domingo, 23 de fevereiro de 2014

OPINIÃO DO DIA: Cristovam Buarque

O necessário rigor contra o vandalismo exige a aplicação das leis vigentes. A incompetência para impedir os crimes de vândalos não deve ser camuflada, assustando os manifestantes pacíficos. Com exceção dos homens-bomba, os terroristas não vão para as ruas em manifestações, agem à surdina, cometem seus atos clandestinamente. Parece que a intenção dessas propostas não é controlar o terrorismo; é, por um lado, esconder a incompetência para impedir e punir os vândalos e, por outro, aterrorizar os que têm a intenção de ir às manifestações, uma espécie de terror antiterrorista.

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF). “O terror antiterrorista”. O Globo, 22 de fevereiro de 2014.

Ato contra Copa em São Paulo acaba em quebra-quebra e com 120 presos

Polícia chegou a imobilzar cinco jornalistas, liberados em seguida

SÃO PAULO. Pelo menos 120 pessoas foram detidas durante protesto realizado neste sábado, no Centro de São Paulo, contra a realização da Copa do Mundo no Brasil. Nem mesmo a presença ostensiva da polícia, com mil soldados — para cerca de mil manifestantes — foi capaz de impedir atos de violência, como lixeiras e vidros de agências bancárias quebrados. Quatro ônibus levaram os detidos para quatro Distritos Policiais da cidade.

Segundo a polícia, o tumulto começou na Rua Xavier de Toledo, onde um grupo de blacks blocs passou a gritar que era chegada a “hora de barbarizar”. Os policiais usaram golpes de artes marciais e cassetetes. Os manifestantes recebiam gravatas e eram jogados no chão.
Quatro policiais e dois manifestantes ficaram feridos. Um rapaz de 25 anos sofreu um corte na testa e disse que foi atingido por um cassetete.

Pelo menos cinco profissionais de imprensa chegaram a receber golpes e foram imobilizados, mas acabaram liberados depois de se identificar. O repórter do GLOBO, Sérgio Roxo, que filmava a confusão com seu celular, foi imobilizado por um policial da “tropa ninja” da policia, com um golpe no pescoço, apesar de estar usando crachá. Um segundo policial bateu em sua mão, quebrando o celular.

O repórter Reynaldo Turollo Jr, da “Folha de S.Paulo”, recebeu uma gravata de um policial e foi arrastado. Segundo o jornal, ele não se machucou e foi liberado quando se identificou como jornalista. O mesmo aconteceu com Paulo Toledo Pizza, repórter do site “G1”. O fotógrafo do “Terra” Bruno Santos foi ferido na perna.

— Eles me arrastaram por uns 20 metros. Um policial queria me colocar junto com os detidos, mas veio um capitão, conversou comigo, pediu desculpas e me liberou — disse Roxo.

O major Larry Saraiva, do 11º Batalhão da Polícia Militar, considerou que a ação policial, baseada na imobilização por golpes de artes marciais, foi positiva. Ele confirmou que alguns jornalistas foram detidos, mas disse que todos foram liberados após a identificação.

— Os excessos devem ser combatidos. Fizemos imagens e vamos avaliar a ação — afirmou o major, ao comentar a agressão a jornalistas.

Ruas foram bloqueadas e os manifestantes foram revistados. Um rapaz de 25 anos, que se identificou como Marlus Germani, ficou ferido. Ele teve um corte na testa e afirmou que foi golpeado com cassetete. Todos os detidos foram colocados em ônibus e encaminhados a distritos policiais.

De acordo com a Polícia Militar, um manifestante abandonou uma mochila na Estação Ana Rosa do Metrô. Dentro dela estaria um coquetel molotov.

Até as 21h, grupos de manifestantes seguiam caminhando por ruas do Centro de São Paulo. Muitos abordavam pessoas e pediam que engrossassem o ato. Foi o que aconteceu na Praça Roosevelt, que concentra bares e teatros.

Um grupo com cerca de 300 jovens do black blocs fechou várias ruas do Centro enquanto caminhava no sentido das delegacias para onde foram levados os detidos. Chegaram a fechar vias importantes, como a Avenida Consolação e a Rua Augusta. No caminho para o 3° Distrito Policial fecharam também a esquina das avenidas Ipiranga e São João. Mais de cem soldados da PM acompanhavam o grupo.

Comerciantes foram brigados a fechar as portas. Não houve confronto, apenas jovens xingando os policiais. O grupo, por várias vezes, se misturou a blocos de carnaval no Centro da cidade, aumentando a confusão.

— Quem não deve nada para a polícia vai ser solto. Por enquanto, estão sendo averiguados — disse Kleber Altale, delegado seccional do Centro, que foi até o 3° Distrito Policial, na Rua Aurora, para onde foram vários manifestantes.

Depoimentos e apreensões
Vinte dos 40 manifestantes intimados a depor neste sábado na sede do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), 20 foram ouvidos pela polícia e liberados a seguir. Também foram cumpridos três mandados de busca e apreensão na casa de três manifestantes - um morador de Osasco, na Grande São Paulo, e dois dos bairros de Itaquera e Jardim Laranjeira, na Zona Leste da capital.

Nos endereços foram apreendidos três computadores, sprays, uma faixa contra a realização da Copa do Mundo e a Rede Globo e duas máscaras — uma de proteção contra gases e outra do V de Vingança, utilizada pelo Anonymous. Um adolescente, de 16 anos, foi levado à sede do Deic para prestar esclarecimentos, acompanhado pela mãe.

O vice-delegado geral da Polícia Civil e diretor do Deic, Wagner Giudice, afirmou que foi proposital a intimação dos manifestantes para depor num dia de manifestação. A estratégia, segundo ele, foi inspirada na polícia europeia, que costuma agir desta forma para impedir atos de violência de torcidas em dias de jogos de futebol.

Todos os intimados, segundo Giudice, foram citados, identificados ou têm alguma relação com a investigação sobre a atuação do grupo black bloc, iniciada em outubro passado. Desde a abertura do inquérito 300 pessoas foram ouvidas, mas até agora ninguém foi indiciado.

Os manifestantes ouvidos neste sábado tiveram de responder a algumas perguntas, entre as quais se sabiam manusear arma de fogo, se conheciam táticas de camuflagem, se já participaram dr alguma manifestação e se faziam parte de algum grupo praticante da tática black bloc. Em seguida, foram liberadas.

Algumas pessoas convocadas a depor disseram, ao chegar à sede do Deic, que nunca tinham participado de manifestações. Foi o caso do vendedor Edmilson Silva Santos, de 39 anos, que compareceu à sede do Deic veio acompanhado da mulher e do filho e disse estar constrangido.

— Trabalho das 13h às 23h e nunca participei de manifestação. É constrangedor receber algo assim em casa. Não tiveram o trabalho nem de colocar num envelope (a intimação) — afirmou o vendedor.

A estudante Karen Alves, de 19 anos, e o irmão dela, Anderson Alves, de 23, também foram intimados. Alves confirmou que é ativista há cinco anos, mas que não comparece a protestos desde outubro passado.

— Eles devem ter visto um vídeo que fiz para um trabalho de faculdade sobre os protestos e me chamaram. Acredito que o objetivo é esvaziar o protesto de hoje, que eu nem pretendo comparecer

— afirmou Alves, referindo-se ao protesto marcado para 17h deste sábado na Praça da República contra a realização da Copa do Mundo no Brasil.

Karen disse que nunca foi a nenhuma manifestação e que pode ter sido chamada pelo fato de dividir o computador com o irmão:

— Acho que fui chamada porque usávamos o mesmo IP (computador). Não há outro motivo — disse Karen.

Fonte: O Globo

Megaoperação da PM usa pelotão ninja, isola black blocs e prende 230

Protesto deixou oito feridos e teve mais de mil manifestantes, um deles levava uma mochila com coquetel molotov; PM iniciou revista na saída do Metrô; policiais detiveram ativistas com golpes de artes marciais; houve depredação no centro de SP

Bárbara Ferreira Santos e Fabio Leite

SÃO PAULO - O protesto Não Vai Ter Copa terminou com 230 detidos na noite de deste sábado, 22 - o maior saldo de prisões em manifestações. No centro de São Paulo, houve quebra-quebra e agressões feitas por manifestantes e por policiais militares. Os participantes do ato foram cercados e detidos pelos integrantes do pelotão ninja, o grupo de policiais especializados em artes marciais.

A nova estratégia da PM era apoiada pela Tropa de Choque e por um helicóptero. O objetivo era isolar os black blocs dos demais manifestantes. Pelo menos oito pessoas ficaram feridas - cinco PMs, dois ativistas e um jornalista.

O tumultuo começou às 19h30. Os PMs cercaram um grupo de manifestantes na Rua Xavier de Toledo, no centro. No momento da detenção, nenhum deles estava cometendo vandalismo. A PM, porém, informou que só agiu após os primeiros atos de depredação.

Os policiais apanharam os manifestantes com golpes de artes marciais, como o chamado "mata leão", e desferiram golpes de cassetete. Eles retiravam um a um os manifestantes do meio do grupo. Até uma mulher sem máscara foi imobilizada pelos PMs e jogada ao chão.


