segunda-feira, 3 de março de 2014

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso

"Ainda agora, na crise da Venezuela, é incrível a timidez de nosso governo em fazer o que deve: não digo apoiar este ou aquele lado em que o país rachou, mas pelo menos agir como pacificador, restabelecendo o diálogo entre as partes, salvaguardando os direitos humanos e a cidadania. O Mercosul, desabridamente se põe do lado do governo de Maduro. O Brasil, timidamente, encolhe-se enquanto o partido da presidente apoia o governo venezuelano, sem qualquer ressalva às mortes, aprisionamento de oposicionistas e cortinas de fumaça que querem fazer crer que o perigo vem de fora e não das péssimas condições em que vive o povo venezuelano."

Fernando Henrique Cardoso, “Diplomacia inerte”, O Globo, 2 de março de 2014.

Venezuelanos fazem manifestação em Caracas

Manifestações antigoverno já deixaram pelo menos 17 mortos e 261 feridos no país

CARACAS - A tentativa do governo de Nicolás Maduro de usar o feriado do Carnaval — que foi até estendido — para os protestos que tomam a Venezuela nas últimas três semanas se revelou insuficiente neste domingo, quando dezenas de milhares de pessoas marcharam por Caracas. “Prefiro Carnaval sem praia a uma vida sem liberdade”, diziam cartazes exibidos pelos manifestantes. As manifestações oposicionistas, que começaram em protesto contra a grave crise econômica e a crescente insegurança no país, se transformaram em revolta contra a repressão liderada por Maduro

— 18 pessoas morreram e mais de 260 ficaram feridas desde o início dos protestos.

Liderado por estudantes de classe média de cidades governadas por oposicionistas, o protesto de ontem saiu de quatro pontos de Caracas até a Praça Brion, na Zona Leste da capital, área mais rica onde os antichavistas são maioria. Cada local de partida simboliza as principais denúncias contra o governo de Maduro — a insegurança, a impunidade e os abusos policiais, a crise econômica e a censura aos meios de comunicação.

— São problemas que afetam a todos, e o governo deveria promover um diálogo sincero, com disposição para correr atrás de soluções — explicou Lorena González, uma das organizadoras do protesto.

Condições para o diálogo
Os estudantes vêm rejeitando as tentativas de diálogo propostas pelo governo da Venezuela por considerarem que eles não ocorreriam em igualdade de condições e serviriam apenas como tentativa de desmobilizar os protestos.

—Não podemos concordar em ir ao Palácio Miraflores montar um circo em torno de uma proposta de paz do governo — disse o líder estudantil Juan Requesens, que exigiu o direito de falar 15 minutos em cadeia nacional para explicar as razões do protesto antes de dialogar com o governo.

Autor da biografia “Chávez sem uniforme”, publicada em 2004, Alberto Barrera Tyska avalia que a estratégia de Maduro de invocar o nome de seu mentor está desgastada. Segundo ele, a cada dia que se passa, o mandatário é mais afastado da imagem de herdeiro do ex-presidente, cuja morte completa um ano esta semana.

— Maduro faz tudo o que pode para usar o culto a Chávez contra as crises econômicas, mas é uma batalha desproporcional — diz.

Os manifestantes responsabilizam o governo pela galopante inflação de mais de 56% nos últimos 12 meses, o aumento da criminalidade e o desabastecimento de produtos básicos.

Tentando esfriar os ânimos após os distúrbios, Maduro prolongou o feriado de Carnaval esta semana. O governo inundou as redes sociais de imagens de banhistas alegres e a televisão estatal convida insistentemente os venezuelanos para ir à praia.

Fonte: O Globo

PT e PSDB querem vantagem

Siglas rivais trabalham para conseguir vitória em Minas na disputa pelo Palácio do Planalto

Raquel Gondim

Não é só na disputa pelo governo do Estado que o PSDB estima uma grande vitória em Minas Gerais. Na briga pela Presidência, o partido prevê que o senador Aécio Neves (PSDB) conseguirá pelo menos três milhões de votos de diferença no Estado na comparação com a presidente Dilma Rousseff (PT).

Do lado do PT, porém, a legenda prevê repetir o cenário de 2010, quando Dilma derrubou o tucano José Serra no Estado. Segundo o presidente do PT-MG, o deputado federal Odair Cunha, a ideia da legenda para vencer Aécio é mostrar que os ganhos adquiridos pelo Estado nos últimos anos foram fruto dos investimentos do governo federal. Cunha, porém, não faz previsões sobre os índices envolvidos na disputa. Em 2010, Dilma venceu Serra em Minas Gerais com uma diferença de 1,7 milhão de votos.

Números. Independentemente de quem ganhar a preferência dos mineiros, a expectativa apresentada pelo PSDB para a disputa presidencial é aparentemente mais factível do que os números esperados para o governo do Estado.

Em média, nos pleitos de 1994, 1998, 2002, 2006 e 2010, o vencedor da briga pelo Palácio do Planalto no Estado obteve 2,6 milhões de votos de vantagem sobre seu principal adversário, número próximo dos três milhões de frente esperados pelo PSDB. O levantamento feito pela reportagem leva em conta o resultado do turno em que a eleição foi decidida.

A maior diferença foi verificada no segundo turno de 2006, quando Lula venceu o paulista Geraldo Alckmin (PSDB) em Minas com uma vantagem de 3,17 milhões de votos. Em seguida aparece o balanço de 2002. Na ocasião, Lula foi eleito no Estado com uma vantagem de 3,16 milhões de votos sobre José Serra (PSDB).

Decisivo. Mas, apesar da grande importância simbólica de Minas para o cenário eleitoral, o resultado do pleito no Estado não é decisivo.

O professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas) Moisés Augusto Gonçalves salienta que esse simbolismo, somado ao grande número de eleitores, não é suficiente para fazer Minas determinante.

“As pesquisas mostram uma preferência por Dilma Rousseff em nível nacional e por Aécio Neves no Estado, por isso, não acho que dá para pensar só em Minas. Tudo dependerá do leque de alianças dos candidatos e de elementos-surpresa, já que não é possível prever como a sociedade vai reagir até lá. A conjuntura política atual é muito dinâmica”, afirmou.

O presidente do PSDB em Minas, Marcus Pestana, concorda. “Minas não consegue impactar isoladamente no resultado nacional. É importante conseguirmos conquistar um bom resultado em São Paulo, manter um bom desempenho no Sul e no Centro-

Sem Planalto, mas com governos
Além do PSDB e do PT, o PMDB e o PSB concentram grande número de governos estaduais. Em alguns anos, os dois partidos, inclusive, batem os petistas e tucanos, dando mais uma mostra de que a influência do partido que ganha a Presidência é limitada.

Em 2010, 2006 e 2002, o PSB conquistou, respectivamente, sete, três e quatro governos. Nas mesmas datas, o PMDB foi eleito para comandar, respectivamente, cinco, sete e quatro federações.

O antigo PFL também era forte nas disputas estaduais. Em 2002, a sigla conquistou seis Estados.

Cenários para terceira via
Surpresa. Para o cientista político Moisés Gonçalves, o surgimento de uma terceira via nas eleições poderá trazer surpresas nas disputas deste ano.

Casos. Na briga pelo Planalto, essa terceira via é simbolizada pela candidatura de Eduardo Campos, tendo Marina Silva como vice.

Minas. No caso do governo do Estado, ainda não foi acertada a hipótese de uma candidatura alternativa ao PT e ao PSDB.

Hipóteses. Além do PMDB, que pode lançar uma chapa ao governo, o PSB também poderá lançar um nome, em parceria com a Rede de Marina Silva.

Percentual
Presidente. Considerando os percentuais, a maior vitória verificada em MG nos últimos cinco pleitos foi de Lula em 2006. Na ocasião, 65% dos mineiros votaram no petista no segundo turno contra Alckmin.

Fonte: O Tempo (MG)

“O Aécio irá ganhar muito bem em Minas”

Aloysio Nunes Líder do PSDB no Senado

Até que ponto o PSDB tem como prioridade ganhar a eleição presidencial em Minas?
A vitória em Minas é uma prioridade absoluta para o PSDB, sobretudo por termos um candidato genuinamente mineiro.

O PSDB acredita ser possível vencer a eleição presidencial, mesmo se Aécio Neves perder a disputa em Minas?
Eu só penso em vitória. O Aécio irá ganhar muito bem em Minas. Ele se elegeu duas vezes a governador, terminou seu mandato com excelente avaliação e elegeu Anastasia seu sucessor, que também fez um excelente governo. Temos ainda aliados fortes no Estado que vão muito além da coligação.

