quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso

• Qual é a mensagem?

Esse é o ponto. O partido que tiver uma mensagem que pegue no povo. Não é tanto a mensagem, mas como ela é emitida. No nosso caso, o que é necessário é ter um novo sentimento de coesão nacional. Não dá para levar um País de 200 milhões de habitantes na base de fracionar e destilar uma situação de radicalização, como aparentemente está se formando. Quem tiver uma mensagem mais abrangente tem mais chance. As pessoas querem emprego, segurança – que é um tema que não estava na pauta eleitoral, mas hoje está – e as questões básicas. A mais básica da agenda do Estado é a educação. Não há emprego possível sem educação. Do ponto de vista da agenda das pessoas, há também o transporte e a saúde.

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Fernando Henrique Cardoso é sociólogo, foi presidente da República. Entrevista. O Estado de S. Paulo, 2/1/2018.

Merval Pereira: Renda estagnada

- O Globo

A medida da nossa tragédia econômica pode ser traduzida pelo recente número divulgado de nosso PIB per capita, o valor de tudo que geramos de renda dividido pelo número de habitantes do país.

PIB revela dimensão da nossa tragédia econômica. Aeconomista Monica de Bolle, professora da Johns Hopkins University e pesquisadora do Peterson Institute for International Economics, confirmou os números com o Banco Mundial e reproduziu a tabela do Spectator Index: de 2012 a 2017, o crescimento pela Paridade de Poder de Compra( PPC)f oide 0%. Is toé, o PIB perca pita brasileiro está estagnado há cinco anos.

Para recuperar o nível que deveríamos ter tido em 2017 se a economia brasileira não tivesse entrado nessa recessão tão brutal, o crescimento terá que ser muito grande, de 4% a 5% ao ano, por muitos anos.

Nos Estados Unidos, depois de 2008, houve uma reversão muito forte no PIB per capita. Passados dez anos, não houve ainda uma recuperação completa, isso numa economia muito mais for teque ado Brasil.

A economista brasileira faz uma previsão: se, a partir deste ano, retornarmos a uma taxa de crescimento de 2,5% ao ano, o PIB per capita em 2023, 10 anos depois de a economia brasileira registrar a última taxa de expansão de 2,5%, ainda estará menor do que logo antes da débâcle econômica que levou à recessão de 2015 e 2016.

Vera Magalhães: Os obstáculos da Previdência

- O Estado de S.Paulo

Aliados do governo apontam que a negociação para a votação da reforma da Previdência retrocedeu algumas casas nas últimas semanas graças a trapalhadas na política.

A rusga criada pelo ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, com governadores e a dificuldade de substituição no Ministério do Trabalho foram apontados como obstáculos adicionais – e desnecessários – para o fechamento dos 308 votos necessários para votar a reforma na Câmara.

Em paralelo à bateção de cabeça na política, a área econômica insiste em vetar novas concessões no texto que desidratem ainda mais a economia de gastos possível com a reforma.

Por ora, portanto, está engavetada a ideia de estender o período pelo qual servidores que ingressaram até 2003 pudessem manter por mais tempo a integralidade da aposentadoria e a paridade com funcionários da ativa. “Governo não bate pé. Quem bate pé é criança”, diz um ministro enfronhado nas negociações da reforma, num sinal de que as concessões não estão de todo descartadas, apenas afastadas no momento.

A ordem no Planalto é refazer os cálculos diariamente a partir desta semana e chegar ao início de fevereiro com uma avaliação sobre se será possível manter a votação para o dia 19.

As postagens do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, nas redes sociais sobre o erro que seria um novo adiamento já foram vistas como um recado para que o governo se empenhe mais na obtenção dos 308 votos agora – já que, quanto mais se aproximar o calendário eleitoral, mais difícil será avançar com a reforma.

Fernando Exman: A ameaça real que vem da internet

- Valor Econômico

Disseminação de 'fake news' nas eleições preocupa

A proximidade da campanha eleitoral colocou a atual onda de notícias falsas na internet, conhecidas internacionalmente como "fake news", em posição de destaque na lista de preocupações de diversas autoridades. Não só por considerarem que elas têm a capacidade de transformar a já polarizada política brasileira em um ambiente ainda mais hostil. Integrantes do governo, do Legislativo e do Judiciário tratam também a questão como um risco à soberania nacional.

