quarta-feira, 21 de junho de 2017

Opinião do dia - Marco Aurélio Nogueira

Outro dia, FHC falou que “é preciso dar uma trégua ao Brasil”. Ele está certo. Parar um pouco para pensar, guardar o ódio e o ressentimento acumulados, buscar um foco mais interessante do que esta briga entre partidos mortos-vivos. O país está efetivamente estressado. Na política, sobretudo. Mas a vida não para e os humanos conseguem sempre sair de situações difíceis. Basta que consigam definir quais os seus grandes problemas e tenham tempo e determinação para modelar soluções e construir saídas. Com um sentimento de urgência, mas sem correria.

É muito, é custoso, é difícil, mas é o que temos."

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*Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política na Unesp. “Estamos sem pontes e sem projeto”, O Estado de S. Paulo, 19/6/2017

Revés governista eleva dúvida sobre aprovação de reformas

Comissão do Senado rejeita relatório da reforma trabalhista

Derrota por 10 votos a 9 surpreendeu governistas; mesmo assim, projeto segue para a próxima comissão e previsão é que vá a plenário na próxima semana

Fernando Nakagawa, Julia Lindner e Isabela Bonfim, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – O governo sofreu uma inesperada e dura derrota com a reforma trabalhista no Senado. A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) rejeitou, por 10 votos a 9, o parecer que pedia a aprovação do projeto. Três deputados da base governista votaram contra o projeto, o que surpreendeu o Planalto. Mesmo com a derrota, a tramitação segue e o governo estima que aprovará o projeto no plenário com apoio de 46 senadores.

Considerada “a mais fácil” das duas reformas estruturais em tramitação no Congresso – a outra é a da Previdência –, a mudança na legislação trabalhista foi rejeitada diante da insatisfação de alguns governistas com o projeto. O desconforto ficou evidente no debate que antecedeu a votação: em 90 minutos, apenas dois defenderam o projeto – o líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), e o próprio relator, Ricardo Ferraço (PSDB-ES). O governo previa vitória com placar de 11 a 8 ou até 12 a 8.

Derrota no Senado mostra que governo se 'distraiu', dizem analistas

Entre os especialistas que acompanham as reformas, derrota por um voto sinalizou 'falta de articulação' para aprovar uma medida 'vital'

Alexa Salomão, O Estado de S.Paulo

Economistas que acompanham o ajuste ficaram surpresos com a derrota da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Sociais do Senado. A proposta perdeu por um voto – foram dez a nove no placar final. Há consenso de que sinalizou “falta de articulação do governo” em relação a uma questão vital. A expectativa é que sirva de alerta.

“Não foi o fim do mundo, mas uma boa comida de bola: o governo mostrou que está tão preocupado com outras questões que não prestou atenção no que acontecia com a reforma trabalhista”, disse Evandro Buccini, economista-chefe da gestora de recursos Rio Bravo Investimentos.

Buccini acredita que o governo pode se recuperar e ganhar no plenário do Senado – e recomenda atenção para os articuladores que estão muito confiantes em relação à calmaria do mercado financeiro. Apesar de os indicadores mais sensíveis ao humor dos analistas não terem sofrido uma reviravolta, está claro que a indisposição com o Brasil é visivelmente crescente desde a divulgação da gravação da conversa entre o empresário Joesley Batista e o presidente Michel Temer.
“As mudanças são graduais, mas estão aí: na véspera da divulgação da gravação, o dólar estava na casa de R$ 3,10, agora está em R$ 3,30; a curva de juros de curto prazo está baixa, mas no longo prazo está ficando mais inclinada, o que indica que a percepção de risco está piorando; a única coisa que realmente ajuda o governo é a inflação baixa por causa da recessão”, diz Buccini.

'Derrota na CAS significa que governo não conseguiu articular senadores', diz relator

Senador Ricardo Ferraço (PSDB), relator da reforma trabalhista, considera resultado 'mais político do que regimental'

Julia Lindner, Isabela Bonfim e Fernando Nakagawa, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O relator da reforma trabalhista no Senado, Ricardo Ferraço (PSBD-ES), avaliou que a rejeição do seu parecer por 10 votos a 9 na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), nesta terça-feira, representa uma derrota para o governo. Ele considera que o resultado é "mais político do que regimental" e pode enfraquecer o apoio à proposta no plenário da Casa.

