segunda-feira, 23 de abril de 2018

O resgate da confiança: Editorial | O Estado de S. Paulo

Quando se analisam os elementos que compõem a crise política, social e moral que o País atravessa, a falta de confiança nas instituições, e especialmente nos políticos, é frequentemente citada. Trata-se de uma carência que prejudica todo o tecido social, afetando as mais variadas esferas e classes. Entre outros aspectos, o baixo grau de confiança é um enorme problema político, que dificulta estabelecer o diálogo, desenhar propostas comuns e promover relações além da simples troca de interesses imediatos.

O sistema político vê-se seriamente afetado pela falta de confiança, que o força a trabalhar num padrão de baixa expectativa. Tudo o que vem dos políticos é recebido com suspeita, quando, em tese, deveria ser o contrário, já que foram os eleitores que escolheram os candidatos vencedores. Foi a vontade dos representados que determinou quem seriam seus representantes.

A desconfiança nas instituições está amplamente difundida, fator que continuamente dificulta o bom encaminhamento das questões públicas. E o mais grave nessa história é a dificuldade de superar essa falta de confiança. Parece haver um círculo vicioso, no qual o mau funcionamento das instituições acarreta falta de confiança, que por sua vez piora ainda mais as instituições e assim por diante.

Talvez aí esteja uma das causas do problema: a desconfiança como reação inexorável aos problemas do Estado, da política, etc. Nessa lógica, o cidadão torna-se, a rigor, elemento inerte, distante de qualquer protagonismo. Alheia-se dos problemas nacionais e de suas soluções por vontade própria. Não lhe caberia nenhuma responsabilidade pela situação institucional do País. E, ao assim fazer, restringe seu papel à pior das autodefesas: a desconfiança – e, assim, fecha-se o círculo.

A participação do cidadão na vida nacional dever ir muito além da simples reclamação ou, ainda pior, do distanciamento das coisas públicas. Se a percepção é de que as coisas não andam bem na esfera estatal, a resposta natural deve ser, numa comunidade verdadeiramente solidária, a tentativa de mudar o que não vai bem. O sistema democrático serve justamente para o encaminhamento institucional dos diversos anseios e demandas sociais.

Logicamente, o quadro de desconfiança na política, que tanto prejudica o País, não é fruto apenas de um exercício débil da cidadania por parte da população. A situação atual é, em boa medida, resultado de uma longa e deliberada campanha de defenestração da política e dos políticos, promovida por setores do Judiciário e do Ministério Público. É patente o objetivo dessa empreitada de demonização da imagem da política, na qual se dá por certo que todos os políticos são tão corruptos como aqueles que, de fato, o são. Se a política está podre, os salvadores da pátria seriam o Poder Judiciário e o Ministério Público, já que seus membros não teriam passado pela suja política. Trata-se de uma perversão da ideia de democracia, que faz do voto popular, em vez de o fundamental legitimador da atuação pública, a prova da imaginada podridão.

Quando se examinam as causas da falta de confiança, é inevitável considerar a responsabilidade do sr. Lula da Silva e do PT na consolidação desse quadro. As administrações lulopetistas levaram a corrupção e o aparelhamento do Estado a patamares antes inimagináveis, o que tornou verossímil a pregação de alguns procuradores a respeito da completa podridão do sistema político. O descaramento revelado pelo escândalo do mensalão, como se fosse coisa normal comprar parlamentar, e as imorais dimensões do petrolão são deprimentes.

Por tudo isso, na tarefa de reconstrução do País, é necessário, entre outras muitas frentes, resgatar a confiança da população nas instituições, especialmente no Executivo e no Legislativo. Neste sentido, as eleições de 2018 são um momento de especial responsabilidade, tanto para que os partidos apresentem candidatos competentes e honrados, dignos da confiança, como para que os eleitores escolham pessoas nas quais se possa confiar, ao menos, pelos próximos quatro anos.

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