou e vamos reconhecer que mudou", disse.

O tucano atribuiu o desempenho de Marina a um "sentimento de comoção" com a morte de Eduardo Campos (PSB), que encabeçava a chapa hoje liderada pela socialista, além de "certa indignação com tudo isso que está acontecendo no Brasil", mas avaliou que já há uma "estabilização". "Eu acredito no lugar mais profundo da minha alma que o bem e a verdade vão vencer. E nós somos a verdade", declarou.

Aécio diz fazer debate político

• Tucano condena ataques de Dilma a Marina e nega que tente "desconstruir imagem" da ex-senadora

Silvia Amorim – O Globo

MONTES CLAROS (MG) - De fora da polarização que se estabeleceu entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e a ex-senadora Marina Silva (PSB), o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, classificou ontem como "vale tudo" o embate nos últimos dias entre as duas primeiras colocadas nas pesquisas de intenções de voto. O tucano, procurando demonstrar que reage à candidatura de Marina de uma forma diferente da do PT, saiu em defesa da ex-senadora e disse que são "inaceitáveis" os ataques feitos pela presidente à candidata do PSB.

Antes de uma carreta em Montes Claros, Minas Gerais, Aécio afirmou que não entrará nesse jogo para ganhar eleição.

- Estamos vendo ataques pessoais na televisão comparando Marina a outros ex-presidentes da República. Eu não faço esse tipo de ataque pessoal. Eu não entro nesse vale-tudo para ganhar a eleição Acho absolutamente inaceitável o tipo de acusação que ela (Marina) recebe hoje da presidente Dilma. Não entro nesse campo político.

Aécio referiu-se à propaganda que a campanha de Dilma veiculou na TV comparando Marina aos ex-presidentes Fernando Collor e Jânio Quadros. O tucano disse que vai manter a estratégia de mostrar as contradições da ex-senadora, o que, para ele, "não é ataque":

- É apenas permitir ao eleitor tomar a decisão sabendo o que está querendo para o Brasil.

Mais tarde, ao saber das críticas que Marina fez a ele na sabatina do GLOBO, Aécio reagiu nas redes sociais:

"@silva_marina na verdade, estou fazendo o debate político. Fundamental para a democracia. Não desconstruindo sua imagem", escreveu o candidato, em resposta à declaração da adversária de que ele estava com crise de consciência e que fazia falsos elogios a ela.

A defesa feita por ele a Marina em Montes Claros foi, segundo integrantes da campanha, uma estratégia para "furar" a polarização do debate entre as duas adversárias. A iniciativa estava sendo planejada há alguns dias e esperava-se apenas uma oportunidade. Por outro lado, a defesa também foi um gesto de não agressão com vistas ao segundo turno, seja qual for a posição em que estará o tucano - pedindo ou oferecendo apoio. Aécio seguirá focando o discurso contra o PT e tentando associar Dilma e Marina ao partido para tentar recuperar o eleitor antipetista.

Banco de empregos
As críticas ao PT continuaram em discurso para militantes. Aécio disse que, se o PT vencer em Minas, o estado vai se transformar num "bancão de empregos para a petezada":

- O PT está perdendo a eleição em todos os estados que governa. Está perdendo na Bahia, Rio Grande do Sul e vai perder no Brasil também. Uma vitória, que eu não posso acreditar que vai acontecer, em Minas Gerais, podem ter certeza, que aqui vai virar um balcão de emprego para essa petezada que vai perder a eleição no Brasil inteiro. Eles vão vir para Minas Gerais salvar o seu. É isso que acontece quando eles perdem as eleições.

Em relação a Dilma, que também intensificou suas visitas a Minas - amanhã, ela e Aécio cumprirão agenda em Belo Horizonte - , o presidenciável disse que a adversária não trabalhou pelo desenvolvimento da região norte do estado, a mais carente, quando impediu a instalação de uma montadora de veículos em Minas e, com ela, a vinda de muitos empregos ligados ao setor automobilístico.

- A presidente Dilma Rousseff, que vem aqui com um sorriso pedir o voto de vocês, vetou o único artigo da medida provisória, e os fornecedores de autopeças estão em outro estado já se instalando. Eu estou aqui para dizer que, ou nós vamos nos juntar e sair daqui compreendendo que somos um time a favor de Minas, ou então os nossos adversários vão comemorar. Eu não posso acreditar que vamos deixar isso acontecer.

Aécio permanece estagnado no terceiro lugar na eleição nacional e, em Minas, o candidato do PSDB, Pimenta da Veiga, está 11 pontos atrás do ex-ministro Fernando Pimentel (PT), segundo pesquisa Datafolha.

- Houve uma estabilização do quadro depois de uma mudança muito rápida nas ultimas três semanas. Agora, é preciso que as pessoas conheçam em profundidade quem são os candidatos.

Sobre o cenário em Minas, Aécio disse que o eleitor mineiro é diferente dos demais e defendeu que a eleição no estado está começando agora.

- Primeiro, ele escuta, depois dá uma agachada para olhar para ver se enxerga um pouco mais longe. Depois dá uma espiada e aí começa a decidir - disse Aécio.

Vitória em Minas
Para animar a militância, o senador disse que havia reafirmado à imprensa que venceria em Minas e que, portanto, o povo mineiro não poderia deixá-lo ficar com a pecha de mentiroso.

- Eu falei um negócio que o Brasil inteiro vai estar repetindo nas televisões e nos jornais, você não podem me deixar passar por mentiroso. Eu falei para o Brasil inteiro há pouco que vou ganhar as eleições em Minas Gerais, sim, e o Pimenta vai ganhar para governador e o Anastasia vai ser o senador mais votado do Brasil.

O ex-governador de Minas Antonio Anastasia recebeu, no palanque, a sinalização de que tem lugar entre os ministros, caso Aécio seja eleito:

- Imagina que privilégio cada um de vocês, daqui a três meses, baterem lá na porta do Palácio do Planalto e quem vai estar atendendo vocês não é um desconhecido, é o Anastasia com a caneta na mão para ajudar o norte mineiro a fazer o que precisa ser feito. Sou eu quem vou estar lá.

PT 'sataniza' setor privado na TV, afirmam empresários

• Setor privado diz estar sendo "satanizado" em programa crítico a Marina

• Para um assessor de Dilma, não é possível cobrar racionalidade na campanha, já que o governo está em guerra

Valdo Cruz - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Empresários reclamam de estarem sendo vítimas de um processo de "satanização" nas propagandas do PT usadas para desconstruir a imagem da candidata do PSB à Presidência, Marina Silva.

Reservadamente, um empresário do ramo industrial disse à Folha que o setor privado está sendo retratado como inimigo dos trabalhadores e de programas sociais na propaganda do petista.

Outro, da siderurgia, reclamou que esse tipo de propaganda vai contra o discurso oficial do Palácio do Planalto de reaproximação do empresariado, descontente com a política econômica da presidente Dilma Rousseff.

Dois comerciais da campanha mostram imagens de executivos em tom de comemoração ao tratar de medidas prometidas ou aventadas por Marina. O primeiro foi gravado para atacar a proposta de independência do Banco Central feita pela principal adversária de Dilma.

O comercial mostra banqueiros sorrindo enquanto um locutor diz que a medida vai representar um risco para o emprego e o salário dos trabalhadores.

O segundo, que começou a ser veiculado nesta quinta-feira (11), diz que Marina não vai priorizar a exploração do pré-sal. Em seguida, mostra executivos apertando as mãos e comemorando, com um narrador dizendo que a decisão da candidata vai tirar R$ 1,3 trilhão da educação e da saúde no país.

Um terceiro empresário disse à Folha que "satanizar" o setor privado na eleição só vai agravar o desgaste no relacionamento do setor privado com o governo.

Racionalidade
Além disso, reclamou, não vê sentido em relacionar executivos felizes com uma decisão de tirar prioridade do pré--sal. O setor privado, afirmou, quer mais leilões de campos de petróleo e não o contrário.

No caso do comercial que ataca banqueiros, um executivo do setor financeiro lembrou que há bancos que podem estar do lado de Marina, mas há outros que estão afinados com Dilma.

Em sua opinião, o PT acaba colocando todo mundo num balaio só em nome da eleição e passa a mensagem, ruim para a política econômica, de que no governo Dilma o Banco Central segue determinações políticas.

Um assessor presidencial diz que não é possível cobrar "racionalidade" durante uma campanha eleitoral e que o governo está numa guerra. Segundo ele, a prioridade é ganhar a eleição. Depois, pontes serão reconstruídas.

Pegando pesado
Outro auxiliar reconhece que o tom dos comerciais petistas, feitos pelo marqueteiro João Santana, está "pegando pesado", mas afirma que é uma forma simplificada de dizer à população o que significam as propostas de Marina.

Ele diz ainda que a presidente fez de tudo nos últimos meses para agradar e atender o empresariado e, mesmo assim, ele estaria em peso contra o governo.

