terça-feira, 17 de abril de 2018

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso

(...) “Mais do que nunca, é imperativo interpretar o mundo para poder transformá-lo”

(...) “É preciso apoio do eleitor, mas esse apoio não é dado para sempre. Cada decisão tem que ser explicada. O processo de convencimento é um ato permanente de revalidação da legitimidade ou não do governante.”

(...) “Estamos diante de uma encruzilhada: ou bem seremos capazes de reinventar o rumo da política, ou cedo ou tarde a indignação popular explodirá nas ruas, sabe-se lá contra quem e a favor do quê. Ou, o que é pior, o reacionarismo imporá ordem ao que lhe parecerá o caos.”

(...) “Não estamos atados a alianças automáticas e, a despeito de nossas crises políticas, erros e dificuldades, nos encontramos em um patamar econômico mais elevado do que no tempo da Guerra Fria: criamos uma agricultura moderna, somos o país mais industrializado da América Latina e avançamos em setores modernos de serviços, especialmente no de comunicação e financeiro. Somos uma democracia, apesar das eventuais dificuldades de nosso sistema político.”

(...) “os inimigos da mudança, os adversários da contemporaneidade: de um lado o estatal-corporativismo, de outro o fundamentalismo de mercado. Ambos incompatíveis com o mundo contemporâneo.”

(...) “Se não tivermos êxito na construção dessa alternativa corremos o risco de levar ao poder quem dele não sabe fazer uso ou o faz para proveito próprio. E nos arriscamos a perder as oportunidades que a História nos está abrindo para termos um rumo definido.”

(...) “um novo polo democrático e popular que se afirme como alternativa tanto à direita autoritária e retrógrada quanto à volta de utopias regressivas como prega boa parte das esquerdas. Não há nada mais urgente a se fazer, quando se olha para as eleições de 2018 e para além delas”.

(...) “são as causas, os movimentos identitários, as reivindicações de liberdade lançadas por grupos e movimentos na sociedade.”
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Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, ex-presidente da República, do livro “Reinvenção da Política no Brasil” trechos citados no artigo de José Casado, "Rebeldia para reinventar a política, sugere FH”, O Globo, 16/4/2018.

Merval Pereira: Marina na disputa

- O Globo

A ex-senadora Marina Silva surge como a grande beneficiária da saída do ex-presidente Lula da campanha presidencial na mais recente pesquisa do Datafolha. Ela está empatada tecnicamente na liderança com o deputado federal Jair Bolsonaro e à frente de políticos tradicionais com fortes estruturas partidárias, como Geraldo Alckmin do PSDB e Ciro Gomes do PDT.

Esse quadro de momento reforça a ideia de que, nesta campanha presidencial, quem tem voto não tem estrutura partidária nem tempo de televisão, e quem os tem, não tem voto. Marina classifica os seus dez segundos de propaganda eleitoral em cada bloco diário como “mais do que insuficiente”, e atribui a divisão do fundo partidário e do tempo de televisão a um acordo dos grandes partidos “para que a sociedade brasileira não ouse mudar”.

Mas, em seu estilo próprio, diz que “200 milhões de brasileiros são sempre maiores do que aqueles que se sentem donos do poder”. Ela conta que continua dialogando com diversos partidos, “mas com uma atitude de respeito”, porque considera que, em uma eleição de dois turnos, é legítimo que os partidos queiram levar sua mensagem aos eleitores.

“Conversar não significa necessariamente que fulano tem que desistir de seus projetos iniciais. A gente vai amadurecendo no processo até o momento de formalizar alianças. Tem muito tempo pela frente”, diz ela. Embora reconheça que não é uma tarefa fácil, devido à fragmentação das candidaturas, Marina diz que “se a violência, a mentira e a assimetria dos meios para divulgar as mensagens forem minimamente superadas, a sociedade pode fazer, desta vez, o que tentou em 2014 e não conseguiu, que é ter uma vitória para chamar de sua, e não das estruturas partidárias”. Nessa eleição e na anterior, em 2010, Marina teve cerca de 20 milhões de votos em cada uma, mas não foi para o segundo turno.

Eliane Cantanhêde: Ao deus-dará

- O Estado de S.Paulo

Alckmin está espremido entre Joaquim, a novidade, e Bolsonaro, que bate no teto

Todo dia aparece um presidenciável novo, Henrique Meirelles, João Amoêdo, Flávio Rocha, Guilherme Boulos, Manuela d’Ávila... Mas nenhum deles embaralhou o tabuleiro da eleição como o recém-chegado Joaquim Barbosa. O foco está nele.

Mas, afinal, que apito Joaquim toca? Ele é de esquerda, direita ou centro? Está preparado para combater a crise fiscal? Na verdade, ninguém sabe, ele continua calado, longe da campanha e contando com uma aura que anima amplos setores da classe média escolarizada e pode vir a encantar a baixa renda.

O PSB, já tão rachado, tem de correr atrás de recursos, tempo de TV e palanques estaduais. A questão é saber de onde virão esses reforços, já que Joaquim não é político, nunca teve partido nem fez campanha e não se sabe o que pensa. Esses fatores atraem eleitores, mas afastam aliados políticos.

A história de Joaquim é tão emocionante quanto a de Lula, de menino negro que saiu de um lar modesto, estudou, passou em concursos de ponta e virou ministro e presidente do Supremo. Mas que chance ele tem de levar o apoio do PT e de Lula? Joaquim presidiu a fase final do julgamento do mensalão, que expôs as entranhas do governo Lula e levou o mito petista José Dirceu à prisão.

Míriam Leitão: Incertezas até o voto

- O Globo

Faltam 173 dias para as eleições, e ainda não se sabe quem estará na urna. Mesmo assim a pesquisa do fim de semana do Datafolha mostra alguns pontos importantes. Geraldo Alckmin tem um baixo nível de intenção de votos para quem já governou por quatro vezes o maior colégio eleitoral do país. O ex-ministro Joaquim Barbosa teve boa pontuação para quem nunca concorreu e ainda nem definiu sua candidatura.