"Na prática, o resultado desta terça-feira, 20, significa que o governo não conseguiu articular os senadores para poder aprovar a matéria na CAS. Não muda a tramitação, mas evidentemente é uma derrota política do governo", disse Ferraço.

Revés em reforma preocupa mercado

Governo cochila e sofre derrota em comissão do Senado

No primeiro grande tropeço do governo no Congresso após a delação de Joesley Batista, a Comissão de Assuntos Sociais do Senado rejeitou a proposta de reforma trabalhista por 10 votos a 9. Na Rússia, o presidente Temer minimizou, afirmando que o texto será aprovado em plenário, que é o que importa. O dólar subiu 1,27% e a Bolsa caiu 2%.

Revés para o governo

Comissão no Senado rejeita mudança na lei trabalhista, na 1ª derrota após delação da JBS

Bárbara Nascimento, Geralda Doca, Maria Lima e Eduardo Barretto, O Globo

-BRASÍLIA- O governo sofreu ontem uma derrota no Senado Federal e não conseguiu aprovar um dos projetos mais importantes da atual agenda econômica. Por um voto de diferença, a reforma trabalhista foi rejeitada na Comissão de Assuntos Sociais (CAS): dez senadores foram contrários ao parecer do relator, Ricardo Ferraço (PSDB-ES), e nove votaram a favor. Foi o primeiro tropeço desde o recrudescimento da crise política, causada pela delação do empresário Joesley Batista, da JBS, que colocou o presidente Michel Temer sob suspeita de corrução e obstrução da Justiça.

Os representantes do governo saíram em defesa do Palácio do Planalto e colocaram panos quentes na situação. O líder no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), garantiu que o resultado não muda o cronograma do governo e que a base conseguirá se mobilizar para aprovar o texto no plenário, que é o responsável por bater o martelo em relação ao tema.

Comissão impõe revés ao governo na reforma trabalhista

Governo sofre derrota na reforma trabalhista em comissão do Senado

Talita Fernandes, Laís Alegretti, Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O governo do presidente Michel Temer sofreu uma derrota na reforma trabalhista no Senado nesta terça-feira (20), com a rejeição do relatório de Ricardo Ferraço (PSDB-ES), por 10 votos contrários e 9 favoráveis na CAS (Comissão de Assuntos Sociais) da Casa.

A rejeição é um revés político do governo, que conta com a aprovação da reforma, principalmente após o agravamento da crise política.

Apesar do revés, o resultado da votação não interrompe a tramitação da proposta do governo. Isso porque o posicionamento do colegiado é um parecer, e a decisão final cabe ao plenário do Senado.

A reforma, amplamente apoiada por entidades empresariais, traz, entre as mudanças, a prevalência, em alguns casos, de acordos entre patrões e empregados sobre a lei, o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical, obstáculos ao ajuizamento de ações trabalhistas, limites a decisões do Tribunal Superior do Trabalho, possibilidade de parcelamento de férias em três períodos e flexibilização de contratos de trabalho.

Governo tenta tranquilizar mercado após derrota na reforma trabalhista

Bruno Boghossian, Gustavo Uribe, Maeli Prado, Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto tratou como "descuido" a derrota do relatório do governo para a reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, nesta terça-feira (20). Da Rússia, onde está em viagem oficial, o presidente Michel Temer acionou ministros e líderes da base aliada para tentar tranquilizar o mercado financeiro.

Os ministros Henrique Meirelles (Fazenda), Dyogo Oliveira (Planejamento), Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), além de parlamentares governistas, foram mobilizados para dizer a investidores que o cronograma da reforma está mantido e que o projeto deve ser aprovado até o fim de julho.

Eles também gravaram vídeos para serem divulgados nas redes sociais. Na gravação, Meirelles minimiza a derrota e diz que "são fatos corriqueiros". Ele afirma inda que a situação é normal e que a proposta será aprovada no plenário.

Rejeição de reforma foi superavaliada

César Felício | Valor Econômico

SÃO PAULO - A rejeição na Comissão de Assuntos Sociais do parecer do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) sobre a reforma trabalhista está longe de ser "a maior derrota do governo Temer" até hoje no Senado, ao contrário do que disse o senador Humberto Costa (PT-PE).

