segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Opinião do dia: * Luiz Werneck Vianna

Mas há método nesta loucura em que estamos imersos, não estamos inteiramente à deriva sob o domínio dos fatos, pois há quem tenha a pretensão de dirigi-los. Todavia a arrogância do ator de querer submeter o destino a seus desígnios pode – como entre os gregos, que a denominavam húbris – ser considerada como um desafio aos deuses passível de punição, destinando a um outro, que se mantém em serena prudência em meio ao tumulto dessas paixões desvairadas, mesmo que não o queira, o objeto de suas ambições.

Ainda há tempo para uma ação política racional que interrompa essa corrida às cegas rumo ao abismo, sacrificando nossa incipiente democracia, que tanto nos custou, às ambições dos que perderam o fio terra com o mundo real e se entregaram às artes da feitiçaria política, esquecidos de que feitiços podem virar-se contra os feiticeiros.

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* Luiz Werneck Vianna é sociólogo, PUC-Rio, ‘A política, os feitiços e os feiticeiros’, O Estado de S. Paulo, 5/11/2017.

Desafio é domar essência nacionalista da Europa, diz filósofa Ágnes Heller

Sylvia Colombo / Folha de S. Paulo

BUENOS AIRES - De passagem por Buenos Aires, onde recebeu um título de doutora honoris causa da Untref (Universidade Nacional Três de Fevereiro), a filósofa húngara Ágnes Heller, 88, disse que teme o crescente sentimento nacionalista na Europa.

Para ela, a região "não tem a tradição democrática nem o sistema de pesos e contrapesos que os Estados Unidos possuem".

Sobrevivente do Holocausto, ela é professora emérita da New School, em Nova York, e divide seu tempo entre os EUA e Budapeste. Discípula do filósofo marxista Georg Lukács, tem um campo de atuação variado, que inclui textos sobre ética, Shakespeare e teoria política.

• Folha - Há quem pense que existe um contexto nos EUA e na Europa que permita o ressurgimento de algo similar ao nazismo. Está de acordo?

Ágnes Heller - As coisas não podem se repetir de forma concreta, mas sim em sua essência. Erram os historiadores que pensam que se aprende algo com a história e não se volta a errar. A única coisa que se aprende com a história é que nunca se aprende nada com ela. Embora um contexto possa apontar uma tendência, são decisões políticas que realmente dão direção ou rompem tendências. O futuro está sempre aberto.

Quando me perguntam o que vai acontecer à União Europeia ou ao mundo, minha capacidade de responder tem uma limitação, que é marcada pela ação dos atores políticos.

• Por exemplo?

O 'brexit'. É um evento histórico baseado na estupidez de um indivíduo. Se David Cameron não propusesse o plebiscito, não estaríamos incluindo o 'brexit' numa cadeia de acontecimentos que parece apontar para uma onda reacionária. Eu classificaria o 'brexit' como um acidente.

• O 'brexit', a eleição de Trump e o ressurgimento dos nacionalismos europeus fazem parte de uma tendência?

Não acho fácil conectar essas coisas. Porque a Europa é uma parte diferente do mundo e, principalmente, diferente dos EUA. Nos EUA, há um sistema de pesos e contrapesos e há uma tradição democrática. Na Europa, a tradição democrática é de pouco alcance e apenas em certos lugares.

A Europa ainda é regida pela lógica dos Estados-nação, onde a religião é o nacionalismo. Todos os países europeus, exceto a Suíça, têm no nacionalismo sua principal identidade. Se você perguntar a um europeu quem ele é, ele não vai dizer que é europeu, nem mesmo que é humano, mas sim responderá que é francês, alemão ou húngaro.

Até o século 18, a religião era a identidade básica. A partir do 19, o nacionalismo foi se impondo de forma cada vez mais intensa. Isso trava a formação de uma tradição democrática, de um sistema de pesos e contrapesos, como nos EUA.

Otavio Frias Filho: Gramsci, esquecido e atual

Folha de S. Paulo / Ilustríssima

Ainda sobre o tema do centenário da Revolução Russa, é oportuno registrar uma lacuna nas celebrações, a do pensador italiano Antonio Gramsci. Ele foi não só um dos dois marxistas mais inventivos do século 20 (o outro seria o húngaro György Lukács), mas um pioneiro ao intuir as deficiências sobre as quais assentava a experiência soviética. A crítica de Gramsci, embora implícita, tinha mais alcance que a do próprio Trótski e sua teoria do desvio burocrático.

É verdade que está saindo agora "Gramsci e a Revolução Russa" (Mórula Editorial), coletânea de ensaios de especialistas brasileiros e italianos, e que há meses foi publicado um gigantesco "Dicionário Gramsciano" (Boitempo), ambos trabalhos instrutivos, mas apologéticos, voltados a um público de iniciados e militantes.