O ex-presidente Lula continua o favorito em qualquer cenário em que esteja, mesmo caindo de 37% para 31%. No meio, entre uma e outra pesquisa, ele foi preso e subiu o número dos que acham que ele não será candidato. Dentro do PT, havia quem tivesse expectativa de que ele crescesse ao ser preso, por uma reação da população. Lula transformou a exposição, que seria só negativa, em comício e mobilização. Caiu na pesquisa, mas permanece líder de qualquer cenário em que esteja.

O que é difícil de medir é o seu potencial de transferência de votos. Dos entrevistados, 30% dizem que com certeza votariam numa pessoa apoiada por Lula e 16% dizem que talvez votassem. Entre seus apoiadores, o índice dos que seguem a sua indicação chega aos dois terços. Mesmo assim, tanto Jaques Wagner quanto Fernando Haddad, que podem ser esse candidato, têm um percentual mínimo, de 2% a 3%, de intenção de voto. Nenhum dos dois é visto como o candidato que pode vir a ter o apoio de Lula. No comício antes de ir para a prisão, Lula falou pouco de Fernando Haddad, não citou o ausente Jaques Wagner, e destacou Manoela D’Ávila e Guilherme Boulos. Mas para o eleitorado consultado ele ainda não tem herdeiro. Quem de fato cresce na perspectiva de Lula não ser candidato, em todos os cenários, é Marina, seguida de Ciro.

Bernardo Mello Franco: Lula está fora, mas está dentro

- O Globo

Lula está barrado pela Lei da Ficha Limpa e, ao que tudo indica, não sairá tão cedo da cadeia. Mesmo assim, será uma peça central no xadrez da eleição. É o que indicam os números que o Datafolha divulgou no domingo.

Apesar da prisão, o ex-presidente continua a liderar a pesquisa com folga. Nos cenários em que aparece como candidato, ele tem mais que o dobro das intenções de voto do segundo colocado, o deputado Jair Bolsonaro (31% a 15%).

Na ausência do petista, quem assume a dianteira é a soma de brancos, nulos e indecisos. O “não voto” chega a 27% dos entrevistados, um índice inédito a seis meses de uma sucessão presidencial. Isso reforça o alto grau de imprevisibilidade da disputa.

Sem Lula, para onde vão seus votos? Se a eleição fosse hoje, os maiores herdeiros seriam Marina Silva e Ciro Gomes. No entanto, é difícil dizer que eles dividirão o espólio em outubro. Por uma razão simples: até lá, o eleitor será apresentado ao candidato do ex-presidente.

Hélio Schwartsman: O espírito da incerteza

- Folha de S. Paulo

Pesquisa sugere que a eleição presidencial deverá ser mais imprevisível até do que a de 1989

A pesquisa Datafolha sugere que a eleição presidencial deste ano deverá ser mais imprevisível até do que a de 1989. Se naquele pleito os candidatos brigavam para ver quem disputaria o segundo turno contra Fernando Collor de Mello, que em abril liderava com 17% das intenções de voto, agora não há nenhum postulante que pareça ter passagem assegurada para o segundo escrutínio.

Lula, que excede os 30%, está fora. Mesmo que venha a ser solto, está impedido de concorrer pela Lei da Ficha Limpa. Jair Bolsonaro atinge os 17%, mas há indícios de que esse seja seu teto. Um segundo pelotão composto por Marina Silva, Joaquim Barbosa, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin marca entre 7% e 16%. Em princípio qualquer um tem condições de passar para o segundo turno.

Não devemos, contudo, deixar que o espírito da incerteza nos leve para o território dos delírios. Embora estejamos diante de uma eleição especialmente imprevisível, ainda lidamos com um processo de escolha levado a cabo por seres humanos no planeta Terra, o que basta para estabelecer padrões e tendências.

Joel Pinheiro da Fonseca:Vencer a polarização

Adicionar legenda
- Folha de S. Paulo

A polarização é um subproduto de nosso instinto tribal; somos, na maior parte do tempo, animais individualistas

A polarização política e ideológica, isto é, a crescente divisão da sociedade em grupos bem delimitados e que não se toleram, é negativa para a ordem social. Em uma sociedade polarizada, o governo carece da cooperação interna necessária para funcionar direito, e sabotar o lado contrário se torna mais importante do que agir em conjunto para atingir um objetivo partilhado.

Cada lado se fecha em suas posições, ficando assim imune a correções e sujeito a exageros e erros; a confiança de que depende a ordem institucional é colocada em risco conforme cada lado viola as regras do jogo tanto quanto possível, na expectativa de que o outro lado fará a mesma coisa; abole-se a concepção de bem comum, substituído pela guerra de uns contra outros; e, por fim, a própria convivência entre as pessoas se degenera, com discussões, brigas e maus sentimentos tomando uma parte maior do nosso tempo.

A polarização é um subproduto de nosso instinto tribal. Somos, na maior parte do tempo, animais individualistas. Em certos contextos, no entanto, priorizamos o coletivo e objetivos comuns. Essa capacidade coletiva (que não está presente em nenhum outro primata) é o que permite cooperação em larga escala, mesmo entre pessoas sem nenhum parentesco, e que nos dá um sentido de comunidade.

Por outro lado, a manutenção da identidade coletiva exige a identificação de um grupo inimigo contra o qual se contrapor, seja uma torcida de futebol, seja uma militância partidária. Estamos na mentalidade da tribo.

A política desperta em nós esse mecanismo, que acaba sendo usado por líderes dos diferentes campos para levá-los ao poder. Nesse jogo, nossas crenças, valores e propostas, em vez de estarem sujeitos à reflexão individual, buscam apenas reproduzir nossa identidade tribal.