A reforma foi para a análise de três comissões do Senado e a derrota em uma delas não impede que o projeto que veio da Câmara siga intocado ao plenário. O texto já foi aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos e tem passe livre para ser votado por todos os senadores. O que o resultado de ontem deixa evidente é a imperícia da liderança do governo, mas seu impacto foi superavaliado, inclusive pelo mercado financeiro - o Índice Bovespa caiu 2,01%.

Governo tem muita margem para errar no Legislativo
Se a rejeição na Comissão de Assuntos Sociais do parecer do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) foi "a maior derrota do governo Temer" até hoje no Senado, como disse o senador Humberto Costa (PT-PE), isto mostra que a oposição ainda tem um longo caminho a percorrer na casa legislativa para abalar o já enfraquecido governo federal. A reforma trabalhista foi para a análise de três comissões do Senado de forma simultânea, e não sequencial. De modo que a derrota em uma comissão não significa que o parecer que deixa intocado o projeto que veio da Câmara não vá ao plenário.

Geração de vagas fica no azul pelo 2º mês seguido

Brasil abre 34,2 mil vagas de emprego formal em maio

Mês passado teve segundo resultado positivo seguido do ano e o primeiro para meses de maio desde 2014

Idiana Tomazelli, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O saldo do emprego com carteira assinada no Brasil ficou positivo em 34.253 vagas de emprego em maio, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta terça-feira, 20, pelo Ministério do Trabalho. O resultado decorre de 1.242.433 de admissões e de 1.208.180 demissões.

Esse foi o segundo resultado positivo seguido e o primeiro para meses de maio desde 2014, quando foram abertas 58,8 mil vagas. O resultado ficou dentro das estimativas de analistas do mercado financeiro consultados pelo Projeções Broadcast, que esperavam desde fechamento de 5 mil vagas a abertura de 49 mil postos, com mediana positiva em 19.187.

Agropecuária garante 2º mês seguido de abertura de vagas

Por Camilla Veras Mota e Cristiane Bonfanti | Valor Econômico

SÃO PAULO E BRASÍLIA - A sazonalidade positiva da agropecuária em maio garantiu o segundo mês consecutivo de contratações líquidas com carteira assinada no país. No total, foram 34,3 mil novos postos, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), 46 mil no setor. Mesmo com a ajuda, os números do registro continuam mostrando que o mercado formal reage à crise. Os principais setores acompanhados, apontam economistas, tiveram desempenho significativamente melhor do que em maio do ano passado. O volume de novos contratados, por sua vez, após 28 meses quase ininterruptos de queda, voltou a crescer na comparação com igual período do ano anterior.

STF deve manter validade do acordo de delação da JBS

Por Maíra Magro e Luísa Martins | Valor Econômico

BRASÍLIA - O Supremo Tribunal Federal (STF) deve confirmar na tarde de hoje a validade da delação de executivos da JBS e sua homologação pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato na Corte. Os ministros discutirão duas questões. Na primeira, se o caso deve permanecer com Fachin, o placar pode ser até 11 a zero pela manutenção da relatoria do ministro.

A segunda questão envolve os limites da atuação do juiz em um acordo de delação. Discute-se a quem cabe homologar as colaborações (um ministro sozinho ou o plenário do STF) e em que momento a Corte pode discutir a validade das cláusulas do acordo e dos benefícios oferecidos pelo Ministério Público, se na homologação ou no fim do processo.

Alguns ministros poderão declarar que a delação traz uma mera expectativa de benefícios, que só serão confirmados ao fim do processo, quando será possível analisar a veracidade das informações prestadas pelo colaborador e o cumprimento das exigências feitas pelo MP.

O STF discutirá na sessão de hoje um recurso do governador do Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), questionando a competência de Fachin para relatar e homologar as delações dos executivos da JBS. O Valor apurou que a tendência dos ministros é manter a relatoria com Fachin. Tirar o processo das mãos de um colega seria um ato dramático, que provocaria inclusive uma indisposição interna, avaliam observadores da Corte.