Cita a avaliação ruim do governo e do PT nas pesquisas em São Paulo, centro do setor empresarial do país, como exemplo de que o empresariado decidiu ficar contra o governo.

O temor entre assessores é que o tom radical dos ataques teve de ser usado com muita antecedência para conter o crescimento da candidata do PSB, já no primeiro turno, quando o ideal era que fosse guardado para a reta final.

PT aposta nos ataques a Marina

• Comando da campanha de reeleição de Dilma Roussef acha que estratégia está dando certo para abalar a imagem de Marina Silva. Propaganda no rádio e TV também funciona

Edla Lula - Brasil Econômico

Para o comando da campanha de reeleição da presidenta Dilma Rousseff, a estratégia petista de "desconstrução" de Marina Silva (PSB) está funcionando, e o PT vai continuar investindo nela. Além disso, o bom aproveitamento da propaganda no horário gratuito de rádio e TV também vem ajudando. A avaliação na coordenação da campanha petista é de que a estratégia de desconstruir a imagem de Marina foi um fator importante para a melhoria de Dilma nas pesquisas, juntamente com a apresentação, no rádio e na TV, dos feitos do governo petista ao longo dos últimos 12 anos. Por isso, a campanha seguirá com um combinado de "mostrar o que o governo tem feito, mostrar as contradições da candidata de oposição e carimbar com emoção a propaganda gratuita", de acordo comum integrante da equipe de coordenação.

A recuperação do terreno eleitoral pela presidenta Dilma Rousseff, revelada por levantamentos internos do PT e confirmada esta semana pelos institutos de pesquisa MDA, Vox Populi e Datafolha (hoje será divulgada nova pesquisa do Ibope), deram à equipe a segurança de que está no bom caminho. "Nossos números mostram que a estratégia está dando certo". Até o momento, não chamuscou nas pesquisas a denúncia de corrupção na Petrobras envolvendo políticos ligados à base aliada. O entendimento é que somente com o desenrolar dos acontecimentos será possível avaliar o peso da delação premiada na opinião do eleitor, já que denuncias às vésperas de eleição são comuns em todo o mundo. "A matéria (da revista "Veja") em si é vazia. Não diz nada. O eleitor só se mobilizaria se visse dinheiro sendo trocado. Pelo que sabemos, nenhum dos citados foi flagrado numa situação como essa", comentou outro integrante da campanha.

Uma dessas fontes reconhece que o cenário não é confortável, mas diz que os dados de agora não apontam para uma mudança de rumo na estratégia de campanha. "Sabemos que não estamos em uma situação tranquila. Mas o cenário atual nos projeta para uma boa disputa. Achamos que vamos ganhar", aposta. Uma equipe técnica está encarregada de ler minuciosamente o programa de governo apresentado pela candidata socialista para pinçar temas que denotem as suas contradições. "Marina está no campo da desorganização política. Não oferece nada de novo. Fala em reforma política e o que oferece em relação à reforma política é a coisa mais atrasada", diz esse mesmo integrante do comitê, citando que a candidata é contra o financiamento público de campanha. "Ela é neoliberal na economia e conservadora na política. Nas questões civis é bastante confusa, como ficou demonstrado no episódio do programa para a comunidade LGBT", completa.

PT avalia que ataque a Marina deu certo e manterá ofensiva

• Assessores de Dilma atribuem à subida de tom o fato de a rival ter parado de crescer nas últimas pesquisas

• Campanha reconhece que situação em São Paulo preocupa e que, sem melhora no Estado, vitória será difícil

Ranier Bragon / Natuza Nery / Andréia Sadi – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A campanha de Dilma Rousseff (PT) considera ter surtido efeito a decisão de atacar de forma mais incisiva Marina Silva (PSB) e planeja manter a estratégia, que inclui ofensivas regionalizadas para dizer que, se eleita, a adversária acabará com o Bolsa Família, o Minha Casa, Minha Vida e a exploração do pré-sal, entre outros programas e investimentos do atual governo.

Assessores da petista atribuem à elevação do tom contra a candidata do PSB o fato de Marina ter parado de crescer, conforme dados do Datafolha divulgados na quarta. Segundo a pesquisa, Dilma tem 36% no cenário de primeiro turno, ante 33% de Marina.

O PT reconhece, no entanto, que um dos principais obstáculos da candidata não foi vencido: crescer em São Paulo. Na avaliação da campanha, se isso não ocorrer, Dilma corre risco de perder.

Além das propagandas nacionais de TV que acusam Marina de pretender entregar a condução econômica do país aos banqueiros e, como a que foi ao ar nesta quinta-feira (11), de desprezar os recursos do pré-sal, há ataques pontuais em diferentes regiões do país.

No Nordeste, por exemplo, a mensagem divulgada pelo PT é a de que a pessebista acabará com o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, dois dos principais programas do governo.

A campanha de Marina reagiu já nesta quinta, lançando uma espécie de operação antiboatos em seu site e no programa de TV. Sob o mote "boatos versus verdade", a presidenciável dava a resposta para os ataques.

Programa
Os ataques a Marina usam interpretações de seu programa de governo. O argumento de que ela irá minar os programas sociais parte do princípio de que essa será a consequência de propostas como a autonomia do Banco Central e a revisão da política de subsídios dos bancos públicos.

"O PT, quando se desespera, vira terrorista. É o que há de mais nojento. Isso é política de extrema direita. A gente apela à história dos militantes do PT", disse Walter Feldman, coordenador-geral da campanha de Marina.

O PSB afirma que, no Nordeste, equipes e carros de som percorrem a região espalhando boatos. Em 2006, o tucano Geraldo Alckmin, então candidato presidencial, foi alvo de campanha similar, acusado de querer privatizar as principais estatais do país, o que ele negava.

Embora rejeite a acusação de que o PT esteja praticando "terrorismo eleitoral", o secretário nacional de Organização do PT, Florisvaldo Souza, afirma que não só a militância, mas "a sociedade" está debatendo supostas ameaças a projetos sociais. "Você acha que os banqueiros ficaram bonzinhos agora e vão fazer projetos sociais? Eu não acredito."

Integrantes do comitê nacional também manifestam preocupação com os efeitos das revelações do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. O PT acha que, se ele ligar o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, ao esquema de desvio de dinheiro da estatal, como afirmou a revista "Veja" no fim de semana, a campanha pode ser afetada.

Dilma diz que Marina é 'leviana' e 'inconsequente'

• Presidente respondeu à acusação de Marina de que petistas teriam sido coniventes com corrupção na Petrobras

- O Globo

BRASÍLIA -Em reação a declarações feitas pela candidata do PSB, Marina Silva, na sabatina do GLOBO, de que os governos petistas teriam sido coniventes com a corrupção na Petrobras, a presidente Dilma Rousseff, que disputa a reeleição, chamou ontem sua adversária de "leviana e inconsequente". A presidente lembrou que Marina construiu sua carreira política no PT e fez parte da gestão do ex-presidente Lula. Dilma disse ainda que, ao ser confrontada no debate político, Marina reage como "vítima" e ironizou as mudanças de opinião de sua adversária.

- A candidata Marina ficou 27 anos no PT. Todos os seus mandatos ela obteve graças ao PT. Dos 12 anos aos quais ela se refere, oito ela estava no governo ou na base federal no Senado. A militância do PT e a história do PT foram fundamentais para a candidata chegar onde chegou. Uma frase dessas mostra uma posição extremamente leviana e inconsequente - afirmou a presidente. Na verdade, Marina deixou o partido em 2009, no sétimo ano do governo Lula.

Na sabatina, Marina afirmou que a ameaça à exploração do pré-sal é a corrupção na Petrobras, e não suas propostas de governo, e fez referência à delação premiada do ex-diretor de abastecimento da empresa Paulo Roberto Costa:

- As pessoas não podem confiar em um partido que coloca por 12 anos uma pessoa para assaltar os cofres da Petrobras - disse a candidata do PSB.

Dilma defendeu como legítima a ofensiva que tem feito de desconstrução de Marina, explorando principalmente a proposta da adversária de autonomia do Banco Central e de diminuir a relevância dada ao pré-sal. A candidata do PSB, no entanto, negou que vá tirar prioridade do petróleo em prol de outras fontes de energia.

- Cada vez que a gente abre o debate com Marina, ela reage como vítima - disse Dilma.

A presidente criticou as mudanças de opinião de Marina. O caso mais marcante foi a defesa da união civil de pessoas do mesmo sexo e a criminalização da homofobia, retiradas de seu programa de governo.

- Mudar de posição de cinco em cinco minutos não é sério. Um presidente da República sofre uma pressão muito grande. Um presidente não pode ser leviano ou temer qualquer tuíte que se faça contra ele. Espero que a candidata Marina não mude agora de posição quanto à autonomia do Banco Central.