Além disso, ser um expoente purista e total dos símbolos da tribo confere status dentro dela. Apresentar uma visão matizada e mesmo com alguma crítica gerará má vontade do grupo e tende a isolar o sujeito.

Fernando Exman: A esquerda menos lulodependente em 2018

- Valor Econômico

Partidos já iniciaram debates programáticos

O PT pode até insistir na manutenção da pré-candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, mas terá menos tempo do que gostaria até que as várias forças e o eleitor de esquerda definam que rumo tomarão nas próximas eleições. Excluindo o próprio Lula, que mais cedo ou mais tarde deve ser enquadrado na Lei da Ficha Limpa e impedido de concorrer a qualquer cargo em outubro, os representantes deste campo político mais bem posicionados na disputa presidencial são justamente os que têm evitado orbitar em torno do petista e o projeto de defesa da sua biografia e do projeto de poder do PT.

Preso há dez dias, Lula continua sendo o pré-candidato com os índices mais elevados de intenção de voto e poder de influência no pleito, mas já começa a ver seu apoio popular diminuir. Com perspectiva de poder decrescente, em razão das dificuldades para enviar suas mensagens para fora do cárcere e diante da possibilidade de sofrer novas condenações, o ex-presidente corre o risco de ver seu respaldo popular e político minguar.

Segundo a mais recente pesquisa do Datafolha, com Lula fora do páreo, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) e a Marina Silva (Rede) pulariam para a liderança. Mas não é somente a ex-senadora que seria capaz de representar a esquerda de forma competitiva num eventual segundo turno, seja contra o próprio Bolsonaro ou ante o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB). O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) também. Em outras palavras, a sondagem demonstra que a esquerda não estaria condenada a ficar à margem da disputa, caso Lula seja barrado pela Justiça.

A pesquisa também já captou o potencial eleitoral do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa (PSB). E ajudou a consolidar a visão de que os aliados dispostos a sustentar a pré-candidatura de Lula o quanto for possível não empolgam o eleitor.

Luiz Carlos Azedo: Lula indica

- Correio Braziliense

A pesquisa DataFolha estimula a “candidatura” de Lula, mas fragiliza a legenda na hora de substituí-lo, pois seus votos não migram facilmente para os petistas

A juíza Carolina Moura Lebbos, da 12ª Vara da Justiça Federal de Curitiba (PR), autorizou a visita, hoje, dos senadores da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado à Superintendência da Polícia Federal para verificar as condições da prisão de Luiz Inácio Lula da Silva e outros presos. O ex-presidente está preso na sede da PF desde o dia 7 de abril, quando se entregou em meio a manifestações de solidariedade de petistas e aliados de esquerda, no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo (SP).

Os senadores Regina Sousa (PT-PI), Paulo Paim (PT-RS), Vanessa Grazziotin (PC do B-AM), Lindbergh Farias (PT-RJ, Gleisi Hoffmann (PT-PR), Roberto Requião (MDB-PR), Paulo Rocha (PT-AM), João Capiberibe (PSB-AP), Fátima Bezerra (PT-RN), Lídice da Mata (PSB-BA), Humberto Costa (PT-PE), José Pimentel (PT-CE), Telmário Mota (PTB-RR) e Ângela Portela (PDT-RR) estão em campanha eleitoral, a maioria pela reeleição ao Senado, e dão ao ex-presidente da República o status de preso político, embora Lula tenha sido condenado por crime comum: corrupção.

A última pesquisa DataFolha, na qual Lula aparece em primeiro lugar nas pesquisas em todos os cenários em que seu nome foi apresentado, só aparentemente corrobora a estratégia petista de politizar o processo judicial, com objetivo de tirar o maior proveito eleitoral possível. Repete-se uma velha tática da esquerda brasileira, adotada pelo falecido líder comunista Luís Carlos Prestes depois que teve seu mandato cassado e a legenda do PCB posta na ilegalidade: “Prestes indica”. Seguia-se a nominata de candidatos, que disputavam o pleito por outras legendas.

O expediente funcionou precariamente até 1964, mas foi particularmente desastroso naquele ano, porque a linha adotada pelos comunistas após o Manifesto de Agosto de 1950, de radical oposição ao governo Dutra e resistência à repressão às suas atividades, resultou na derrota de todos os candidatos indicados, com exceção do sindicalista Roberto Morena, que era um dissidente da política de confronto e radicalização, mas sobreviveu aos expurgos stalinistas em razão de sua trajetória romanesca.

Em 1924, ele ingressou no PCB. Preso em 1932 na Ilha Grande (RJ), em função de sua participação na organização da greve da São Paulo Railway, foi posto em liberdade em 1934, ano em que se exilou no Uruguai — lá foi detido duas vezes. De volta ao Brasil, assumiu em fins de 1935 um posto na direção do PCB. Foi preso novamente em 1936, sendo detido no Rio de Janeiro até a “Macedada” (anistia que serviu de armadilha para o Plano Cohen e o golpe do Estado Novo), em junho de 1937. Seguiu para a Espanha, para integrar as forças republicanas na Guerra Civil Espanhola. Com a vitória dos franquistas, refugiou-se na Argélia. Nesse mesmo ano, transferiu-se para a União Soviética, onde trabalhou em uma fábrica de tratores.

De volta ao Brasil, Morena assumiu, em 1943, o trabalho de reorganização do PCB, sendo novamente preso. Em 1945, tornou-se secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores do Brasil (CTB), fundada na ocasião. Com a repressão de Dutra (1946-1951) e o fechamento da CTB, exilou-se em 1947 no México. Retornando ao Brasil em 1950, elegeu-se deputado federal na legenda do Partido Republicano Trabalhista (PRT).