Dano político das delações já 'está feito', diz ministro

"Meu papel é reviver o papel histórico do Ministério da Justiça como interlocutor prioritário com o Judiciário"

"Esses vazamentos não constroem paz social. Ao contrário, acerbam o ódio e o preconceito"

Por Murillo Camarotto, Bruno Peres e Raymundo Costa | Valor Econômico

BRASÍLIA - No comando do Ministério da Justiça há menos de um mês, Torquato Jardim questiona a relação custo-benefício das delações premiadas usadas em larga escala nos últimos anos. Questionado sobre os benefícios do uso do instituto, ele indaga: "Qual o custo? Desfazer a classe política?".

Em entrevista ao Valor, Torquato faz duras críticas à atuação do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), no episódio que envolveu o presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista. Para o ministro, Fachin não poderia ter dado andamento ao inquérito antes da perícia no áudio que captou a conversa entre Temer e o delator.

"Que o Ministério Público tenha trazido [a denúncia], tudo bem. Mas o magistrado poderia ter refletido", alertou o ministro. "E se vem agora um laudo, por hipótese, desqualificando juridicamente [o áudio]? Indicadas as falhas, pode levar a outra configuração jurídica. Mas o dano político já está feito", ele alerta.

Torquato classificou como "razoável" a intenção do Ministério Público em distinguir a prática de caixa dois dos crimes de corrupção e disse que o clima de polarização que tomou o país já está prejudicando as reformas econômicas. No caso da Previdência, confirma que as concessões já feitas pelo governo vão exigir que uma nova reforma seja feita já pelo próximo presidente.

A seguir, os principais trechos da entrevista ao Valor:

Reforma política prevê fundo eleitoral de R$3bi

Congresso prevê votar novo texto da lei até setembro

Cristiane Jungblut e Catarina Alencastro, O Globo

-BRASÍLIA- Presidente da República em exercício, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) iniciou ontem com o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDBCE), uma ofensiva para aprovar até setembro a reforma política e a criação de um fundo eleitoral de cerca de R$ 3 bilhões para 2018. A pressa é para que as novas regras possam valer para o pleito de 2018, já que para tal as mudanças precisam ser feitas no mínimo um ano antes do pleito, marcado para outubro.

O texto em negociação por Maia e Eunício prevê a adoção em 2018 do sistema eleitoral majoritário apelidado de “distritão”, pelo qual os deputados e vereadores mais votados são os eleitos, independentemente da votação obtida por seu partido ou seus correligionários. Hoje, no Brasil se adota o sistema proporcional no qual as vagas do parlamento são distribuídas proporcionalmente à votação obtida por cada partido, e só depois essas vagas são ocupadas pelo mais votados daquela legenda.

Na saída do encontro, Rodrigo Maia disse que haverá um texto de transição para definir as regras das eleições de 2018 e outro texto definitivo para 2022 e os anos seguintes. Ou seja, o “distritão” seria utilizado apenas no ano que vem, e depois seria trocado por outro sistema. Já Eunício defendeu abertamente a adoção do “distritão”, modelo que também é o mais palatável na Câmara.

Reforma política tem brechas que mantêm desequilíbrio entre siglas

Ranier Bragon, Bruno Boghossian, Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Já bem esvaziada, a proposta de reforma política em discussão no Congresso tem brechas que permitem o desequilíbrio econômico entre as campanhas eleitorais.

Em 2015, o STF (Supremo Tribunal Federal) proibiu o financiamento empresarial dos candidatos sob o argumento, entre outros, de que ele tornava o jogo político desigual e quebrava o princípio de isonomia na disputa.

Na próxima semana, a comissão especial da Câmara que debate o assunto deve votar relatório do deputado Vicente Cândido (PT-SP). Na parte que restou do financiamento privado –a doação de pessoas físicas e o dinheiro colocado pelos próprios candidatos– os limites foram ampliados, permitindo disparidade econômica.

Hoje, o cidadão pode financiar candidatos com valores que não ultrapassem 10% de seus rendimentos brutos. Cândido deve estabelecer um teto mais amplo: até R$ 60 mil, com limite de R$ 10 mil por cargo disputado.