O próprio Gramsci, porém, está mal editado. As traduções de Carlos Nelson Coutinho estão em parte esgotadas; falta, sobretudo, uma reedição crítica desse autor inesgotável. Escrita quase toda na precariedade extrema dos dez anos que passou numa prisão fascista, até ser libertado para morrer de tuberculose em 1937, aos 46 anos, sua obra são anotações iluminadoras sobre uma imensidade de tópicos, em geral culturais (como Nietzsche, sua área de origem era a filologia).

Gramsci extrapola as fronteiras de uma seita intelectual e pertence ao pensamento humano. Sua escrita, como a do próprio Marx, é plástica e imaginativa, sem aquele automatismo determinista de tantos marxistas que faz a história parecer tão viva quanto um teatro de marionetes. Sua maior contribuição terá sido enfatizar que o poder repousa sobre instrumentos coercitivos, mas nunca dispensa outra dimensão, que se expressa como persuasão e relativo consentimento.

Roberto Freire: Por uma esquerda contemporânea do futuro

- Poder360

Em um mundo que enfrenta um revolucionário processo de transformação, não é das tarefas mais simples para as forças políticas e agremiações partidárias se adaptarem à nova realidade. Instituições datadas do período da Revolução Industrial, ainda no século XIX, os partidos políticos perderam muito de sua interlocução junto à população e hoje têm enorme dificuldade de se estabelecer nas sociedades plenamente interconectadas em rede. As esquerdas, em especial, praticamente todas em crise em grande parte do mundo, só retomarão o diálogo com os demais atores sociais se tiverem a capacidade de interpretar as mudanças em curso.

Essa revolução social já é um dado da realidade que está bem diante dos nossos olhos e contra o qual não se pode lutar. Tal processo envolve não apenas o avanço das novas tecnologias ou das ferramentas de comunicação, mas se trata, fundamentalmente, de uma transformação radical na forma como nos relacionamos uns com os outros. É evidente que as sociedades atuais não têm praticamente nenhuma similitude com aquelas de décadas passadas. Este é um movimento irrefreável que só se intensificará.

Novas questões estão na ordem do dia no mundo moderno, entre as quais a inteligência artificial e a robotização. Os “Tempos Modernos”, retratados como obra-prima no cinema pela genialidade de Charles Chaplin são coisa do passado. Hoje, a linha de montagem é ocupada por robôs e por todo um processo de automação. Essa verdadeira revolução está transformando profundamente tudo o que está à nossa volta: o mundo do trabalho, a cultura, as relações sociais, os costumes e as instituições – entre elas, inclusive, até mesmo a própria família.

Almir Pazzianotto Pinto: O STF antes e depois da TV

- Diário do Poder

“Não há terra mais dificultosa de governar que a pátria, nem há mando mais malsofrido, nem mais mal obedecido, que o dos iguais”. A frase é do Sermão da Dominga Vigésima Segunda depois de Pentecostes, pregado pelo padre Antonio Vieira “na ocasião em que o estado do Maranhão se repartiu em dois governos, e estes se deram a pessoas particulares moradoras da mesma terra” (Sermões, vol. VI, pág. 225).

Se não o foi, deve ser lido por Michel Temer e Carmen Lúcia, presidente da República e presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), cujas dificuldades de presidir e de mandar saltam aos olhos de quem acompanha o que se passa em Brasília.

O Dr. Michel Temer é conhecido pelas versatilidades que o fizeram deputado federal, presidente da Câmara dos Deputados, vice-presidente e presidente da República. Logrou sobreviver à queda do governo Dilma Roussef, escapou de ser atingido pelo impeachment, e se safa das acusações do Dr. Rodrigo Janot, cuja aljava continha inesgotável número de flechas.

Pouco conhecida fora de Minas Gerais, a Dra. Carmen Lúcia chegou quase desapercebidamente à Alta Corte. Dedicada aos estudos, discretamente elegante, de poucas palavras, fala mansa, permaneceu longos anos protegida pelo anonimato. Tudo que se sabe dela é positivo, como o fato de ser exigente consigo e com os servidores que lhe prestam assistência. Superou galhardamente a sabatina a que se submeteu no Senado, graças à reputação ilibada e invejável saber jurídico.

Paulo Guedes: Tudo muda em 2018

- O Globo

O aperfeiçoamento das instituições de uma democracia emergente é hoje mais importante do que as obsoletas disputas ideológicas.