A ação dividiu os manifestantes em dois grupos. Uma parte deles, formada principalmente por black blocs, correu para o Viaduto do Chá, quebrando lixeiras, depredando duas agências bancárias e orelhões. Também atacaram PMs com paus e garrafas. O segundo grupo voltou à Praça da República, local de origem do protesto, e caminhou pacificamente para a Rua da Consolação.

Enquanto isso, os policiais reuniam os detidos na Rua Xavier de Toledo, entre as Rua 7 de Abril e o Viaduto do Chá. Um cordão de isolamento dos PMs impedia que qualquer pessoa visse ou filmasse o que estava acontecendo com os detidos.

Todos foram obrigados a aguardar sentados a chegada de cinco ônibus que os conduziram a 7 delegacias, onde foi feita uma triagem para que a polícia decidisse quem seria autuado em flagrante - entre os detidos, havia cinco jornalistas que estavam trabalhando.

Mais tarde, a PM deteve mais 50 pessoas no Vale do Anhangabaú, entre elas uma repórter do Estado. Segundo a PM, os manifestantes detidos tinham máscaras, sprays, estilingues, bolas de gude e correntes.

No 78.º Distrito Policial havia 30 detidos. Segundo o advogado André Zanardo, do Coletivo Advogados Ativistas, a polícia fez um Boletim de Ocorrência coletivo acusando todos de desacato, resistência, desobediência e lesão corporal. "Não há nenhuma lei que ampare essas detenções", disse.

Barreira. Ao todo, cerca de mil manifestantes participaram do protesto. A PM não informou o total de homens que ela mobilizou. O ato havia começado às 17h. Os PMs haviam montado uma barreira na saída das estações do Metrô no centro e revistavam as mochilas de quem saía de lá. Um manifestante abandonou uma mochila com coquetel molotov dentro e foi filmado por câmaras do Metrô. Pessoas que passavam também relataram agressões feita por PMs.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Manifestantes sem diálogo com o Planalto

Lideranças dos movimentos sociais reclamam que a tentativa da presidente Dilma de abrir negociação, após os protestos de junho do ano passado, ficou apenas na promessa. Principal queixa é de que a pauta de negociações "não anda"

João Valadares, Grasielle Castro

A construção da imagem de uma presidente sensível aos movimentos sociais e aberta ao diálogo, iniciada após as manifestações de rua que sacudiram o país em junho do ano passado e puxaram para baixo a popularidade da chefe maior da nação, ainda está longe do resultado esperado. Na prática, o Palácio do Planalto continua com as portas fechadas. Integrantes do Movimento Passe Livre, Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, grupos LGBT e sem-terra atestam que o esforço empreendido por Dilma Rousseff logo após os protestos, recebendo os principais líderes e, pela primeira vez na gestão, representantes dos povos indígenas, não passou de uma tentativa frustrada de estabelecer uma mesa permanente de negociação. Todos são unânimes em afirmar: "A pauta não anda".

O governo sabe disso e aposta todas as fichas no ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, numa tentativa de estreitar o diálogo com os movimentos sociais e conter os ânimos em ano eleitoral. O ministro foi requisitado pelo PT para participar do núcleo de articulação da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff. A tendência é de que ele permaneça no governo para ser o homem da contenção. A informação oficial é de que o governo federal redistribuiu todas as demandas e atesta que está monitorando o desempenho de cada pasta.

Um dos integrantes do Movimento Passe Livre no Distrito Federal, Paique Duque, que se reuniu com Dilma em junho do ano passado, diz que não houve avanço. "No ano passado, fomos convidados para centenas de reuniões em todo o país, mas esse diálogo não resultou em medidas concretas para a modificação da pauta central. O que estamos vendo é aumento de tarifa. No Rio de Janeiro, já ocorreu. Deixamos claro para a presidente que a nossa principal luta é a tarifa zero", explicou.

Ele informou que a desoneração das empresas de ônibus para barateamento das passagens não é bandeira defendida pelo movimento. "Deixamos isso muito claro durante o encontro com a presidente. Essas são medidas que o governo já defendia antes das manifestações. Você só aumenta o lucro do empresário. Não há melhoria do serviço e ainda retira as poucas responsabilidades sociais que eles têm", ressalta.

O secretário de Política Agrária da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Zenildo Pereira Xavier, argumenta na mesma linha. "Não vamos negar que houve a intenção do diálogo, mas ficou só no discurso. O governo precisa avançar de verdade. Ele se comprometeu com diversos segmentos. Não houve mudança. Há uma lentidão", declarou. Na opinião de Zenildo, o agronegócio continua influenciando as decisões do Planalto. "O governo ainda não tem a clareza do lado dele. Eu sei que o governo deve ser de todos, mas, apesar da tentativa de diálogo, os avanços são lentos."

Há 10 dias, 15 mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizaram uma marcha pela Esplanada. Houve pancadaria na frente do Planalto. Do carro de som, os coordenadores classificaram a presidente como "fantoche dos ruralistas" e pediam a todo instante uma "grande vaia para aquela que prometeu assentar nossas famílias". Um dia após o tumulto, Dilma se rendeu. Recebeu uma comitiva do MST. Ganhou uma carta de reivindicações com 10 pontos, ouviu críticas e, mais uma vez, comprometeu-se a analisar todas as demandas.

Urucum
No fim do ano passado, 400 índios invadiram a área externa do Palácio do Planalto. Também pressionavam a presidente e chegaram a chamá-la de "assassina". Eles insistiam em marcar uma audiência com Dilma. A pressão foi grande. Alguns seguranças, responsáveis por selecionar uma comissão para negociar, tiveram o rosto pintado com urucum.

Marcos Terena, integrante da comissão brasileira de Justiça e Paz, alega que não há interlocução do governo federal com os povos indígenas. "Falta estabelecer um diálogo. O governo atua por impulso. Agora, em 2014, é preciso criar um canal de negociação nas esferas governamentais. 

Quem falava pelos índios era a Funai, mas o órgão foi esvaziado politicamente e administrativamente. Não tem poder de ação", relata. Ele salienta que índio no Brasil virou caso de polícia. "A gente precisa abrir esse canal com a candidata Dilma Rousseff. O sistema de governo não pode tratar a agenda indígena como uma solenidade. Aquilo ali (reunião de povos indígenas com Dilma em julho do ano passado) foi só uma solenidade. Nada mais", declarou.

A Secretaria-Geral da Presidência da República afirmou que "o diálogo do governo federal com os movimentos sociais é permanente e tem se mantido aberto desde o início da gestão de Dilma". 

Ainda de acordo com a resposta oficial do governo, "em cada uma das reuniões, a presidente deu encaminhamentos precisos, remetidos a diferentes ministérios. Foram centenas de demandas apresentadas pelos movimentos sociais". A Secretaria-Geral da Presidência da República garante que todas as demandas estão em diferentes níveis de implementação ou negociação. O governo alega que "existem ainda mesas de diálogo com calendário de reuniões e agenda de trabalho montada". Informa como exemplo a mesa dos movimentos de moradia e dos atingidos por barragens. Mesmo assim, afirma o Planalto, Dilma continua recebendo pessoalmente líderes de movimentos sociais.

As demandas // Confira quais são as reivindicações dos movimentos sociais

Passe Livre
Tarifa zero nos ônibus para todos os estudantes
Fortalecimento da implementação de uma política de mobilidade urbana que priorize o transporte coletivo

Ampliação e renovação da frota de coletivos
Ônibus 24 horas em atividade
Expansão do Bilhete Único, benefício tarifário permitindo a realização de quatro viagens dentro do prazo de três horas, a exemplo do que já ocorre em São Paulo, para outras capitais brasileiras

Articulação dos povos indígenas do Brasil
Fortalecimento da Fundação Nacional do Índio (Funai) para que ela cumpra seu papel na demarcação, proteção e vigilância de todas as terras indígenas
Repúdio às mudanças na demarcação de terras indígenas
Revogação de todas as portarias e decretos que ameacem os direitos originários dos índios
Paralisação da construção de obras de infraestrutura nas áreas de transporte e geração de energia, tais como rodovias, ferrovias, hidrovias, portos, usinas hidroelétricas e linhas de transmissão em território indígena
Arquivamento da PEC 38, que limita a demarcação de terras

Sem-terra
Celeridade na realização de vistorias de terra e nos processos agrários de assentamentos rurais sob a responsabilidade do Incra
Ampliação de recursos da Caixa Econômica Federal e desburocratização para que todas os trabalhadores assentados tenham acesso ao programa Minha Casa, Minha Vida, sob controle das famílias e suas associações
Expropriação de fazendas para fins de reforma agrária onde ainda persiste trabalho análogo ao de escravo
Amplementação de um grande programa de reflorestamento nas áreas dos pequenos agricultores e assentados
Modificação no funcionamento do Incra com contratação de servidores e qualificação de pessoal
Fortalecimento de uma agricultura voltada para o mercado interno, a aplicação das técnicas da agroecologia e a realização de uma profunda reforma agrária, que democratize a propriedade da terra
Convocação de uma assembleia nacional constituinte soberana e exclusiva para fazer uma reforma política

Fonte: Correio Braziliense

Do orgulho à desconfiança: o sentimento dos brasileiros em relação à Copa

Rodrigo Müzell

Imagina na Copa.