Já o autofinanciamento tem regras mais permissivas. Em seu relatório inicial o petista proibia que o candidato colocasse dinheiro em sua própria campanha. Devido à resistência dos partidos, ele agora negocia com deputados os seguintes tetos: R$ 200 mil para deputado estadual, R$ 400 mil para federal, R$ 600 mil para senador, R$ 800 mil para governador e R$ 1 milhão para presidente da República.

A principal crítica ao autofinanciamento é a de que candidatos ricos, quase sempre empresários, levam enorme vantagem sobre a os demais. O petista disse que o relatório ainda será alterado.

DISTRITÃO
Um dos principais pontos da reforma deve ser a criação de um fundo público para financiar os candidatos, uma reação do Congresso à decisão do STF de proibir o financiamento empresarial.

'Agente público não pode se igualar ao bandido', diz Gilmar

Ministro do Supremo afirma que é preciso aprofundar o debate das colaborações premiadas um dia antes de o tribunal discutir limites de atuação do juiz nos acordos

Rafael Moraes Moura, Carla Araújo e Breno Pires, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Um dia antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) discutir os limites da atuação do juiz nos acordos de delação premiada, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), disse na noite desta terça-feira, 20, que o combate ao crime tem de ser feito sem cometer crimes.

“Vamos começar a discutir de maneira mais vertical, mais aprofundada a questão das colaborações premiadas e seus limites, um tema que obviamente está na agenda política e também na agenda institucional do País”, disse Gilmar na abertura do 7.º Seminário Internacional de Direito Administrativo e Administração Pública, promovido pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) com patrocínio de R$ 90 mil da Caixa Econômica Federal. O instituto tem o ministro como sócio.

“É muito importante que não haja comprometimento da institucionalidade. E por isso é que eu também tenho destacado que o combate ao crime tem de se fazer sem cometer crimes. O agente público não pode se igualar ao bandido que ele pretende combater. Do contrário, nós caminhamos para um ambiente de selvageria e por isso nós temos de discutir questões, temos de ter um aprendizado institucional”, ressaltou o ministro, sem citar explicitamente nomes nem casos concretos.

Reformar o quê, como, para quê? | *Bolívar Lamounier

- O Estado de S.Paulo

‘Esse Congresso’ e ‘esses partidos’ tornam necessárias as alavancas do parlamentarismo

O debate sobre a reforma política arrasta-se desde a Constituinte (1987-1988) e do plebiscito de 1993 sobre o sistema de governo, com resultados práticos assaz limitados. Todo ano, aí por volta de abril, o Congresso Nacional ressuscita a questão, para gáudio do jornalismo político e dos cultores acadêmicos da matéria.

Esquematicamente, creio poder afirmar que esse ciclo anual se repete com uma notável falta de clareza quanto ao que precisa ser reformado e aos objetivos mais amplos, direi mesmo estratégicos, de uma eventual reforma. Ao longo do tempo, essas duas carências foram agravadas por um retrocesso na discussão do modus faciendi – ao “como” da reforma.

Em nome do realismo, convencionou-se que a reforma haveria de ser “fatiada”, minimalista, conceito válido enquanto referência às dificuldades de aprovação no Congresso, mas que obviamente prejudica a reflexão de substância quanto ao “quê” e ao “para quê” reformar. Sem esquecer que mesmo as finas fatias que começaram a ser cogitadas desde a segunda metade dos anos 1990 não percorreram com a suavidade esperada o trato digestivo dos senhores senadores e deputados.

A crise ficou | Merval Pereira

- O Globo

Presidente viajou à Rússia, mas a crise ficou por aqui mesmo. O presidente Michel Temer desmentiu, e não que isso seja a seu favor, os que comparam seu governo com os últimos meses do governo José Sarney. Naquela ocasião, o então senador Fernando Henrique Cardoso dizia com ironia sempre que o presidente ia ao exterior: “A crise viajou”.

Pois Temer viajou para a Rússia (ou mais longe ainda, para a República Socialista Federativa Soviética da Rússia), e a crise não foi junto, ficou por aqui mesmo, produzindo seus efeitos continuadamente.