Caso Pimenta da Veiga não consiga conquistar o eleitor de Minas, isso pesa na candidatura de Aécio?
Pimenta é um excelente nome, é um candidato de dimensão nacional. Temos todas as condições de ganhar em Minas em todos os âmbitos.

Fonte: O Tempo (MG)

Mensalão: mesmo na prisão, Dirceu e Jefferson mantêm apadrinhados e poder político no governo e no Congresso

Personagens mais importantes do escândalo têm rede de relacionamentos em cargos-chave

Klécio Santos

BRASÍLIA - Mesmo enclausurados em celas inferiores a 10 metros quadrados, José Dirceu e Roberto Jefferson, presos ilustres do mensalão, continuam influentes nos seus partidos. Nunca deixaram de ter poder no Congresso e no governo, onde seus aliados atuam em postos-chave. Da prisão, Dirceu e Jefferson seguem ativos no controle do PT e do PTB.

É Dirceu quem age de forma mais explícita. Embora divida seu tempo com faxinas e resenhando livros da biblioteca, o ex-ministro vem intensificando articulações. As visitas de parlamentares se tornaram rotina no Complexo da Papuda, em Brasília, e até uma sindicância foi aberta para investigar se o petista teria falado ao celular.

Sua intensa movimentação chamou a atenção do Ministério Público do Distrito Federal, que pediu rigor à Vara de Execuções Penais na apuração de supostas “regalias” a presos do mensalão.

Dirceu parece não se importar, faz parte da estratégia de exibição de poder. O mesmo já demonstrado junto à militância com a bem-sucedida “vaquinha” para quitar multa de R$ 970 mil estipulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Com o ânimo renovado após ser absolvido pelo crime de formação de quadrilha, o ex-ministro aposta que alcança o regime aberto ainda antes das eleições de outubro, mas o PT pretende deixá-lo apenas nos bastidores, longe dos palanques.

— Ele está tranquilo e tão forte que já faz planos para retomar suas atividades partidárias — garante o deputado federal Paulo Ferreira (PT-RS), um habitué da Papuda.

Ferreira não está sozinho. Dos 81 parlamentares petistas, 70 são fiéis ao ministro. Sua defesa no PT extrapola correntes. Um dos seus maiores aliados ocupa a vice-presidência da Câmara, André Vargas (PT-PR), que não se encabulou em quebrar o protocolo, em plenário, para constranger o ministro Joaquim Barbosa repetindo o gesto do punho erguido usado por Dirceu ao ser preso.

Dilma Rousseff bem que tentou esvaziar a influência do companheiro na Esplanada e em órgãos como a Petrobras. O ex-ministro, contudo, mantém apadrinhados em setores vitais como energia, transporte, fundos de pensão e, mais recentemente, na Empresa Brasileira de Comunicações (EBC), a agência de notícias que se transformou em um feudo de Dirceu. Calcula-se que o ex-ministro ainda controle cerca de mil cargos na máquina do governo, do primeiro ao terceiro escalão.

Nos últimos tempos, Dirceu vem regionalizando e ampliando sua influência. Emplacou nomes nos governos petistas da Bahia e do Distrito Federal. A amizade com o governador do DF, Agnelo Queiroz (PT), pesou inclusive na escolha da Papuda para cumprir a pena — dois diretores já caíram, contrariados com as regalias. Uma prova de que Dirceu não perdeu a pose em Brasília foi a nomeação, em 2013, de sua namorada, Simone Patrícia Tristão Pereira, para uma assessoria no Congresso, com salário de R$ 12, 8 mil.

O segredo que assegura lealdades
Do exílio no sítio em Levy Gasparian (RJ) à prisão em Niterói (RJ), Roberto Jefferson mantém o PTB nas rédeas graças a um segredo jamais revelado: para quem foram entregues os R$ 4 milhões recebidos do PT para apoiar o governo Lula após as eleições de 2002? Jefferson oferece lealdade dos seus pares e exige reciprocidade.

Ele comandou o partido por quase uma década e saiu de cena em 2013, deixando o vice Benito Gama (BA) no comando para não atrapalhar os planos do PTB no governo Dilma – ou seja, para não perder cargos. O primeiro a ser nomeado com a manobra foi o próprio Benito, que ganhou uma vaga no Banco do Brasil e pode ser nomeado ministro na reforma que está em curso. De quebra, a legenda fechou apoio à reeleição de Dilma e ao PT na Bahia.

Assim como Dirceu, Jefferson também buscou alternativas regionais para ampliar seu poder. Conta com aliados no governo de Geraldo Alckmin (PSDB), em São Paulo, e na prefeitura do PMDB do Rio, onde a filha Cristiane Brasil, vereadora eleita, ganhou uma secretaria. A filha de Jefferson também controla o PTB Mulher e as verbas de marketing da legenda. Sua campanha em 2010 foi uma das mais caras do Rio (receita de R$ 863 mil), grande parte (R$ 850 mil) custeada pelo partido.

A interlocução hoje da legenda com o Planalto ocorre por meio de Benito Gama e do líder na Câmara, Jovair Arantes (GO). Jefferson continua agindo nas sombras com pragmatismo, tendo à frente uma bancada pequena, mas influente no Senado. Não à toa, em meio à aproximação do PTB com o governo Dilma, Jefferson baixou a bola durante o julgamento, entrando em divergência com a linha de defesa do advogado Luiz Francisco Corrêa Barbosa, o Barbosinha, que acusava Lula de ser o chefão do mensalão. O advogado renunciou, mas não atribui a mudança de postura de Jefferson ao namoro com o governo. Fato é que, um mês depois, Benito foi nomeado no BB.

— De lá para cá, nos vimos duas vezes, continuamos amigos. Agora, uma coisa é certa: não tenho dúvida de que ele ainda detém a influência no PTB. É o presidente, só está licenciado — diz Barbosinha.

Apesar de a vida ter lhes pregado lições, Jefferson e seu adversário, Dirceu, continuam vivendo a profecia do próprio petebista ao citar a obra medieval Carmina Burana em um dos depoimentos à época:

— O curioso é como as peças e os atores se modificam. Ora nós estamos em cima, com a fortuna; ora, embaixo, com ‘desinfortúnio’ (sic).

Jefferson e Dirceu, contudo, jamais deixaram de ter poder, até mesmo quando desempenharam o papel de bufão da ópera.

Fonte: Zero Hora (RS)

Na Sapucaí, Aécio Neves critica infraestrutura para Copa

Fábio Grellet

O pré-candidato do PSDB à presidência da República, Aécio Neves, foi à Sapucaí na primeira noite de desfiles para aplaudir o empresário José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, homenageado pela Beija-Flor, e aproveitou para criticar o governo federal ao falar sobre as obras de infraestrutura para a Copa do Mundo e as verbas para a segurança pública."De tudo o que foi prometido em termos de infraestrutura para a Copa, 23% de obras ficaram no meio do caminho, por incompetência do governo federal. Espero que pelo menos dentro do campo o Brasil arrebente", afirmou.

"Não sou porta-voz da oposição, mas torço para o Brasil ganhar. O que lamento é que tudo o que foi prometido em termos de legado ficou pelo caminho. O governo considerava quase como um crime a parceria com o setor privado, e só agora mudou de ideia. Só que já é tarde".

Ele defendeu os protestos de rua, mas afirmou que é preciso aprimorar o policiamento, e culpou o governo federal pela falta de verbas para o setor. "Acho que as manifestações têm que ser permitidas e a violência, coibida. A polícia tem que ser mais bem preparada. O governo federal tem que ter Força Nacional de Segurança, o governo federal tem que dizer `eu participo com x'', mas isso até hoje não existe. Os recursos federais de segurança pública são contingenciados, e no fim do ano alguns amigos do rei e da rainha vão lá e liberam alguma coisa. A responsabilidade fica com os Estados, que são os que menos têm".

Sobre o desfile, Aécio afirmou que acompanha as escolas de samba desde os 8 anos e vai continuar indo à Sapucaí mesmo se for eleito presidente.

Fonte: O Estado de S. Paulo

PSDB montará palanques com azarões

Políticos sem grande rodagem nas urnas podem ser alçados para garantir apoio regional ao senador Aécio Neves

Secretário-geral dos tucanos diz que nenhum partido se firma sem lançar candidatos próprios

Felipe Bächtold

PORTO ALEGRE - A concorrência com o PSB de Eduardo Campos e a simples falta de opções levaram o PSDB a articular o lançamento de uma série de candidatos coadjuvantes a governos estaduais nestas eleições.