A frase quis ser slogan ufanista de um patrocinador da Copa do Mundo, mas virou o resumo do humor brasileiro em relação ao evento que receberemos daqui a 109 dias: o que antes era orgulho e expectativa virou, para muitos, desconfiança e dúvida.

Eis um retrato em alta definição da complicação chamada Brasil: 80% dos pedidos de ingressos feitos à Fifa para o torneio vieram de brasileiros. Ao mesmo tempo, pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) na semana passada informou: 50,7% dos entrevistados dizem não querer a Copa.

Parte da Pátria de Chuteiras está de mal com a bola. Na verdade, não tanto com a bola: na pesquisa da CNT, 75% criticam especificamente os investimentos públicos para a realização do Mundial, que ultrapassam os R$ 25 bilhões, segundo o Portal Transparência. Parte do Brasil está meio de mal é com a instituição Copa do Mundo.

Antes mais raras, as vozes críticas se multiplicam desde os protestos na Copa das Confederações, no ano passado, e a cada notícia de atraso em obras ou aumento de custos. Na semana passada, o ex-tenista Gustavo Kuerten, tricampeão em Roland Garros e ex-número 1 do mundo, foi duro ao comentar o sistema montado em Florianópolis para o Congresso Técnico da Fifa, que custou R$ 3,9 milhões ao governo estadual.

– A sensação é bem frustrante com a Copa. O governo não cumpre compromissos com a população, mas com a Fifa faz um esforço sobre-humano para fazer o que querem – disse Guga.

Outro ídolo, Ronaldo Nazário, disse em coletiva da Fifa que os críticos são uma minoria que não percebe a oportunidade que o país tem:

– Temos de mostrar a eles que a Copa é um ótimo negócio para o Brasil.

Minoria ou maioria, a intensificação nas campanhas de marketing do governo federal é uma reação à mudança de humor da população, que veio em dois atos: o sonho e a realidade.

2007/2013 - O sonho
Quando foi confirmada para solo brasileiro, em 2007, a Copa do Mundo causou festa em praças públicas e euforia comparável aos cinco títulos da Seleção. A Fifa, nos dois anos que levou para definir as cidades-sede, gerou um leilão entre as 17 candidatas – todas tentando atrair a entidade com promessas de estádios novos e o apoio que a entidade precisasse. O então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, garantia: será a Copa da iniciativa privada.

Em 2010, uma Matriz de Responsabilidades foi firmada entre todas as instâncias de governos e clubes de futebol para definir a lista de obras públicas necessárias. Era dinheiro público, mas para desenhar um Brasil modernizado: reformas em 13 aeroportos, obras de mobilidade urbana para melhorar o trânsito nas capitais, construção ou remodelação de estádios estaduais e privados. Tudo para ficar pronto em dezembro de 2012, a tempo da Copa das Confederações no ano seguinte.

Do lado do turismo, calculou-se: virão 600 mil estrangeiros no mês do Mundial, e estes serão recebidos por legiões de trabalhadores capacitados em outras línguas e técnicas de turismo. O governo federal falava alto sobre um trem-bala que ligaria São Paulo e Rio. O estadual, num Cais do Porto novinho em folha para mostrar o Guaíba a turistas. O o municipal, em sistemas de ônibus rápido cortando Porto Alegre junto a avenidas cuja ampliação fora projetada ainda na década de 1950. Os olhos da Fifa brilhavam, e os da população também.

Pule alguns anos.

2013/2014 - A realidade
O brilho já não é mais o mesmo. Dias atrás, Recife afirmou que não fará a fan fest – exibição pública dos jogos em todos os dias da Copa, com shows e atrações musicais. Alega que custaria R$ 20 milhões e esse dinheiro pode ser melhor aplicado em saúde, educação, transporte.

"Quem não quer melhoria nesses itens?", perguntam os defensores árduos como Ronaldo, integrante do Conselho de Administração do Comitê Organizador da Copa. "Mas quem garante que essas verbas seriam realmente investidas nisso se não houvesse Copa?", emendam. Ironicamente, a dúvida sobre a capacidade do poder público é reforçada quando se olha para os investimentos estatais: mais em estádios (R$ 8 bilhões) do que em mobilidade urbana (R$ 7 bilhões). Muitas das obras abandonadas, como o monotrilho de Manaus ou o sistema de ônibus rápido em Salvador. Outras ficaram para depois da Copa, sem data precisa para terminar, como as de Porto Alegre.

Com o atraso geral, itens dos contratos que não eram claros – porque a hora de cumpri-los não havia chegado – surpreenderam a população. A polêmica das estruturas temporárias, que no Estado devem custar R$ 30 milhões e serem bancados com isenções fiscais, é um desses casos. Desde que o Mundial se profissionalizou e virou um megaevento, esses gastos existem – e a informação não escapou da comitiva de servidores municipais, estaduais e integrantes do Inter que foram à Copa de 2010 ver como se fazia o evento. Ao longo dos anos, o compromisso, questionado pelo Ministério Público, vinha sendo evitado por autoridades.

Em resumo, venderam uma Copa e estão entregando outra. E isso traz consequências, como você vê no próximo tópico.

R$ 25,9 bilhões em recursos federais estão previstos, mas apenas R$ 12,8 bilhões foram contratados até agora

55 obras de mobilidade urbana no Brasil estavam previstas na matriz de responsabilidades, mas 22 delas não ficarão prontas a tempo.

Políticos acuados, Fifa exasperada
Com a população torcendo o nariz, políticos tentam descolar-se da ideia de que estão à mercê da Fifa e renegociam qualquer tipo de investimento previsto nos contratos assinados com a entidade. Se Recife foi taxativa em não querer Fan Fest, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, também deu entrevistas queixando-se dos custos do evento, previsto para Copacabana. Na Fifa, sobra perplexidade.

- Nunca cogitamos que uma cidade abriria mão da Fan Fest. Quando estavam disputando uma vaga como cidade-sede, prometiam eventos incríveis e apoio total - disse o diretor de marketing da entidade, Thierry Weil.

Em privado, os oficiais da Fifa queixam-se do hábito brasileiro em tentar mudar à última hora o que foi acertado. Se veem com dificuldade para explicar a fornecedores, patrocinadores e até torcedores os atrasos no planejamento de um evento previsto há sete anos. O imbróglio das estruturas temporárias no Beira-Rio, em Porto Alegre, é um exemplo. Na Fifa, não se entende por que um projeto de lei só foi enviado à Assembleia a 112 dias da Copa, se o assunto se discutia desde o ano passado. Entre os organizadores, a sede gaúcha é vista como uma das mais complicadas - especialmente pela postura distante do governador Tarso Genro, que delegou todos os contatos com Fifa e COL ao vice, Beto Grill.

Dentro do governo, a secretários e assessores, Tarso defende a vinda da Copa, que considera importante para dar visibilidade ao Estado. Porém, prefere ficar fora dos holofotes no assunto - posição que tinha já antes das manifestações de 2013 e vem intensificando à medida em que o Mundial se reveste de polêmica. Três dias antes da inauguração do Beira-Rio, em que esteve ao lado de Dilma e Valcke, o governador fez o secretário-geral da Fifa ser recebido por Grill em pleno Piratini, o que incomodou a entidade.

Vai sair Copa, e será profundamente verde-amarela: dos 1,5 milhão de ingressos já vendidos para o público geral, 900 mil são para brasileiros. É impossível imaginar que as Fan Fests fiquem vazias. Copas do Mundo sempre mudaram calendários na vida dos súditos de Pelé, transferiram férias, mudaram planos. Este ano, não será diferente.

Apenas não será só festa, mas também debate, opinião, cobrança. Coisas de país democrático, afinal de contas.

*Colaborou Carlos Rollsing

Fonte: Zero Hora (RS)

Pendências do PAC: programa federal completará oito anos com obras de papel

Planos de hidrovias, ferrovias e aeroportos passam de PAC para PAC sem que sejam consideradas atrasadas

Embora o governo federal comemore o percentual de 82% de obras concluídas no PAC 2, há obras importantes do setor de transporte e mobilidade urbana no Rio Grande do Sul que jamais saíram da prancheta. Hidrovias, ferrovias e aeroportos, ainda que estejam nos planos desde 2007, são barradas por entraves burocráticos ou contenção de recursos.

Uma lógica cerca esses projetos: como não saem do papel, são replanejados e têm prazos transferidos para anos seguintes. Dessa forma, é praticamente impossível descumpri-los. Um exemplo é a segunda ponte do Guaíba, que encerrou os quatro anos do PAC de Lula com o status de "projeto em execução" nos balanços. Foi, então, remanejada para o PAC 2, de Dilma Rousseff. Seguiram mais três anos até a licitação, que teve o resultado divulgado na sexta-feira.

Se cumpridos os prazos de execução, serão mais três anos de máquinas na pista. Da prancheta à inauguração, serão, portanto, 11 anos. Como provavelmente será transferida para o PAC 3 (ainda em gestação) com prazos adaptados, a ponte jamais estará entre o pequeno percentual de metas descumpridas.