E teve de tudo por esses dias: a Polícia Federal acusou o presidente da República de ter cometido “corrupção passiva”, um juiz de Brasília rejeitou a ação de Temer contra Joesley Batista por calúnia e difamação, o doleiro Lúcio Funaro depôs denunciando a atuação de Temer à frente da distribuição da propina proveniente da Petrobras para o PMDB e, enfim, a base do governo, tão decantada até recentemente, foi derrotada por dentro na Comissão de Assuntos Sociais do Senado na reforma trabalhista.

Lista de Um | Rosângela Bittar

- Valor Econômico

Constituição 'teórica' não precisa ser cumprida

O ministro Torquato Jardim, da Justiça, procurado pelo presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), José Robalinho Cavalcanti, esta semana, disse-lhe que o presidente Michel Temer até poderá, eventualmente, ater-se à lista tríplice que a ANPR lhe enviará para escolha do novo procurador-geral da República que vai substituir Rodrigo Janot, mas não se vinculará, obrigatoriamente, ao primeiro da lista, como lhe está sendo exigido.

"É mérito. Se são três, a diferença é aritmética, mas o mérito é igual. Diria mais: como sou ex-aluno e ex-professor de muitos procuradores da República, faço uma lista de 30, 40 ou 50 nomes com experiência de casa e vivência para serem procuradores-gerais", comentou o ministro, ontem, em conversa após entrevista exclusiva ao Valor.

Descompressão | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

Em decisão surpreendente, que para muitos alivia a pressão sobre os réus, o ministro Luiz Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), tirou da alçada do juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, quatro investigações relacionadas às delações premiadas dos executivos da construtora Odebrecht. A pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o próprio Fachin havia remetido os trechos das delações que mencionam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para Moro, responsável pelos processos da Lava-Jato na primeira instância. Ontem, porém, voltou atrás.

O contra-ataque - Vera Magalhães

- O Estado de S. Paulo

Enquanto Michel Temer viaja para a Rússia e a Noruega, seus advogados preparam um extenso recurso ao Supremo Tribunal Federal para questionar vários procedimentos, alegações e desdobramentos do inquérito que investiga o presidente.

A defesa considera que os últimos acontecimentos, como o relatório preliminar da Polícia Federal e a entrevista de Joesley Batista à revista Época, vão ajudar a comprovar inconsistências tanto na delação do grupo JBS quanto nas acusações contra Temer.

Entre os questionamentos que serão elencados está o fato de Fachin ter usado, segundo aliados do presidente, “três pesos e três medidas” ao desmembrar os inquéritos decorrentes da delação dos Batista: o de Temer ficou sob sua relatoria, o de Aécio Neves foi redistribuído e o do governador Reinaldo Azambuja (MS) submetido ao plenário.

Sentido da vitória | Míriam Leitão

- O Globo

Reforma trabalhista é agenda do país, não do governo. Foi uma enorme derrota política para o governo Temer, a rejeição na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) da reforma trabalhista. Mas qual o sentido da vitória? Nenhum. O país tem 14 milhões de desempregados, a lei trabalhista é dos anos 1940, os países estão atualizando suas legislações e há pontos que precisam mesmo de mudança. A proposta do governo tem defeitos, mas esta também é uma agenda do país.

O foco de qualquer discussão no Brasil tem que ser como proteger os que estão mais vulneráveis: no desemprego, no emprego informal ou nas mais variadas formas de trabalho precário. Mas estes, pelas próprias circunstâncias, são os verdadeiros invisíveis. Essa reforma melhoraria a vida deles? Pode-se discutir isso. Talvez não. Mas o problema é que eles não aparecem no debate dos que dizem defender os trabalhadores.

Os enfermeiros | Monica de Bolle*

- O Estado de S.Paulo

Antes fosse a inflação nossa principal algoz, como em épocas anteriores. Afinal, essa sabemos combater

“Coronel Felisberto não era só rabugento. Se fosse só rabugento, vá; mas ele era também mau, deleitava-se com a dor e a humilhação dos outros.” Os coronéis da velha política brasileira não são só egoístas. Fossem só egoístas, vá; mas são também maus, deleitam-se com a dor e a humilhação dos outros. Não há conflito de interesse que não possam superar por meio do convencimento de que nesse mundo peculiar chamado Brasil não há divisórias a separar o que pode e o que não pode.