Ex-prefeitos, deputados e ex-secretários, todos eles sem grande rodagem nas urnas e considerados azarões, podem ser alçados para garantir palanques regionais ao senador Aécio Neves (MG) na campanha para presidente.

Na eleição de 2010, a polarização entre petistas e tucanos em diversos Estados facilitava a formação das chapas.

Naquela época, a terceira força da sucessão presidencial era o PV de Marina Silva, que não teve peso para lançar candidatos competitivos em quase todos os Estados.

Neste ano, a articulação regional está mais complexa.

Um exemplo é o Rio Grande do Sul. O PSB local largou na frente na disputa por uma aliança com a principal opositora ao PT, a senadora Ana Amélia Lemos (PP), que será candidata a governadora.

Sem ela, uma alternativa dos tucanos seria apoiar o PMDB para garantir um palanque gaúcho a Aécio.

Os peemedebistas locais, no entanto, ainda podem optar por um nome ligado ao vice-presidente Michel Temer, o que inviabilizaria uma união da sigla pró-Aécio.

Isolado, ao PSDB restaria recrutar um nome interno --a direção gaúcha fala em "grande chance" de ocorrer.

Situação parecida acontece no Distrito Federal. Campos e a presidente Dilma devem ter o apoio de concorrentes conhecidos --o senador Rodrigo Rollemberg e o atual governador Agnelo Queiroz.

Três pré-candidatos de menor expressão são as atuais opções dos tucanos do DF.

O secretário-geral do PSDB, Antônio Carlos Mendes Thame, diz que "não há partido que se firme" sem lançar candidatos próprios.

Para o dirigente, a exposição também ajuda a elevar os votos para a Câmara dos Deputados, que é referência na distribuição de tempo de televisão e do fundo partidário.

"Não é só um palanque na eleição para presidente, mas também um elemento forte para a formação de uma bancada. Ter um candidato a governador ajuda a ter um voto no PSDB de ponta a ponta."

Em Alagoas, ainda não há definição sobre candidatura própria. Uma possibilidade é um secretário do atual governador, o tucano Teotônio Vilela. No Espírito Santo, o pré-candidato tucano é um ex-prefeito do interior.

"Time que não joga não cria torcida. Vamos marcar posição, participar dos embates, mostrar o contraditório", diz o presidente da sigla no Estado, César Colnago.

O tempo de TV do partido --o terceiro maior-- é visto como trunfo para alavancar candidaturas regionais.

Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Acre também podem ter candidatos tucanos correndo por fora na disputa.

No Rio, o partido filiou no ano passado o treinador de vôlei Bernardinho pensando em lançá-lo ao governo, estratégia que não vingou.

Em Santa Catarina, o PSDB terá candidato pela primeira vez desde 1990. Ex-aliado, o governador Raimundo Colombo trocou o DEM pelo PSD e se aproximou de Dilma.

No Nordeste, onde o partido sempre teve dificuldades nas últimas campanhas para presidente, uma solução foi reciclar nomes veteranos.

O senador paraibano Cássio Cunha Lima é pressionado pela direção nacional a novamente concorrer ao governo. O congressista governou o Estado de 2003 a 2009.

No Ceará, o antigo líder nacional tucano Tasso Jereissati foi convencido a retomar a vida pública e deve disputar o Senado. Lá, as alianças ainda estão indefinidas.

Fonte: Folha de S. Paulo

Para fugir de caciques, saída é formar siglas

Caue Fonseca

BRASÍLIA- Das principais casas legislativas à mais insignificante das legendas, passando agora até pelas penitenciárias, o sistema político brasileiro padece com o excesso de poder dos caciques partidários, como Roberto Jefferson e José Dirceu. Pois se é assim, proliferem-se as tribos.

Criar um partido novo tem sido a saída buscada por líderes com dificuldade de ascensão em legendas já estabelecidas. O curioso é que, formada a sigla, novamente o dono do cocar é mais importante do que as diretrizes partidárias. Em um sistema assim, as agremiações acabam sufocadas por seus donos e não desenvolvem democracia interna, que poderia torná-las mais vivas e próximas da socidade.

— Veja a Marina Silva (PSB). Mesmo com 20 milhões de votos, ela bateu de frente com um cacique, o tal (deputado federal) José Luiz Penna. Descobriu que o PV não é partido e nem é verde — exemplifica o cientista político da UNB, David Fleischer.

Brigada com o PV, Marina tentou voo solo, mas fracassou na montagem da Rede. Diferentemente dos recém criados PROS e Solidariedade. Mais uma vez pouco importa o que os novos partidos defendem, mas sim “pertencerem” respectivamente, aos irmãos Cid e Ciro Gomes, rompidos com o PSB, e Paulinho da Força, que deixou o PDT para criar uma sigla ligada à Força Sindical.

— As últimas decisões da Justiça colaboraram para isso: os partidos são donos dos mandatos, mas os parlamentares podem migrar para uma sigla recém criada. Com isso, as legendas se proliferaram – avalia o professor de Ciência Política da USP, Bruno Wilhelm Speck.

Speck cita ainda a influência do fundo partidário. A bolada anual de R$ 294,1 milhões (valor de 2013) repartida pelas 33 legendas vai diretamente para os diretórios nacionais, o que dificulta o surgimento de lideranças independentes das cúpulas. Fundar um partido próprio também é o caminho mais rápido para receber financiamento.

O acesso ao fundo vem sendo questionado pelas legendas antigas. Um dos caciques mais longevos do país, o deputado federal Roberto Freire (PPS-SP) trabalha em um projeto que permitiria o acesso das novas siglas à verba somente após a primeira eleição, conforme o desempenho nas urnas.

— Novos partidos são da democracia, mas é preciso que eles demonstrem representar anseios da sociedade — avalia Freire.

Nem nas menores siglas trata-se de um valor desprezível. Levy Fidelix, o candidato do aerotrem, recebeu R$ 1,36 milhão em nome do PRTB em 2013. José Maria Eymael, o democrata cristão, R$ 1,02 milhão à frente do PSDC. O que mostra que, no Brasil, para ser cacique, liderar índios é o menos importante.

Fonte: Zero Hora (RS)

Aécio Neves: Plano Real, 20

O país está em festa. Milhares de brasileiros estão nas ruas e passarelas do samba, protagonizando uma das maiores e mais bonitas celebrações populares do mundo e a nossa excepcional diversidade cultural.

Neste momento, suspendemos as tensões e eventuais diferenças e idiossincrasias para ocupar as avenidas, sob o signo da alegria. Poucos fenômenos são capazes de construir uma convergência assim, tão ampla e verdadeira.

Pensando nela, lembrei-me de um outro momento da vida nacional que uniu os brasileiros, em um fevereiro como este, 20 anos atrás: depois de vários planos econômicos fracassados, o Plano Real acabou com a hiperinflação.

As novas gerações nem sequer podem imaginar o que significou uma era de descontrole inflacionário que dizimava a renda das famílias, aumentava a desigualdade social e impedia o país de crescer.

Sem pirotecnia, demagogia e quebra do ordenamento jurídico, instaurou-se uma agenda que contemplava os fundamentos da estabilização e do desenvolvimento, na mais importante reforma econômica do Brasil contemporâneo.

Outros avanços estruturais moldaram o país moderno e respeitado que somos hoje.

Mas a data de 27 de fevereiro é emblemática como ponto de ruptura com o passado de equívocos e o advento de uma nova ordem. Foi, acima de tudo, uma construção política, nascida na democracia e em diálogo aberto com a sociedade. Um exemplo de como a coragem e a responsabilidade podem ser instrumentos transformadores da nossa realidade.

Mas nem o unânime reconhecimento que o Plano Real conquistou nesses anos foi suficiente para uma autocrítica daqueles que, apesar de terem se beneficiado dele, o combateram com ferocidade, pautados, como sempre, pelos seus interesses eleitorais.

Todos sabemos que nenhum dos avanços obtidos nos últimos 20 anos teria sido possível se a inflação não tivesse sido derrotada. Esta é a verdadeira herança deixada pelo PSDB para os brasileiros, já incorporada ao patrimônio do país.

Não podemos permitir que essa conquista se perca.

O país vive um momento delicado, de baixo crescimento, inflação rediviva e credibilidade em risco. A infraestrutura compromete nossa competitividade; a educação demanda uma gestão inovadora para cumprir o seu papel transformador; as instituições públicas, reféns de grave aparelhamento e pactos de conveniência, precisam ser resgatadas e devolvidas ao interesse público.

Crises graves, como a desassistência à saúde pública e a violência endêmica, merecem uma nova mobilização de todos os brasileiros, para fazer o país avançar mais.