Estar no PAC dá a uma obra federal dois aspectos importantes: previsão no orçamento da União e o uso do Regime Diferenciado de Contratação (RDC). Se por um lado a licitação se torna mais ágil ao vincular à mesma empresa o projeto e a execução da obra, por outro lado o valor do projeto passa a ser sigiloso, um pré-requisito legal do RDC.

Ministra disse que corte não vai mudar ritmo de projetos

Na quinta-feira, dois dias depois de o balanço do PAC ser apresentado com pompa pela ministra Miriam Belchior (Planejamento) e outros 10 ministros, a Fazenda anunciou corte de R$ 7 bilhões nos R$ 61,4 bilhões do orçamento do programa. Uma mostra de que o PAC desacelerará na reta final do governo Dilma. Em janeiro de 2015, o programa completará oito anos.

– Fizemos uma análise do estoque de restos a pagar e das dotações do ano e achamos que, com o ajuste, será possível conduzir as obras no ritmo que é necessário – disse Miriam.

Fonte: Zero Hora (RS)

O incômodo da recessão

Na próxima quinta-feira, o IBGE dirá se a economia brasileira encolheu no último trimestre de 2013, o que seria o segundo tombo seguido. No Planalto, a perspectiva é de que a atividade se salvou por pouco, com avanço de ao menos 0,2% entre outubro e dezembro

Victor Martins, Deco Bancillon

Os dedos estão cruzados no Palácio do Planalto. Assessores da presidente Dilma Rousseff, que tentará a reeleição em outubro, não escondem o temor de que, na próxima quinta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) dê uma sentença devastadora ao governo: a de que o país mergulhou em uma recessão técnica no fim de 2013, com queda do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre, depois de um encolhimento de 0,5% entre julho e setembro. Diante de tal ameaça, tanto Dilma quanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, estão se fiando na projeção de parte do mercado financeiro, de que o país escapou do pior ao avançar 0,2% de outubro a dezembro. Integrantes da equipe econômica não descartam, porém, um tombo de 0,1%.

O sinal de alerta do Planalto acendeu depois de o Banco Central afirmar que, pelas contas dele, o Brasil entrou em recessão. O aviso só agravou o pessimismo de empresários e consumidores quanto ao modo como o governo vem conduzindo o país. Além de a atividade estar fraca, a inflação se mantém persistentemente alta, os juros subiram, encarecendo e escasseando o crédito, e o mercado de trabalho já não mostra o vigor de anos atrás. Não à toa, a popularidade da presidente Dilma está em queda. A mais recente pesquisa eleitoral do Ibope mostra que a aprovação da administração petista recuou de 43% para 39%, renovando os ânimos da oposição.

O quarto trimestre, tradicionalmente o mais forte do ano, era visto pelo governo e por especialistas como um marco da virada da economia. Mas, em vez de aceleração do crescimento, o que se constatou foi um forte encolhimento no ritmo de expansão. Na verdade, há quase uma estagnação da atividade. Dois dos principais motores do PIB, a indústria e o varejo, fraquejaram no fim do ano passado. Apenas em dezembro último, a produção nas fábricas encolheu 3,5% e o varejo recuou 0,2%. A alta dos juros básicos (Selic), de 7,25% ao ano, em abril de 2013, para 10,5% em janeiro deste ano, sem derrubar a inflação, só piora esse quadro. As famílias, superendividadas, compram cada vez menos. Sem perspectivas de aumento futuro das vendas, o empresariado mantém os investimentos congelados.

Dólar e indústria
A alta do dólar frente o real também não colaborou com os exportadores como se esperava, para ampliar a produção. Em 2013, a moeda norte-americana ficou, em média, 15% mais cara, elevação insuficiente para compensar a falta de competitividade da indústria, segmento que ainda sofre com a convulsão social que abala a Venezuela e a Argentina, dois importantes compradores de mercadorias nacionais de alto valor agregado, como carros.

Mas não é só. A retirada de estímulos monetários nos Estados Unidos afeta os países emergentes, especialmente aqueles que não fizeram reformas constitucionais que modernizassem a economia. Justamente por manter o pé no atraso é que o Brasil entrou no grupo dos cinco frágeis, ao lado de Turquia, Indonésia, Índia e África do Sul. Com rombos recordes nas contas externas — quase US$ 12 bilhões em janeiro último, o pior resultado para um mês desde 1947 —, o país está nas mãos do capital especulativo, que pode fugir a qualquer momento para mercados considerados mais seguros.

“É verdade que as nações emergentes estão sofrendo com a mudança da política monetária norte-americana. Mas é verdade também que outros mercados estão se beneficiando da recuperação dos EUA”, diz Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra. “Infelizmente, o Brasil está do lado mais fraco”, emenda. “Temos indicadores econômicos ruins, que saltam aos olhos dos investidores estrangeiros mais avessos ao risco.”

No front doméstico, o endividamento das famílias segue em níveis elevados, com 45,48% de toda a renda do ano comprometida com prestações. Ao mesmo tempo, o poder de consumo dos trabalhadores tem sido corroído pela inflação, que, em 12 meses até janeiro, acumulou alta de 5,6%. As previsões são de que, em setembro, véspera das eleições, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estoure o teto da meta de carestia, de 6,5%. É por isso, conforme as pesquisas, que 77% dos brasileiros reclamam do elevado custo de vida.

Desânimo
O quadro real desanimador já contaminou 2014. Mesmo que, no fim das contas, o PIB de 2013 tenha crescido 2% ou um pouco menos, a forte desaceleração no quarto trimestre está jogando todas as previsões para baixo. Nos cálculos do Banco BNP Paribas, o crescimento do último ano de mandato de Dilma será de apenas 1%. Para o Itaú Unibanco, não passará de 1,4% e, nas contas de Tony Volpon, chefe de pesquisas para mercados emergentes das Américas da Nomura Securities, ficará em 1,3%. Todas essas estimativas estão distantes dos 2,3% projetados pelo Ministério da Fazenda.

Volpon, por sinal, vê o Brasil em recessão. Na avaliação dele, o PIB do último trimestre de 2013 caiu 0,1%. “É preciso lembrar que isso é apenas uma previsão, mas foi feita em função de uma combinação de dados mais fracos que o esperado e que culminaram na queda IBC-Br, do Banco Central”, justifica. Ele ressalta ainda que nem tudo pode ser controlado pelo governo. “Felizmente, o jogo não acabou para o Brasil. Mas as desvantagens aumentaram”, frisa. Maurício Molan, economista-chefe do Banco Santander, endossa: “Para 2014, não vemos condicionantes que sugiram otimismo em relação à atividade econômica, de modo que há riscos de uma revisão para baixo na nossa projeção de crescimento”.

Fonte: Correio Braziliense

Eduardo Campos diz que governo ‘vive de mágica’

Governador de Pernambuco compara gestão de Dilma a momento ‘pré-Real’

Flavio Ilha

PORTO ALEGRE – O governador de Pernambuco e pré-candidato à presidência pelo PSB, Eduardo Campos, disse em Porto Alegre que o governo está “vivendo de mágica” e que o Brasil precisa de um novo pacto político para “salvar as conquistas” econômicas e sociais dos últimos anos. No plano econômico, Campos classificou a situação como “pré-Real”, onde a inflação era mascarada mediante os preços administrados pelo governo. As declarações foram dadas um dia depois de Campos se encontrar com Aécio Neves, no Recife.

Durante o primeiro encontro regional da aliança PSB-Rede-PPS para discutir um plano de governo, Campos voltou a criticar, ao lado da virtual candidata a vice, Marina Silva, as concessões políticas da presidente Dilma Rousseff em nome da governabilidade, “que não botam agenda nenhuma para a frente”.

— Vivendo de mágica: arruma três bilhões ali, bota na companhia de energia. Desvia para cá, paga as contas. É como diz na linguagem popular: da mão para a boca, assando e comendo. Isso vai batendo na educação, vai batendo na segurança, nas estradas, na saúde, no saneamento. Isso vai dar aonde? – discursou Campos.

O encontro teve a presença do senador Pedro Simon (PMDB), tido como “padrinho” da aproximação entre Campos e Marina. Também participou do ato o presidente nacional do PPS, Roberto Freire. O governador pernambucano disse que o país está vivendo um ciclo preocupante de perda das conquistas econômicas e sociais obtidas desde a redemocratização.

— No padrão de governança da economia, voltamos a um estado pré-Real. Também estamos vivendo uma situação de recrudescimento do ciclo de violência em vários locais onde ela tinha sido reduzida. O que está acontecendo é em função de um pacto político que não serve mais ao país. Tem gente inclusive que, a essa altura, está vendo com muito interesse o que estamos fazendo porque está percebendo que aquilo ali (o governo) não vai adiante. A nova política no Brasil hoje é mudar esse governo que está aí – disse o pré-candidato.

Segundo Campos, as concessões políticas geraram um pacto de conveniência dentro do governo que está “constrangendo muita gente boa”. O pré-candidato também anunciou que deixa o governo de Pernambuco no dia 4 de abril, prazo final de desincompatibilização dos cargos executivos para quem quer ser candidato em 2014.