A tréplica de Marina à acusação de leviandade feita por Dilma veio ainda na noite de ontem, quando a candidata do PSB discursava em evento no Clube de Engenharia, no Rio, organizado para desmentir que ela vá menosprezar o pré-sal:

- Não vou mentir a respeito da Dilma. Quando me perguntaram se ela estava envolvida (no escândalo da Petrobras), eu disse que ela tem responsabilidade política. Mas não seria leviana de dizer que ela tinha envolvimento pessoal. Eu não combato mentira com outra mentira.

Agressividade pode se voltar contra Dilma, diz especialista

Catia Seabra – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Cientistas políticos advertem para o risco de a agressividade da campanha de Dilma Rousseff se reverter contra a presidente e candidata a reeleição. Embora apontem a propaganda negativa como típica das disputas políticas, afirmam que o sucesso da estratégia --de ataques à adversária do PSB, Marina Silva-- dependerá da dose.

Roberto Romano cita o filósofo Spinoza para lembrar que uma campanha vitoriosa requer dose de medo e esperança. Mas "a campanha de João Santana está exagerando no medo, o que pode soar como desespero", diz.

"Já vimos isso na campanha do PSDB e não deu certo", alertou Romano, numa alusão à participação da atriz Regina Duarte na campanha de José Serra para a Presidência (2002), que pregou medo da vitória de Lula.

Para Leôncio Martins Rodrigues, ainda é cedo para mensurar o impacto da desconstrução de Marina. A estratégia será mais bem avaliada nos próximos dias.

"A campanha da Dilma é bastante agressiva. Se deu certo, saberemos depois", disse. Na opinião de Leôncio, é necessário avaliar a capacidade de reação de Marina.

Já o cientista político Antônio Lavareda disse ontem, em entrevista à TV Folha, que "a propaganda negativa se faz presente em toda comunicação política nas democracias". Segundo ele, existem dois sentimentos que podem ser explorados numa campanha: o medo e a raiva. Enquanto Dilma investe no medo, Marina poderá usar a rejeição como arma.

Lavareda minimiza a ideia de que a campanha de Dilma distorce dados nos comerciais: o tempo curto das "pílulas" exige condensação das informações e da linguagem.

O cientista político lembra ainda que o tempo reservado à campanha da presidente pode explicar a estagnação de Marina nas pesquisas.

"O volume da propaganda da presidente Dilma: só isso já explica que se aproximasse de Marina Silva. Só se falavam coisas positivas".

Além disso, afirma ele, só se diziam "coisas boas de Marina até então".

Ainda segundo Lavareda, nem todas as peças de campanha de Dilma são eficazes.

"Algumas peças não me parecem das mais felizes", afirmou, lembrando que a campanha já levou ao ar 26 comerciais, em vez de martelar um mesmo tema.

Marina: PT pôs diretor para assaltar Petrobras

- O Globo

Empatada tecnicamente com Dilma Rousseff (PT) nas intenções de voto para a Presidência da República, Marina Silva (PSB) busca se diferenciar da adversária e também do candidato tucano Aécio Neves como a mensageira da nova política. Ela disse que os partidos perderam o vínculo com a sociedade e que não consegue imaginar as pessoas confiando em "um partido que coloca por 12 anos um diretor para assaltar os cofres da Petrobras", em referência ao ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa. Para Marina, PT e PSDB praticam um dualismo que ela se propõe a exterminar, embora diferencie a política entre bons e maus e acredite que governará só com os integrantes do primeiro grupo. "PT e PSDB vivem a síndrome de Estocolmo, se apaixonaram pelos sequestradores de seus sonhos", afirma, para enfatizar que os dois partidos tornaram-se reféns do que chama de velha política. Marina se diz vítima de uma tentativa de desconstrução, que une PT e PSDB como um "batalhão de Golias contra Davi". nesse contra-ataque, ela não distingue Dilma de Aécio e chega a ser mais dura com o tucano ao afirmar que a "pior desconstrução é o elogio falso", eivado de preconceito. Ao condenar a postura dos adversários, a ex-senadora recorre a um dos motes prediletos - "fiz a escolha pelo debate e não pelo embate" - e lembra que Dilma e Aécio não apresentaram seus programas de governo: "sabe o que isso significa? governar com cheque em branco". Salienta não ter como objetivo de vida ser presidente do Brasil, e, com espírito messiânico, diz que "uma fatalidade me colocou de novo no mesmo lugar", referindo-se à morte de Eduardo Campos.

Bons e maus"

Ilimar Franco pergunta:

A senhora disse que, por sua falta de apoio, vai governar com os "bons". Quem são eles no PSDB, no PT e no PMDB?

Quando eu digo que quero governar com os melhores, sou interpelada o tempo todo como se tivesse dizendo uma aberração, como se fosse possível alguém dizer, por mais que muitos façam isso depois que são eleitos, que vão governar com os piores. Parto do princípio de que qualquer pessoa que deseja assumir a função mais elevada do país deve estar comprometida a governar com os melhores. Parto do princípio, também, de que pessoas boas existem em todos os lugares, nas empresas, nas universidades, nos partidos, na gestão pública. E fazer essa escolha de governar com os melhores sem a visão maniqueísta de que os melhores são apenas aqueles que estão na minha aliança é também uma forma nova de encarar a política. Posso dizer simbolicamente que existem pessoas boas em todos os partidos. Cito Pedro Simon, como símbolo de uma pessoa muito boa no PMDB, e tem outras. Posso citar o Eduardo Suplicy, no PT; poderia citar o Cristovam Buarque, do PDT.

Silvia Fonseca pergunta:

Candidata, só para ficar claro para o eleitor. A senhora vem citando com frequência como "boa pessoa" o ex-governador José Serra (PSDB), e tem evitado a todo custo o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Qual a diferença entre eles?

Tenho falado simbolicamente do Serra porque convivi com ele no Senado. O Serra foi uma pessoa, inclusive, que me ajudou a aprovar o primeiro subsídio da borracha para os extrativistas. Como eu era uma senadora de oposição do PT, ele poderia ter se negado a isso. Em relação ao governador Alckmin, existem muitas diferenças do ponto de vista do que eu penso. O PSDB está há 20 anos no poder em São Paulo, estamos vivendo uma das piores crises em relação ao abastecimento de água. Todo o sistema de gerenciamento de recursos hídricos do estado de São Paulo, que já foi exemplar para o Brasil, no atual governo da presidente Dilma e do governador Alckmin foi desmontado. Foram desmontados os comitês de bacia, as agências de bacia, todo o processo virtuoso que nós tínhamos. E ainda há a falta de cuidado de fazer um processo de racionalização do uso da água, porque estamos vivendo uma campanha eleitoral.

Merval Pereira pergunta:

A senhora deixa os partidos de lado e foca nas pessoas, o que faz com que os partidos percam a importância. Não seria o caso de a senhora negociar com os partidos e não com as pessoas?

O problema é que a gente foi para o outro extremo. Esqueceram as pessoas e se dirigiram apenas aos partidos. E os partidos, pelo que entendo, deveriam estar a serviço das pessoas. O que estou dizendo é que são as pessoas que nos dão a chance de renovar os partidos. Tem uma frase de que gosto muito, ela não é minha, de que pessoas virtuosas criam instituições virtuosas. E instituições virtuosas corrigem as pessoas quando elas falham em suas atitudes. Nesse momento, essa instituição tão importante na nossa democracia, para mediar os diferentes interesses, que são os partidos, perderam o vínculo com a sociedade, porque não consigo imaginar que as pessoas possam confiar em um partido que coloca por 12 anos um diretor para assaltar os cofres da Petrobras. É isso que estão reivindicando? Que os partidos continuem fazendo do mesmo jeito? Espero que os partidos compreendam que o mundo está mudando, que tem um novo sujeito político, que não quer mais papel de espectador da política, ele quer o papel de autor, mobilizador, protagonista. Sinceramente, acho que esse movimento vai ser muito bom para partidos como PT e PSDB, que parecem que hoje vivem a Síndrome de Estocolmo, apaixonaram-se pelos sequestradores de seus sonhos. São partidos que ganharam e foram se tornando reféns de uma lógica da qual eles precisam se descolar.

Ancelmo Gois pergunta:

Eu entendo que a senhora queira governar com os melhores. Mas de certa maneira satanizar partido não é satanizar a democracia?