Convergência. Coragem. Responsabilidade. No país que é também do Carnaval, todo dia é dia de construir o Brasil que podemos ser.

Aécio Neves, senador e presidente nacional do PSDB

Fonte: Portal PSDB & Folha de S. Paulo

José Roberto de Toledo: Tempo gira e oposição roda

Todas as pesquisas de todos os institutos confirmam que dois de três eleitores querem mudanças no governo. Mas as pesquisas mostram que esses mesmos eleitores não sabem a quem recorrer para mudar. É como se olhassem à volta, só vissem Kombis 76 sem capota traseira e se perguntassem: "E se chover?" De repente, viver com a tia Dilma mais uma temporada não parece tão ruim.

Daí a aparente contradição de a presidente seguir na liderança da corrida eleitoral, com mais intenções de voto do que a soma dos seus adversários, apesar de esta ser uma eleição mudancista. Como é possível que um terço daqueles que clamam por mudança declarem voto em Dilma Rousseff? O eleitor é um idiota que não sabe o que quer da vida nem do governo? Não e não.

A decisão do voto é sempre pragmática. O cálculo eleitoral começa pelo que o eleitor pode ganhar votando em um candidato específico. Se ele não reconhece nenhuma vantagem pessoal na eleição de qualquer dos candidatos, o raciocínio muda e passa a ser o que ele tem a perder com a vitória de cada um deles. Nesse caso, quem oferece menor risco tende a ser o vencedor.

Dilma é, hoje, a aposta menos arriscada para mais de 40% do eleitorado. Pelo menos metade desse contingente não está terrivelmente excitado com a perspectiva de ver a presidente dando as ordens por mais quatro anos no Palácio do Planalto. Só cita seu nome depois de compará-lo aos dos demais candidatos ao cargo. Chega a Dilma por eliminação da concorrência.

Isso aparece na comparação dos resultados dos vários cenários eleitorais pesquisados pelo Datafolha. A intenção de voto estimulada em Dilma varia de 40% a 47%, dependendo de quem são os adversários. Sua maior vantagem é quando enfrenta só Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). E a menor é com Marina Silva (PSB) e Joaquim Barbosa (STF) no páreo, além do tucano.

No cenário que inclui os nanicos, Dilma perde 3 pontos (cai de 47% para 44%), mas Aécio e Campos também perdem: 1 ponto e 3 pontos, respectivamente - porque eleitores evangélicos e verdes tendem a preferir candidatos com seu perfil ideológico.

Isso mostra duas coisas: 1) Aécio e Campos não estão conseguindo catalisar o desejo de mudança tão bem quanto Marina e Joaquim; 2) mesmo quando aumenta o número de adversários, Dilma sustenta um eleitorado que a levaria pelo menos ao segundo turno.

Antes de entrar pelos problemas da oposição, convém entender por que Dilma mantém tantos eleitores potenciais. A resposta óbvia é porque metade dos brasileiros aptos a votar dá pelo menos nota 7 ao governo da petista, segundo o Datafolha. E, nessa metade, 77% declaram intenção de votar em Dilma.

A chance de alguém votar na candidata incumbente é proporcional à sua satisfação com o governo. Dilma tem 60% dos votos de quem lhe dá nota 7, 80% de quem lhe dá 8, e 90% dos 9 e 10. Abaixo de 7, porém, sua penetração no eleitorado é mínima: 14%.

Afora torcer para a presidente não sustentar seus 19% de notas 9 e 10, 18% de 8 e 15% de 7, Aécio e Campos têm que calibrar o discurso eleitoral para maximizar suas chances. Quanto mais radicalmente contra o governo ele for, mais apelo aos mudancistas ele terá, mas será também maior o risco de ambos alienarem a metade do eleitorado que têm simpatia por Dilma.

Além de saber o que dizer, os dois nomes da oposição precisam cavar oportunidades para fazer seu discurso chegar aos eleitores - principalmente na pré-campanha. Isso porque, quando o palanque eletrônico começar no rádio e na TV, eles terão contra si uma desvantagem maior do que Geraldo Alckmin e José Serra tiveram em 2006 e em 2010: têm, juntos, menos da metade do tempo de Dilma.

Tudo isso torna imprescindível aos candidatos, a todos eles, entender o que o eleitor quer mudar e como. Sem descobrir isso, vão rodar em falso enquanto o relógio gira rumo a outubro.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Miriam Leitão: Tardes tristes

Todas as tardes foram tristes. Horas e horas vendo o dissecar de um crime pelo qual conspiraram publicitários, banqueiros e, principalmente, poderosos de um partido político que fez da “ética na política” seu lema inaugural. Não era com alegria que o país via os longos votos nos quais, através da linguagem árida do mundo jurídico, a verdade desenhava um quadro desalentador.

Se alegria houve foi constatar a inédita mudança. Nunca antes na história deste país, poderosos de um partido, ainda no governo, foram condenados por ministros do Supremo indicados por aquele mesmo grupo político. Era o sonho, enfim, da quebra da cadeia da impunidade e de uma Justiça igualitária e impessoal. Era o aperfeiçoamento da democracia que pressupõe independência dos poderes.

Não foi prazeroso acompanhar as explicações da engenharia financeira tortuosa do crime instalado no coração da República, em que bancos concederam empréstimos forjados, um publicitário exibiu conexões impróprias, entidades públicas tomaram partido, o marqueteiro do presidente confessou que foi pago de forma nebulosa, o tesoureiro admitiu caixa dois e muito dinheiro foi distribuído a políticos da base governista, perto de votações. Nas minúcias, detalhes, contradições, e, principalmente, no concurso de muitos coautores, o país viu expostas operações de uma rede na qual o grande perdedor era o interesse público.

Foram tardes tristes, estafantes, mas não perdidas. O Brasil avançou, os acusados passaram a réus, de réus a condenados, de condenados a presos. O difícil está sendo entender a última das tardes. Haverá outras, mas essa foi definidora. Novos ministros, escolhidos majoritariamente no fim do processo, reformaram sentença já dada e tornaram toda a peça um conjunto desconjuntado.

Os autores do crime estavam juntos, juntos buscaram o mesmo objetivo, escolheram métodos ilegais, usaram o Estado como sesmaria, atuaram de forma coerente. Mas não formaram uma quadrilha. O que seriam eles? Um conjunto de rock? Uma facção? Uma falange? Um avião?

E quem foi o super-homem? O capo? Quem tinha maior poder que os outros de ferir os interesses coletivos? Quem estava com o primeiro ministério nas mãos ou quem mantinha com ele uma relação próxima? Na última das tardes, entendemos que mais forte é um publicitário que um chefe da Casa Civil. Os operadores cumprirão penas muito maiores do que os políticos. Com a ajuda da estranha matemática do processo penal no Brasil — em que um sexto é sempre igual ao todo — em breve tudo estará encerrado para os autores políticos. Os operadores permanecerão cumprindo a pena.

Os argumentos usados pelos integrantes da ala nova do Supremo não convenceram porque ferem a lógica dos eventos, a alma da sentença. E ao reformarem o que já estava estabelecido tiraram uma parte do fundamento do edifício. Ele balança sobre um vazio.

Há erros cometidos em outros partidos. Há um novo processo chegando ao Supremo, e espera-se que o plenário o julgue, para que não haja dois pesos e duas medidas para diferentes agremiações. E tudo o que a Nação espera é rigor no julgamento que aguarda na fila, até por ser um esquema parecido, exceto pela falta de distribuição de dinheiro para a base partidária.

Contudo, o Brasil avançou naquelas tardes. Não poderá dizer, o político-réu do novo processo, que foi apenas caixa dois e só para cobrir gastos de campanha ao governo. Os advogados que nos poupem de repisar as mesmas surradas desculpas de crimes aceitáveis. Isso permanece intacto: caixa dois é corrupção.

Ficarão votos fortes, jurisprudência, textos que serão usados em outros momentos em que a pátria for de novo acossada por — não quadrilhas, elas são abstrações — mas pelo concurso de delinquentes.

Duas rachaduras na parede do edifício poderão virar brechas pelas quais escapem os futuros membros de concursos. Primeiro, o temor de que governantes só escolham ministros com a promessa prévia de condescendência com os erros dos seus. Isso faria um STF com bancadas partidárias. Segundo, a confirmação da distopia de George Orwell na “Revolução dos Bichos”. Alguns são mais iguais que os outros.

O momento é de revisitar as enfadonhas tardes desse julgamento em que o Supremo fez história para lembrar, reforçar e confirmar cada etapa do avanço institucional dolorosamente conquistado.

