segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Celso Rocha de Barros: O Julgamento

- Folha de S. Paulo

Os investigadores da Lava Jato não perdoaram nenhum lado. Mas, politicamente, só a esquerda perdeu 

Na próxima quarta (24) mais de um terço do eleitorado brasileiro deve ficar sem candidato na eleição presidencial. O terço em questão será o de sempre: os eleitores de Lula estão concentrados na população mais pobre, a turma que só tem a chance de fazer lobby de quatro em quatro anos. E Lula deve se tornar inelegível após a confirmação de sua sentença daqui a dois dias.

Há gente melhor que eu para discutir os aspectos jurídicos do caso. Mas isso aqui eu sei: as consequências podem ser bem piores do que os pobres terem que encontrar outro representante na democracia brasileira.

Não acho que a Lava Jato seja uma conspiração de direita. O pessoal de esquerda reclama muito de mim por isso. Por exemplo, o blog pró-Lula "O Cafezinho" escreveu um texto lamentando minha "ingenuidade" em acreditar na Lava Jato. Outro dia um amigo me disse que, no momento, até o Reinaldo Azevedo está à minha esquerda. O colega, como se sabe, anda xingando muito a operação (que às vezes lhe dá razão).

O foco da denúncia dos amigos petistas está errado.

As evidências não sugerem que a Lava Jato poupe os adversários da esquerda. Todos os maiores adversários do PT já foram denunciados, embora seja de se lamentar a falta de um braço paulista da investigação (semelhante ao braço carioca).

É quando você sai da esfera de responsabilidade dos investigadores, quando você olha para os efeitos da Lava Jato na luta política, que a história é outra.

Após o julgamento de quarta, a Lava Jato terá tido apenas dois grandes efeitos políticos: a queda do governo de Dilma Rousseff e a impossibilidade legal da candidatura de Lula. Vamos ver se vocês notam o padrão.

Eduardo Cunha foi preso, mas foi escandalosamente poupado (inclusive pela imprensa conservadora) até o dia em que garantiu a queda de Dilma. Se tivesse caído durante o processo de impeachment, a direita teria sofrido uma derrota. Não sofreu. Cunha só caiu quando se tornou politicamente irrelevante.

Há mais provas contra Michel Temer do que jamais houve contra qualquer outro presidente. Se tivesse caído ano passado, a direita teria sofrido uma derrota. Não sofreu. Se Temer for investigado, o será quando já tiver se tornado politicamente irrelevante.

Ninguém esperou Dilma Rousseff ou Luiz Inácio Lula da Silva se tornarem politicamente irrelevantes para responsabilizá-los pelo que quer que fosse.

Os investigadores da Lava Jato não pouparam nenhum lado. Mas, politicamente, só a esquerda perdeu durante a operação. A direita é mais poderosa que a esquerda, e conseguiu defender melhor seus acusados. A esquerda não tem imprensa, não tem Gilmar, não tem maioria parlamentar, não tem apoio empresarial. Que me desculpem os companheiros que se meteram em falcatruas: se era para roubar, escolheram o lado errado.

O cenário de pesadelo para a democracia brasileira é Lula ser o único condenado politicamente relevante da Lava Jato. Não procurem um condenado da direita que "compense" Lula; isso não existe. Cunha depois do impeachment? Temer depois do mandato? Aécio a esta altura do campeonato? Por favor. Se Lula cair, é melhor cair todo mundo, ou esta história terá sido muito, muito feia.

Podemos torcer, mas, sejamos honestos: está com cara de que vai cair todo mundo?

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