sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Míriam Leitão: Choque entre forças

- O Globo

O diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, deixou claro, em entrevista que me concedeu ontem, que discorda dos métodos do Ministério Público. Disse que a investigação sobre o presidente Temer deveria ter demorado mais. Reclamou do fato de que em torno de 190 investigações de políticos com foro estão sendo feitas diretamente pelo MP, quando deveriam estar na PF.

-Agente tem notícias dessas investigações dentro do MPF que nunca chegaram à PF. A gente diverge desse tipo de investigação porque acredita que a expertise quem tem é a Polícia Federal, a gente tem peritos criminais federais, toda uma capacidade de investigação maior do que o MPF, que tem outras atribuições. A gente tem um rol de atribuições diferente, especificamente investigativo.

Na entrevista ao meu programa na GloboNews, o diretor-geral da Polícia Federal disse que não se arrepende de ter dito que uma mala apenas não seria prova de corrupção, se referindo à mala de dinheiro recebida pelo deputado Rocha Loures. E acha que a frase tem que ser entendida em seu inteiro teor:

— A construção da frase que eu disse está mais do que correta. A investigação nunca ocorreu dentro da PF, ela corria dentro da PGR. Quinze dias foi o prazo que a PF teve em toda aquela investigação. Seriam várias malas ao longo de meses para que a gente confirmasse esse crime de corrupção. Era a maior investigação do país. Nunca na história desse país se havia investigado um presidente que estava trabalhando e cometendo crime de corrupção. Operação controlada é uma expertise da Polícia Federal.

Perguntei se não basta uma mala para provar que havia corrupção, e ele concordou, mas disse que a mala tinha que chegar ao destinatário. Ele considera que o Ministério Público tinha que ter permitido que a PF continuasse a operação controlada, para que se tivesse certeza do beneficiário final daquele dinheiro:

— Ao fazer a denúncia contra o presidente, o MP fechou o caso. A investigação se encerrou. Tenho certeza absoluta de que se a investigação estivesse sob o comando da Polícia Federal teria continuado. Uma ação controlada não pode ser encerrada no início. Tinha que buscar mais pessoas, buscar qual era a organização e quem era o beneficiário da organização criminosa.

Segovia assumiu sob uma onda de críticas e de acusações de que teria sido indicado por políticos investigados pela Lava-Jato, especialmente pelo expresidente José Sarney, para enfraquecer a operação. Ele garante que é fake news. Sobre o período em que esteve no Maranhão, disse que quando desembarcou lá para ser superintendente da PF iria reforçar a Operação Boi Barrica, contra a família Sarney. Inclusive, sua posse foi usada para disfarçar parte da operação que, contudo, foi interrompida pela Justiça. Sob o pretexto da posse, desembarcaram com ele 200 policiais federais. Eles cumpririam as ordens de prisão que, por fim, não foram concedidas.

O diretor-geral fez declarações polêmicas, logo que foi nomeado. Mas ao mesmo tempo tem fortalecido a Lava-Jato e nomeado delegados, que começaram a operação contra a corrupção, para postos de comando. Um exemplo é o delegado Márcio Anselmo para chefe da Divisão de Combate ao Crime Financeiro. O delegado foi o primeiro a puxar o fio da meada que levou à Lava-Jato, e hoje ele vai coordenar as operações de combate ao crime financeiro no Brasil todo.

Segovia reafirma que encerrará este ano as investigações do STF que estão na Polícia Federal. São 273 inquéritos. E mais, que pode encerrar as investigações até agosto:

— Fizemos um planejamento, vimos o tempo médio da investigação, reforçamos o número de equipes. Há muitos políticos sendo investigados. A gente tem que dar uma resposta à população. Ela merece ter uma resposta de quem são os políticos corruptos deste país e os que não são.

Segundo o diretor-geral, uma equipe do FBI especializada em fake news chegará ao Brasil em duas semanas. É parte do esforço conjunto coordenado pelo TSE para combater as fake news nas eleições. Segovia disse que não existe um modelo no Brasil, mas existem experiências internacionais que podem ajudar o país a desenvolver uma forma de combate às notícias falsas intencionalmente disseminadas. Diretor-geral da PF discorda dos métodos do MP e achou precipitado o fim da investigação contra Temer Segovia espera terminar os 273 inquéritos de políticos com foro até agosto, antes das eleições Equipe do FBI vem ao país ajudar o PF no esforço para combater as fake news durante a campanha

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