segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Declaração de Segovia contradiz relatório da PF sobre Temer

Investigação aponta necessidade de quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico do presidente

Jailton de Carvalho / O Globo

-BRASÍLIA- O mais recente relatório do inquérito sobre supostas irregularidades cometidas pelo presidente Michel Temer na edição do decreto dos portos entra em choque com as declarações do diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, sobre a inexistência de indícios de crimes e a conclusão das investigações em pouco tempo. Num balanço, concluído em 15 de dezembro passado, dois analistas informaram ao delegado Cleyber Malta Lopes, responsável pela investigação, que, para o aprofundamento da apuração, seriam necessárias algumas decisões importantes, entre elas a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico de Temer e outros investigados. O relatório foi revelado pelo GLOBO no mês passado. Lopes retorna essa semana de viagem internacional para se debruçar sobre o caso.

Se as medidas recomendas pelos analistas forem acolhidas, o inquérito poderia ganhar novos desdobramentos e se prolongar por vários meses. Em entrevista publicada na última sexta-feira pela agência Reuters, Segovia afirmou que os indícios encontrados até agora “são muito frágeis”. O chefe da PF também ressaltou que “não apareceu absolutamente nada que desse base” para qualquer acusação por corrupção.

A polícia investiga se houve fraude e pagamento de propina na edição do decreto 9.048/2017, que prorroga os contratos de concessão do setor portuário. Uma das suspeitas é que parte do decreto teria sido direcionado para favorecer a Rodrimar a partir de negociações supostamente intermediadas por Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor especial de Temer. A Rodrimar é uma das concessionárias do Porto de Santos.

Entre os investigados, além de Temer e Loures, estão os executivos da Rodrimar, o coronel da Polícia Militar João Baptista Lima Filho, o ex-assessor de Temer José Yunes e o empresário Edgar Safdie, entre outros. O inquérito foi aberto com base no acordo de colaboração de executivos da JBS. O relator do caso é o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Agora, os investigadores entendem ser necessário partir para uma nova etapa da apuração. A ideia é rastrear a movimentação financeira dos investigados e mapear a teia de relações dos envolvidos. Entre os detalhes a serem depurados, os analistas citam “transações imobiliárias de João Baptista com offshores ligadas a pessoas envolvidas em fraudes e pequenas incongruências em termos de depoimentos”. As “incongruências” estariam em relatos sobre um encontro entre Rocha Loures e Safdie, nas relações do ex-assessor de Temer com Ricardo Mesquita e nas doações de algumas empresas do setor portuário a políticos do PMDB ligados ao presidente.

Após a entrevista à agência Reuters, Segovia foi intimado por Barroso a prestar esclarecimentos.

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