O encontro reuniu mais de mil filiados do PSB, da Rede e do PPS do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Outras quatro reuniões serão realizadas até 26 de abril, quando o ciclo de debates se encerra em Manaus (AM). Antes disso, no final de março, segundo Campos, a chapa majoritária da aliança deve ser oficializada.

A ex-senadora Maria Silva, que aparece com cerca de 20% das intenções de voto nas principais pesquisas de opinião, descartou a possibilidade de que possa ser indicada candidata à presidência pelo PSB.

— Quando aceitamos o desafio de integrar essa aliança (em outubro de 2013), sabíamos que o PSB tinha um candidato. Desde então, estamos dialogando com essa candidatura e não com outro cenário – disse.

Marina, que deve ser confirmada como candidata a vice-presidente pelo PSB, também engrossou o discurso anti-Dilma. Sem se referir diretamente à presidente, a ex-ministra do Meio Ambiente de Lula disse que o Brasil não precisa de um gerente, mas de visão e de planejamento estratégico.

A pré-candidata, que tem vetado algumas alianças regionais dos socialistas com siglas conservadoras, também afirmou que o objetivo da aliança entre PSB, Rede e PPS é obter acordos com partidos “compatíveis” com o programa de governo que será apresentado, que privilegia itens como sustentabilidade, respeito à diversidade social e radicalização da democracia participativa.

— Não queremos fazer literatura. Pode-se fazer um programa muito bonito no papel, mas se as pessoas que vão protagonizar esse programa não têm identidade com ele, obviamente que fica mais difícil de a sociedade sentir o peso das decisões que estamos tomando – justificou.

Fonte: O Globo

Aécio diz que população cobra mudanças no país

Juliana Cipriani

O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG), afirmou ontem que o sentimento majoritário da população no país é de necessidade de mudanças. Para ele, é isso que aponta a queda da aprovação do governo da presidente Dilma Rousseff (PT) nas pesquisas de opinião divulgadas recentemente. Continuando sua incursão pelo Nordeste, o tucano esteve ontem em Maceió, onde recebeu apoio do prefeito da cidade, Rui Palmeira, e do governador de Alagoas, Teotônio Vilela, ambos tucanos, e participou do desfile em comemoração aos 15 anos do bloco carnavalesco Pinto da Madrugada, que arrastou vários foliões pela orla da cidade.

Aécio, que nos últimos seis meses visitou 23 estados, afirmou que a impressão comum em todos eles é de que o governo petista falhou. “O PT fracassou na condução da economia ao dar como legado ao próximo governo um crescimento pífio e inflação alta, uma perda crescente da credibilidade para o Brasil. Falhou nos investimentos em infraestrutura, que poderiam levar a um melhor resultado da economia brasileira”, afirmou.

Para o pré-candidato à sucessão de Dilma, a petista falhou ainda no que ele considera essencial, que são as áreas da saúde e da segurança pública. Aécio disse que as propostas do PSDB são um contraponto absoluto ao atual governo. Ele voltou a falar de sua proposta de refundar a federação, desconcentrando os recursos arrecadados das mãos da União. “Precisamos ser mais generosos com os investimentos em saúde e em segurança com os estados e municípios”, disse.

Um dia depois de confirmar a aliança entre PSDB e PSB em Minas Gerais, o tucano ressaltou a relação de proximidade com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), também pré-candidato ao Palácio do Planalto, com quem almoçou na sexta-feira. “O PSB, presidido por Eduardo, e o PSDB, presidido por mim, têm alianças muito sólidas e naturais em boa parte dos estados brasileiros, e não vamos trabalhar contra essas alianças no plano nacional nessas eleições, mesmo tendo o PSB uma candidatura e o PSDB outra candidatura. Vamos permitir que as coisas naturais continuem acontecendo”, afirmou.

Diante do recall da última eleição geral no estado, o prefeito de Maceió, Rui Palmeira, afirmou que o estado deve dar uma boa votação a Aécio. De acordo com ele, em 2010, o então candidato tucano, ex-governador José Serra, conseguiu 46% dos votos para a Presidência, o que lhe garantiu uma vantagem maior do que o restante dos estados nordestinos. A oposição espera ainda um bom resultado na Bahia e em Pernambuco, especialmente pelo peso político de Eduardo Campos.

Encontro programático
O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e a ex-senadora Marina Silva (Rede) reuniram-se ontem em Porto Alegre para mais um encontro regional programático entre as duas legendas. Ambos criticaram as palavras do deputado Luiz Carlos Heinze (PP), que chamou, em um vídeo gravado durante encontro com ruralistas, os gays, os índios e os quilombolas de “tudo que não presta”. Mesmo assim, os dois ainda costuram um palanque ao lado da candidata do PP ao governo gaúcho, senadora Ana Amélia.

Fonte: Correio Braziliense

Eduardo Campos e Marina criticam fala de deputado gaúcho, mas não descartam aliança com PP no RS

Governador e ex-senadora participam de encontro programático entre PSB, Rede e PPS em Porto Alegre

Juliana Bublitz

Em clima de campanha, o presidenciável Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, e a ex-senadora Marina Silva (Rede) participam, neste sábado, em Porto Alegre, do primeiro Encontro Regional Programático dos partidos.

Durante entrevista coletiva concedida no início da tarde, os dois criticaram a fala do deputado gaúcho Luis Carlos Heinze (PP), que chamou gays, índios e quilombolas de "tudo que não presta". Apesar disso, não descartaram a possibilidade de uma aliança com o PP no Rio Grande do Sul.

—Eu quero me somar a tantas vozes que se levantaram indignadas contra a fala do deputado — disse Campos.

Embora discorde do ponto de vista de Heinze, o governador de Pernambuco destacou que "é cedo para discutir palanque" e evitou falar sobre a aproximação com o PP.

— Não adianta montar palanque e não saber o que fazer depois — desconversou.

A fala de Heinze veio à tona quando um vídeo gravado em Vicente Dutra, no norte do Estado, foi publicado no YouTube, há duas semanas.

No Rio Grande do Sul, a aproximação de Campos com a senadora Ana Amélia Lemos (PP), possível candidata ao Piratini, não é vista com bons olhos por uma ala do PSB e por integrantes da Rede Sustentabilidade. A senadora, reconhecida por sua atuação em defesa do agronegócio, ciceroneou o socialista, em agosto passado, na Expointer. O gesto marcou a arrancada da negociação.

Na semana passada, o grupo contrário à coligação avaliaram que as declarações de Heinze acentuaram as diferenças ideológicas entre os partidos.

Ao ser questionada sobre o tema, Marina Silva reforçou a posição manifestada por Campos neste sábado. Rebateu as declarações de Henize, mas não foi além disso.

— A fala do deputado foi preconceituosa. Temos um país em que a maior riqueza é a diversidade, e nós defendemos uma cultura de paz — ressaltou Marina.

Sobre a possibilidade de aliança com o PP, a ex-senadora evitou opinar. Disse que PSB e Rede buscam fazer coligações "compatíveis com o programa" e que as conversas estão a cargo das direções regionais.

Pouco antes da entrevista, o presidente do PSB gaúcho, deputado federal Beto Albuquerque, garantiu que o diálogo com o PP (e também com outros partidos) vai continuar. Ele classificou a postura de Heinze como "infeliz", mas disse que ela não deve ser generalizada para todo o partido:

— Seria um erro generalizar a questão e supor que todo o PP pensa como Heinze.

O seminário promovido por PSB, Rede e PPS lotou o Auditório Dante Barone, na Assembleia Legislativa. Entre os presentas, além de Marina e Eduardo, estavam Roberto Freire, presidente nacional do PPS, e o senador Pedro Simon (PMDB).

O senador disse que foi prestigiar o evento em respeito ao avô de Campos, Miguel Arraes, com quem lutou contra a ditadura. Outra presença de "fora" foi a do deputado estadual Mano Changes (PP), que esteve no local para o reforçar o apoio à candidatura de Eduardo Campos e fazer coro à possível aliança do socialista com o PP de Ana Amélia.

—Vim dizer que o PP não é só o Heinze e que não pensamos como ele — disse Changes.

Fonte: Zero Hora (RS)

Campos promete anunciar em março chapa que concorrerá à Presidência

Expectativa é que o nome da ex-ministra Marina Silva seja confirmado na vice

Isadora Peron

PORTO ALEGRE - O governador de Pernambuco e provável candidato à Presidência, Eduardo Campos, disse neste sábado, 22, que o PSB vai apresentar em março a chapa que vai concorrer às eleições presidenciais. A expectativa é que o nome da ex-ministra Marina Silva seja confirmado na vice.

Sem falar sobre a possibilidade de ocupar a vaga, Marina voltou a afirmar que quando entrou no PSB, em outubro, deixou claro que o seu objetivo era apoiar o projeto da candidatura de Campos. Os dois participaram neste sábado de um encontro com integrantes do PSB-Rede-PPS, em Porto Alegre. O seminário é o primeiro de uma série que estão sendo organizados nas cinco regiões do País para discutir as diretrizes do programa de governo.

A dupla também evitou dar declarações sobre como andam as discussões em torno das alianças nos Estados. "Nós não estamos aqui para discutir palanques regionais. Estamos aqui para discutir as diretrizes do programa", disse Campos, ao ser questionado sobre o apoio à senadora Ana Amélia Lemos (PP), que pretende disputar o governo gaúcho.