Quem disse que eu estou satanizando os partidos? Pelo contrário. Estou fazendo um esforço enorme, e precisa ter coragem para isso, porque a lógica é o partido que quer o poder ou que está no poder dizer que o partido dele é o único que tem pessoas boas e que os demais não têm valor algum. Estou fazendo um esforço político, dizendo agora para todos os brasileiros que, mesmo que todos os partidos estejam vivendo em profunda dificuldade, é preciso fazer um esforço muito grande de otimismo para não reconhecer que hoje os partidos vivem uma dificuldade em relação a ser um espaço que a sociedade compreende como sendo ali o locus em que ele vê debatido os seus interesses, as suas ideias. É só a gente prestar atenção. Ministros são colocados e depostos por causa de alguns segundos de televisão. Essa é a lógica dos partidos. Eu vou conversar com a instituição, mas eu espero que a instituição possa ser renovada pelas melhores pessoas. Tanto é que estou dizendo que pessoas boas existem em todos os partidos. Estou fazendo a aeróbica do bem.

Reeleição

Arnaldo Bloch pergunta:

A senhora acha que essa renovação vai acontecer agora, e acha que quatro anos são suficientes para se colocar em prática algo tão ambicioso? Não é um sonho?

Em primeiro lugar, quatro anos não vão resolver o problema de uma agenda estratégica para o Brasil. Quatro anos devem ser a base para essa transição. Ninguém pode imaginar que em quatro anos se possa fazer tudo o que ainda não se fez, corrigir tudo de errado que está se fazendo e aprofundar as coisas boas que historicamente conseguimos em diferentes governos. É preciso criar uma nova qualidade para o processo político. Fico imaginando o que significa a presidente Dilma reeleita, no dia seguinte o que os brasileiros podem sentir em relação a como continuar a vida com esse Congresso do jeito que está. Ela está legitimada por esse discurso de "vá lá, negocie com os partidos, diga para eles que não tem como fazer diferente e porque é assim que tem que ser". Eu fico imaginando o ânimo do cidadão. Prefiro acreditar que podemos começar um novo caminho da seguinte forma: vamos ter a clareza de que ninguém vai aderir a ninguém. Um governo de quatro anos já dá um certo alívio para aqueles que podem ficar em crise de abstinência com a perspetiva de esperar tanto pelo poder. Quem vai decidir quem vai governar é o cidadão. Na democracia, é preciso pressupor a alternância de poder. Olha o erro que o PSDB cometeu. O Sérgio Motta disse que era um projeto de 20 anos, veio o Zé Dirceu e, sem aprendizagem nenhuma, disse 20 anos de governo. Eu estou dizendo que são quatro anos para fazer o que tem que ser feito, e, depois, quem decide é o cidadão.

Ricardo Noblat pergunta:

Mesmo que o Congresso não aprove esse projeto que acaba com a reeleição, a senhora mantém a palavra de que só governará por quatro anos?

Sim, é um direito individual. O partido não pode me obrigar a ser candidata. Quero que o Brasil tenha uma nova maneira de caminhar. Do jeito que vamos, estamos no fundo do poço. O que está nos fazendo perder coisas que a duras penas conquistamos é o atraso na política. Hoje, a política econômica está ameaçada, a inflação voltando, os juros altíssimos, o país com o crescimento pífio, a indústria sendo destruída, perdendo 30% da produção agrícola por falta de hidrovias, ferrovias e estradas, de política de armazenamento. Isso é o atraso na política. Temos a oportunidade de, junto com todos os homens e mulheres de bem, da iniciativa privada, do funcionalismo público, da academia, dos partidos, estabelecer que o governo se oriente por uma agenda estratégica. A agenda não pode mudar nas coisas essenciais porque mudou o governo. Vivemos os riscos de perder as conquistas sociais, da estabilidade econômica, de não encarar os desafios do século XXI pelo atraso na política. Estabeleceu-se no Brasil essa história de que o presidente da República tem que ser um gerente. E aí passa a ter um concurso de gerente. Lula não era gerente, era um homem com visão estratégica. O Fernando Henrique era um homem da academia, não era um gerente. Era um homem com visão estratégica. E, em 2010, passou a ser um concurso de gerente, com Dilma e Serra. O problema é que, quando não se tem visão estratégica, não se consegue gerenciar nem a si mesmo. Aí acontece o que está acontecendo com nosso país.

Desconstrução

Ilimar Franco pergunta:

A senhora defende a proposta do fim da reeleição como uma emenda isolada ou no contexto de uma reforma política?

Como eu já me comprometi que, independentemente do fim da reeleição, se aprovada ou não, só terei um mandato de quatro anos, vou mandar no contexto da reforma política. Obviamente, esse é um esforço que não pode acontecer se não tivermos o início da reforma agora. O início da reforma quem está fazendo é o cidadão brasileiro, esse movimento que está acontecendo no Brasil já é uma verdadeira reforma política. Sei que vocês têm a ideia de quanto existe de estrutura nesse momento espalhando boato de que eu sou contra o Bolsa Família, o Minha Casa Minha Vida, o Mais Médicos, o pré-sal. É uma coisa tão avassaladora. Não é um Golias contra Davi, não. É um batalhão de Golias contra Davi, em artilharia pesada de dois partidos que se uniram temporariamente para fazer essa artilharia pesada, que são o PT e o PSDB. Os dois partidos da polarização, cada um espalhando boatos. Mas o que eu sinto na sociedade é um movimento que toma essa proposta aqui como a esperança de fazer a mudança. Temos uma lógica de diálogo com pessoas de todos os partidos, inclusive para que elas fortaleçam seus partidos. Ninguém quer ver os partidos fortalecidos pelo lado daqueles que fazem aquilo que estão fazendo na Petrobras quando são escolhidos pelos seus partidos para irem cumprir uma função pública.

Ancelmo Gois pergunta:

O candidato Aécio Neves (PSDB) a criticou. Disse que isso é prática antiga do PT e que a senhora nunca criticou.

Nunca advoguei desconstrução. Talvez o Aécio estivesse com a consciência um pouco dolorida porque ele se perfilou junto com o PT agora fazendo o trabalho de desconstrução e de uma forma até preconceituosa, utilizando os mesmos argumentos que eram usados contra o presidente Lula. A pior desconstrução é essa que parte do elogio falso: "ela é uma pessoa ótima, maravilhosa, mas é inexperiente, não tem capacidade". Sabe por que é dito isso? Pela minha origem, pela forma como eu me porto no processo político. Eu fiz a escolha pelo debate e não pelo embate. Quero discutir ideias. Gostaria que o Aécio e a Dilma tivessem apresentado o programa de governo deles. Sabe o que isso significa? Ganhar as eleições com cheque em branco, com diretrizes genéricas, para fazer o que bem entendem na relação com aqueles que têm a lógica de pegar um pedaço do Estado para chamar de seu. Quero debater o Brasil. Não é um embate. Vai ser um processo político, não um plebiscito. O PT tinha um botton muito bonito que era: "Eu oPTei". Era a síntese daquele momento. Só que a sociedade avançou. Estamos saindo do terreno da opção para o terreno da escolha. A escolha é diferente da opção. Na opção você tem duas coisas e escolhe a menos prejudicial. Na escolha, você escolhe o que ainda não existe. E alguém que não existe é que está se elegendo com base em um programa. É uma escolha que o cidadão está fazendo. Repito: não tenho como objetivo de vida ser a presidente do Brasil. Tenho como objetivo o Brasil ser melhor. Foi com esse espírito que eu me dirigi ao Eduardo Campos. Ele com 7% e eu com 26% (nas pesquisas de intenção de votos). Estou muito feliz com o gesto que fiz. E uma fatalidade me colocou novamente neste lugar.

Economia

Míriam Leitão pergunta:

A senhora fala em aumento de gastos, fala em aumentar o superávit primário para combater a inflação e fala em não aumentar impostos. Como fecha a equação de aumentar gastos, não aumentar impostos e aumentar superávit primários para combater a inflação?

Eu diria aumentar investimentos. Existem muitos projetos dentro do governo federal que começam em R$ 6 bilhões, R$ 7 bilhões e vão sendo feitos aditamentos, e terminam em R$ 20 bilhões, R$ 30 bilhões. Isso é a ineficiência do gasto público. É a incompetência, a falta de planejamento e a corrupção. Se fizermos um levantamento desses problemas graves, que são centenas dentro do governo, só aí já conseguimos um espaço fiscal para fazer os investimentos corretos em Saúde, Educação e Segurança Pública. Nós precisamos de uma coisa também: recuperar a credibilidade do nosso país. Sem credibilidade não há investimento, sem investimento o país não cresce. Sem crescimento, o país entra num processo recessivo, como a gente acaba de entrar agora. Estamos nos comprometendo em fazer um conselho de responsabilidade fiscal, que possa acompanhar como esse dinheiro virá. Estamos comprometidos com uma reforma tributária no primeiro mês de governo para a qual temos os princípios gerais.

Flávia Oliveira pergunta:

Queria que a senhora explicasse melhor como fazer o aumento de investimento em Saúde, Educação e na eficiência do Estado, sem esconder dos brasileiros um período duro de ajustes?