A disseminação de notícias falsas não é um fenômeno novo. Historiadores relatam casos semelhantes ocorridos centenas de anos atrás, quando textos caluniosos eram espalhados para difamar políticos, clérigos ou apenas desinformar a população. A novidade é o uso da tecnologia para criar falsas sensações de apoio ou condenação a ideias e pessoas, assim como disseminar boatos na internet. Os "robôs sociais", perfis controlados por softwares, podem gerar artificialmente conteúdos e interagir com usuários reais. Como resultado, realizar interferências em discussões e até mesmo gerar debates forjados.

O recente surto de notícias falsas ganhou destaque por interferir em processos eleitorais ou consultas populares realizados mundo afora, com acusações de interferências externas em assuntos domésticos dos países envolvidos, além de impactos na política internacional e na economia global.

Bruno Boghossian: O plano Maia

- Folha de S. Paulo

A articulação do DEM para incluir Rodrigo Maia (RJ) na próxima corrida presidencial ganhou contornos definidos na virada do ano. O movimento embaralha ainda mais o centro do tabuleiro político e atravessa as pretensões de Henrique Meirelles (Fazenda).

A empreitada do presidente da Câmara ainda é vista com ceticismo, mas começa a ocupar espaços em que o ministro da Fazenda pretendia erguer sua candidatura ao Planalto: a base aliada do governo Michel Temer e o mercado financeiro.

O DEM acredita que o papel de Maia na aprovação da agenda de reformas permite que ele dispute com Meirelles a posse do discurso de recuperação da economia, apesar de admitir que não será fácil tirar do ministro a coroa de favorito dos bancos.

Almir Pazzianotto Pinto: Os militares e o direito de greve

- Diário do Poder

Mais de uma vez sustentei que soldados, das Forças Armadas ou das polícias militares, não fazem greve. Ao se recusarem a cumprir ordens cometem crime de motim, descrito e punido pela legislação penal militar.

As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e disciplina prescreve o artigo 142 da Constituição da República. As polícias civis e militares estaduais, e os corpos de bombeiros militares integram o rol das instituições incumbidas da preservação da segurança pública e da ordem, e da incolumidade das pessoas e dos patrimônios, ao lado da polícia federal, da polícia rodoviária federal e da polícia ferroviária federal, reza o artigo 144 da Lei Superior.

Ao militar a Constituição proíbe a sindicalização e a greve. O preceito aplica-se às polícias civis e militares dos Estados, bem como aos corpos de bombeiros militares, pela combinação dos artigos 142 e 144 da Carta Política, eis que todos se submetem ao princípio da hierarquia e disciplina, cuja violação põe em perigo a estabilidade política e social.

Elio Gaspari: Um Brasil politicamente incorreto

- O Globo

A agenda do século XXI cai mal num país que não resolveu a do XX e, em alguns aspectos, nem a do XIX

Duas informações trazidas pelo Datafolha podem ser úteis para que se conheça melhor o país que neste ano elegerá o presidente da República, 27 governadores, a Câmara dos Deputados e dois terços do Senado.

Mais da metade dos entrevistados (57%) disseram que as mulheres que fazem aborto devem ir para a cadeia e dois terços (66%) são contra a legalização do consumo de maconha.

Outra pesquisa, do Ibope, informa que 49% de seus entrevistados declararam-se a favor da pena de morte. (Enquanto nos dois outros itens a pesquisa indica que a oposição caiu, neste os defensores da pena de morte aumentaram, pois em 2011 estavam em 31%.)

De pouco adianta adjetivar essas opiniões. A questão é substantiva: a banda do país que ainda vive os problemas do século XX e, em certos casos, os do XIX, está blindada em relação a alguns temas da agenda do XXI. Não faz o gênero politicamente correto.