A aliança com o PP não é vista com bons olhos por aliados de Marina. A situação ficou ainda mais delicada após virem a público as declarações do deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), que chamou gays, índios e quilombolas de "tudo que não presta". Campos e Marina criticaram a postura do deputado e disseram considerar as afirmações preconceituosas.

Sobre a situação em São Paulo, Campos disse haver ainda muito "tempo hábil" para tomar a decisão. No Estado, o grupo da ex-ministra também resiste em aceitar o nome indicado pelo PSB, do deputado Márcio França.

Pesquisa. Questionado sobre a queda de popularidade da presidente Dilma Rousseff na pesquisa Ibope, divulgada na sexta-feira pelo Estado, Campos afirmou que não torce para que a situação do Brasil piore e, assim, dificulte ainda mais a vida da presidente, que vai concorrer à reeleição. Segundo o pernambucano, as pesquisas têm mostrado um sentimento de mudança e isso seria o suficiente para garantir uma vitória nas urnas em outubro.

"Não precisa torcer contra o Brasil para ganhar a eleição. Eu vou torcer a favor: quero que o País cresça este ano, que gere emprego, que não falte energia, porque não precisa piorar absolutamente nada para que a gente ganhe", afirmou. Segundo pesquisa Ibope, a taxa de aprovação do governo Dilma caiu de 43% em dezembro para 39%.

Apesar da declaração, o tom do discurso de Campos durante o evento foi de crítica ao atual governo. "Vivemos num País que parou", disse. Ele abordou temas como a falta de planejamento estratégico, de investimentos em infraestrutura e a volta da inflação.

Marina, por sua vez, disse reconhecer o "valor" de Dilma, como a primeira mulher a assumir a Presidência do País, mas voltou a afirmar que falta uma marca ao governo. "Nós temos adversários que são pessoas que respeitamos. A presidente Dilma é uma mulher de valor, mas o seu governo ainda não tem uma marca. Eu torço para que a marca do governo dela não seja o retrocesso, sinceramente", disse.

Apoio. Durante o encontro, a dupla recebeu o apoio do senador Pedro Simon (PMDB-RS). Em sua fala, ele brincou dizendo que muitos deviam estar se perguntando o que ele fazia no seminário, já que não era de nenhum dos partidos da coligação. Ele explicou dizendo que estava ali por causa da admiração que sentia pelo avô de Campos, o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, e também pelo respeito que tinha pela figura de Marina.
Campos, por sua vez, contou que foi Simon quem o aconselhou a procurar Marina logo depois que a Justiça Eleitoral rejeitou a concessão de registro para a Rede, em outubro passado.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Queda de Dilma nas pesquisas representa fim de ciclo, diz Aécio

Ibope/Estadão divulgada neste sábado indicou que índice de aprovação da presidente caiu para 39%

Wal Souza

MACEIÓ - Provável candidato do PSDB à Presidência, o senador Aécio Neves disse neste sábado, 22, que a queda dos índices de avaliação da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas representa o fim de um ciclo.

"Com índices aquém, chegou a hora de encerra esse ciclo de 11 anos e apostar em um novo projeto. Mais coerente, ético, transparente e eficiente para todos", afirmou o tucano em visita a Maceió, onde desfilou pela orla da capital com o tradicional bloco de carnaval Pinto da Madrugada.

A pesquisa Ibope/Estadão publicada neste sábado indicou queda de 4 pontos percentuais no índice de aprovação do governo Dilma. No início de fevereiro, 43% dos brasileiros consideravam a gestão da petista ótima ou boa. Hoje, 39% da população tem essa avaliação.

O senador mineiro comentou ainda o julgamento do mensalão mineiro. Para Aécio, o PSDB defende a apuração e o julgamento do caso e afirmou que a sigla não acredita na existência de presos políticos no Brasil.

"O PSDB possui um entendimento diferente do PT. Para nós, o caso deve ser apurado e julgado. Não acreditamos que há atualmente presos políticos no Brasil. O que há é presos por corrupção e desrespeito no poder", disse.

Antes de chegar a Alagoas, onde se encontrou com o governador do Estado, Teotônio Vilela (PSDB), Aécio esteve em Recife na sexta-feira. Em Pernambuco, o senador se reuniu com o governador Eduardo Campos (PSB), provável adversário do tucano nas eleições deste ano.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Eduardo Campos: "pacto" de Dilma freia mudanças

O governador e pré-candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, proferiu ontem novas críticas à presidente Dilma Rousseff no comando do governo federal. Durante o primeiro seminário programático do PSB-Rede-PPS, em Porto Alegre (RS), o socialista afirmou que o pacto político comandado por Dilma não tem sinergia e "freia" a implantação das novas demandas sociais, advindas das manifestações populares desde o ano passado.

"Esse pacto político que hoje preside o Brasil já não tem sinergia, já não dialoga com o pacto social novo, a partir das mudanças operadas pelas próprias conquistas que nós ajudamos a fazer. E quando o pacto social e o pacto político não dialogam, um deles vai romper. E o que vai romper é o pacto político velho, que será derrotado pela vontade do povo nas urnas", afirmou Eduardo Campos.

Focando as críticas na área econômica do governo, o socialista fez novo alerta sobre possíveis retrocessos no setor no País. "Agora é a hora de compreender o que aconteceu em 2013: no mundo e no Brasil, com a mudança na plataforma de comunicação, com uma crise econômica, ambiental, de valores, de diálogo que a humanidade passa, e num ciclo em que o país começa a perder a altura, na sua economia. Começa a ficar claro, a falta de um planejamento para uma nação que é a sexta (economia) do mundo, que é estratégica para, não só o nosso equilíbrio, mas para o mundo como um todo", disse o governador.

Presente no evento, a ex-senadora Marina Silva afirmou que o descompasso entre o governo federal e a população será decida de forma diferente na próxima eleição. "Tenho dito que quem vai ganhar essa eleição é o tablado e não o palanque. O tablado é diferente do palanque, que fica lá em cima. Do tablado, você tem que descer um pouco mais abaixo para, em vez de olhar de cima para baixo, olhar de baixo para cima, para ver o que está acima de nós. E o que está acima de nós é o Brasil", pronunciou a ex-ministra.

O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire, relembrou as questões históricas que garantiram o que ele chama de realinhamento político de esquerda.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Teoria da Conspiração

Petistas e empresários próximos ao ex-presidente Lula estão por trás dos boatos de que ele pode ser o candidato do partido no lugar de Dilma Rousseff

Daniel Pereira

A presidente Dilma Rousseff é a favorita na próxima corrida eleitoral. Segundo pesquisa encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), ela seria reeleita hoje no primeiro turno, com 43,7% dos votos, caso enfrentasse o senador Aécio Neves (PSDB) e o governador Eduardo Campos (PSB), que aparecem, respectivamente, com 17% e 9,9%. Além da liderança nas intenções de voto, Dilma tem a seu favor o controle da poderosa máquina federal, com suas benesses bilionárias, e a possibilidade de montar a maior coligação desde a redemocratização, o que pode lhe garantir o dobro do tempo na propaganda eleitoral em relação a seus rivais. Na área econômica, a presidente também conta com bom desempenho em indicadores diretamente ligados ao bolso e ao humor dos eleitores, como emprego, renda e consumo familiar. Apesar de tais credenciais, a candidatura de Dilma é alvo de uma “guerra psicológica” — guerra essa travada não por expoentes da iniciativa privada interessados em sabotar a economia nacional, como ela pregou na TV, mas por setores do próprio PT.

Com o apoio de empresários e banqueiros, um grupo de petistas retomou nos bastidores um jogo de pressão destinado a rifar Dilma do páreo, substituindo-a pelo ex-presidente Lula. É a segunda ofensiva recente nesse sentido. A primeira ocorreu logo após as manifestações de rua de junho do ano passado, quando a popularidade da presidente despencou. Agora, o movimento “volta, Lula” pega carona nos problemas surgidos, neste início de ano, nas searas política e econômica. A conspirata é comandada por petistas e autoridades do governo passado que perderam espaço na gestão atual. Eles são habitués do Instituto Lula, apelidado cirurgicamente de “o gabinete das sombras”, e alegam que o PT, ao contrário do que se esperava, não se apossou do poder no mandato em curso. Pior: setores e estrelas do partido perderam feudos na administração, foram ignorados pela presidente e não receberam apoio nem mesmo em temas caros à legenda — entre eles o processo do mensalão. Essas queixas são antigas e nunca foram capazes de sustentar uma sabotagem à presidente. A diferença agora é que petistas também vislumbram a possibilidade de derrota de Dilma na sucessão. Para eles, só Lula é capaz de manter o PT no poder sem que haja riscos para o partido.