A presidente Dilma já admitiu isso de forma contundente, só que dramática, porque disse que vai substituir o seu ministro da Economia depois de todos os erros que foram praticados. A presidente Dilma sabe que a pior notícia é dizer para os brasileiros que vai persistir no mesmo erro, e aí demitiu seu ministro da Economia. Mas essa demissão está sendo feita pelos brasileiros, que com certeza vão fazer a mudança. O meu programa está dizendo que vai reduzir inflação, não está dizendo que o método é apenas pela elevação de juros. O que estamos dizendo é que é possível fazer isso fazendo com que o país volte a crescer, recuperando credibilidade, dando eficiência para o gasto público. Quem disse que para diminuir inflação é apenas pelo meio mais ortodoxo dos ortodoxos? A própria presidente Dilma já está reconhecendo que não tem mais como continuar persistindo nos preços administrados para conter artificialmente a inflação. Podemos fazer as correções buscando os meios para fazer os investimentos, manter os programas sociais. Esse é o nosso compromisso. Hoje, estamos dando a boa notícia de que é possível fazer as duas coisas juntas.

Religião
Artur Xexéo pergunta:

Por alguma razão a sua crença religiosa está carimbada na sua imagem. A senhora sofre preconceito por causa da sua religião? A errata que foi feita em relação ao casamento gay e à adoção de crianças por casais homossexuais foi a crença religiosa que impôs?

Eu sou uma pessoa que tem fé desde que nasceu. Minha avó era católica praticante, rezava o terço, o rosário. Em 1996, 1997, eu me converti à fé cristã evangélica, e a minha fé, eu nunca neguei, nem quando era católica e nem quando evangélica. Até porque não imagino que o presidente da República, comprometido com o Estado laico, tenha que negar a sua fé para poder ser presidente da República, porque o Estado laico não é estado ateu. Uma vez me deram um relatório de um projeto que obrigava a colocar Bíblia em todas as bibliotecas e eu dei o parecer contrário. Eu não advoguei essa tese e paguei um preço muito alto por isso. Porque dei um parecer contrário dizendo que as igrejas podem doar Bíblias para todas as bibliotecas, mas não poderia ser um projeto do Estado, porque, senão, ele teria que prover todas as tradições religiosas, e o nosso Estado é laico. No nosso programa, o documento que o movimento LGBT mandou foi publicado Ipsis litteris. É claro que dá para ver que houve um erro. O nosso programa é o que assegura da melhor forma os direitos da comunidade LGBT. Veja o que tem no programa do Aécio: é uma linha. No programa da Dilma: uma linha genérica.

Esporte
Jorge Luiz Rodrigues pergunta:

O que a senhora faria com o Ministério do Esporte?

É um ministério importante, mas, infelizmente, tivemos muitas dificuldades no processo das Olimpíadas, que dão para os brasileiros motivo de preocupação sobre o andamento das obras necessárias, que já deveriam ter alcançado um ponto muito maior de realização. Nós estamos fazendo uma avaliação criteriosa para verificar como vamos fazer a redução de tantos ministérios que já foram criados.

Energia e pré-sal
Míriam Leitão pergunta:

E a questão do pré-sal? O povo do Rio ainda não entendeu direito a sua posição.

Essa campanha tem uma característica muito forte da distorção, do boato. Já disse inúmeras vezes que os combustíveis fósseis e, principalmente, o petróleo não têm ainda como serem substituídos no mundo, e que a humanidade deve buscar meios para substituir essa fonte fóssil de geração de energia. Ao dizer que vamos buscar outras formas de geração de energia limpas e seguras, não significa que não se vai fazer a exploração do petróleo. Vamos explorar os recursos do pré-sal, vamos utilizar o dinheiro que está destinado para a Saúde e a Educação para investir de fato em Saúde e Educação. É preciso entender que o que está ameaçando o pré-sal é o que está sendo feito com a Petrobras, uma empresa que vale a metade do que valia quando a presidente assumiu e que está quatro vezes mais endividada em relação à dívida que tinha. Existe uma cortina de fumaça que foi lançada para desviar o debate, talvez até porque já soubessem das denúncias que estão vindo das investigações que estão sendo feitas no Paraná. O Brasil tem que entender que a exploração das suas riquezas naturais é uma safra que só dá uma vez. E uma safra que só dá uma vez precisa ser muito bem utilizada, e não drenada pela corrupção como a gente vê lamentavelmente hoje dentro da Petrobras.

Merval Pereira pergunta:

É verdade que a senhora deixou no Ministério do Meio Ambiente uma situação que impede as hidrelétricas de terem um reservatório maior, o que prejudica a geração de energia?

Quando assumi o Ministério do Meio Ambiente, tínhamos 40 licenças em processo de tramitação com graves problemas do governo anterior. A maior parte delas, com questionamentos no Ministério Público, em função da má qualidade dos estudos de impacto ambiental. Quando saí, em maio de 2008, dessas 40 (licenças), só oito não tinham sido resolvidas, em função de gravíssimos problemas. A média de licenças no governo Fernando Henrique era em torno de 150 por ano. Na minha gestão, chegamos a quase 300 licenças por ano. Nós concedemos as licenças mais complexas que este país poderia dar: (usinas hidrelétricas de) Santo Antônio e Jirau, com 42 condicionantes que não foram cumpridas pelo atual governo. Mas a licença foi dada na minha gestão.

Avião

Pergunta de leitores pelo Twitter:

O PSB diz que não tem nada a ver com o avião que matou Eduardo Campos, mas há vítimas esperando uma resposta de quem é o dono. Até quando o mistério?

O Eduardo precisava do provimento de um avião para fazer os seus deslocamentos e buscou através de empresários que tinham uma aeronave, que seria paga na forma da lei, por meio de seu comitê financeiro, como foi declarado em sua campanha. Obviamente que a Polícia Federal e o Ministério Público estão investigando os empresários, os proprietários desse avião. E nós, tanto quanto as pessoas que corretamente querem as informações, aguardamos essas investigações. Quando o Eduardo morreu e, ao lado de seu caixão, pude observar muitos que o combatiam chorando e muito comovidos, fiquei pensando e até falei para algumas pessoas: "olha, uma fatalidade como essa só pode servir para nos tornar melhores e maiores". Os mesmo que choraram e que se apressaram em ser os portadores do seu legado agora riem entre os dentes tentando impor uma segunda morte. A morte física foi uma fatalidade. O que não queremos é sua morte política e simbólica por leviandade.

Silvia Fonseca pergunta:

Mas para evitar essa morte simbólica não é melhor esclarecer tudo logo?

Não temos como esclarecer aquilo que é de responsabilidade dos empresários. O Eduardo buscou um serviço. Esse serviço foi prestado. É uma metáfora simples. Imagine se você sofre um acidente dentro de um carro ou dentro de um táxi. Não pode ser você que vai esclarecer do provimento do serviço que você buscou para lhe atender. O Eduardo buscou o serviço, o pagamento na forma legal, e as investigações estão sendo feitas. As investigações vão esclarecer. Queremos a verdade seja qual for e o que for. Isso é a nova política.

Marcus Oliveira: A revolução irreformável

Silvio Pons. A revolução global. História do comunismo internacional (1917-1991). Rio de Janeiro: Contraponto; Brasília: Fundação Astrojildo Pereira, 2014. 575p.

- Gramsci e o Brasil

Nas últimas semanas de agosto de 2014 foi lançada entre nós, a propósito da trajetória do comunismo no século passado, um livro — destinado a se tornar referência — do historiador italiano Silvio Pons, vice-diretor da Fundação Instituto Gramsci. A obra procura traçar, em uma análise de fôlego pouco comum, a história do comunismo internacional. Nessa análise, Pons detecta elementos centrais da cultura política comunista, demonstrando como os comunistas aderiram dogmaticamente a esses elementos, tornando-se incapazes de se adequarem a novos contextos históricos. Com isso, a necessidade da leitura de Pons torna-se evidente. Suas reflexões, ao explicitar essa revolução irreformável, evidenciam a necessidade de profunda revisão e reforma da cultura política das esquerdas, tornando-a adequada para os desafios e possibilidades do século XXI.

O livro é resultado de um intenso processo de pesquisas desenvolvidas por Pons desde o início dos anos 1990. Para compor sua análise, Pons consultou fontes de importância ímpar, tendo tido acesso a uma série de documentos soviéticos, além de ter consultado arquivos relevantes dos partidos comunistas europeus. Assim, possuindo em mãos esse imenso corpo documental, Silvio Pons procurou traçar integralmente a história do comunismo internacional.

Em relação à historiografia produzida sobre o tema, a obra pretende superar determinadas análises que compreendem ascensão e queda do comunismo internacional unicamente a partir de fatores estruturais. Nessa perspectiva, tanto o surgimento quanto o declínio do Estado soviético estariam conectados a crises estruturais. A insuficiência desse tipo de análise, na visão de Pons, reside no rebaixamento da função das ideologias e dos sujeitos do processo histórico.