*Roberto Romano: Indulto e abuso de autoridade

- O Estado de S.Paulo

Lemos e ouvimos frases de Robespierre, em 2017, para invalidar a clemência natalina

Em tempos liberticidas cresce o poder dos que vetam a dissidência. Setores repressivos sequestram o Estado de modo oculto ou claro. O fato aparece na Igreja inquisitorial e no absolutismo, no império napoleônico, fascismos e domínios stalinistas. Durante o século 20 o medo recebe impulso dos aparelhos policiais, muitos unidos a juízes. Como açambarcam os monopólios do Estado (força, leis, impostos), a cidadania perde o controle sobre eles. Surgem ditaduras explícitas ou dissimuladas. Tal é o solo onde nascem as Seções Especiais de Justiça de Vichy, o império dos promotores e magistrados na URSS e na Alemanha hitlerista. O Brasil não discrepa daquela prática. Aqui, setores da ordem social serviram – e muitos servem – aos proprietários da República. Basta lembrar o caso Boi Barrica e a censura à imprensa. Expor dúvidas sobre atos e falas da toga significa crime de lesa moralidade, ética, patriotismo. Quem deles duvida é suspeito.

A caça à corrupção – não o combate ao fato, mas a busca de vigiar e punir a sociedade no seu todo, algo que refaz intentos de Savonarola ou Robespierre – assume ares de Cruzada. Quando ouço ou leio inquisidores pátrios, tenho a impressão de que voltamos aos hábitos que desgraçam a modernidade. Abro o Malleus Maleficarum. O manual traz a panóplia movida contra multidões levadas ao fogo “purificador”. Diz ele: “Se a crença de que existem seres como as bruxas é essencial à fé católica, manter obstinadamente o oposto tem o sabor da heresia. (...) Todos os que acreditam ser toda criatura mutável para o pior ou melhor, ou transformável em outro tipo ou semelhança, exceto pelo Criador de todas as coisas, são piores do que um pagão ou herético”. Dedução perfeita, impiedosamente mendaz. Se existem bruxas, elas fazem bruxarias. Ai de quem duvide dos crimes ou busque atenuar a punição! Acusadores não toleram senões. Quem ignora ou defende suspeitos de malefícios diabólicos merece a fogueira.

Míriam Leitão: Cofre menos vazio

- O Globo

No fechamento de 2017, uma boa surpresa: as contas públicas terão um déficit menor do que a meta em R$ 30 bilhões ou mais. Isso, por ironia, dá em torno de R$ 129 bilhões, igual à meta inicial que acabou alterada para R$ 159 bilhões. A boa execução do Tesouro e o aumento da arrecadação de dezembro tiveram esse efeito de melhorar o resultado final do ano. Isso só será divulgado no fim do mês.

Sobre 2018, a primeira notícia é que não será possível adiar o aumento do funcionalismo federal. Como os salários já foram pagos, eles não podem ser reduzidos. O governo já conta com essa despesa de R$ 5 bilhões a mais do que o orçado. Portanto, o ministro Ricardo Lewandowsky, quando deu a liminar em favor dos funcionários, acabou decidindo o mérito, porque não foi possível cassar a medida a tempo.

Nos últimos dias de 2017 começou a ficar claro que a meta seria atingida com folga. Ontem, o número com que se trabalhava na Fazenda era de R$ 129 bilhões ou menos de déficit. Normalmente o dado final só é oficialmente informado no final de janeiro. O governo terá, então, que dar uma boa e uma péssima notícia.

Monica De Bolle: Certezas

- O Estado de S. Paulo

O fato é que as reformas nada fizeram para consertar nossas contas, nosso déficit elevado e nossa dívida galopante

Alguns atribuem a Benjamin Franklin outros a Mark Twain a famosa citação sobre a morte e os impostos, as únicas certezas possíveis na vida. Em ano que está fadado a ser caracterizado pela incerteza política nos Estados Unidos, no Brasil, no restante da América Latina, este artigo trata das certezas tributárias absolutas. Certezas que já fazem ou haverão de fazer parte da política econômica nos EUA, onde moro, e no Brasil.