A morte da velha política em 2017, sob a guilhotina da Lava-Jato, é o nosso mais importante episódio de aperfeiçoamento institucional desde a redemocratização e a convocação da Assembleia Constituinte. A independência do Ministério Público e do Poder Judiciário foi ferramenta decisiva para garantir a integridade das investigações e o fim da impunidade em um sistema político degenerado pelo dirigismo na economia. Sabemos agora de tudo. E esperamos cada vez mais impacientes pelas condenações, perdas de mandato e impedimentos de candidaturas das criaturas do pântano político.

Por isso a opinião pública informada considera insultante provocação e descarada tentativa de intimidação qualquer reencaminhamento de uma “lei contra abuso de autoridade” exatamente por quem abusou da autoridade no exercício de funções públicas e desfruta de indecorosa impunidade em foro privilegiado. A legislação em causa própria em meio ao lamaçal da corrupção transforma o grito de “morte à velha política” em tema incontornável nas eleições de 2018.

Jose Roberto de Toledo: Voto de juiz vale mais

- Estado de S. Paulo

A campanha presidencial será muitas coisas, menos serena e previsível. Nem é por causa dos #ParadisePapers da vida que, vira e mexe, tiram o sono de candidatos. O principal criadouro de incertezas é a judicialização da eleição. Líderes das pesquisas, Lula e Bolsonaro logo serão julgados por “campanha antecipada”. São os primeiros de muitos julgamentos com impacto determinante nas urnas. A despeito da eleição, a política continuará sendo, em 2018 e além, uma derivada da Justiça.

“Campanha antecipada” é jabuticaba eleitoral brasileira. O tipo de dispositivo legal que encena ignorar o óbvio: que todo político está permanentemente em campanha, antes mesmo de ter certeza de que será candidato. Ou as bilionárias emendas ao orçamento transacionadas com parlamentares pelo atual e por todos os governos passados visam o estrito interesse público?

As emendas não são tão cobiçadas à toa. São armas de campanha, tão ou mais poderosas do que o horário eleitoral na TV e no rádio. Com uma diferença fundamental: só estão disponíveis para quem já está lá e faz parte do clube dos eleitos. Por isso, contra elas quase nenhum partido grita “campanha antecipada”.

Ricardo Noblat: Para o lixo da História

- O Globo

“Estou perdoando os golpistas, que estão acabando com esse país” - Lula

Naturalmente faltou combinar com Dilma, que ainda se esguelha por aí a denunciar “o golpe” que a derrubou e os golpistas que tramaram sua desgraça. E faltou combinar com as milhares de pessoas, militantes do PT ou simples saudosistas de uma era de crescimento econômico, convencidas de que o golpe afundou o país na mais grave recessão de sua História. Não fosse ele, tudo estaria muito bem.

MAS NEM DILMA, NEM OS militantes do PT, tampouco os saudosistas preocupam Lula neste momento. Neles se dará um jeito mais tarde — ele sempre consegue. Em primeiro lugar, Lula preocupa-se com Lula, a poucos meses da decisão em segunda instância da Justiça que poderá impedi-lo de disputar a próxima eleição. Em segundo lugar, Lula preocupa-se com Lula, que corre o risco de ver o sol quadrado.

FOI POR ISSO QUE, NA SEMANA passada, no ato final de sua viagem a Minas Gerais, Lula surpreendeu os desavisados com o discurso que se tornará conhecido no futuro como a fala do “Eu perdoo”. Sim, o filho de mãe analfabeta, o retirante que sobreviveu à seca nordestina e à miséria, a alma mais honesta do país, o político mais perseguido, generosamente perdoou seus desafetos e os de Dilma.

Fernando Limongi: Cinismo resignado

- Valor Econômico


Preço a pagar pelos equívocos de Temer é incomensurável


A semana foi curta, porém suficiente para sintetizar o que será o ano e pouco que resta ao governo Temer. Por um lado, anunciou-se a procrastinação da retomada da agenda reformista. De outro, acumularam-se respostas protocolares, mas rápidas, a novas acusações contra o presidente. Em um e outro caso, tudo o que o governo tem a oferecer são desculpas prontas. Quanto às reformas, alega-se que paralisia decorre da resistência dos parlamentares a medidas impopulares em ano eleitoral. No outro front, novas revelações serão tratadas como foram as de Lúcio Funaro, como mais uma tentativa vil de desestabilizar um governo comprometido até o último fio de cabelo com as reformas. A contradição entre a prática e o discurso é evidente.

Passada a ameaça maior, o governo sequer demonstrou disposição para retomar a iniciativa legislativa. Com o presidente confinado a repouso pós-operatório, o Planalto não emitiu sinais de que se disporia a arregaçar as mangas e tratar das reformas em nome das quais justificou sua permanência no poder. Por enquanto, o núcleo duro do Planalto manteve silêncio sepulcral sobre a retomada da tal "agenda positiva".

