terça-feira, 24 de abril de 2018

Denise Neumann: A ajuda da economia capenga

- Valor Econômico

Atividade cresce menos nas regiões onde há mais voto

A ajuda da recuperação da economia para candidatos à Presidência da República mais alinhados ao governo ficou mais incerta depois do primeiro trimestre do ano. Várias consultorias e departamentos econômicos estão revisando, para baixo, as projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2018. E enquanto a economia cresce mais lentamente que o esperado, aumenta a incerteza eleitoral e os índices de confiança patinam, o que agrega mais incerteza à retomada, em um ciclo que corre o risco de se auto alimentar negativamente.

Economia em franca retomada, inflação baixa e maior oferta de emprego seriam argumentos muito bons para os candidatos que defendem uma política econômica alinhada à atual. Por lógica, baixo crescimento e desemprego alto favorecem candidaturas ancoradas na crítica ao atual modelo de ajuste fiscal.

Os dados mostram que o ritmo e a "cara" da retomada são díspares entre as regiões, mas justamente Sudeste e Nordeste - que concentram 44% e 27% dos eleitores, respectivamente - estão na rabeira do crescimento, embora estejam acelerando seu ritmo. Enquanto o Índice de Atividade do Banco Central mostrou que, na média do país, o crescimento alcançou 1,7% nos 12 meses encerrados em fevereiro, na mesma comparação, o Sudeste cresceu 0,6%, e o Nordeste, 1,2%.

De acordo com os índices regionais de atividade do BC, o Norte, com 3,4%, e o Sul, 3%, lideram em expansão, seguidos pelo Centro-Oeste com 2%. Essas três regiões respondem por 29% do total dos eleitores brasileiros.

O mercado de trabalho também dá voz aos mais críticos da política econômica atual. Nos primeiros três meses do ano, o Brasil recuperou 204 mil dos 2,9 milhões de empregos perdidos durante a crise que começou na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

E justamente no Nordeste as recontratações ainda não começaram. De janeiro a março, as demissões ainda superaram as contratações e mais 45 mil pessoas perderam seu emprego com carteira assinada. Na região, é sazonal o emprego cair no início do ano, mas "sazonalidade" é uma palavra sem espaço no vocabulário eleitoral.

A última pesquisa eleitoral do Instituto Datafolha (realizada em meados de abril, logo após a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) mostrou que 51% dos eleitores do Nordeste votariam em Lula e outros 6% em Ciro Gomes, dois candidatos claramente contrários à atual política econômica.

Em um cenário de baixo crescimento e fraca recuperação do emprego, ganhar o voto desse eleitor para um projeto que mantenha foco no ajuste fiscal se torna uma tarefa mais difícil.

No Sudeste, bem menos enfático no apoio aos candidatos mais à esquerda (Lula tem 22% e Ciro, 5%), são outros os problemas econômicos. Foi na região que a renda mais caiu no ano passado, retração influenciada pelos salários mais altos. E a classe média - que foi em peso à rua pelo impeachment da ex-presidente Dilma - perdeu renda e não recuperou nada no ano passado.

No fim de 2017, o rendimento médio real do brasileiro foi 1,1% maior que o do fim do ano anterior, mas no Sudeste o rendimento ainda caía. O rendimento médio real dos 10% de maiores salários do Sudeste diminuiu 8% (já descontada a inflação) no ano passado. Foi a única região em que esse grupo da população perdeu renda.

Essa queda na renda está associada tanto à crise no Rio de Janeiro como ao enfraquecimento da indústria e aos menores rendimentos no setor financeiro, associados à queda dos juros.

Além disso, a queda da renda real no Sudeste também está associada à inflação maior na região, onde o peso dos alimentos é menor. Nas capitais do Nordeste - esse sim um grande trunfo a favor do governo e dos candidatos que orbitam em torno da atual política econômica - a inflação nos 12 meses encerrados em março variou de 1,25% (Fortaleza) até 2,16% (Recife), em todos os casos os menores índices da atual série do IBGE (iniciada em 2012). A ideia de que os preços "já não estão mais subindo tanto" já aparece aqui e ali nas conversas da feira.

O ritmo fraco da retomada, a revisão para baixo do PIB antes projetado, a perda de confiança dos agentes e o emprego que cresce ancorado na informalidade não representam fracasso da atual política econômica. Mas o eleitor não pensa com a cabeça do analista. Ele não olha para os números. A tendência é que ele vote com o bolso e olhando para a carteira de trabalho. Nessa lógica, a inflação ajuda, mas o lento recuo do desemprego atrapalha.

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