Pouco antes do Natal, o Congresso americano aprovou ampla reforma tributária, alvo de muitas críticas e ataques de analistas norte-americanos e brasileiros. A reforma é a mais abrangente desde 1986, quando o então presidente Ronald Reagan reformou o código tributário, abrindo o flanco para os déficits fiscais elevados que mais tarde seriam ajustados pelo governo Clinton.

Vinicius Torres Freire: Venezuela em nova fase de destruição

- Folha de S. Paulo

A Venezuela deve ser invadida pelas tropas de uma coalizão formada por Estados Unidos, Europa e América Latina, a convite da Assembleia Nacional, de maioria oposicionista. Este "exército de liberação" daria apoio a um novo regime, que substituiria o governo de Nicolás Maduro, que teria sido impedido pelos parlamentares.

Quase lembra um roteiro do gênero Rambo escrito por um comentarista da Fox, a TV americana de birutices reacionárias. Mas é a sugestão de um professor da escola de governo da Universidade Harvard, o venezuelano Ricardo Hausmann.

Hausmann em geral não é doido. É um respeitado economista do desenvolvimento. Foi ministro do planejamento (1992-93) de seu país. Participa de conversas a respeito do que fazer da Venezuela. Mas propôs esse seu plano em artigo publicado no segundo dia de 2018, no site Project Syndicate.

A responsabilidade dos partidos: Editorial/O Estado de S. Paulo

Cabe aos partidos comprometidos com o interesse público a responsabilidade de se unirem em torno de um candidato capaz de vencer as várias expressões do populismo

Em entrevista ao Estado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi certeiro ao apontar a necessidade de os partidos comprometidos com a continuidade das reformas aglutinarem suas forças em torno de um candidato à Presidência da República eleitoralmente viável. “É preciso que haja lideranças capazes de organizar. Há o perigo de que um demagogo dê sensação às pessoas de que vão influenciar a favor dos que mais precisam”, disse Fernando Henrique, ao comentar o seu temor de “que não se consiga organizar o centro”.

Não basta que o candidato seja conhecido de boa parte da população ou possua uma história na vida pública. A responsabilidade com o futuro do País deve levar a que os partidos políticos não populistas se unam em torno de um candidato com possibilidades reais de ganhar. Se esse caráter prático deve estar sempre presente na política, ele se torna ainda mais premente nas atuais circunstâncias.

“Chegamos a um ponto em que é preciso unir, colar. Está tudo muito desagregado”, disse Fernando Henrique. A desagregação é parte significativa da crise política, social, econômica e moral que o sr. Lula da Silva instaurou no País, nos anos em que o PT comandou a administração federal e pretendeu ser hegemônico. Agora, o cacique petista movimenta-se intensamente para voltar ao poder, desde já prometendo desmontar tudo o que foi feito no atual governo para superar a herança maldita deixada pelo lulopetismo.

Cabe, portanto, aos partidos políticos minimamente comprometidos com o interesse público a responsabilidade de se unirem em torno de um candidato capaz de vencer as várias expressões do populismo, sejam quais forem as suas cores. Ainda que seja o mais daninho, o sr. Lula da Silva não é o único representante dessa aberração da política. Há, por exemplo, o iracundo Bolsonaro, que tenta suprir sua irrelevância na Câmara dos Deputados, sobejamente demonstrada há quase três décadas, com frases contundentes e grosserias. Até agora, a única posição efetivamente clara do deputado é, além da apologia da violência, seu desprezo pela democracia.

Reformas para além da Previdência: Editorial/O Globo

Enquanto o tempo passa, fica cada vez mais evidente que é também necessário rever as regras da obrigatoriedade de despesas e a indexação de gastos

A sociedade brasileira enfrenta um momento crítico nas finanças públicas, e dependerá da sua posição nas urnas sobre o que fazer, se o país dará um salto de qualidade no manejo das finanças ou continuará cambaleante, em círculos, alternando surtos de crescimento, só na aparência sustentável, com fases corretivas em meio à inflação e recessão. Como a de que se está saindo.