Fonte: O Globo, 2/3/2014

Valdo Cruz: Reflexões no Carnaval

Estressada e cansada pelo ritmo eleitoral de suas viagens e pela troca de farpas com seus aliados no Congresso, a presidente Dilma deveria aproveitar o Carnaval para dar uma desconectada geral.

Diria que seria produtivo também refletir um pouco sobre os rumos de seu governo. Afinal, o ano vai ser cansativo. Economizar energias, evitando guerras e batalhas desnecessárias, será fundamental.

Entre amigos e interlocutores de Lula, por exemplo, há uma avaliação, correta, já transmitida inclusive à presidente Dilma, de que ela lançou excelentes ideias e programas, mas errou na sua execução.

Alguns casos. O programa de redução do elevado custo da energia elétrica no Brasil. Diagnóstico correto, medida necessária, entrave ao crescimento que ela enfrentou.

Só que adotou um caminho intervencionista, derrubou a capacidade de investir das estatais do setor elétrico e fez disparar o preço da energia elétrica no mercado livre.

Outro. A redução da elevada taxa de juros. Ela comprou uma briga com o mercado financeiro, algo que seu antecessor não teve coragem de fazer. Só que errou ao não ancorar sua acertada decisão. Com descontrole nos gastos públicos, a inflação subiu e, com ela, os juros também.

Mais. Decidiu mudar o Código de Mineração, alterando regras cartoriais no setor. Só que sua postura de não arredar pé de suas convicções impediu a aprovação do projeto. Resultado: a área está travada.

Resolveu endurecer com seus aliados no Legislativo, buscando conter o apetite fisiológico dos governistas. Corretíssimo. Mas não sabe, em troca, fazer um afago, um carinho. No fim, é obrigada a conceder boa parte do que não queria.

Fortaleceu a Petrobras, transformou-a na rainha do pré-sal, mas segurou o preço da gasolina. Resultado: derrubou seu valor nas Bolsas.

Enfim, são as virtudes presidenciais sendo neutralizadas por seus defeitos. Algo digno de reflexão.

Fonte: Folha de S. Paulo

Ricardo Noblat: Entre o Poder e a Vida

"É um estranho desejo buscar o poder e perder a liberdade" (Francis Bacon, filósofo inglês)

Esta é a história de um político que trocou o Poder pelo Galo da Madrugada - e não se arrependeu. Gustavo Krause Gonçalves Sobrinho é o nome dele. Natural de Vitória de Santo Antão, Zona da Mata de Pernambuco, nasceu no dia 19 de junho de 1946. Quando foi anunciado como ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, a revista VEJA perguntou: “Gustavo o quê?” Era um desconhecido até então. Mas não só.

A pergunta feita por VEJA em reportagem de capa teve menos a ver com o Gustavo desconhecido e mais com o Gustavo nordestino. Desconhecido ele não era. Advogado, especializado em Direito Tributário, havia sido prefeito do Recife, vice-governador de Pernambuco, governador, vereador e deputado federal – nessa ordem. Nordestino era de sobra. Orgulha-se de ser.

Entre ficar em Brasília fazendo política ou no Recife especulando sobre o próximo desfile do Galo da Madrugada, o maior bloco carnavalesco do planeta, Gustavo preferia ficar no Recife, ocupado também em conseguir reforços para seu time, o Náutico. Isso não quer dizer que fosse um provinciano. Não é. Conhece bem o mundo. Só que seu mundo começa no Recife, assim como o meu. Assim como começava o mundo do pintor Cícero Dias.

Gustavo se elegeu deputado federal pelo PFL em 1990. Um ano antes, Itamar fora eleito vice-presidente da República na chapa encabeçada pelo aventureiro Fernando Collor. O Congresso derrubou Collor no final de 1992 sob a acusação de que era corrupto. Ao escolher os que governariam com ele, Itamar fixou-se no nome de Gustavo para o ministério mais diretamente ligado aos interesses do Nordeste, o do Interior.

No dia 1º de outubro daquele ano, Gustavo foi ao encontro de Itamar esperando ser convidado para o Ministério do Interior. Saiu de lá como ministro da Fazenda, o todo poderoso chefão da economia. Itamar era assim, surpreendente. Gustavo argumentou que o ministério da Fazenda sempre coubera a um porta-voz dos interesses do Sudeste e do Sul, onde se concentra a maior riqueza do país. Sem sucesso.

O mundo então desabou sobre as cabeças de Itamar e de Gustavo. Acostumados a mandar na economia, os paulistas, principalmente eles, pularam da cadeira diante da perspectiva de lidar com o desconhecido. A VEJA pulou junto. Gustavo era a esfinge. O não aliado automático. O que provocava calafrios e ranger de dentes. Por Deus, como derrotá-lo?

Afinal, descobriram um modo: pau nele. Pau em Itamar. Coitado dos dois!

Itamar receava passar à História como “Itamar, O Breve”. Certa vez ouvira de um amigo: “Você não vai durar 48 horas”. Gustavo receava passar à História como “Gustavo, O Breve”. O receio dos dois não se confirmou. Itamar passou como o presidente que deu certo. Gustavo, pelo conjunto de sua obra. Itamar já morreu. Gustavo está vivo, vivíssimo.

Gustavo resistiu à pancadaria da imprensa exatos 75 dias. No que seria seu último dia no coração do Poder, disse aos seus botões: “Chega! Optei pelo Galo”. Não foi isso. Disse algo parecido com “optei pela vida”. Galo e vida são a mesma coisa. Gustavo cumpriu o resto de mandato de deputado. Depois foi ministro do governo Fernando Henrique. E nunca mais voltou à Brasília como servidor público.

Este ano, só faltou ao desfile do Galo por causa de um tratamento dentário. Quanto ao Náutico... Vai mal. Em tempo: o que quis dizer ao contar essa história? Sinceramente, nada. Só quis aproveitar o carnaval para contar uma história. Gosto de contar histórias.

Fonte: O Globo

Marcus Pestana: Em defesa de um homem de bem

Este é um pequeno resumo do meu pronunciamento na Câmara dos Deputados, no dia 19 de fevereiro:

“Não estou aqui para defender o futuro de Eduardo Azeredo, mas sim para defender o presente, o passado, a história e a honra de uma pessoa de bem.

Todos nós, em Minas, aprendemos a respeitar o cidadão generoso, o pai de família dedicado, o prefeito de Belo Horizonte, governador de Estado, senador da República e deputado federal Eduardo Azeredo.

Canalhas, corruptos, bandidos não se abalam ao verem sua honra e seu passado jogados na lama. É com cinismo e hipocrisia que reagem.

Mas não é assim com um homem de bem como Eduardo Azeredo, que preza sua história pessoal e pública.

Não esperem de um mineiro sereno como Eduardo Azeredo atitudes agressivas, punhos cerrados ao ar, cenas de confrontação com as instituições democráticas, particularmente com o Poder Judiciário.

Isto nos diferencia. O PSDB tem uma cultura democrática. Repudiamos o golpismo, o viés chavista, os ataques irresponsáveis de alguns à Corte Suprema de nosso país.

A Ação Penal 536 se encontra na órbita de ação do STF. Está em boas mãos. Eduardo apresentará sua defesa. Os ministros do Supremo julgarão e nós respeitaremos a decisão.

Mas a serenidade típica de um mineiro de bem não representa uma renúncia à luta pela verdade e pela justiça.

Não houve mensalão em Minas, não houve compra de apoio parlamentar. Os questionamentos levantados no processo dizem respeito ao financiamento da campanha de 1998.

Eduardo Azeredo era governador, em plena atividade, tarefa complexa que concorria com as atividades de uma disputa eleitoral não menos exigente. Eduardo Azeredo não tinha tempo nem era seu papel cuidar das finanças e da contabilidade da campanha, tarefas que foram delegadas.

A peça apresentada pela PGR não levou em consideração as provas e depoimentos constantes no processo que atestam a inocência de Eduardo Azeredo. Ao contrário, ressuscitou documentos falsos, já desqualificados por perícias policiais e pelo MPMG, produzidas por um conhecido estelionatário, que inclusive se encontra preso. Avançou, inclusive, de forma sem precedentes, em pesada dosimetria, antes mesmo da apresentação da defesa e do julgamento pelo Supremo.

Se desvios ocorreram, que sejam punidos os verdadeiros culpados. Mas que Eduardo seja julgado pelas provas e depoimentos constantes no processo, e não por ilações descabidas ou por pressões políticas indevidas.

Eduardo Azeredo, em decisão solitária, consultando apenas seus familiares e seu advogado, resolveu renunciar. Nisso se diferencia. Mostra que não quis fazer do mandato um escudo para se defender e afrontar o Poder Judiciário, como outros fizeram. Foi para a planície e como cidadão defenderá sua honra.