Analisar o comunismo internacional, segundo Pons, significa situá-lo historicamente no interior de um processo radicalmente aberto, avesso a qualquer pretensão de inevitabilidade, percebendo-o simultaneamente como uma realidade e uma mitologia capaz de influenciar a política mundial. Nesse sentido, as análises do autor são capazes de abarcar um tempo longo, sem perder de vista o tempo curto e a dinâmica dos acontecimentos, valorizando o papel dos mais diversos sujeitos na construção do comunismo. Portanto, as reflexões do autor apontam para o processo de construção e desmantelamento do comunismo internacional.

A compreensão desse importante fenômeno que atravessou o século XX, na perspectiva de Pons, passa pelo nexo indissociável entre revolução e guerra. Para o autor, a revolução bolchevique e seus desdobramentos são marcados pelo momento histórico originário, a Primeira Guerra Mundial. Nesse nexo, a figura de Lenin é fundamental. A teoria do imperialismo aponta para a necessidade da revolução internacional em razão das contradições inerentes a esse sistema.

Para Pons, Lenin diverge de Marx em suas análises acerca do caráter internacional do capitalismo. Enquanto Marx se preocupa com a mundialização da produção da economia capitalista, o cerne do problema de Lenin reside na perspectiva catastrófica gerada por esse mesmo desenvolvimento. Para Lenin, as contradições gestadas pelo imperialismo terminariam por produzir graves conflitos bélicos mundiais, semelhantes àqueles que possibilitaram a eclosão da Revolução de Outubro.

Partindo dessa elaboração de Lenin, Pons aponta para um elemento na cultura comunista que não foi suficientemente analisado e observado pela historiografia. Ele afirma que esse catastrofismo, inaugurado por Lenin, é um dos componentes mais fundamentais na organização desta cultura política. A perspectiva de catástrofe próxima orientará o internacionalismo bolchevique em todo o seu percurso.

Nesse sentido, o autor toma a experiência da Primeira Guerra Mundial como terreno histórico originário da cultura comunista, apontando que tal experiência se estrutura como um dogma, não passível de ser questionado ou reformado mesmo nos momentos mais críticos, servindo como o elemento central de legitimação e construção do Estado soviético sob o domínio de Stalin.

Nesses termos, a construção do socialismo em um só país, empreendida por Stalin, não significa o abandono da perspectiva internacionalista e catastrófica. Essa estratégia representa, pelo contrário, uma forma de adequação da perspectiva internacionalista ao novo contexto, no qual as esperadas revoluções europeias não ocorreram, fazendo com que o socialismo soviético se mantivesse isolado. Diante disso, o Estado assume a característica de sujeito da revolução mundial.

Esse incrível fortalecimento do Estado soviético é também conduzido pela expectativa da catástrofe. A URSS, considerada uma ilha circundada pelo capitalismo, aguardava a emergência de outro conflito bélico de proporções mundiais. Assim, era necessário fortalecer o Estado a partir da ideia da segurança nacional. É essa psicose da guerra a justificativa dos expurgos promovidos durante o Grande Terror staliniano. Nesse sentido, Pons consegue comprovar e levar adiante as notas de Gramsci acerca da presença da “estadolatria” na URSS, demonstrando que a construção do Estado soviético se ancora mais na repressão do que na produção do consenso a partir da sociedade civil.

Internacionalmente, essa política de idolatria ao Estado soviético e seu líder termina por gerar posturas monolíticas no movimento comunista internacional. Expurgando-se as divergências, sobretudo as trotskistas, os partidos comunistas europeus puderam alinhar-se aos dogmas da cultura política bolchevique, independentemente da existência da Internacional Comunista (Komintern).

A Segunda Guerra Mundial aparece como confirmação das teses de Stalin acerca da inevitabilidade do conflito mundial e do confronto final entre capitalismo e socialismo. A vitória sobre os nazistas, apesar de inesperada e surpreendente, altera o nexo originário entre guerra e revolução. Enquanto, no fim da Primeira Guerra, os comunistas se engajaram na possibilidade de revoluções na Europa, ao fim da Segunda Guerra essa possibilidade se encontra fora de questão. No segundo pós-guerra, o Estado soviético transforma a revolução mundial em uma expansão territorial, avançando com o Exército Vermelho por outros territórios, sobretudo do Leste Europeu.

A construção do bipolarismo se encontra conectada a essa expansão do Estado soviético. Mesmo com o fim da Segunda Guerra, os soviéticos não abandonaram a perspectiva da catástrofe próxima. O contexto desse período é compreendido a partir da teoria dos dois campos. Haveria o campo imperialista e reacionário, que seria combatido pelo campo anti-imperialista e democrático. Para os soviéticos, esses dois campos se enfrentariam inevitavelmente na disputa pela hegemonia. Em virtude disso, era necessário tornar a URSS uma superpotência mundial.

A supremacia da URSS também se dá dentro do movimento comunista internacional. Segundo Pons, a criação do Kominform representa tal supremacia. Stalin, por meio desse órgão, procurava controlar a fidelidade dos partidos comunistas à cultura política bolchevique.

Além da ruptura com a Iugoslávia de Tito em 1948, há a emergência da revolução chinesa de 1949. Stalin, na análise de Pons, não se interessava decisivamente pela revolução na Ásia, chegando inclusive a não desejar o surgimento do comunismo na China. Todavia, nesse momento, apesar das divergências, a China consegue tornar-se um Estado revolucionário sob a proteção de Moscou. A ruptura decisiva somente se daria no período Khruschev.

Estabelecendo um balanço de Stalin, Pons é categórico. O legado de Stalin, apesar da vitória sobre os nazistas e do desenvolvimento da potência soviética, foi a “psicologia de guerra e o Estado de segurança total, simbolizado pelos milhares de quilômetros de arame farpado que cobriam as fronteiras da URSS e dos outros países comunistas” (PONS, 2014:359).

Mesmo Khruschev, no projeto de desestalinização desenvolvido a partir do célebre XX Congresso do PCUS, não foi capaz de promover a reforma da cultura política comunista e do legado de Stalin. Para Pons, o relatório de Khruschev procurava separar a figura de Stalin do Estado soviético, sem, por outro lado, prever uma reorientação dos comunistas. Deste modo, os limites da política de Khruschev se evidenciam no trágico episódio da invasão húngara em 1956.

Além de demonstrar os limites de Khruschev, a invasão da Hungria revela a fragilidade do império soviético construído por Stalin. Com o sufocamento da proposta de renovação húngara, torna-se ainda mais evidente que a manutenção da estrutura de domínio soviético sobre outros Estados poderia somente ser conservada a partir do autoritarismo do Estado. Além disso, as frágeis bases consensuais da URSS, internacionalmente construídas em torno do mito de uma proposta de modernidade alternativa anticapitalista, começam a se desmontar, causando a ruptura de diversos intelectuais com o comunismo.

A crise deflagrada pela invasão de 1956 se torna mais aguda com o cisma sino-soviético de 1962. Khruschev promoveu certo recuo na cultura soviética da catástrofe, lançando uma estratégia de “coexistência pacífica”, respeitados os limites soviéticos no contexto da Guerra Fria. Mao Zedong, líder chinês, considerou tal proposta como um abandono da estratégia de revolução mundial, criticando duramente o papel da URSS como Estado-guia na condução da revolução mundial. Assim, diante do cisma, a China passou a considerar-se como o real Estado revolucionário.

Na análise de Pons, o conflito entre Moscou e Beijing é crucial para a compreensão da proposta de revolução mundial dos comunistas. A ruptura assinala, definitivamente, o fim da unidade do movimento comunista internacional. Consolidada a ruptura, os chineses se encontravam livres para desenvolver sua política centrada no nexo entre revolução e descolonização do terceiro mundo, nexo que jamais havia sido aceito pelos soviéticos.

Todavia, a grande crise de legitimação do comunismo internacional ocorre em 1968. A repressão na Tcheco-Eslováquia e os movimentos de Maio de 68 assinalam a crítica ao autoritarismo e aos projetos de engajamento promovidos até então. Nesse momento, os jovens que se voltavam contra os valores da modernidade capitalista ocidental não mais aderiam ao projeto comunista. Assim, essa crise de legitimação desnuda o processo de crise da mitologia soviética entre as novas gerações, que não mais consideravam a URSS como um projeto válido de modernidade alternativa anticapitalista.

Portanto, desde a metade dos anos 1950 a URSS sofria diversos abalos em sua estrutura. Mas tão forte quanto os abalos era o apego dos dirigentes soviéticos aos dogmas de sua cultura política. Mesmo após a grande crise de legitimidade de 1968, os soviéticos adentram os anos 1970 crendo na clara possibilidade da revolução mundial, baseados em sua visão dicotômica e esquemática do mundo. A crise do capitalismo finalmente havia chegado, e a URSS ampliava sua influência sobre a Ásia e Oriente Médio. Todavia, aquilo que parecia sua vitória escondia, na verdade, seu grave declínio. Os próprios Estados ligados ao comunismo soviético não eram capazes de prosperar, entrando em sérios conflitos entre si mesmos, como no caso de Vietnã e Camboja.