Em entrevista antes da virada do ano a “O Estado de S.Paulo”, a secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi, expôs o cenário: como as despesas se aproximam do teto constitucional, é preciso fazer escolhas. Algo a que governos e políticos em geral não estão acostumados. Continua dominante a visão arcaica, e errada, de que dinheiro público sempre aparece quando dele se precisa. Porém, não é mais assim, com inflação civilizada e controles como a Lei de Responsabilidade Fiscal e o próprio teto inscrito na Constituição.

Expectativa de turbulência eleitoral desafia o Tesouro: Editorial/Valor Econômico

O Tesouro resolveu mudar algumas práticas de financiamento da dívida mobiliária federal neste ano. Um dos principais objetivos é alongar o prazo de vencimento dos títulos que serão oferecidos nos leilões regulares, em troca dos papéis que estarão vencendo. Apesar das perspectivas positivas para a inflação e os juros, a tarefa parece difícil diante da imprevisibilidade que cercará a disputa eleitoral, além das dúvidas sobre a aprovação da reforma da previdência e da política monetária nos países ricos.

Os novos títulos que chegarão ao mercado no primeiro semestre serão as LTNs com vencimento em abril de 2020 e em janeiro de 2022. Serão emitidas NTN-Fs, igualmente prefixadas, com vencimento em janeiro de 2029, no lugar dos papéis que vencem em janeiro de 2027, papéis que atraem especialmente os investidores estrangeiros. O calendário de alguns leilões será alterado. As vendas de NTN-Fs passarão de quinzenais a semanais, como ocorria até 2010. Desde 2011 começaram a ser realizados a cada 15 dias com o intuito de estimular o mercado secundário, objetivo que será posto de lado agora.

A intenção, explicou o Tesouro, é diluir a oferta para dar mais flexibilidade à administração da dívida. Além disso, o Tesouro suspenderá as recompras trimestrais de NTN-Fs e NTN-Bs, que poderão ser realizadas a qualquer momento.

Drogas e realismo: Editorial/Folha de S. Paulo

Em tendência inequívoca, o apoio à descriminalização da maconha, embora ainda francamente minoritário, apresenta-se cada vez maior entre os brasileiros.

A parcela dos favoráveis à medida alcançou 32%, segundo pesquisa do Datafolha. A proporção não passava dos 17% em 1995, no início da série histórica.

Difícil prever se o percentual continuará crescendo ou em que ritmo. A aceitação da tese é desigual na sociedade: chega aos 40% entre os jovens de 16 a 24 anos; cai a 24% entre os evangélicos.

De mais certo, a experiência de outros países deverá influenciar o debate interno nos próximos anos. Tome-se o caso do vizinho Uruguai, onde o plantio e a comercialização da maconha foram liberados ao longo de quatro anos.

Nesse sentido, é notável que nos EUA, onde 8 dos 50 Estados liberaram o consumo recreativo da droga, o apoio à norma, segundo o instituto Gallup, tenha chegado a 64% –a maior cifra em quase meio século de aferição.

Alckmin rebate FHC e reitera pré-candidatura

Cristiane Agostine | Valor Econômico

SÃO PAULO - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), reiterou ontem sua pré-candidatura à Presidência da República, depois de o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso colocar em xeque sua viabilidade eleitoral e sugerir o apoio dos tucanos a um outro nome do centro para 2018.

Alckmin afirmou que assumiu a presidência nacional do PSDB por sugestão de Fernando Henrique e disse "ter certeza" de que irá "trabalhar junto" com o ex-presidente para consolidar sua pré-candidatura presidencial. "Estou preparado para essa labuta", afirmou o governador, em entrevista ao Canal Rural ontem, divulgada pela assessoria de imprensa do governo de São Paulo.

A afirmação de Alckmin foi uma resposta a FHC, que em entrevista publicada ontem pelo jornal "O Estado de S. Paulo" disse que o governador precisa provar que pode organizar e liderar esse campo político. O ex-presidente afirmou ainda que o candidato tem de empolgar o eleitorado e deve ser identificado pelo povo como alguém capaz de suprir suas carências. "Se houver alguém com mais capacidade de juntar, que prove essa capacidade e que tenha princípios próximos aos nossos, tem que apoiar essa pessoa", disse FHC.