Eduardo, saiba que, independentemente do que o destino lhe reservar, nada irá manchar ou abalar sua trajetória limpa e honrada, de tantos e tantos serviços prestados a Minas e ao Brasil”.

Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB de Minas Gerais

Fonte: O Tempo (MG)

Antonio Imbassahy: Três anos de descrédito

O que resta, hoje, é o retrato da Dilma real: uma presidente sem liderança, sempre em busca e à mercê de seu patrono, o ex-presidente Lula

A fechar o terceiro ano deste governo petista, restaram apenas marcas de uma gastança sem limites com seus 39 ministérios e 13 empresas criadas para acomodar companheiros, de um relaxamento com a corrupção presente ao redor da “comandante”, do afrouxamento no controle da inflação, da queda de competitividade do Brasil perante o mercado mundial.

O Brasil pós-Dilma paga o preço do descrédito geral nas promessas e acordos feitos, da deseducação, que nos coloca entre os países mais atrasados do mundo, da falta de infraestrutura, da ausência de uma política nacional de segurança pública, dos serviços públicos precários e ineficientes, apesar de os brasileiros estarem pagando impostos como nunca.

Esses três anos de administração caótica foram suficientes para que caísse por terra, definitivamente, a imagem marqueteira que nos foi vendida na eleição passada, da gestora competente, a mãe do PAC, rigorosa no combate aos corruptos, capacitada para solucionar os mais complexos problemas do país. Era tudo um engodo. Um personagem de ficção.

O que resta, hoje, é o retrato da Dilma real: uma presidente sem liderança, sempre em busca e à mercê de seu patrono, o ex-presidente Lula, e a balbuciar diante das câmaras os textos do seu guru-marqueteiro. Tão intolerante a ponto de praticamente agredir os que a cobram pelas promessas não cumpridas ou que têm opiniões diferentes das delas. Dia desses, chamou a oposição de cara de pau.

Falta-lhe equilíbrio.

Uma presidente que posou de faxineira, mas que terminou por guardar o próprio lixo sob os tapetes do Planalto, por conveniências e ambições de poder. Uma presidente incapaz de fazer com que a sua mastodôntica máquina administrativa, montada a conluios, mexa-se e faça acontecer. O exemplo maior são as obras do tal PAC, que empacou, transformando o país num cemitério de obras.

Por fim, ela se mostra uma pessoa de penoso diálogo com o Congresso Nacional, com o Judiciário e também com os empresários, parceiros nos caminhos históricos que levam ao desenvolvimento da nação.

Hoje, sabemos bem, temos uma presidente-candidata, sem projetos para o país, mas com a ideia fixa na reeleição, olhos e pés no palanque. “Podemos fazer o diabo na hora da eleição”, confessou a presidente.

É bom lembrar: Dilma é uma criatura forjada à semelhança de seu criador, o sempre presente Lula.

Ao lançá-la candidata, Lula sabia exatamente que Dilma era incapaz de liderar as transformações que o país necessita. Mesmo assim, se aproveitou da confiança dos brasileiros.

Não, Dilma não é a líder que o Brasil precisa para entrar de verdade num novo tempo. Perdeu a credibilidade, mostrou que não possui estatura para gerir a construção de um país moderno. Há uma certeza: o país quer mudar. E isso já foi detectado até pelas pesquisas — segundo o Datafolha, 66% das pessoas querem mudança. E terão mudanças. Não vai adiantar mais a velha estratégia de oferecer ao país uma personagem de ficção, construída pela propaganda.

Antonio Imbassahy é líder do PSDB na Câmara dos Deputados

Fonte: O Globo

Paulo Brossard*: Financiamento secreto

Faz alguns dias, depois de breve passagem por Davos, na Suíça, de dois dias em Lisboa em razão de suposta “parada técnica” a ensejar excelente experiência gastronômica, hospedagem no Ritz e jantar no Eleven, acompanhada de numerosa comitiva, a senhora presidente voou até Cuba, onde recebeu as homenagens do ditador Raúl Castro; lá fez declarações um tanto estranhas para serem ditas por uma chefe de Estado.

Como é sabido, em meados de 2012, por intermédio do BNDES, o governo celebrou contratos de financiamento com Angola e Cuba, chumbados com a nota de secretos até 2027. Esta circunstância chamou a atenção, uma vez que nenhum dos restantes contratos com Estados estrangeiros foi carimbado com o selo de secrecidade. Por que secretos os pactos com Angola e Cuba e só eles?

Concluída a metade das obras portuárias de Mariel, para as quais o Brasil entrou com a soma de US$ 802 milhões por intermédio do BNDES, a senhora presidente ao comparecer à inauguração desta etapa do porto, anunciou e prometeu a concessão de mais US$ 290 milhões, para a conclusão da mencionada obra; é de notar-se que esta soma adicional a ser concedida está na dependência do respectivo contrato.

A revelação de mera promessa na forma escolhida destoa dos estilos protocolares e dir-se-ia uma temeridade diplomática, que prefiro substituir dizendo que ela se deveria à pressa juvenil da senhora presidente, cuja precipitação recebida com aplausos cubanos teria arranhado as bicentenárias tradições da casa de Rio Branco, celeiro de precedentes em que a prudência, a medida, a oportunidade, o equilíbrio e o decoro do país eram cultivados religiosamente.

Na ilha do Caribe a ocorrência tem sido festejada como acontecimento histórico, mas são muitos os brasileiros incomodados com o ostensivo financiamento da construção de obras estrangeiras, quando os nossos portos, inclusive o maior deles, o de Santos, carece de complementos necessários e fundamentais.

Parece que a senhora presidente se esqueceu do que a Constituição, ao enunciar os Princípios Fundamentais da Nação, prescreve “a República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais: II. prevalência dos direitos humanos”. Ora, só por irrisão alguém poderia arrolar a ilha presídio, entre as nações fiéis aos valores universais, contidos na expressão prevalência dos direitos humanos. Daí porque, salvo erro, entendo que a maioria dos brasileiros sentir-se-ia melhor governado se visse os recursos de seus pesados tributos aplicados para o Brasil e os brasileiros, inclusive em seus portos carentes, lembrados antes de contempladas obras estrangeiras. Não se discute se estas têm importância, mas se trata de saber se os brasileiros têm ou não preferência sobre os recursos nacionais, recursos esses que representam 30% de tudo quanto o Brasil produz.

A cláusula constitucional invocada é novidade da Constituição de 88 e deve ser observada e construída com vistas à sua finalidade e dela não esquecer a ponto de chegar a ser esquecida.

A propósito, não seria o caso de indagar ao Ministério Público Federal, aquinhoado de tantos poderes, o ajuizamento de ação civil pública tendente a revelar à Nação os documentos que instruíram a marca de secretos, os negócios celebrados com Angola e Cuba?

* Jurista, ministro aposentado do STF

Fonte: Zero Hora (RS)

Diário do Poder – Cláudio Humberto

• Mesmo queimado, Kassab tentará ser governador
O ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab (PSD), que chegou a ser cassado, reintegrado e deixou o cargo com rejeição de quase 40%, avisou a presidenta Dilma que deixará o comando de seu partido para disputar o governo de São Paulo. Em reunião no Planalto esta semana, Kassab disse que passará o bastão do partido a Guilherme Campos, o deputado fiel escudeiro, e reforçou que apoiará a reeleição de Dilma.

• Ficha suja
Quando prefeito, Kassab foi acusado de improbidade administrativa, financiamento ilegal de campanha e irregularidades em contratações.

• Dois palanques
Gilberto Kassab acha ainda que Dilma terá os palanques paulistas dos candidatos do PT, Alexandre Padilha, e do PMDB, Paulo Skaf.

• Todos contra um
A candidatura de Kassab é vista com bons olhos pelo Planalto, na esperança de forçar 2º turno contra o tucano Geraldo Alckmin.

• Filho único
Apesar da guerra para levar as eleições ao segundo turno em São Paulo, ala do PT quer Dilma apenas no palanque de Alexandre Padilha.

• Comitê do PT cria pressão artificial pró-Maduro
Há um movimento nas redes sociais para que o governo brasileiro se posicione favoravelmente ao governo autoritário de Nicolás Maduro, na crise da Venezuela. A origem do “movimento” foi facilmente localizada. A figura que coordena ações da campanha de reeleição da presidenta Dilma nas redes sociais, é Franklin Martins, ex-ministro de Lula. O mesmo que atuou na campanha do lamentável venezuelano Maduro.