Erro estratégico
A situação do PT é diferente da descrita acima, a legenda não está proscrita nem existe guerra fria; em contrapartida, o PCB não estava envolvido em denúncias de corrupção, ao contrário do PT, que ocupa o vértice do “mecanismo” investigado pela Operação Lava-Jato, a ponto de Lula acabar indiciado em vários processos, entre os quais, o que o levou à condenação e à prisão. A semelhança principal, porém, está no discurso político radical e na tática de enfrentamento com a Justiça, que para o PCB foi um desastre maior que a guerra fria. Por incrível que pareça, há uma linha de continuidade de ideias cujo elo é a glamourização, pelos comunistas, do levante militar de 1935, comandado por Prestes, e da luta armada na resistência ao regime militar, liderada por Carlos Marighela, após o golpe de 1964, pelos petistas.

Almir Pazzianotto Pinto*: Cláusulas pétreas da Constituição

- O Estado de S.Paulo

Teriam os constituintes tentado antever como seria a aplicação concreta da Carta de 88?

Incandescentes debates sobre o recolhimento à prisão de réu condenado por Tribunal de Justiça ou Tribunal Regional Federal, antes de se esgotarem os recursos constitucionais ou legais, recomendam o exame do tratamento dispensado pela Constituição aos Direitos e Garantias Fundamentais previstos no Título II e relacionados no Capítulo I, como Direitos Individuais e Coletivos.

Conhecer a Lei Superior é direito do povo e obrigação de magistrados, procuradores, advogados, economistas, jornalistas, cientistas políticos, acadêmicos de Direito. Não apenas a de 1988, mas, também, as sete anteriores, para lhes encontrar as raízes históricas e procurar entender os ajustes e desajustes com as nossas múltiplas realidades.

O preâmbulo da Constituição é a síntese dos objetivos políticos que serviram de norte durante o processo de sua elaboração. A introdução à Carta de 1937 aludia “ao estado de apreensão criado no país pela infiltração comunista, que se torna dia a dia mais extensa e mais profunda, exigindo remédios de caráter radical e permanente”. O preâmbulo da Constituição de 1946 era simples. Afirmava que os representantes do povo brasileiro se haviam reunido, sob a proteção de Deus, “para organizar um regime democrático”. A Constituição de 1967 não foi apresentada, mas a Emenda n.º 1/1969 trouxe longa justificativa dos militares que a outorgaram.

A Constituição de 1988 traduz, no prefácio, o espírito predominante na Assembleia Nacional Constituinte. Ali se escreve sobre reunião destinada a “assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos”.

Sem Lula, Marina cresce em segmentos de eleitores do PT

Pré-candidata sobe no Nordeste e entre brasileiros de menor renda

Sérgio Roxo | O Globo

-SÃO PAULO- O detalhamento da pesquisa do Datafolha divulgada no domingo indica que a pré-candidata Marina Silva (Rede) ganha espaço entre os eleitores clássicos do PT nos cenários em que o ex-presidente Lula é retirado da disputa. O levantamento mostra que o desempenho da ex-ministra tem uma melhora substancial no Nordeste e entre a parcela mais pobre e menos escolarizada do eleitorado quando o ex-presidente está fora.

Com o ex-presidente na disputa, Marina, ministra do Meio Ambiente do governo Lula entre 2003 e 2008, tem entre 7% e 9% no Nordeste. Sem o petista, a pré-candidata da Rede fica com 16% em qualquer cenário testado, e seria a primeira colocada, à frente do pré-candidato Jair Bolsonaro (PSL).

No grupo de eleitores que ganham até dois salários mínimos, Marina soma 11% ou 12% das preferências quando Lula aparece como opção de voto. Mas, com o petista fora, ela sobe para 18% ou 19% a depender do cenário. Entre eleitores apenas com ensino fundamental, a pré-candidata da Rede oscila entre 9% e 11% quando o petista é uma opção, e sobe para 16% ou 17% sem ele.

CIRO TAMBÉM É BENEFICIADO
Tanto nas últimas disputas presidenciais como nas pesquisas feitas para a eleição deste ano, o melhor desempenho dos candidatos do PT é verificado no Nordeste e entre a população mais pobre e menos escolarizada.

O Datafolha faz três simulações de cenário com a presença de Lula. Neles, seu índice de voto no Nordeste varia entre 49% e 51%. Entre os que ganham até dois salários mínimos, obtém entre 37% e 39%. Já no grupo de eleitores de ensino fundamental, o petista fica com 37% ou 38%.

O PT tem reafirmado a intenção de registrar a candidatura de Lula na disputa eleitoral, mas, condenado em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá, o ex-presidente seria enquadrado na Lei da Ficha Limpa. Lula está preso desde o último dia 7 depois de o Tribunal Regional Federal (TRF-4) aumentar a sentença para 12 anos e um mês de prisão.

Barbosa ainda enfrenta resistências no PSB

Boa performance na pesquisa, porém, reforça ala a favor da candidatura

Sérgio Roxo | O Globo

-SÃO PAULO- Apesar dos bons números registrados no Datafolha, em que marcou até 10% das intenções de voto, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa ainda deve enfrentar dificuldades no PSB para se consolidar como candidato a presidente da República. Segundo integrantes do partido, há ainda oposição interna ao nome de Barbosa em estados do Nordeste, e até agora nenhum dos cinco governadores da sigla declarou apoio explícito a ele.

O próprio ex-ministro ainda não declarou que pretende ser candidato. De qualquer forma, para ter o nome e a foto na urna eletrônica, a avaliação no PSB é que Barbosa precisará conquistar o apoio do grupo de Pernambuco. O estado é ligado à história do partido por causa dos ex-governadores Miguel Arraes (1916-2005) e Eduardo Campos (1965-2014). Afilhado político de Campos, o atual governador do estado, Paulo Câmara, pretende postergar qualquer definição sobre o posicionamento da legenda na eleição presidencial.