Alckmin discute ter vice do DEM em chapa

Bruno Boghossian / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, antecipou a negociação de alianças para sua candidatura ao Planalto e já sinalizou a dirigentes partidários que está disposto a ceder a vaga de vice em sua chapa e oferecer o apoio do PSDB a outras siglas nos Estados em troca da adesão a seu projeto presidencial.

O tucano teve encontros com caciques do DEM, do PP e do PTB nas últimas semanas de 2017 para discutir o apoio a seu nome na disputa deste ano. Aos democratas, o tucano demonstrou disposição em entregar ao partido a indicação do candidato a vice-presidente na disputa.

Favorito no PSDB para concorrer à Presidência da República, Alckmin decidiu deflagrar um movimento ostensivo de negociação com potenciais aliados para tentar evitar o isolamento de sua candidatura e romper o bloco partidário que dá sustentação a Michel Temer.

O tucano e o presidente se distanciaram com as articulações para a saída do PSDB do governo –o que levou o MDB a planejar uma aliança de siglas governistas para apoiar uma candidatura alternativa à de Alckmin.

Além disso, o tucano passou a enxergar movimentos concretos do DEM –aliado que considera prioritário– em busca de um nome próprio para lançar ao Planalto.

Para evitar a perda de terreno, o governador avançou nas conversas com o PTB, do ex-deputado Roberto Jefferson, e iniciou negociações com o DEM e com o PP.

Luiz Carlos Azedo: A razão das incertezas

- Correio Braziliense

A primeira grande definição do processo eleitoral está fora da esfera de decisão dos partidos, do Congresso e dos governos: é o julgamento de Lula

Há um grande divórcio entre o que está sendo chamado de centro democrático e a grande massa do eleitorado que busca uma solução segura para os problemas do país, mas que ainda não consegue identificar uma alternativa para isso. Uma vez que as projeções eleitorais para este ano, com base em pesquisas de opinião, apontam uma possível polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), é natural que o cenário eleitoral seja caracterizado como um grande fator de incerteza na vida nacional.

Em circunstâncias normais, esse campo estaria sendo ocupado eleitoralmente pelos dois principais sistemas de poder instalados no país. O principal é o que se articula em torno do governo Temer, encabeçado pelo PMDB e com amplo apoio entre as forças que a aprovaram o impeachment de Dilma Rousseff. O outro é o governo Alckmin, vértice do sistema de alianças protagonizado pelo PSDB a partir de São Paulo. Uma convergência entre os dois polos, nas condições estabelecidas pela reforma política, em tese, seria eleitoralmente imbatível. Entretanto, nem juntos, nem separados, Temer e Alckmin constituem ainda uma alternativa de poder.

Pelo contrário, a expectativa de poder criada em torno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em que pese o enfraquecimento eleitoral e orgânico do PT, vem se impondo gradativamente ao país, com uma retórica populista e de ajuste de contas. O líder petista renasce das cinzas do colapso do governo de Dilma Rousseff, como se nada tivesse a ver com o fracasso do “poste de saias” que ungiu e levou ao poder. Lula ameaça repetir a trajetória de Getúlio Vargas nas eleições de 1950, quando o ex-ditador voltou ao poder nos braços do povo.

Nilson Teixeira: Quadro político incerto por algum tempo

- Valor Econômico

Resultado pode se tornar ainda mais incerto se o apoio dos maiores partidos não for para candidatos do PT e PSDB

A minha última contribuição para esta coluna em 2017 assinalou que a eleição presidencial de 2018 será determinante para a consolidação fiscal. De fato, essa importância será ainda maior, pois será crucial também para a trajetória dos fundamentos da economia nos próximos anos. Nesse sentido, o assunto deste meu primeiro texto em 2018 não poderia ser outro que não o pleito deste ano.