• Vale quanto pesa
No Planalto, assessores “dilmistas” ironizam o peso de Lula no governo chamando-o de “Rei Momo”. As “chaves da cidade” ele já tem…

• #Vaiprarua
A absolvição dos quadrilheiros poderá ser tiro no pé de Dilma, dando um mote aos protestos de rua contra a “justiça dos ricos”.

• Dúvida cruel
Gleisi Hoffmann (PT) quer Osmar Dias (PDT) como vice ao governo do Paraná ou disputando o Senado. Ele dará resposta até o fim do mês.

• Mais iguais
Ao contrário do que pensa o governo, o novo salário de US$1,2 mil não aplacará a insatisfação dos cubanos do “Mais Médicos”, que querem os R$10 mil que ganham colegas de outros países. Vão cobrar na Justiça.

• Por nossa conta
Um diretor da Infraero, Geraldo Neves, e o assessor, Flávio Rodrigues, farão 20 dias de “visita técnica” aos aeroportos de Johanesburgo, Paris, Madri, Zurique, Dublin, Frankfurt, Munique, Mumbai, Cingapura, Kuala Lumpur e Vancouver. Autêntica volta ao mundo por nossa conta.

• Peluso sem pijama
Aposentado desde agosto, o ministro Cezar Peluso, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, não vestiu o pijama: divide um escritório de advocacia com o constitucionalista Erick Wilson Pereira, em Brasília.

• Objetivo comum
O presidente do PPS, Roberto Freire, convocou reunião da executiva nacional para terça (11), em Brasília, para discutir alianças estaduais e participação na campanha de Eduardo Campos. O lema é derrotar PT.

• Caiu na Rede
Com um pé fincado na Rede da ex-senadora Marina Silva, o deputado Antônio Reguffe enfrenta resistência para disputar governo do DF. O dono do PDT, Carlos Lupi, quer apoiar reeleição Agnelo Queiroz (PT).

• Máquina pronta
A ameaça de ser enquadrado pela Lei da Ficha Limpa não intimidou o ex-governador José Roberto Arruda (PR), que articula a todo o vapor sua candidatura ao governo do DF com Liliane Roriz (PRTB) de vice.

• Manobra fracassada
Líder do PR, Bernardo Santana (MG) ignorou acordo com Anthony Garotinho e tentou emplacar Wellington Roberto (PB), em vez de Paulo Feijó (RJ), no comando da Comissão de Agricultura. Acabou derrotado.

• Deu bandeira
A recessão chegou às bandeiras importadas do Brasil à China: um fabricante reclamou à agência Reuters que vende menos que em 2010, e que Alemanha e Reino Unido concentram 80% dos pedidos.

• Pensando bem…
…errar é humano, derrubar um governo é ucraniano.

Fonte: Diário do Poder

O que pensa a mídia - editoriais de alguns jornais mais importantes

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

'12 anos de escravidão' se consagra no Oscar 2014

Filme é o primeiro longa dirigido por um negro premiado pela Academia na categoria principal

'Gravidade', de Alfonso Cuarón, foi o recordista de prêmios, incluindo o de melhor diretor

Apesar das dez indicações, 'Trapaça' não levou nenhuma estatueta

Carlos Helí de Almeida, Eduardo Rodrigues e Liv Brandão

RIO - Em uma cerimônia histórica, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood deu pela primeira vez o Oscar de melhor filme a um longa-metragem de um cineasta negro: o britânico Steve McQueen, diretor de “12 anos de escravidão”. O longa-metragem, adaptação das memórias de Solomon Northup, negro livre da Nova York de meados do século XIX, sequestrado e vendido como escravo para fazendeiros do Sul, ainda ganhou os prêmios de melhor roteiro adaptado e atriz coadjuvante, de um total de nove indicações.

— Quero dedicar a todos que merecem não só sobreviver, mas viver. Esse é o grande legado de Solomon (autor do livro que inspirou o livro). E a todos que sofreram com a escravidão e ainda sofrem hoje. — disse McQueen.

O filme derrotou os dois outros favoritos, “Gravidade”, do mexicano Alfonso Cuarón, e “Trapaça”, de David O. Russell, que concorriam em dez categorias. A ficção científica de Cuarón venceu sete estatuetas, incluindo a de direção, dada pela primeira vez a um latino-americano, e outros seis prêmios técnicos. Apesar do lobby que impulsionou a candidatura do filme de O. Russell, a equipe de “Trapaça” saiu de mãos abanando, e nem a queridinha Jennifer Lawrence, que novamente levou um tombo num Oscar (desta vez no tapete vermelho), foi suficiente.

A festa, realizada no Dolby Theatre, em Los Angeles, teve como apresentadora a comediante Ellen DeGeneres, que jogou muito para a plateia: serviu pizza aos convidados, tirou fotos com eles (uma delas, postada em seu Twitter, bateu o recorde de compartilhamentos na ferramenta) e vivia interagindo fora do palco. Nas piadas, porém, deixou a desejar. Mesmo assim, o tom da noite apontou para uma cerimônia bem família. Vários atores levaram as mães como acompanhantes, caso de Jared Leto, Michael Fassbender e Charlize Theron, enquanto muitos dos premiados, muitos mesmo, agradeceram aos progenitores (ou mesmo aos filhos).

Na categoria melhor ator e melhor atriz, nada de novidades: como era de se esperar, Matthew McConaughey levou a estatueta por "Clube de compras Dallas", enquanto Cate Blanchett se consagrou por "Blue Jasmine", de Woody Allen.

— Sentem-se, vocês estão todos muito velhos para ficar de pé — brincou a atriz ao subir ao palco, para depois agradecer o prêmio, afirmando que ele "significa muito num ano de performances tão extraordinárias". — Filmes com mulheres são filmes que o público quer assistir e que dão dinheiro — completou a atriz.

Entre as atuações coadjuvantes, Jared Leto foi premiado por seu desempenho como a travesti Rayon de “Clube de Compras Dallas”, de Jean-Marc Vallée, que totalizou três vitórias, incluindo a de maquiagem. O ator, que também é conhecido no mundo musical como vocalista da banda 30 Seconds to Mars, dedicou o troféu às vítimas da Aids, doença que dizimou a vida de milhares nos anos 1980, período em que se passa o filme. E também à sua mãe, é claro.

— Ela me ensinou a sonhar — explicou Leto, durante os agradecimentos, no discurso mais emocionante da noite, que ainda teve espaço para a política. — Para todos os sonhadores ao redor do mundo, assistindo a esta noite em lugares como a Ucrânia e Venezuela, nós estamos aqui e enquanto vocês lutam para que seus sonhos aconteçam, para vencer o impossível, nós estamos pensando em vocês esta noite.

Lupita dá show de elegância
Entre as performances femininas coadjuvantes, sagrou-se vitoriosa a mexicana (criada no Quênia) Lupita Nyong’o, de “12 anos de escravidão”. A jovem estrela, que completou 31 anos no último sábado, uma das mais elegantes da noite, agradeceu o prêmio ao diretor Steve McQueen.

— Você foi o meu esteio, o meu guia — disse Lupita, emocionada. — Quando eu olho para esse troféu dourado, espero que isso lembre a todas as crianças pequenas que, não importa de onde você seja, seus sonhos são válidos.

Lançado no Festival de Cannes do ano passado, “A grande beleza”, de Paolo Sorrentino, protagonizado por Toni Servillo, rendeu à Itália o Oscar de melhor filme estrangeiro. Elogiada crítica à decadência moral da sociedade italiana contemporânea, o filme de Sorrentino, que já havia ganhado o Globo de Ouro da categoria, confirmou o favoritismo. Em seu discurso, Sorrentino dedicou a vitória a Fellini, Scorsese e Diego Maradona. O último filme italiano a faturar o prêmio da Academia foi “A vida é bela” (1997), de Roberto Benigni.

Uma das surpresas da noite foi a vitória de “A um passo do estrelato”, sobre cantoras de apoio de grandes artistas, na categoria documentário em longa-metragem. O filme de Morgan Neville bateu favoritos, que tinham temas polêmicos, como “Ato de matar”, de Joshua Oppenheimer e Christine Cynn, sobre carrascos do governo da Indonésia que reencenam torturas e execuções para a câmera.
Dentro do segmento animação, a vitória de “Frozen — Uma aventura congelante”, dos estúdios Disney, o favorito da categoria de melhor longa, foi tranquila. O filme dirigido por Chris Buck e Jennifer Lee derrotou “Os Croods”, da Fox, “Meu malvado favorito 2”, da Universal, e o francês “Ernest e Célestine”, e o japonês “Vidas ao vento”, do mestre japonês Hayao Miyazaki, as duas últimas produções de prestígio, porém de público limitado nos Estados Unidos. Entre os curtas, venceu a produção francesa “Mr. Hublot”, de Laurent Witz e Alexandre Espigares.