Marcus Melo: O segredo deficiente

- Folha de S. Paulo

O crescente protagonismo do Judiciário e instituições de controle "lato sensu" tem sido acompanhado da derrocada do controle parlamentar sobre o Poder Executivo. Os dois fenômenos não são independentes nem exclusivos do nosso país.

Exemplos do segundo são os dois pedidos de licença para investigação do presidente da República por crimes comuns. Mas o marco simbólico é a CPMI da Petrobras, cujo relatório final, em novembro de 2014, mesmo elaborado com o governo nas cordas, e face ao maior escândalo da história, não indiciou ninguém.

O relatório foi emendado às pressas após divulgação de vídeo no qual parlamentares governistas e depoentes realizam ensaio sobre como iriam atuar na CPI.

Mais recentemente, em uma inversão de papéis, foi instalada a CPI mista da JBS, sob o comando do capitão do mato Carlos Marun. Seu objetivo é reconhecido abertamente: atacar o Judiciário, a Polícia Federal e o MP.

Marcus Pestana: Desequilíbrio fiscal, nosso calcanhar de aquiles

- O Tempo (MG)

Paralela à monumental instabilidade política, a economia brasileira dá mostras de recuperação após a maior recessão de nossa história. Juros, desemprego e inflação estão em queda. A confiança dos investidores começa a ser resgatada. A credibilidade da política econômica vai sendo restituída. O cenário mundial é favorável, com uma enorme liquidez. Há capitais disponíveis sedentos por aproveitar as oportunidades no Brasil. O leilão do pré-sal demonstrou isso. Se tivermos juízo e responsabilidade, poderemos virar o jogo e construir um horizonte marcado por uma perspectiva de desenvolvimento sustentado de longo prazo, retomando taxas de crescimento de 3% a 4% ao ano.

A política não é um fim em si mesma. A sociedade humana criou instituições e sistemas políticos para governar seu destino. A política é ferramenta para alavancar o potencial presente na sociedade e na economia. Infelizmente, no Brasil de nossos dias, a política tem sido um problema, e não uma solução.

As incertezas sobre os resultados das urnas em 2018 são um entrave à plena retomada do crescimento. Oxalá elejamos um presidente que pacifique o país e implante um programa consistente de governo.

Leandro Colon: Agenda pesada, tempo curto

- Folha de S. Paulo

Com a página da denúncia da PGR virada, Michel Temer entra hoje em contagem regressiva de 14 meses para o fim do mandato. Na prática, serão dois governos: um até 31 de março e o outro a partir de abril, após a saída dos ministros que disputarão as próximas eleições.

A debandada não será pequena. O Planalto estima que ao menos 15 chefes de pasta da Esplanada deixarão o posto. Sem somar o nome de Henrique Meirelles, o presidenciável que vai se manter como incógnita até os 45 do segundo tempo.

Denunciada junto com Temer, a dupla Eliseu Padilha e Moreira Franco deve permanecer. Menos por lealdade ao chefe e mais porque eles querem evitar os escaninhos de Sergio Moro, hipótese que pode se tornar realidade se saírem do governo.

Aliás, assim como Temer, ambos terão contas a acertar com a primeira instância em 2019, a não ser que se mantenham em cargo com foro.

Cida Damasco: Economia no centro

- O Estado de S. Paulo

Há dúvida sobre em que pé estará a retomada quando a campanha esquentar

Ainda tem muito jogo pela frente, mas o centro vai se movimentando para cacifar a sua ou as suas apostas para 2018. E, nessa disputa, que continua sujeita à entrada de novos personagens, como o apresentador Luciano Huck, o governador Geraldo Alckmin reafirma sua posição no instável PSDB e o ministro Henrique Meirelles começa a cavar seu espaço, com o aval inicial do PSD. Bem a seu estilo, dizendo nem que sim nem que não à hipótese de uma eventual candidatura, mas reconhecendo que é “presidenciável” e visivelmente interessado em se bandear do comando da área econômica para o comando do País. E, para isso, cruza os dedos para que a economia continue melhorando no ano que vem – e principalmente para que essa melhora vá além dos indicadores analisados por especialistas, e sensibilize o eleitorado. Em outras palavras, que a retomada seja traduzida claramente em mais e melhores empregos e mais renda disponível para consumo. O próprio Meirelles reconhece que a percepção da retomada ainda não está disseminada pelo conjunto da sociedade.