Uma questão da eleição local pode acabar influenciando na adesão ou não de Câmara. O governador pernambucano, que na semana passada chegou a ir a Curitiba para tentar visitar o ex-presidente Lula na cadeia, quer que o PT retire a candidatura da vereadora Marília Arraes ao governo estadual. Neta de Miguel Arraes e prima de Campos, ela é vista como uma ameaça à reeleição do atual governador. Nas conversas, o PT tem cobrado uma sinalização de apoio do PSB na eleição presidencial ou, pelo menos, um não comprometimento com adversários do PT, para intervir contra a candidatura de Marília em Pernambuco.

Márcio França defende chapa com Alckmin e Barbosa para a Presidência

Candidato à reeleição em São Paulo, França afirma que trabalhará para que o PSB una os dois nomes

Géssica Brandino, José Marques | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O governador de São Paulo Márcio França (PSB) defendeu a formação de uma chapa entre Geraldo Alckmin (PSDB), de quem é sucessor, e o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa (PSB) para a Presidência.

Segundo ele, neste momento Alckmin é o mais preparado para ocupar o Planalto, mas o partido decidiria até julho se Barbosa se tornaria vice-candidato na chapa do tucano ou disputaria sozinho.

"O fato de ele [Barbosa] querer entrar para a política e de colocar o nome dele à disposição do partido é uma honra para nós. Agora decidir se vai ser candidato a presidente ou vice-candidato a presidente é uma coisa que a gente vai fazer mais à frente, de acordo com o andar da carruagem", afirmou, após evento no Ministério Público de São Paulo.

França, que diz ter se encontrado com o ex-ministro apenas uma vez, afirma esperar que a aliança aconteça em "regime de conciliação".

A primeira vez que o governador defendeu Barbosa na chapa de Alckmin foi na manhã desta segunda (16), em entrevista à Rádio Bandeirantes. Ele afirmou que pretende convencer seu partido até as convenções de julho, nas quais são oficializados os nomes para as eleições, a unir os dois nomes.

“Quem sabe até lá não convenço o nosso partido de trabalhar para o Alckmin e quem sabe encontrar um jeito de juntar a figura importante, carismática do ex-ministro Joaquim Barbosa ao governador Alckmin. Seria uma grande chapa, fabulosa. Juntaria uma pouco da novidade, a altivez, altitude moral do Joaquim Barbosa —que não é um político, mas é muito querido— com Alckmin."

Barbosa aparece no Datafolha com 10% das intenções de voto.

França comentou os números da pesquisa Datafolha na disputa pela Presidência, que mostram o tucano alcançando apenas 8% do eleitorado. “Me parece injusto. Convivi com esse moço por sete anos e posso garantir que nunca convivi com alguém tão idôneo. Exemplar e rigoroso com ele próprio. Quando as pessoas pedem por alguém ser correto, esse alguém é o Alckmin. Gostaria muito que São Paulo reconhecesse Alckmin como o melhor candidato”, afirmou à rádio.

PSB já vê consenso para candidatura de Barbosa

Resistência ao nome do ex-ministro do Supremo é superada internamente, afirma presidente da legenda; reunião nesta semana vai definir calendário de viagens

Eduardo Kattah, Pedro Venceslau e Igor Gadelha | O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO E BRASÍLIA - Dez dias depois de se filiar ao PSB, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa já é considerado o virtual candidato do partido à Presidência da República. A resistência inicial a um projeto eleitoral encabeçado pelo ex-ministro foi superada internamente, disse nesta segunda-feira, 16, ao Estado o presidente do PSB, Carlos Siqueira.

“Havia dúvidas, mas ao longo do tempo elas foram se atenuando. Hoje (a candidatura) é um consenso. Vai ser possível anunciar em breve”, afirmou Siqueira. A entrada do ex-ministro do STF na arena da disputa presidencial ganhou impulso significativo após a divulgação de pesquisa Datafolha, no domingo.

Nos cenários que incluem ou excluem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Barbosa alcança de 8 a 10 pontos porcentuais e fica à frente ou empatado (sempre dentro da margem de erro) de pré-candidaturas já consolidadas, como a de Geraldo Alckmin (PSDB) e Ciro Gomes (PDT). O resultado deixou Barbosa impressionado. Segundo um interlocutor, seu nome aparece em um patamar competitivo sem ele “abrir a boca e sem praticamente sair de casa”.

Nos últimos meses, o ex-ministro do Supremo se manteve recolhido à espera de uma “segurança mínima” do PSB para ingressar no partido. O processo de filiação superou desconfianças mútuas e o ritual do lançamento de Barbosa já está sendo preparado. Ele deve se reunir na quinta-feira, em Brasília, com a cúpula da sigla e líderes do PSB para discutir um calendário de viagens pelos Estados.

Antes resistente ao projeto de Barbosa, o governador de Pernambuco, Paulo Câmara, passou a considerar que o ex-ministro “se enquadra” no perfil de centro esquerda que o PSB quer e elogia a trajetória dele. Câmara convidou Barbosa para conhecer o modelo de gestão em Pernambuco. O governador, no entanto, é contra anunciar agora a pré-candidatura de Barbosa.

FHC diz que Alckmin é competitivo, mas eleição será difícil

Ex-presidente afirmou que alto número de candidaturas prejudica campanha do tucano, em entrevista concedida à rádio CBN

Marcelo Osakabe | O Estado de S.Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse considerar que o ex-governador de São Paulo e presidenciável tucano, Geraldo Alckmin, é um nome competitivo, mas que a eleição deste ano deve se mostrar difícil porque tem várias candidaturas, sem que nenhuma desponte.

Para o cacique tucano, Alckmin tem chances não só porque venceu várias eleições no Estado de São Paulo, mas também porque deve dispor de uma aliança política maior que a de outros candidatos este ano.