A eleição de 2018 terá menos recursos ante a de 2014 em virtude da proibição de doações de empresas. As despesas registradas pelos candidatos à Presidência em 2014 somaram R$ 652 milhões, valor correspondente a 13% dos gastos declarados com as campanhas em todos os níveis. Supondo que as doações individuais continuarão insignificantes como nas eleições passadas, o gasto nas campanhas presidenciais em 2018 não será, provavelmente, muito superior a R$ 300 milhões, dados os R$ 2,588 bilhões alocados nos fundos públicos.

Esse ambiente de menos recursos aumenta a incerteza quanto ao resultado das eleições de 2018 e eleva a importância das coligações partidárias frente aos pleitos anteriores - seja para aumentar o tempo de propaganda na televisão e no rádio, seja para garantir maior apoio local na campanha presidencial.

O PSDB e o PT precisarão angariar apoio dos principais partidos políticos, em particular dos maiores, para manter a polarização observada desde 1994. Enquanto o tempo médio de propaganda diária na televisão e no rádio do PT e do PSDB será de, respectivamente, 5'13" e 4'11", os outros seis maiores partidos (MDB, PP, PSD, PR, PSB e DEM) terão 18'12". Isso confirma o quão imperativa será a construção de coligações.

Para minar influência de Bolsonaro, aliados constroem agenda para Alckmin com evangélicos

Painel/Folha de S. Paulo

Missão de fé Tucanos de São Paulo preparam uma extensa agenda com evangélicos para o governador Geraldo Alckmin. Os articuladores atuam para que, logo no início deste ano, o presidenciável do PSDB receba cerca de 80 líderes de igrejas pentecostais e neopentecostais em um jantar na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes. Um dos principais objetivos dos aliados do paulista é minar a influência de Jair Bolsonaro (PSC-RJ)–já identificada pela sigla– nesse nicho do eleitorado.

Tête-à-tête Alckmin tem mantido encontros frequentes com evangélicos. O pastor Eri Alencar, da Assembleia de Deus Paulistana, e o apóstolo César Augusto, da Fonte da Vida, estiveram com o governador. A ideia é que o tucano também vá a um culto de Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus.

Pregação Os evangélicos tucanos defendem que, nas agendas de campanha pelo país, Alckmin inclua as igrejas em seus roteiros.

Oráculo Ainda que tenha feito deferências ao governador, FHC jogou luz em um fato ao cogitar o apoio do PSDB a um nome de fora do partido na eleição presidencial deste ano: a candidatura do paulista ainda é vista como frágil por setores importantes da política e do empresariado.

Quem ganha Mesmo que de forma involuntária, a fala de FHC ao “Estado de S. Paulo” deu força a integrantes do DEM que tentam viabilizar a candidatura de Rodrigo Maia (RJ) e também a partidários de Henrique Meirelles (PSD) e até de João Doria (PSDB).

Me dê motivo Maia e Meirelles querem capitanear o centro. Doria é visto por alguns aliados dos tucanos como um candidato mais competitivo do que Alckmin.

Supertrunfo Líder do DEM na Câmara, o deputado Efraim Filho (PB) diz que “cresce a imagem de Rodrigo Maia como alguém capaz de unificar o centro”. “Não podemos ficar a reboque de disputas internas de outras siglas”, afirma.

Quem avisa… O CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) arquivou representação do ex-presidente Lula contra Carlos Fernando dos Santos Lima, da Lava Jato. Recomendou, porém, que o procurador não use as redes sociais para expressar posições políticas.

Prova do crime Em julho de 2017, a defesa do petista acionou o CNMP com um pedido de verificação de possível desvio funcional por parte do procurador. A representação foi baseada em textos com críticas a Lula publicados por Lima no Facebook.

Tenho dito O corregedor do MP, Orlando Rochadel, recomendou ao procurador “que se abstenha de emitir juízos de valor, por meio de redes sociais e na esfera privada, em relação a políticos, partidos e pessoas investigadas e/ou acusadas” pela Lava Jato, para “preservar a integridade, a solidez, a isenção e a credibilidade”.