No início dos anos 1980, os dirigentes comunistas não haviam percebido que o mundo bipolar se tornara multipolar. Além disso, por essa ausência de realismo, os soviéticos assistem à recuperação dos países do Ocidente e do Oriente com as reformas de mercado capitaneadas por Reagan. Assim, Gorbachev assume um Estado mergulhado em profunda crise, levada adiante pela incapacidade reformadora de uma gerontocracia formada nas bases do stalinismo.

O novo modo de pensar de Gorbachev, na análise de Pons, jamais rejeitou o papel da URSS como líder da revolução mundial. Nesse ponto, Gorbachev era tão bolchevique quanto qualquer outro dirigente. Todavia, era necessário propor reformas internas na URSS para que o Estado pudesse retomar com mais força seu papel no cenário global. No entanto, a tentativa de reforma é incapaz de conter a avalanche da crise.

Nesse sentido, a queda do Muro de Berlim é emblemática. A recusa de Gorbachev em reprimir as revoltas ocorridas na Alemanha Oriental demonstra com limpidez, e de forma definitiva, a ausência de legitimidade e consenso da URSS. Em pouco tempo, os alemães orientais, quando se viram distantes da ameaça de repressão armada, derrubaram o símbolo maior da visão bipolar, dicotômica e catastrófica dos soviéticos, gerando, em enorme efeito dominó, a queda dos Estados ligados à URSS. Portanto, a crise terminal ocorre exatamente quando desaparece o que sustentava a condição soviética no cenário geopolítico da Europa centro-oriental.

Observando essas reflexões acerca da história do comunismo internacional, podemos perceber que Pons detecta determinados elementos centrais e essenciais da cultura política comunista. Tais elementos — a teoria catastrófica do imperialismo de Lenin, amalgamada à centralidade do Estado imperial soviético — conduzem a política soviética até sua derradeira crise. Com isso, o autor é capaz de perceber uma revolução que se cristaliza no tempo, extremamente apegada a suas origens e a seu terreno histórico originário. Incapaz de perceber os movimentos históricos e políticos, os soviéticos transformam a história em teleologia com fim determinado, elevando-a à categoria de mito. E, como todos os mitos, tal teleologia jamais poderia ser questionada, sob pena de profunda desorganização social e política.

A reflexão de Pons é fundamental para um pensamento de esquerda preocupado com a história e com as condições do século XXI. No prefácio brasileiro, Daniel Aarão Reis Filho aponta que as análises de Pons são importantes para a reconstrução da utopia socialista em nosso tempo. Entretanto, tais análises parecem conduzir para o caminho oposto, e sua contribuição maior reside exatamente nesse ponto. A utopia socialista, em Pons, aparece como um mito, incapaz de observar a realidade e reformar-se, restando uma peça alheia aos novos tempos. Nessa perspectiva, a história do comunismo internacional de Pons contribui para as esquerdas do século XXI no sentido de apontar a necessidade de uma revisão histórica profunda da cultura política comunista. Retomando o diagnóstico gramsciano dos anos 1930, Pons parece propor a necessidade de uma inversão nos termos daquela cultura, reconhecendo a primazia do consenso sobre a coerção e da realidade histórica sobre os mitos.
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Marcus Vinícius Furtado da Silva Oliveira é mestrando em História e Cultura Política pela Unesp/Franca e bolsista Capes.

Fernando Gabeira: Abençoado por Deus e roubado com naturalidade

- O Estado de S. Paulo

Tá lá o corpo estendido no chão. Acabou uma época imprensada entre a crise econômica e uma profunda desconfiança da política. Não quero dizer com isso que o atual governo federal, com sua gigantesca capacidade, milhões de reais e a máquina do Estado, perderá a eleição. Não o subestimo. Quando digo que acabou uma época quero dizer que algo dentro de nós se está rompendo mais decisivamente, com as denúncias sobre o assalto à Petrobrás.

De um ponto de vista externo, você continua respeitando as leis e as decisões majoritárias. Mas internamente sabe que vive uma cisão. A contrapartida do respeito à maioria é negada quando o bloco do governo se transforma num grupo de assaltantes dos cofres públicos.

Uma fantástica máquina publicitária vai jogar fumaça nos nossos olhos. Intelectuais amigos vão dizer que sempre houve corrupção. Não se trata de um esquema de dominação. Ele tem seus métodos para confundir e argumentar.

O elenco escolhido pelo diretor da Petrobrás para encenar o grande assalto na política não chega a surpreender-me. O presidente do Senado, Renan Calheiros, e o presidente da Câmara, Henrique Alves, são atores experimentados. A diferença agora é que decidiram racionalizar. Renan e Alves viveram inúmeros escândalos separadamente. Agora estão juntos na mesma peça. Quem escreve sobre escândalos deve ser grato a eles. Com a presença num mesmo caso, Renan e Alves nos economizam um parágrafo. Partimos daí: os presidentes do Senado e da Câmara brasileira são acusados de assaltar a Petrobrás.

Deixamos para trás um Congresso em ruínas e vamos analisar o governo. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, foi acusado, o tesoureiro do PT também foi denunciado. As declarações deixam claro que Lula levou o diretor para o posto e elogiava seu trabalho na Petrobrás.

Em termos íntimos, não há governo nem Congresso para respeitar. Ambos já mudaram de qualidade. Os que se defendem afirmando que sempre houve corrupção não percebem a fragilidade do argumento. É como se estivessem diante do incêndio do Rio e alguém sussurrasse: "O Nero, lembra-se? O Nero também incendiou Roma".

Grande parte dos analistas se interessa pela repercussão do escândalo na corrida presidencial. Meu foco é outro: a repercussão na sensação de ser brasileiro. Quem talvez conheça melhor essa sensação são as pessoas que vivem em favelas, dominadas pelo tráfico ou pela milícia.

Existem diferenças entre as favelas e o Brasil que as envolve. Diante de escândalos políticos somos livres para protestar, o que não é possível nos becos e vielas. E contamos com a Justiça. No caso do mensalão, o processo foi conduzido por um juiz obstinado e com dor nas costas, pouco tolerante a artifícios jurídicos. Neste caso da Petrobrás há indícios de que o juiz Sérgio Moro, competente em analisar crimes de lavagem de dinheiro, pretende avançar nas investigações. E avançar por um território que não é virgem, mas extremamente inexplorado: o universo das empreiteiras que subornam os políticos.

Lembro-me, no Parlamento, dos esforços do velho Pedro Simon para que se investigassem também as empreiteiras nos escândalos de suborno. Falar disso no Congresso é falar de corda em casa de enforcado. Ele não conseguiu. Mas Simon queria mostrar também que os políticos não se corrompem sozinhos. Desgastados, polarizam tanto a rejeição que poucos se interessam por quem deu dinheiro e com que objetivo.
Leio nos jornais que as empreiteiras fizeram um pool de excelentes advogados e, pela primeira vez na história, vão se defender de forma coordenada. Vão passar por um momento crucial. Ainda no Congresso, apresentei projeto regulando suas atividades no exterior. A presunção era de que mesmo no exterior o suborno era ilegal para uma empresa brasileira. Alguns países já adotam essa política.

Sinceramente, não sei se o caso das empreiteiras é apenas de bons advogados. Em muitos lugares do mundo, algumas empresas assumem seus erros e se comprometem com um novo tipo de relação com as leis. Isso no Brasil seria uma decisão audaciosa. Sem o suborno, devem pensar, não há chance de ter contratos com o governo.

Se, como no mensalão, a justiça for aplicada com severidade, também as empreiteiras serão punidas. Mais uma razão para pensar numa mudança de comportamento para a qual o País já está maduro. Todo esse processo de corrupção pode ser combatido, parcialmente, a partir de nova cultura empresarial. Os outros caminhos são transparência, Polícia Federal, Justiça, liberdade de imprensa e internet.

Quando afirmo que uma época acabou, repito, não excluo a vitória eleitoral das forças que assaltam a Petrobrás. Mas, neste caso, o governo sobreviverá como um fósforo frio. Maduro, na Venezuela, vê Chávez transfigurado em passarinho. Esse truque não vale aqui, pois Lula está vivo. E no meio da confusão.

Não creio que o Congresso será melhor nem que a oposição, que não soube combinar a crítica econômica com a rejeição moral, possa realizar algo radicalmente novo. O próprio Supremo não é mais o mesmo. Modestamente, podemos esperar apenas alguma melhoras e elas vão depender de como o povo interpretará o saque à Petrobrás. Na minha idade já não me posso enganar: Senado, Câmara, governo, tudo continua sendo formalmente o que é; no juízo pessoal, são um sistema que nos assalta.