"Temos que lembrar que a eleição é casada. As alianças eleitorais pesam, o tempo de televisão pesa", disse FHC em entrevista concedida à rádio CBN. O tucano teceu os comentários após comentar sobre a situação do deputado Jair Bolsonaro (PSL), que, em sua opinião, sobe nas pesquisas porque a população está insegura e quer ordem. "Agora, vamos ver na campanha o que ele vai dizer, como as forças sociais vão se colocar", disse.

Sobre quais candidaturas se mostram competitivas no momento, o tucano disse que só os embates públicos entre os candidatos devem mostrar isso. Para o ex-presidente, será competitivo aquele que tiver mensagem e capacidade de repassá-la ao eleitorado, mas que também é preciso ter capacidade de governar e de dialogar com o Congresso. "Para governar, não basta mensagem", disse.

O ex-presidente evitou comentar sobre a candidatura do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, que se filiou na semana passada ao PSB, mas notou que o jurista deixou uma lembrança positiva por sua atuação no mensalão. Ele também voltou a dizer que não estimulou a candidatura do apresentador de TV Luciano Huck. "Não estimulei Luciano, estimulei tudo que é novo. Acho importante abrir espaço para lideranças novas", comentou.

'Centro' pode se unir nas eleições, diz ACM Neto

Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - O prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), diz que os partidos que se intitulam como de "centro" podem se unir em torno de uma candidatura nos próximos meses, com o objetivo de ampliar as chances de o bloco manter o comando do Palácio do Planalto a partir de 2019. O presidente nacional do DEM deixa em aberto, inclusive, a possibilidade de o pré-candidato da legenda, presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), abrir mão de suas pretensões e se aliar ao pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, hoje à frente nas pesquisas eleitorais.

"Ninguém que quer ser apoiado pode deixar de avaliar a possibilidade de apoiar também. Não seria correto. Agora, isso não diminui a nossa disposição muito firme de ir adiante e ir até o fim. Eu particularmente acho que vai chegar um momento mais adiante que nós vamos ter que avaliar nesse campo do centro democrático qual é a melhor estratégia: se é buscar uma unificação, se é caminhar com mais de uma candidatura, se é só se unir em um eventual segundo turno. Para mim, não está claro qual será o caminho", disse ACM Neto, em entrevista ao Valor.

Ainda que o campo do chamado "centro" seja representado por mais de uma pré-candidatura, ACM Neto não acredita que Maia deva enxergá-las como adversárias. Para ele, quem faz o contraponto às pretensões eleitorais do presidente da Câmara são os nomes ligados à oposição do governo do presidente Michel Temer e que gravitam em torno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso no dia 7 de abril, após determinação do juiz Sergio Moro.

"Ainda não há nada consolidado. O Alckmin aparece um pouco melhor nas pesquisas e isso é natural dado o recall que ele tem de já ter disputado uma eleição presidencial, de ter saído na frente ao anunciar uma pré-candidatura antes dos demais. Mas isso não quer dizer que a gente não tenha espaço para crescer. Quando chegar o período das convenções, se nós tivermos uma candidatura mais forte, nada nos impede de sentar à mesa com o PSDB e solicitar que o partido avalie a possibilidade de apoiar a candidatura de Maia", defendeu ACM Neto.

Divulgada no fim de semana, a pesquisa do Datafolha mostrou o tucano como o candidato de "centro" mais viável, variando entre 7% e 8% das intenções de voto. Maia, por sua vez, conta com um apoio bem mais magro (1%).

Ainda assim, o prefeito de Salvador, que é considerado um dos principais conselheiros da pré-campanha do presidente da Câmara, disse que a palavra desistência não está no horizonte do parlamentar. O presidente nacional do DEM negou que o partido tenha estabelecido uma meta para que Maia alcance para garantir que sua pré-candidatura seja mantida. "Esse piso de intenção de voto não existe. O nosso principal objetivo é que sua candidatura supere o dia 7 de outubro e torne-se vitoriosa em um eventual segundo turno. Ninguém aqui, neste momento, sequer trata da possibilidade de desistência. É óbvio que esse quadro de pulverização ajuda, sobretudo, porque Rodrigo terá nesses próximos quatro meses a possibilidade de ser reconhecido como candidato pelo Brasil. Se o quadro fosse de polarização, onde duas candidaturas já despontassem como favoritas, talvez fosse mais difícil começar do patamar que a gente começou. Num quadro pulverizado, é muito mais fácil começar num patamar mais baixo e encontrar um caminho para crescer", afirmou Neto.

Ainda que as pesquisas de intenção de voto coloquem Lula e o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ) como favoritos na corrida presidencial, o prefeito de Salvador não acredita que o eleitorado se dividirá entre duas "candidaturas de extremo".

"Acho que hoje estão depositados no Bolsonaro eleitores que não serão dele na eleição. Eleitores que, quando enxergarem uma alternativa do centro, mais equilibrada, vão migrar para essa alternativa", avaliou Neto.

O desafio das eleições: Editorial | O Estado de S. Paulo

Realizada entre os dias 11 e 13 de abril, a última pesquisa do Datafolha sobre a intenção de voto para presidente da República mostrou uma vez mais que o eleitor ainda está à espera de um candidato para chamar de seu. Na enquete relativa à intenção de voto espontânea, em que não é apresentada uma lista com os possíveis candidatos, 46% dos entrevistados não apontaram nenhum nome e 21% declararam espontaneamente que votarão em branco ou nulo nas próximas eleições. São dois terços da população que, a menos de seis meses do primeiro turno, não têm candidato a indicar, seja por opção seja por desconhecimento dos possíveis nomes e propostas.

Sendo as eleições deste ano decisivas para o futuro do País, um cenário eleitoral tão aberto e imprevisível chama a atenção e causa natural apreensão. Será o eleitor maduro o suficiente para confirmar a continuidade das reformas de que tanto a Nação necessita, dando um basta a anos de populismo no Executivo e no Legislativo? Tal questão, no momento, não tem uma resposta. No máximo, há conjecturas.