Coluna do Estadão: Marun monta tropa de choque por Previdência

O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun (MDB-MS), ganhou uma tropa de auxiliares formada por líderes de partidos governistas para ajudá-lo a negociar votações de projetos importantes para o Planalto. A partir de fevereiro, o grupo fará reuniões semanais para definir a pauta do Congresso. A reforma da Previdência continua como prioridade do governo, mas o presidente Temer já afirmou à Coluna que também quer tentar convencer os parlamentares a votar a reforma tributária, na intenção de “trazer mais emprego e renda à população”.

Recontagem. Marun diz precisar de cerca de 50 deputados para chegar aos 308 a favor das mudanças nas regras da aposentadoria.

Sujeito oculto. Tucanos ligados ao prefeito João Doria (São Paulo) comemoraram o fato de o ex-presidente FHC admitir, em entrevista ao Estado ontem, que o PSDB pode trocar Geraldo Alckmin por um candidato “mais agregador”.

Quem será? Aliados de Doria enxergaram, na declaração de FHC, sinais de um possível apoio ao prefeito na corrida ao Planalto. Doria recebe deputados estaduais em um jantar na casa dele, em 16 de janeiro.

Clubinho. Quem não gostou nada foi o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio. Presidenciável, ele considerou “precipitado” FHC declarar apoio a um nome de fora do PSDB na eleição.

Desenturmado. “Existe uma panelinha no PSDB formada pelo ex-presidente FHC, pelo senador José Serra e pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin”, criticou Virgílio.

Dono da bola. O senador Romero Jucá (MDB-RR) mandou avisar aos tucanos que cogitam apoiar José Serra à presidência do Senado de que se esqueceram de combinar com o MDB.

Concentrado. Michel Temer disse a interlocutores “ter adorado” despachar do Jaburu. Como a residência oficial é mais reservada do que o Planalto, se sentiu “mais produtivo”. De todo modo ele espera voltar hoje ao Planalto.

Bateu o martelo. O DEM decidiu confirmar a troca do senador Agripino Maia pelo prefeito ACM Neto (Salvador) na presidência da legenda, durante a convenção, em 6 de fevereiro.

Tempo de paz. Agripino diz não haver crise no partido. “O clima é de entendimento e diálogo. Tudo será definido por consenso com integrantes do DEM”, diz.

Deu ruim. Líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO) diz não ter engolido o veto à indicação do deputado federal Pedro Fernandes (MA) para assumir o Ministério do Trabalho no lugar do demissionário Ronaldo Nogueira. O movimento gerou mal-estar entre o líder e o governo.

Sem base. “O Planalto está com muita credibilidade para escolher seus problemas. E precisa decidir se quer o PTB na base aliada ou fora dela”, ironizou o líder na Câmara, referindo-se à aliança com o governo de Michel Temer.

Silenciosos. Para evitar traumas em animais, principalmente no Réveillon, o deputado Ricardo Izar (PP-SP) quer proibir fogos de artifício com estampidos. O texto está na comissão do Meio Ambiente da Câmara.

Sem crise. O Cade, órgão antitruste do governo, vai contar com orçamento 27% maior este ano. Temer sancionou a proposta do Congresso que destina R$ 46,1 milhões ao conselho ante os R$ 36,3 milhões de 2017.

João Cabral de Melo Neto: O sertanejo falando

A fala a nível do sertanejo engana:
as palavras dele vêm, como rebuçadas
(palavras confeito, pílula), na glace
de uma entonação lisa, de adocicada.
Enquanto que sob ela, dura e endurece
o caroço de pedra, a amêndoa pétrea,
dessa árvore pedrenta (o sertanejo)
incapaz de não se expressar em pedra.

Daí porque o sertanejo fala pouco:
as palavras de pedra ulceram a boca
e no idioma pedra se fala doloroso;
o natural desse idioma fala à força.
Daí também porque ele fala devagar:
tem de pegar as palavras com cuidado,
confeitá-la na língua, rebuçá-las;
pois toma tempo todo esse trabalho.

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João Cabral de Melo Neto, in “Melhores Poemas de João Cabral de Melo Neto”. [Seleção Antônio Carlos Secchin], São Paulo: Global Editora, 8ª ed., 2001, pag. 184.

Paulinho da Viola: Foi um Rio que passou em minha vida