Homenagem a Eduardo Coutinho
No tradicional clipe em homenagem aos mortos do mercado cinematográfico, o documentarista brasileiro Eduardo Coutinho, membro da Academia, foi justamente lembrado. O diretor francês Alain Resnais, morto no sábado, acabou não entrando na edição final do vídeo, que lembrou ainda de James Gandolfini, mais conhecido por "Família Soprano", Philip Seymour Hoffman e Shirley Temple, entre outros.

O prêmio de melhor figurino foi para a australiana Catherine Martin, autora do guarda-roupa do filme “O grande Gatsby”, drama de época ambientado nos anos 1920, e dirigido por Baz Luhrmann, seu marido. Catherine já havia ganhado o prêmio da Academia com o musical “Moulin Rouge” (2002), também de Luhrmann. O filme também levou o prêmio de direção de arte. O Oscar de maquiagem foi para a dupla Adruitha Lee e Robin Mathews, pelo drama “Clube de Compras Dallas”.

A categoria de curta-metragem de ficção foi vencida por “Helium”, de Anders Walter e Kim Magnusson. Entre os documentários em curta-metragem, o troféu foi parar nas mãos dos produtores de “The lady in number 6”, de Malcolm Clarke, sobre a pianista Alice Herz, de 109 anos, uma das mais antigas sobreviventes do Holocausto.

Veja a lista completa de vencedores
Melhor filme: "12 Anos de escravidão", de Steve McQueen
Melhor diretor: Alfonso Cuarón - "Gravidade"
Melhor atriz: Cate Blanchett - "Blue Jasmine"
Melhor ator: Matthew McConaughey - "Clube de Compras Dallas"
Melhor ator coajuvante: Jared Leto - "Clube de compras Dallas"
Melhor atriz coadjuvante: Lupita Nyong'o - "12 anos de escravidão"
Melhor roteiro original: Spike Jonze - "Ela"
Melhor roteiro adaptado: John Ridley - "12 anos de escravidão"
Melhor animação: "Frozen - Uma aventura congelante"
Melhor filme estrangeiro: "A grande beleza", de Paolo Sorrentino
Melhor documentário: "A um passo do estrelato", de Morgan Neville
Melhor documentário em curta metragem: "The lady in number 6", Malcolm Clarke
Melhor curta-metragem: "Helium", Anders Walter
Melhor curta de animação: "Mr. Hublot", Laurent Witz e Alexandre Espigares
Melhor trilha sonora: Steven Price - "Gravidade"
Melhor canção original: "Let it go", de Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez, por "Frozen - uma aventura congelante"
Melhor edição de som: Glenn Freemantle - "Gravidade"
Melhor mixagem som: Skip Lievsay, Niv Adiri, Christopher Benstead e Chris Munro - "Gravidade"
Melhor direção de arte: Catherine Martin e Beverley Dunn - "O Grande Gatsby"
Melhor fotografia: Emmanuel Lubezki - "Gravidade"
Melhor maquiagem: Adruitha Lee e Robin Mathews - "Clube de Compras Dallas"
Melhor figurino: Catherine Martin - "O Grande Gatsby"
Melhor montagem: Alfonso Cuarón e Mark Sanger - "Gravidade"
Melhores efeitos visuais: Tim Webber, Chris Lawrence, Dave Shirk e Neil Corbould - "Gravidade".

Fonte: O Globo

Adeus, mestre Resnais

Por Luiz Zanin

Morreu, ontem, dia 1 de março, aos 91 anos, o cineasta francês Alain Resnais, autor de clássicos como Hiroxima, meu Amor e O Ano Passado em Marienbad. O diretor chegou a ser premiado no recente Festival de Berlim, quando apresentou seu último filme, Amar, Beber e Cantar. Por razões de saúde não compareceu ao festival alemão. Este filme é o fecho de uma obra extraordinária.

Resnais assina uma série de curtas-metragens (Van Gogh, 1948, Gauguin, 1950, Nuit et Bruillard, etc) até chegar ao seu primeiro longa-metragem, Hiroxima, meu Amor (1959), obra-prima cujo efeito no meio cinematográfico foi considerável. Em depoimento feito no ano passado na Mostra de São Paulo, o importante crítico francês Michel Ciment, da revista Positif, classificou Hiroxima como o maior divisor de águas do cinema contemporâneo. Mais influente do que toda a nouvelle vague junta, acrescentou.

O filme é a narrativa mais pungente da Segunda Guerra e do holocausto atômico, fatos que emergem do diálogo entre uma francesa (Emmanuelle Riva) e seu amante japonês (Eiji Okada). Ela conta como fora amante de um invasor alemão em Nevers durante a guerra, e a confissão, feita em sussurros, encontra eco nas palavras do homem, cuja vida foi inteiramente marcada pela explosão da bomba. Hiroxima é um filme-marco, um filme-farol, decisivo para todo o cinema que se fez depois dele.

Como clássico, não contém apenas seu resíduo, digamos, histórico, mas outras camadas de interpretação. Testemunha, também, a grande preocupação de Resnais com a memória e o tempo, que se expressaria de maneira ainda mais marcante em O Ano Passado em Marienbad, com o qual venceu o Leão de Ouro em Veneza, em 1961.

Resnais gostava de filmar apoiando-se em textos alheios. Em Hiroxima, no de Margueritte Duras; em Marienbad, no de Alain Robbe-Grillet, um dos nomes famosos do nouveau roman francês. Assim faria nos trabalhos seguintes “adaptando”textos de Caryol (em Muriel), David Mercer (Providence), Henri Laborit (Meu Tio na América), entre outros.

Com essa inspiração no trabalho literário alheio, Resnais manteve-se contemporâneo de si mesmo e foi atravessando fases diferentes do cinema mundial sempre fiel ao seu estilo. Nem sempre faz um cinema fácil. Pelo contrário, seus filmes exigem uma postura atenta do espectador, como contrapartida ao empenho artístico do realizador. Por exemplo, em Providence, um velho escritor sofrendo de doença terminal (John Gielgud), narra sua vida em meio a um processo alucinatório. Apenas dessa maneira podemos decodificar o filme e, uma vez instalados no exercício delirante do personagem, podemos segui-lo à vontade.

De qualquer forma, um filme de Resnais não é nunca uma coisa só. Em Muriel – Tempo de Retorno (1963), uma mulher tenta minimizar o tédio evocando a memória de um seu amor do passado. Enquanto isso, um personagem vive atormentado por uma lembrança da guerra da Argélia, na qual uma jovem de nome Muriel foi torturada até a morte. Essas franjas de realidade entram de maneira a mais surpreendente nos filmes de Resnais, mesclando o real bruto à mais subjetiva das narrativas dos personagens. Fazia com perfeição esse laço entre o real e o imaginário, o sujeito movendo-se no tortuoso pano de fundo da História.

Alguns dos últimos filmes de Resnais foram inspirados em textos do dramaturgo inglês Alan Ayckbourn. Fumar/Não Fumar é um fantástico exercício de probabilidades, em que toda uma trama é alterada pelo simples fato de um personagem fumar um cigarro, ou não fazê-lo. Ervas Daninhas mostra a obsessão de um personagem masculino (André Dussolier) por uma mulher (Sabine Azéma), de quem encontra a carteira perdida na rua. O testamento de Resnais, Amar, Beber, Cantar também é baseado em Ayckbourne.

O filme ganhou em Berlim o Prêmio Alfred Bauer, destinado a estimular a inovação cinematográfica. Não faltou quem ironizasse que tal prêmio fosse dado a um diretor de 91 anos. Mas faz todo sentido: quantos diretores jovens contemporâneos têm em si a chama de invenção de um Resnais?
Apesar de difícil, muitas vezes o cinema de Resnais conseguiu comunicar-se com o público. Medos Privados em Lugares Públicos, com sua ciranda de amores frustrados, comoveu o público paulistano a ponto de manter-se por dois anos seguidos em cartaz na cidade, no Cine Belas Artes. Foi uma espécie de redescoberta do cineasta no Brasil.

O fato é que, sempre fiel a um estilo cerebral e reconhecível, sua assinatura, Resnais reinventou-se a cada filme, a partir do material literário que tinha em mãos. Um não era parecido com o outro, embora todos tivessem a matriz comum da sua autoria.

Resnais morreu jovem.

Fonte: O Estado de S. Paulo