De novo o sentimento (ou não) de bem-estar econômico do eleitorado pode ter um papel decisivo nas próximas eleições. O Plano Real está sempre na cabeça de quem quer repetir a trajetória do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, apesar das diferenças inegáveis entre as duas situações. Por essa visão, sem deixar de lado as particularidades em outras searas, uma insatisfação com o quadro econômico atual e/ou uma decepção com as promessas para o ano que vem ajudariam a definir os votos do eleitorado em 2018. Um eleitorado, é bom lembrar, mais do que desencantado com a política e os políticos, e em busca do “novo” – como aconteceu na disputa das Prefeituras em 2016 --, mas por enquanto com uma parcela considerável, na faixa de um terço, manifestando sua preferência por Lula em vários cenários definidos pelos institutos de pesquisa.

Gustavo Loyola: Um país atolado no passado

- Valor Econômico

Aqui, ao contrário das economias avançadas, mais vale a proximidade com o governo do que a eficiência econômica

O Banco Mundial acaba de divulgar mais uma edição do relatório anual "Doing Business" e, sem grande surpresa, o Brasil continua ocupando posição vexatória no "ranking" que busca avaliar, de maneira comparada, o ambiente de negócios em 190 países. Embora o País tenha apresentado alguma melhora nos indicadores absolutos no último ano, em termos relativos o Brasil caiu pelo segundo ano consecutivo, passando da 123ª para a 125ª posição. O Brasil segue atrás de países como o Irã, a Namíbia e Uganda. Somos o pior entre os Brics e também no Mercosul.

A péssima colocação relativa do Brasil reflete principalmente o atraso intelectual dominante no país, cujas elites, em sua maioria, se beneficiam do capitalismo de compadrio e, por isso, dele não abrem mão facilmente. Aqui, ao contrário das economias capitalistas adiantadas, mais vale, como regra geral, a proximidade com o governo da ocasião do que a eficiência econômica. Somos o país onde predomina o "criar dificuldades para vender facilidades". Há, evidentemente, ilhas de eficiência e competitividade, mas infelizmente insuficientes para modificar de maneira decisiva o nosso subcapitalismo.

Em nenhum país do mundo, a construção das instituições necessárias ao desenvolvimento capitalista se deu de forma linear e homogênea. Resquícios do passado pré-capitalista continuaram presentes aqui e acolá até nas nações institucionalmente mais desenvolvidas. O capitalismo de compadrio não é, pois, uma exclusividade brasileira. Na América Latina, em particular, é encontradiço, em maior ou menor grau, em todos os países do continente. O que impressiona, contudo, é a extensão e profundidade do fenômeno no Brasil.

Falta o centro – Editorial: Folha de S. Paulo

Ainda que desgastada e imprecisa, a divisão conceitual entre direita e esquerda dificilmente escapa ao horizonte dos analistas políticos. Afinal, persistem, apesar das alterações da conjuntura histórica, associações de valores a diferenciar uma e outra forma de afiliação ideológica.

Tradição, autoridade e hierarquia versus utopia, contestação e mudança; crítica à desigualdade ou estímulo à concorrência; intervenção estatal ou confiança no mercado; nacional-desenvolvimentismo ou defesa da globalização. São inúmeras as oposições que, em estado puro, podem ser consideradas no debate.

Ocorre que, na prática, dualidades de tal tipo raramente sobrevivem, e as combinações entre seus diferentes aspectos multiplicam as opções em jogo e as incoerências que, em tese, abrigam dentro de si.

A julgar por algumas pesquisas de opinião recentes –e, portanto, prematuras–, o eleitorado brasileiro estaria a se dividir em alternativas inconciliáveis e remotas com vistas à sucessão presidencial em 2018: Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vê o deputado Jair Bolsonaro (PSC) crescer como seu principal adversário no segundo turno.

A caravana da mentira – Editorial: O Estado de S. Paulo

A passagem da assim chamada “caravana” de Lula da Silva por Minas Gerais, encerrada na segunda-feira passada com um discurso do ex-presidente na Praça da Estação, em Belo Horizonte, foi marcada, como todas as outras, pelo cipoal de mentiras do léxico petista que só pode ser tomado como verdadeiro por quem despreza os fatos e só precisa de meia dúzia de frases de efeito, carentes de sentido, para formar suas convicções.

Lula da Silva ultrapassa, e muito, a linha que divide um mero jogo de palavras, recurso próprio dos discursos políticos, da mais desavergonhada mentira. Aliás, caso fosse tipificado como crime o ato de mentir para a população em cima de um palanque ou carro de som, o chefão petista teria mais algumas anotações a engrossar a sua já robusta ficha penal.