Os conspiradores dizem contar com a adesão de empresários e banqueiros de ponta conhecidos pelas estreitas relações pessoais com o ex-presidente Lula. Os aliados dos petistas insurgentes reclamam do intervencionismo da presidente, da falta de planejamento de médio e longo prazos, da precariedade da infraestrutura e da desconfiança que Dilma nutre pelos investidores. Ou seja: da inexistência de um ambiente favorável à execução de projetos. Dilma seria um fator de inibição, enquanto Lula abriria frentes de negócio. “Por que sofrer mais quatro anos?”, perguntou recentemente um influente empreiteiro a um grupo de petistas. O ex-presidente ouve os apelos dos conspiradores com frequência. Como resposta-padrão, afirma que Dilma será a candidata, aprenderá com as críticas e corrigirá rumos. Nada mais previsível. A saída de Dilma da disputa presidencial seria uma operação potencialmente traumática. Aos olhos dos eleitores, a gestora eficiente poderia ser reduzida a mera propaganda enganosa usada para manter o PT no poder.

“O Lula diz ‘não’ a uma nova candidatura, mas não é um "não" convincente. É aquele ‘não’ de vamos observar o cenário”, conta um petista. Os conspiradores apostam que os obstáculos à frente de Dilma minarão a sua candidatura. Na semana passada, oito partidos governistas montaram um bloco independente na Câmara, com 261 deputados, cuja meta é reeleger seus integrantes, e não necessariamente a presidente. Essa tropa votará para afagar suas bases, com aumentos salariais, por exemplo, concorde o governo ou não. A negociação do chamado “blocão” ocorreu num jantar que reuniu parlamentares do PMDB, PR, PP, PSD, PTB, PDT, PSC e PROS — todos partidos com que Dilma espera contar em sua coligação. Na saída do evento, os peemedebistas Henrique Alves, presidente da Câmara, e Eduardo Cunha, líder da bancada, se encontraram no elevador, por obra do acaso, com o deputado André Vargas, que recebia quarenta colegas do PT em outro jantar no mesmo prédio. Vargas convidou os peemedebistas a participar um pouco do convescote. Deu-se um diálogo revelador. “Vocês estavam falando mal de quem?”, perguntou Cunha. “Da mesma pessoa que vocês”, respondeu Vargas.

Dilma sabe da campanha pela volta de Lula. Não o responsabiliza diretamente por isso, mas cobrou explicações dele. Foi numa reunião, em 14 de novembro, no Palácio da Alvorada, da qual também participou o marqueteiro João Santana. No encontro, Dilma deixou claro que não abria mão da candidatura. Já Santana tranquilizou Lula, garantindo que a reeleição estava muito bem encaminhada e que seria pequeno o risco de o PT perder o poder. Lula concordou que era preciso afinar a sintonia dele e do PT com a sucessora e disse que, dali em diante, todo e qualquer gesto seria combinado entre as partes. Os termos da conversa foram transmitidos à soldadesca, que recolheu as armas, mas só temporariamente. O lobby pela candidatura do ex-presidente está na rua com vigor. Talvez por isso a ministra do Planejamento, a petista Miriam Belchior, tenha saudado na quinta-feira, numa entrevista, a “presidenta Lula”. O ato falho não deixa dúvida: a sombra do criador paira, ameaçadora, sobre a Praça dos Três Poderes.

Fonte: Revista Veja

PT-RJ confirma candidatura própria para governador com Lindbergh

Trezentos e cinquenta delegados do diretório regional participaram do encontro

Nomes de expressão nacional marcaram presença para dar respaldo a indicação do nome do senador para governador

Marcelo Remígio

RIO — O Diretório Regional do PT aprovou na manhã deste sábado a candidatura própria ao governo do Rio e a indicação, por unanimidade, do nome do senador Lindbergh Farias. Após pressões do PMDB para que o partido desistisse do voo solo no estado e a ameaça dos peemedebistas de oferecerem, como retaliação, o palanque fluminense ao candidato do PSDB à Presidência, Aécio Campos, Lindbergh procurou mostrar força e respaldo da Executiva Nacional à sua candidatura durante o evento. Com discurso de campanha, o senador fez duras críticas aos adversários, mirando principalmente no governador Sérgio Cabral e no prefeito do Rio, Eduardo Paes, ambos do PMDB.

O encontro foi promovido na quadra da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro, na Tijuca, Zona Norte do Rio, e teve a presença do presidente nacional do PT, Rui Falcão; o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro; a filha do ex-presidente Lula, Lurian da Silva; e de líderes de movimentos sociais, como João Pedro Stédile, que já esteve à frente dos sem-terra.

Lindbergh ainda reuniu toda a bancada fluminense de deputados estaduais e federais petistas - apenas Alessandro Molon não compareceu por integrar a comitiva que acompanha a presidente Dilma Rousseff em viagem à Itália -, além do vice-prefeito do Rio, Adilson Pires.

Sobre as ameaças do PMDB, que podem prejudicar a aliança nacional com PT, Lindbergh afirmou que falta ao partido adversário confiança em seu projeto e em seu candidato, o vice-governador Luiz Fernando Pezão:

— O PMDB tem que confiar no projeto deles. Isso (que eles fazem) não é demonstração de força.

Essa insistência para (o PT) retirar a candidatura parece demonstração de fraqueza. Eles que construam a candidatura deles e nós, vamos com a nossa — afirmou Lindbergh. — A gente teve um encontro estadual legal que aprovou por unanimidade o lançamento da minha candidatura. A presença do presidente do partido, Rui Falcão, serve para legitimar esse momento. Encerra-se o período de especulações, o PT tem candidato ao governo do Estado do Rio.

Lindbergh criticou o sistema de transporte do estado, a crise no abastecimento de água na Região Metropolitana e a política de Segurança Pública do governo Cabral. Também houve críticas às obras e ao custo do projeto Porto Maravilha. Para o senador petista, o governo Paes não pensou na rotina da cidade, dificultando a vida dos moradores da capital e da Região Metropolitana.

Durante o encontro, foi anunciado que o partido negocia alianças com o PCdoB, PSC e com uma dissidência do PDT liderada pelo ex-ministro do Trabalho, Brizola Neto, presente no evento.

— Hoje (sábado), o Partido dos Trabalhadores, durante o seu encontro, que é soberano, consagra, por unanimidade, a pré-candidatura de Lindbergh Farias. O seu slogan expressa que o Rio de Janeiro é para todos os habitantes do Estado — disse Rui Falcão, que defende a união de partidos de esquerda em torno da candidatura do petista e ressalta que a pré-candidatura de Lindbergh foi cercada de "muitas pressões, fofocas, intrigas e ameaça".

O encontro do PT lotou a quadra do Salgueiro com militantes e cabos eleitorais trazidos por pré-candidatos a deputado de municípios da Baixada Fluminense e do interior do estado. Os 350 delegados participantes aprovaram a lista de pré-candidatos à Assembleia Legislativa do Estado do Rio e à Câmara dos Deputados.

Fonte: O Globo

Ferreira Gullar: Me engana que eu gosto

A tentativa de desmoralizar a decisão do Supremo Tribunal Federal, que condenou os responsáveis pelo mensalão, começou com uma falsa indignação e está se tornando molecagem. Não pode ser qualificada de outro modo a atitude do vice-presidente da Câmara, que na sessão solene de abertura do ano legislativo fazia ostensivamente gestos de provocação contra o presidente da suprema corte de Justiça do país.

Sentado ao lado do ministro Joaquim Barbosa, repetia o gesto de José Dirceu e Genoino, quando, ao serem presos, fizeram-se de vítimas de uma discriminação política. Se tais gestos, naquele momento, eram apenas uma descarada farsa, repetidos agora não passam de um desrespeito ao Supremo e ao próprio Congresso Nacional.

Esse desespero dos petistas é compreensível, ainda que inaceitável. É compreensível porque o mensalão pôs a nu o que efetivamente é agora o PT, partido criado para supostamente restaurar a ética na política brasileira. A verdade é que esse partido nunca foi isso. Fingiu ser, e desse modo ganhou a adesão de algumas personalidades destacadas da vida intelectual brasileira.

Essas personalidades deram respaldo à jovem agremiação, cujo principal líder era um operário. Ninguém imaginaria que esse mesmo líder viria, mais tarde, chegado ao poder, aliar-se ao que há de pior na política nacional. Em consequência disso, aquelas personalidades, decepcionadas, deixaram o partido, sendo que algumas delas chegaram a denunciar o logro de que foram vítimas. Mas Lula e sua turma seguiram em frente, porque seu objetivo, após chegar ao poder, é nunca mais sair dele. E daí, entre falcatruas, o mensalão.

Como já disse aqui, o mensalão foi o modo encontrado por Lula de conseguir o apoio dos pequenos partidos sem lhes dar ministérios e empresas estatais, que reservou, na quase totalidade, para o próprio PT, onde empregou seus partidários aos milhares e usou das verbas como quis. Nesse projeto, estava implícito o uso do dinheiro público em função dos interesses do governo.

Logo ficou evidente que partido era aquele e quais seus reais objetivos. Já a vitória de Lula à Presidência da República deveu-se à mudança drástica em sua pregação de candidato. No governo, abriu os cofres do BNDES a grandes empresas privadas, ao mesmo tempo que se apropriava dos programas sociais, criados por Fernando Henrique.

Conforme afirmou recentemente um economista, o dinheiro dado aos empresários foi muitas vezes superior ao destinado ao Bolsa Família, isso sem contar que os empréstimos eram feitos a juros abaixo do mercado, o que permitiu aos empresários aplicar o capital que não investiram em suas empresas e assim ampliá-lo, graças aos altos juros do mercado financeiro.