O PT, via Gilberto Carvalho, acha que a corrupção é incontrolável e propõe financiamento público de campanha. Bela manobra, como se o dinheiro da Petrobrás não fosse público. Os adversários têm tudo para desconfiar da tese. Ficariam proibidos de arrecadar com empresas, enquanto dinheiro a rodo é canalizado das estatais para o PT, que se enrola na Bandeira Nacional e grita: "O petróleo é nosso!".

Na medida em que tudo fique mais claro, talvez possamos até economizar palavras, como Renan e Alves nos economizaram um parágrafo participando do mesmo escândalo. Poderíamos usar a frase do mendigo em Esperando Godot, ao ser questionado sobre quem o espancou: os mesmos de sempre.

*Fernando Gabeira é jornalista

Merval Pereira: Dificuldades da nova política

- O Globo

Para se opor à onda de ataques que vem saindo das campanhas adversárias, Marina resolveu subir o tom e reassumir uma temática que sempre foi muito cara a Eduardo Campos: a de que sua candidatura está sendo levada pelas forças da sociedade para acabar com a polarização entre PT e PSDB.

Aécio Neves ressalta o quanto pode que Marina fez toda sua carreira política no PT, e, sugere, continua tendo uma alma petista. Eduardo Campos, com o seu PSB, podia levantar a bandeira da terceira via através de um partido político que tem história na política brasileira. Já Marina, ao contrário, quer mexer na estrutura partidária vigente no país a partir de políticos virtuosos que, com sua chegada ao Planalto, ganharão força política para intervir na estrutura de seus partidos e levá-los a novas práticas.

Cita os senadores Pedro Simon e Jarbas Vasconcelos, no PMDB, como os que passarão a ganhar espaço interno no partido para destronar políticos da "velha política" como José Sarney ou Renan Calheiros. Não parece provável, pois os dois senadores citados fazem parte há anos de uma dissidência do PMDB que nunca teve vez, só voz nas tribunas, e não nos fóruns partidários.

Mas de qualquer maneira Marina espera que das urnas saiam também novos políticos, escolhidos pelos mesmos eleitores que querem vê-la no Planalto para iniciar as mudanças ansiadas. Tem lógica, embora nem sempre o resultado das urnas seja compatível com a lógica. No caso de SP, por exemplo, Marina está à frente nas pesquisas para presidente, mas quem vai ganhar no governo do estado é o governador Geraldo Alckmin, figura política que Marina não se abstém de atacar.

Ontem mesmo, na sabatina do GLOBO, ela fez sérias críticas à política de abastecimento de água do governo paulista, que está sob o comando do PSDB há 16 anos. Os deputados que sairão das urnas em São Paulo, e em todos os estados brasileiros, serão os que as máquinas partidárias levarão ao Congresso, e é com as máquinas, e não com os indivíduos, que ela terá que se ver na hora de negociar apoios.

É interessante notar que a entrada de Marina na disputa presidencial desmontou o esquema que as máquinas partidárias prepararam para mais uma vez levá-la à polarização entre PT e PSDB, mas não tem a força para levar essa mudança para o Congresso.

O voto no Brasil é ainda muito personalista, mas a legislação eleitoral impõe disciplina partidária que termina por privilegiar aqueles que controlam as máquinas, tanto na indicação dos candidatos quanto no funcionamento interno do Congresso. Só os apadrinhados são nomeados para comissões importantes e lideranças.

Muito dificilmente um deputado ou senador que não esteja em sintonia com a direção partidária terá condições de exercer seu mandato eficazmente, a não ser os que têm luz própria, mas farão sempre voos solitários. Têm poder de influência na sociedade, suas vozes ecoam, mas não têm poder internamente para mudar as diretrizes partidárias.

A escolha da presidência da Câmara é uma disputa que pode ser exemplar dessa dificuldade. O PMDB, que deve fazer a maior bancada, prepara-se para lançar Eduardo Cunha, representante por natureza do que Marina chama de velha política. No campo marinista há um candidato natural, o deputado Miro Teixeira, que se lançaria com o apoio do Planalto.

É claro que, se houver governo disposto a estabelecer novas regras para o convívio congressual, contará com o apoio desses "escoteiros" e provavelmente da sociedade, mas terá de usar pressões externas para conseguir algum resultado. O coordenador de sua campanha, o ex-deputado Mauricio Rands, aventou outro dia a possibilidade de, eleita, Marina buscar forças nas ruas para aprovar medidas. Recebeu diversas críticas, inclusive porque esse tipo de ação pressupõe passar por cima dos partidos - e, portanto, do Congresso.

É o que o governo petista pensa em fazer há muito tempo, mas encontra firme reação na sociedade. Os conselhos populares criados por decreto de Dilma seriam meios de exercer essa pressão, mas a democracia direta não pode se sobrepor à representativa, sob pena de colocar em risco a democracia em si.

Marina passeia entre os dois tipos de representação buscando uma 3ª via que transfira ao Congresso valores de que a sociedade se sente órfã hoje: honestidade, transparência, política com ética, combate à corrupção. Talvez a principal tarefa da presidente Marina, caso eleita, seja essa mesma, restaurar os valores republicanos há muito perdidos nessa luta de foice em que se transformou a política brasileira, onde o que passou a valer é a esperteza e o salve-se quem puder.

Dora Kramer: Iludir é preciso

- O Estado de S. Paulo

O PT comemora a recuperação de alguns pontos positivos para a presidente Dilma Rousseff nas pesquisas e atribui a boa nova à ofensiva de difamação contra a ex-senadora Marina Silva.

Na avaliação do comando, depois de alguns desacertos a campanha acertou a mão. Por "acerto" entenda-se a seguinte narrativa da propaganda eleitoral petista: Marina é candidata dos banqueiros a quem pretende entregar o País caso seja eleita presidente, permitindo que aquela gente malvada leve à miséria o povo brasileiro.

Se ao uso de invencionices é atribuído o resultado das pesquisas que apontam o empate entre a presidente e a ex-senadora - representando o estancamento da queda de uma e a parada da subida de outra -, evidentemente o recurso será cada vez mais utilizado. Aliás, já está sendo.

A campanha do PT não está preocupada com a verdade dos fatos porque não está falando para os informados. Aposta na massa que não dispõe de dados nem discernimento suficientes para cotejar os fatos e conta uma história que parece fazer sentido.

Exatamente para esse público no horário eleitoral a presidente Dilma agora resolveu "explicar" didaticamente como, quando e porque seu governo deu combate sem trégua à corrupção, tema até então evitado na propaganda e só abordado em entrevistas mediante provocação.

Segundo ela, os escândalos dos últimos anos foram apenas uma "falsa impressão" de aumento da corrupção. Nessa nova versão esses casos viraram notícia só porque o governo assim decidiu.

Isso a despeito de nenhum deles ter sido descoberto por iniciativa oficial, todos terem sido em princípio desmentidos, vários dos personagens envolvidos demitidos depois reincorporados aos ministérios, investigações escancaradamente barradas e denúncias reiteradamente ignoradas.

Está claro, pois, que a campanha do PT achou um atalho mais fácil para travar o atual combate: no lugar de tentar convencer, prefere enganar o eleitor. Campo no qual se sente bastante à vontade.

Melhor de três. O senador Aécio Neves disse na entrevista ao Globo que se perder a eleição será um oposicionista. Como não se pode levar em conta a hipótese de uma composição com governo do PT, resta o subentendido de que se referia à recusa de adesão no caso de vitória de Marina Silva.

A declaração pode ser compreendida de diversas formas. A mais simplesinha, a admissão prévia de que está fora do páreo. Outra: como presidente do PSDB vai se empenhar para que o partido fique de fora de um hipotético governo do PSB.

Uma terceira seria o reconhecimento de que uma nova disputa presidencial precisaria ser precedida de uma posição atuante, com mais atenção à ligação com a sociedade e menos confiança nos resultados da política de bastidor.

Destaques. Enquanto as pesquisas não revelam grandes alterações no cenário da disputa presidencial, nas eleições estaduais os números trazem algumas novidades.

Em Pernambuco, a virada de Paulo Câmara (candidato de Eduardo Campos). Saiu de 13% para 39% passando à frente de Armando Monteiro, que liderava com 47% e agora tem 33%.

No Rio Grande do Sul, a candidata Ana Amélia se distancia no primeiro lugar do governador Tarso Genro, cumprindo até agora a tradição gaúcha de não reeleger governadores.

No Distrito Federal ocorre um paradoxo. José Roberto Arruda, ficha suja concorrendo a poder de recurso, está em primeiro lugar para o governo. Ao Senado, o candidato disparado é o deputado José Antonio Reguffe cujo capital é a ficha limpa: não usa cota de passagens, devolve salários extras, defende redução de verbas e gabinete e recusa auxílio moradia.