Comparando-se aos ex-presidentes Getúlio Vargas, João Goulart e Juscelino Kubitschek, personagens que teriam sido “moralmente destruídos todas as vezes que a direita nesse país resolveu usurpar o poder”, Lula da Silva mostrou-se magnânimo e disse que estava “perdoando os golpistas”, prometendo “trazer a democracia de volta para o Brasil”.

Atalho equivocado – Editorial: O Globo

Fortalecer os partidos é a fórmula indicada para se conseguir consolidar a democracia representativa

A crise de representatividade política brasileira é não só conhecida há tempos, como mapeada aos detalhes. As polêmicas se travam sobre propostas para enfrentá-la. Ponto consensual é a enorme proliferação de partidos, que os torna sem identificação com o eleitorado.

Há 35 registrados na Justiça Eleitoral e ainda muitos mais na fila para receberem o alvará e poderem disputar o cobiçado e fácil dinheiro do Fundo Partidário. No Congresso, operam pouco mais de 25. Recente reforma aprovada no Legislativo melhora este quadro ao recriar o mecanismo da cláusula de desempenho, ou de barreira, para que as legendas obtenham um mínimo de votos, a fim de poder conquistar prerrogativas. Como o acesso pleno ao Fundo Partidário, a formação de bancadas nas Casas Legislativas e a obtenção de cota no horário eleitoral dito gratuito em TV e rádio.

Muito justo, porque o regime é de “democracia representativa”. Assim, devese ter representatividade (medida em número de votos) para atuar no Legislativo, a fim de candidatar-se a cargos eletivos, de vereador a presidente da República.

Sem tempo a perder – Editorial: O Estado de S. Paulo

Se o Brasil tropeçar de novo e perder a chance de recuperação, quem quiser encontrar os culpados deverá procurá-los dentro do País. Essa nova crise, se ocorrer, será inteiramente fabricada com ingredientes e tecnologia nacionais, como foi a anterior, legado inesquecível da incompetência e da irresponsabilidade da gestão petista. O ambiente exterior continua favorável, com a economia global em crescimento, comércio em expansão e muito capital disponível para financiamento e investimento. Mas é preciso aproveitar as boas condições internacionais para avançar, sem pressões externas, no programa de reparos e de reequipamento da economia brasileira. Os juros poderão subir de novo em pouco tempo, nos Estados Unidos. O Banco da Inglaterra (BOE) acaba de elevar sua taxa básica - pela primeira vez em dez anos - de 0,25% para 0,50%. A mudança da política monetária na zona do euro deverá ser lenta e suave, mas deverá começar nos primeiros meses de 2018.

Aposta-se no mercado em novo aumento dos juros básicos americanos em dezembro. A taxa básica foi mantida na faixa de 1% a 1,25%, como se esperava, na última reunião do Comitê de Mercado Aberto do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), realizada na terça e na quarta-feira passadas. A referência a um crescimento econômico “sólido”, em nota distribuída depois da reunião, reforçou, segundo fontes do setor financeiro, a expectativa de aumento no fim do ano. O adjetivo “moderado” havia sido usado depois da reunião de setembro para descrever o crescimento.

Por enquanto, mesmo com o aumento da taxa básica no Reino Unido e com a perspectiva de uma nova alta nos Estados Unidos, o quadro internacional permanece benigno, palavra usada em notas e atas do Banco Central (BC). Mas a economia americana cresceu no terceiro trimestre em ritmo equivalente a 3% ao ano, segundo a estimativa divulgada há poucos dias. É um crescimento forte para os padrões dos países mais desenvolvidos. É cedo para previsões sobre como agirá na presidência do Fed o sucessor da economista Janet Yellen, com mandato até fevereiro. Mas até um partidário de políticas suaves poderá ser forçado a apertar os controles, se as pressões inflacionárias se intensificarem.

Indecisão sobre Lula faz PCdoB ter candidata

Aliado do PT desde 1989, partido anuncia Manuela D’Ávila; decisão divide petistas

Pedro Venceslau e Paula Reverbel / O Estado de S. Paulo

O PCdoB lançou no domingo a pré-candidatura da deputada estadual gaúcha Manuela D’Ávila à Presidência da República. É a primeira vez desde a redemocratização do País, em 1985, que o partido lança um nome na disputa pelo Palácio do Planalto.

Apesar do anúncio, a presidente do partido, Luciana Santos, disse ao Estado que a pré-candidatura não afasta o PCdoB do PT, seu aliado histórico. Segundo ela, a decisão de lançar Manuela D’Ávila foi tomada diante da instabilidade política do País, “sem comprometer a aliança política que possa haver com o PT lá na frente”.