Tudo isso mostra que do PT surgido em 1980 não restou quase nada. O mensalão não foi inventado por ninguém e, sim, atestado e comprovado por documentos, depoimentos e investigações, levados a cabo pelos órgãos policiais e judiciais. O julgamento desse processo foi feito publicamente, transmitido pela televisão. Cada ministro manifestou sua opinião, suas concordâncias e discordâncias, do que resultou a condenação da maioria dos acusados.

Entende-se que, para um partido, que está no poder há 11 anos e nele pretende se perpetuar, tais condenações pegam muito mal, já que os condenados são gente de sua cúpula. Como explicar, num ano de eleições, que altas figuras do partido tenham sido condenadas pelo Supremo Tribunal Federal?

Como explicar que Henrique Pizzolato, nomeado por Lula diretor do Banco do Brasil, tenha falsificado o passaporte do irmão morto para fugir do país? Ele era membro destacado do PT, tendo sido até candidato do partido ao governo do Paraná.

Impossível explicar aos eleitores tanto vexame e tantas falcatruas. E, sobretudo, impossível negá-las se foram comprovadas e punidas pela mais alta corte de Justiça do país.

Não há outra saída para os petistas senão afirmar que se trata de uma farsa, montada pelos ministros do Supremo. Mas como admitir isso se, dos 11 ministros, oito foram nomeados por Lula e Dilma? O PT só engana mesmo quem quer ser enganado.

E o valerioduto mineiro? É esperar para ver.

Ferreira Gullar, poeta, ensaísta e crítico de arte

Fonte: Folha Ilustrada

Elio Gaspari: O Planalto caiu na arapuca do PMDB

A ideia era simples: um ministro cuidaria da base de apoio e outro lidaria com os movimentos sociais. Primeiro, ferveu Gilberto Carvalho, quando os protestos de rua saíram do nada, de fora do cadastro de convênios do palácio.

Depois, confundiu-se o que seria um desprestígio palaciano da ministra Ideli Salvatti com uma barafunda na qual as lideranças parlamentares não se entendem entre si nem com o Planalto.

O resultado está aí. Numa reforma ministerial de quinta categoria, sem ideia nem projeto, a doutora Dilma vê-se obrigada a cortejar o PMDB indo a jantares inúteis (se não arriscados) na casa do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP).

Enquanto isso, representantes de grandes empresas (Gerdau, Ambev, Andrade Gutierrez, OAS e até a Souza Cruz) foram a outro jantar, pluripartidário, na casa do presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN).

Ano eleitoral é assim mesmo. Empresário que gosta de jantar no Planalto vai à casa de deputado para botar medo num governo assustado. O ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, queixa-se dos empresários que ficam “fazendo beicinho” e propõe que se discuta “a relação”. Essa é a armadilha em que caiu a doutora.

A infantaria do PMDB e a intendência do empresariado entram nessas discussões seguindo o conselho de Ivana, a primeira mulher do folclórico milionário americano Donald Trump. Ela ensinou: “Não fique com raiva, fique com tudo”.

Elio Gaspari é jornalista.

Fonte: O Globo

Dora Kramer: Defesa de territórios

Em tempo de campanha eleitoral antecipada, os partidos de oposição resolveram se adiantar no lançamento dos respectivos candidatos à Presidência da República.

Pela lei, esses atos deveriam acontecer nas convenções que se realizam a partir de 12 de junho (dia do início da Copa do Mundo). Mas, o PSB já quer anunciar a chapa Eduardo Campos e Marina Silva em alguma data logo após o carnaval e o PSDB em princípio escolheu o dia 29 de março para lançar a candidatura de Aécio Neves.

O nome do vice ainda está em discussão, mas há por ora quase unanimidade em torno do nome do senador por São Paulo Aloysio Nunes Ferreira, também tucano.

Uma decisão está tomada: o ato de lançamento será em São Paulo, pelo mesmo motivo que a composição da chapa deixa de adotar como regra a aliança com outro partido e opta pelo critério regional.

Sendo São Paulo o maior colégio eleitoral do País (32 milhões dos 140 milhões de eleitores), a avaliação dos tucanos é que nesse caso uma chapa puro-sangue agrega mais eleitores que uma aliança partidária.

Minas Gerais, palco do lançamento da candidatura do paulista Geraldo Alckmin em 2006, é território dado como ocupado por Aécio, que precisa conquistar a Pauliceia, onde já é bem conhecido do empresariado, mas praticamente um anônimo entre o grande público.

Nos encontros com lideranças regionais do partido o mineiro tem dito uma frase (de efeito, claro) que passará a repetir com frequência: "Me deem São Paulo que eu lhes entrego a Presidência da República".

Pelo raciocínio da densidade eleitoral seria de se imaginar que Eduardo Campos faria seu ato também em terras paulistanas, mas nesse caso a equação é outra.

Leva em conta o peso de Marina Silva no Rio de Janeiro e por isso será lá o anúncio oficial. Em 2010 a então candidata a presidente pelo PV teve 31% dos votos no Rio, a segunda maior votação do País. A primeira obteve em Brasília, onde foi a campeã, com 41, 96%.

Qual a ideia do PSB? Óbvia. Começar a jornada testando o potencial de transferência de votos de Marina para Campos num Estado em que o capital eleitoral dela é forte.

Lançar a candidatura em Pernambuco ou em outro Estado do Nordeste seria chover no molhado; a mesma lógica adotada por Aécio ao não fazer em Minas. Muito embora nenhum dos dois pretenda deixar os respectivos Estados de lado, obedecendo à regra segundo a qual se começa a ganhar uma eleição "em casa".

Os "tiros" iniciais refletem apenas os alvos escolhidos como pontos de partida. E note-se que os dois continuam a atuar numa espécie de parceria não escrita. Embora ambos precisem do Rio e de São Paulo, nem Aécio nem Campos "invadiram" as arenas escolhidas por um e por outro para oficializar as candidaturas.

Até quando vai durar o pacto de não agressão é uma pergunta que no mundo político todos fazem. Mas os candidatos não parecem afobados. Sabem que a hora chegará, mas que não é para já. Por enquanto precisam conquistar terreno.

Isso quer dizer se tornar conhecidos do eleitorado. Espaço há. A presidente Dilma Rousseff, conhecida por 99,6% das pessoas consultadas nas pesquisas, tem 43,7% das intenções de votos.

Na última consulta divulgada pela CNT, na semana passada, 12,1% diziam preferir que o próximo eleito (ou eleita) continue "totalmente" a governar da forma atual. Só que 37,2% afirmaram o contrário: querem que o governo seguinte mude completamente a maneira de atuar.

De onde parece evidente que o favoritismo decorre da exposição da presidente em contraste com menor número de canais de comunicação à disposição dos oponentes.

Se realidade ou mera impressão, poderemos conferir a partir do meio do ano, quando a lei proíbe propaganda de governo e, apesar de Dilma contar com 70% do horário eleitoral, nos programas de TV - notadamente o Jornal Nacional -, todos têm espaço igual garantido. Foi o que, em 2010, fez a fama de Marina.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Eliane Cantanhêde: Como dantes

Lamento informar que o Brasil não é mais o queridinho das reuniões multilaterais. Perdeu a graça, está voltando ao velho patamar.

A economia bombando, Lula encantando plateias mundo afora e Amorim se metendo até no Oriente Médio são coisas do passado.

Hoje, a política econômica é sem brilho e errática, e a externa, pouco ambiciosa. O resultado são índices macroeconômicos medíocres e falta de presença internacional, que deságuam em desconfiança. Amorim deve estar insone com a desconstrução do seu legado. Como Lula...

Parte da culpa é das estrelas e do momento. Lula perdeu três eleições para ganhar justamente quando as condições internas e externas eram favoráveis. FHC deixou as bases, o dinheiro corria farto no mundo, e o carisma de Lula fazia o resto.

Na América do Sul, Lula à esquerda, Michele Bachelet (Chile) ao centro, Álvaro Uribe (Colômbia) à direita saíram, todos, com alta popularidade. Por quê? Entre os principais motivos, condições de tempo e temperatura muito favoráveis. Dilma não teve a mesma sorte nem a visão estratégica. Primeiro, veio a crise financeira mundial irradiada dos EUA. Agora, os EUA e a Europa se recuperam, há interrogações sobre a China, e o Brasil volta ao seu lugar secundário sem ter aproveitado o mar de oportunidades da crise dos países ricos.

Parte da culpa é da teimosia de Dilma, que --como diz um adversário-- não só acha que sabe tudo como acha que só ela sabe tudo. Teimosia gera centralização, que inibe o embate de ideias e a criatividade.

No G20 financeiro, em Sydney, fica claro que se encerrou um ciclo: só se fala de EUA e Ásia. Tudo como dantes no quartel de Abrantes.

Depois de longas análises sobre o fim da crise e as perspectivas da Ásia, os conferencistas lançam alertas para os emergentes e concedem umas poucas palavras para um bloco diferente: a África e a América do Sul. É o balaio do rebaixamento.

Fonte: Folha Online