Reconhecer essa incerteza não é o mesmo que transformar o futuro do País em obra do acaso, num terrível jogo do imprevisível. O cenário eleitoral aberto joga luzes sobre uma questão fundamental: a responsabilidade dos partidos políticos, minimamente preocupados com o interesse nacional, de congregarem esforços para o lançamento de candidatos viáveis, que apresentem propostas maduras, capazes de entusiasmar os brasileiros. As lideranças partidárias têm a desafiadora tarefa de construir alianças que assegurem viabilidade eleitoral às melhores propostas para o País.

Serão as primeiras eleições gerais depois da proibição, pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em setembro de 2015, de que as campanhas políticas sejam financiadas por empresas. Além de devolver ao eleitor o seu papel de protagonista na democracia e de assegurar um novo patamar de moralidade nas relações entre o público e o privado, a nova regra de financiamento eleitoral deve fazer com que a campanha eleitoral seja ocasião de debate de propostas para o País.

Molecagem lulopetista: Editorial | O Estado de S. Paulo

O baderneiro profissional e candidato a presidente pelo PSOL, Guilherme Boulos, mandou seus comparsas do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) ocuparem por algumas horas o apartamento triplex que Lula da Silva ganhou como propina da empreiteira OAS. Enquanto a tigrada invadia o condomínio, no Guarujá, levando terror aos moradores, Boulos divulgava um vídeo em que esclarecia que aquela ação visava a “revelar a farsa judicial” que condenou Lula. “Se o triplex é do Lula, o povo foi convidado (pelo ex-presidente) e pode ficar lá; se não é do Lula, o Judiciário vai ter que explicar por que prendeu o Lula por conta desse triplex”, disse Boulos, expondo, entre sorrisos irônicos, um “raciocínio” que faria feio até em assembleia estudantil, tamanha a molecagem.

Deveria ser ocioso ter que explicar que Lula foi condenado, entre outros crimes, por ocultação de patrimônio. Ou seja, ele é o verdadeiro dono do tal apartamento, mas essa propriedade foi dissimulada. O fato de o nome de Lula não aparecer na escritura, contudo, é o suficiente para que os traquejados especialistas em confusão tentem emplacar a versão segundo a qual o chefão petista foi condenado sem provas, por questões meramente políticas. Daí derivou o repto de Boulos, que, como sempre, se consumou na forma de crime contra a propriedade.

O desembaraço do MTST e de Boulos resulta da conhecida omissão do poder público na defesa da propriedade privada, sistematicamente vilipendiada por esses arruaceiros. Raras são as vezes em que essa turma tem de enfrentar os rigores da lei quando decide invadir este ou aquele imóvel, ao sabor de suas conveniências.

Aécio na Justiça: Editorial | Folha de S. Paulo

Explicações do tucano para a vexaminosa transação com Joesley permanecem inconvincentes

Cerca de um ano atrás, o senador Aécio Neves (MG), então presidente do PSDB e um dos expoentes do governismo, dizia que era preciso “salvar a política”.

No contexto da época, tratava-se de fixar a distinção entre as práticas de fato corruptas e a aceitação costumeira de dinheiro privado para campanhas eleitorais, mesmo que por meio de caixa dois.

Se tudo o que se investigava pela Lava Jato parecesse o mesmo aos olhos da opinião pública, argumentava, haveria um descrédito geral que abriria caminho para alguma regressão populista —a ascensão de um “salvador da pátria”.

Sua tese, ainda que discutível, mostrava-se pertinente; sua conduta, entretanto, o desmoralizou.

Em maio de 2017 veio à tona a estarrecedora e controversa delação da JBS, da qual constava diálogo gravado em que o tucano mineiro pediaR$ 2 milhões a Joesley Batista, em 24 de março daquele ano.

Desigualdade persiste, mesmo com a reação da economia: Editorial | Valor Econômico

Mesmo com a expansão da economia em 2017, a desigualdade seguiu elevada e ajuda a explicar em parte porque a população queixa-se de não sentir os benefícios da recuperação. Depois de dois anos de retração, a atividade econômica reagiu e cresceu 1% no ano passado, puxada especialmente pela agricultura. Mas a desigualdade do rendimento médio mensal real per capita nos domicílios medida pelo índice de Gini ficou em 0,549 respectivamente - quanto mais perto de 1, pior -, o mesmo patamar de 2016, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. Segundo o levantamento, os 10% mais ricos da população abocanharam 43,3% da massa de rendimentos do país, ou R$ 113,9 bilhões dos R$ 263,1 bilhões mensais, enquanto os 10% mais pobres ficaram com apenas 0,7%, ou R$ 1,8 bilhão. Em outras palavras, 12,4 milhões de pessoas concentram a renda equivalente à de 99,6 milhões.

Se os números forem olhados a fundo, o quadro é ainda mais negativo. A desigualdade somente ficou estável porque caiu no Sudeste, mas não pelo motivo desejável de uma redução da pobreza, e sim porque os mais ricos ganharam menos, encurtando ligeiramente a distância em relação aos mais pobres. Isso aconteceu mais intensamente no Rio, por conta da crise fiscal do Estado, que atingiu os funcionários públicos e trabalhadores da indústria do petróleo; e em São Paulo, pela retração industrial. Em outras regiões do país, a desigualdade até aumentou, com destaque para Brasília e Amazonas, que apresentaram índice de Gini de 0,604 e 0,602 não muito distante de Botsuana (0,605). Segundo a pesquisa do IBGE, o índice de Gini cresceu em 15 das 27 unidades da federação no ano passado, em relação ao ano anterior.

Rio ensaia repetir desperdício dos royalties: Editorial | O Globo

Ganha força um novo ciclo de aumento da receita do petróleo, mas não é certo que os governos tenham apendido com os erros cometidos no passado

As finanças do Rio de Janeiro já experimentaram o melhor de uma região produtora de petróleo, quando a cotação do barril no mundo ultrapassou os US$ 100, e o pior, a partir do momento em que os preços desabaram e, junto, veio a receita dos royalties.