“Não há um partido mais defensor do PT do que o PCdoB”, disse Luciana. “Nós queremos nos apresentar com mais força para ajudar o conjunto do nosso campo político a retomar a Presidência da República no ano que vem”, explicou. Segundo ela, a candidatura vai se consolidar no processo de convenções.

Entre os petistas, as reações ao anúncio do PCdoB foram díspares. A senadora Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT, comemorou a candidatura de Manuela em seu perfil nas redes sociais.
“Grande quadro político, grande mulher! Ali na frente nos encontraremos, Manu!”, escreveu no Twitter.

Governo mostrou que não está imobilizado – Editorial: Valor Econômico

Mesmo com todo o desgaste e as concessões que foram feitas a políticos para barrar a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer na Câmara dos Deputados, o governo mostrou que não está imobilizado. Contrariando teses e avaliações sobre a fragilidade política em que se encontra, Temer baixou duas medidas provisórias, na semana passada, que terão grande repercussão no ajuste das contas públicas do próximo ano.

Até mesmo o instrumento que escolheu - MP e não projeto de lei - surpreendeu analistas, principalmente depois do desentendimento entre o chefe da Nação e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O deputado carioca chegou a dizer que não votaria mais medidas provisórias, enquanto a tramitação das MPs não fosse regulamentada.

Havia também uma preocupação na área econômica com o desdobramento desta questão, pois o uso de projetos de lei e não de MPs para as medidas do ajuste fiscal atrasaria o ingresso dos recursos nos cofres do Tesouro e a redução de despesas, o que tornaria ainda mais difícil a situação das contas públicas em 2018.

Com a medida provisória 805, Temer oficializou o que tinha sido anunciado pela equipe econômica ainda em meados de agosto. Adiou para 2019 o reajuste salarial de 23 categorias de servidores do Executivo, que estava inicialmente previsto para janeiro do próximo ano; elevou de 11% para 14% a alíquota de contribuição previdenciária sobre a remuneração dos funcionários ativos e inativos dos três Poderes da União que ultrapassar o teto do INSS (R$ 5.531,31); e reduziu os benefícios concedidos aos servidores por meio do auxílio moradia e ajuda de custo.

Ala de esquerda do PSDB apoia Alckmin e provoca polêmica

Por Fernando Taquari | Valor Econômico

SÃO PAULO - Contra as privatizações e o liberalismo econômico. A favor da taxação de grandes fortunas, do controle de capitais voláteis e de uma reforma tributária progressiva com foco na justiça social. Apoio às reivindicações dos trabalhadores. À primeira vista, as ideias parecem tiradas de um programa de governo do Psol. Na realidade, são teses encampadas por um grupo do PSDB que defende uma guinada à esquerda no partido e rechaça a ideia de uma candidatura à Presidência do prefeito paulistano, João Doria (PSDB).

Criado em 2004, o PSDB Esquerda Pra Valer (EPV) apoia as pretensões presidenciais do governador paulista Geraldo Alckmin, que tem ressaltado em discursos a preocupação com o emprego e enfatizado programas de sua gestão voltados para baixa renda. No dia 20 de outubro, Alckmin esteve em um encontro com a tendência interna. "Não tem economia moderna que tenha consumo sem salário ou renda, não existe isso. Temos que ter um foco na inovação e outro na questão social, e aí vem a social-democracia. O 'laissez-faire', o liberalismo completo, é a incivilização. O grande come o pequeno", disse o governador, em vídeo colocado pelo grupo no Facebook.

A distância de Alckmin em relação ao EPV é grande nos temas econômicos. Nos últimos meses, o governador se reuniu com economistas distante da esquerda. Recebeu na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes nomes como Armínio Fraga, Pérsio Árida, Eduardo Giannetti da Fonseca e Joaquim Levy. Com nenhum deles se mostrou refratário às privatizações. Tampouco sinalizou com a implementação de um imposto sobre grandes fortunas ou aumento da taxação sobre herança.

Painel / Folha de S. Paulo

Ampulheta virada A saída do PSDB do governo Michel Temer é agora apenas uma questão de tempo. Até integrantes da ala governista do partido admitem que o desembarque tornou-se inevitável. Se avançar a articulação para fazer de Geraldo Alckmin o presidente da sigla, ele seria aclamado candidato ao Planalto já na convenção nacional, em dezembro, o que anteciparia a debandada dos ministros tucanos. Se a presidência da legenda ficar com Marconi Perillo (GO), o limite será fevereiro de 2018.

Armas em punho Uma vitória do senador Tasso Jereissati (CE) na disputa interna também anteciparia a ruptura da aliança com o Planalto. Tasso tem o apoio de Fernando Henrique Cardoso e está no comando do partido. Isso lhe dá vantagem para mapear os votos do colégio que elegerá o novo presidente do PSDB.

O meu lado FHC, que pregou o desembarque do PSDB em artigo neste domingo (5), diz agora que “um partido que se propõe a lançar candidato presidencial neste momento difícil do país deve procurar união interna para, em aliança com alguns outros partidos, formar um polo progressista”.

Palavra dada “O PSDB precisa continuar apoiando as reformas, mas para ser condutor de novas políticas não necessariamente há de estar ligado a um governo cujo núcleo político pertence a outros partidos. Veremos se na convenção haverá o rejuvenescimento requerido para o futuro do Brasil”, conclui o ex-presidente.

No seu quintal Líder da gestão Geraldo Alckmin na Assembleia de São Paulo, o deputado Barros Munhoz (PSDB-SP) ironizou a tentativa do Palácio dos Bandeirantes de minimizar o descontentamento da base aliada com o governador.

Coluna do Estadão / O Estado de S. Paulo.

Imposto sindical deve ser recriado por projeto

O presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, desistiu de cobrar do presidente Michel Temer a edição de medida provisória para recriar o imposto sindical, extinto com a reforma trabalhista. Temer tinha prometido às centrais que enviaria ao Congresso uma MP para manter, por cinco anos, a principal fonte de renda dos sindicatos em troca de apoio na 2.ª denúncia. Mas, diante da demora, ele negocia com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a votação em regime de urgência de projeto para instituir o novo tributo.

» Jabuti. O novo imposto sindical será incluído num projeto sem relação com o tema, mas que estiver pronto para ser votado no plenário da Câmara. Com isso, a pauta não será debatida pelas comissões temáticas.

» Caminho. Uma emenda ao projeto irá definir que os sindicatos terão que aprovar em assembleias se poderão ou não cobrar o imposto sindical. Quem receber o aval terá o direito de arrecadar da categoria beneficiada pelos acordos coletivos, filiados ou não.

» Tudo ou nada. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), defende que a reforma da Previdência seja votada, mesmo sob o risco de derrota. “Pelo menos o governo mostra serviço”, diz. O Planalto, contudo, não tem pressa em retomar o assunto.

» Intensivão. O presidenciável Jair Bolsonaro (PSC-RJ) contratou o professor Adolfo Saschida para lhe dar aulas de economia básica. Ele é pesquisador do Ipea e filiado ao DEM.

» Questão de tempo... Rachada, a bancada do PSDB no Congresso começa a se unir novamente num movimento para a legenda entregar os cargos no governo do presidente Michel Temer em dezembro.

Tucanos paulistas planejam rebelião por saída do governo

Após FH cobrar desembarque, dirigentes querem unir lideranças estaduais

Cleide Carvalho / O Globo

-SÃO PAULO- A direção paulista do PSDB pretende iniciar, a partir do próximo domingo, quando acontecem as convenções estaduais do partido, um movimento para cobrar o desembarque do governo Michel Temer. Presidente do PSDB em São Paulo, o deputado estadual Pedro Tobias afirma concordar com o diagnóstico feito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em artigo publicado ontem no GLOBO, ele escreveu que, se o PSDB não desembarcar do governo em dezembro, os tucanos se tornarão “coadjuvantes na briga sucessória”.

Segundo Tobias, após as eleições internas da semana que vem, os paulistas deverão convocar os outros dirigentes estaduais a se rebelarem contra o apoio a Temer. Líder do partido na Câmara, o deputado Ricardo Tripoli, também de São Paulo, engrossou o coro do apoio ao artigo de FH e declarou que os tucanos já deveriam ter deixado o governo Temer.

No artigo de ontem, FH propõe que, apesar do desembarque, o PSDB deve continuar apoiando as reformas propostas pelo governo.

— O grupo que está no governo não quer sair, mas não pode permanecer a um custo tão alto para o partido. Ou saímos do governo e voltamos à raiz do PSDB, ou vamos caminhar para o suicídio coletivo — disse Tobias, que deve reforçar a defesa desse posicionamento na convenção estadual do próximo domingo.

Geraldo Carneiro: Conspirações

alguma coisa se desprende do meu corpo
e voa
não cabe na moldura do meu céu.
sou náufrago no firmamento.
o vento da poesia me conduz além de mimo sol me acende
estrelas me suportam
Odisseu nos subúrbios da galáxia.
amor é o que me sabe e o que me sobra
outro castelo que naufraga
como tantos que a força do meu sonho
quis transformar em catedrais.
ilusões? ainda me restam duas dúzias.
conspirações de amor, talvez não mais.

Paulinho da Viola: Filosofia