A situação ficou ainda mais complicada porque o enxugamento desta receita coincidiu com a profunda recessão de 2015/16. Assim, o estado e vários municípios fluminenses padeceram duplamente: com a queda da arrecadação decorrente do mergulho do PIB e com o encolhimento dos royalties. Daí o Rio de Janeiro ter recorrido à ajuda da União, para sair do atoleiro fiscal, resgate ainda em andamento.

No inventário da crise está claro que bilhões da indenização pela exploração do petróleo e gás foram mal usados. No caso do estado, saíram beneficiadas categorias com força política (juízes, procuradores etc). O Palácio Guanabara, assim, engatilhou uma armadilha para si mesmo, comprometendo recursos de fonte variável com despesas engessadas por lei. Como juízes e promotores conseguiam manter os salários em dia por força judicial, por meio de arrestos, o peso dos atrasos na folha de pagamento caiu por inteiro sobre a massa do funcionalismo.

Fernando Henrique Cardoso: Paul Singer juntava teoria e prática

- Folha de S. Paulo

Somava ao conhecimento acadêmico características que nos embebeciam

Logo que recebi o pedido da Folha para me manifestar sobre Paul Singer fiquei pensando: o que o caracterizou como intelectual? Não tenho dúvidas, seu rigor metódico, seu amor aos dados, à pesquisa, e o nunca haver perdido a noção de que a economia, como as demais ciências sociais, não dispensa o olhar do humanista. Intelectual politicamente engajado, nunca o foi em detrimento dos valores que mencionei.

Talvez sua melhor contribuição no plano acadêmico tenha sido a junção entre economia, demografia e sociologia. Os livros que o tornaram inicialmente conhecido provêm deste encontro de vertentes: "Dinâmica Populacional e Desenvolvimento", de 1970, e "Economia Política da Urbanização", este publicado pela editora Brasiliense em 1973. Na época da publicação destes livros, Paul já trabalhava no Cebrap, em estreito contato com a pioneira em vários setores da demografia brasileira, Elza Berquó, e já se dedicara aos estudos urbanos. Graduara-se em 1966 como doutor em sociologia, sob a orientação de Florestan Fernandes, publicando, poucos anos depois, "Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana", onde analisa a evolução de cinco cidades brasileiras. Entre 1966 e 1967, estudara demografia em Princeton.

Mencionar seus primeiros livros não quer dizer que Paul Singer haja deixado de lado, no correr do tempo, sua curiosidade e a atração por temas novos. Os estudos sobre economia solidária, recheados pela experiência política como secretário do Planejamento da cidade de São Paulo no período de Luiza Erundina e, mais tarde, como secretário Nacional de Economia Solidária, no Ministério do Trabalho, função que exerceu a partir de 2003, levaram-no a ser um dos iniciadores deste tipo de análise. Sua ação e suas publicações neste novo campo deram-lhe, inclusive, amplas conexões intelectuais com os que se dedicaram a vislumbrar formas de trabalho que, mesmo inseridas nas economias capitalistas, não fossem motivadas nem engendradas apenas pela volúpia do lucro.

Ao ressaltar as contribuições de Paul na interface da economia com a demografia ou com o urbanismo não desdenho, tampouco, sua formação como economista. Graduado pela FEA, onde, posteriormente, foi professor (compulsoriamente afastado do ensino em 1969, como eu e muitos mais) desde sempre se preocupou com conhecer melhor as engrenagens do sistema capitalista e de suas evoluções. Quando, ainda nos anos 50, formou-se um grupo de jovens assistentes da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP para ler sistematicamente a obra de Marx, não só "O Capital", mas também os densos volumes da "História Crítica da Mais-Valia", ele se juntou a nós e era quem mais sabia economia. Os que cursáramos ciências sociais tínhamos algum conhecimento, posto que àquela altura a disciplina era obrigatória. Eu mesmo, nomeado em 1953 assistente da cadeira de História Econômica da FEA, segui alguns os cursos lá para melhor entender o conteúdo da disciplina em que iria trabalhar.

Armênio Guedes (30/5/1918-12/3/2015), um comunista singular

O livro "Armênio Guedes, um comunista singular", autoria do jornalista Mauro Malin, Ponteio Edições,. terá  lançamento em São Paulo no dia 24 de abril, na Livraria da Vila da Alameda Lorena, a partir das 18h30. Estão todos convidados. 
A data do lançamento no Rio será no dia 7 de maio na Livraria Travessa do Shopping Leblon, a partir das 19h.
O maior de todos os desafios no Brasil, hoje, é manter, aprofundar ou estabelecer regras democráticas de convivência política e social. Não por acaso trata-se em essência do mesmo repto posto diante das forças que se reuniram na ampla frente que derrotou a ditadura de 1964. Uma narrativa desse processo está nesse livro.

Zimbo Trio: Outra Vez (Tom Jobim)

Carlos Drummond de Andrade: Atriz

A morte emendou a gramática.
Morreram Cacilda Becker.
Não era uma só. Era tantas.
Professorinha pobre de Piraçununga
Cleópatra e Antígona
Maria Stuart
Mary Tyrone
Marta de Albee
Margarida Gauthier e Alma Winemiller
Hannah Jelkes a solteirona
a velha senhora Clara Zahanassian
adorável Júlia
outras muitas, modernas e futuras
irreveladas.
Era também um garoto descarinhado e astuto: Pinga-Fogo
e um mendigo esperando infinitamente Godot.
Era principalmente a voz de martelo sensível
martelando e doendo e descascando
a casca podre da vida
para mostrar o miolo de sombra
a verdade de cada um nos mitos cênicos.
Era uma pessoa e era um teatro.
Morrem mil Cacildas em Cacilda.