O Procópio de Machado de Assis até que tentou. Conflitado por receber dinheiro de personalidade demasiado tóxica, demitiu-se não uma, mas algumas vezes. Mas Felisberto roubou-lhe as forças. Por fim, lá ficou como o enfermeiro do coronel, sujeitando-se a todo tipo de humilhação. Até o dia em que, tomado de raiva e ressentimento, estrangulou o enfermo. Crime mais que perfeito, visto que Felisberto sofria de aneurisma. Procópio o enfermeiro recebeu em testamento toda a sua fortuna. E eis que o conflito evaporou-se. Procópio não matara o coronel com suas mãos, as moléstias o fizeram – “a verdade é que devia morrer”.

Situação atual da catástrofe | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Desde o novo surto de crise política, o caso Temer, trata-se de saber se a economia vai voltar a encolher.

Para surpresa quase geral, não houve sinais de catástrofe renovada desde o "evento do dia 17 de maio", como gente das finanças se refere de modo formal ao dia do escândalo do grampo Joesley-Temer. O processo de necrose do governo, no entanto, continua.

A Procuradoria-Geral insinua que vai lançar ataques, denúncias em série, contra Temer, talvez até setembro. Continua a escorrer sujeira do governo, como na entrevista de Joesley Batista.

A reforma trabalhista tropeçou no Senado. Embora não tenha dado com a cara no chão, pegou mal, de resto com sinais menores de debandada tucana e mesmo peemedebista. Atribuiu-se a baixa dos preços desta terça-feira (20) no mercado a esses encontrões, mas o fato é que a coisa azedou mais por causa de fatores externos, como queda do preço de commodities, por exemplo.

Sem Temer, mas com sua coalizão | Cristiano Romero

- Valor Econômico

Muda-se o presidente, mas não a política econômica do governo

O Brasil vive uma longa agonia. O país não cresce há três anos, está em recessão desde o segundo trimestre de 2014 e tudo indica que, apesar da melhora ocorrida no primeiro trimestre, terminará este ano com expansão próxima de zero. Quando a economia deu sinais de que começava a melhorar, o humor dos empresários, os responsáveis por tomar a decisão de investir e assim acelerar a atividade, foi abatido, em meados do mês passado, pela crise que ameça o mandato do presidente Michel Temer.

A reação dos mercados à crise foi imediata: a bolsa fez rápida correção nos preços dos ativos, o dólar se moveu e os juros de curto e longo prazo dos contratos futuros subiram. Apesar da correção, não houve pânico. Nas semanas seguintes, o que se viu foi uma acomodação à espera de notícias de Brasília. O cenário externo, mais favorável, ajudou a amortecer a queda do real.

De certa forma, a expectativa predominante há um mês era a de que Temer não conseguiria se manter no cargo. Seguindo o rito constitucional, o presidente não resistiria à delação dos sócios da JBS e renunciaria ao mandato ou então o perderia por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que deliberaria pela cassação da chapa Dilma-Temer. A deposição via TSE seria a saída honrosa de Temer.

Lula e Dilma não estão bem na foto de Joesley – Editorial | O Globo

Em análises interessadas, tenta-se tratar as poucas menções a Lula como prova em favor do ex-presidente, mas é impossível desconectar o PT do JBS

Este período de mais de três anos de LavaJato, operação lançada em março de 2014 pela força-tarefa baseada em Curitiba, tende a se dividir em antes e depois da delação de Joesley Batista. Ao denunciar o próprio presidente Michel Temer, o sócio controlador do grupo JBS, junto com o irmão Wesley, deixou em segundo plano as delações da Odebrecht, de seus executivos e dos acionistas Marcelo e o pai Emílio.

Toda esta investigação histórica transita no campo instável da política, com o envolvimento dos principais partidos — PMDB, PT, PSDB, PP e outros de menor envergadura. Os testemunhos, os processos, as denúncias viram munição na luta partidária e servem para inspirar as teorias mais conspiratórias. Se essas teorias já não fossem uma característica da própria política, em um ambiente como o atual no país as especulações não têm limite.

Um alerta importante – Editorial | O Estado de S. Paulo

O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes foi bastante preciso ao dizer, numa palestra feita no Recife, que a luta contra a corrupção não pode ser “uma meta em si mesma” nem pode constituir o único norte para a organização institucional do País. “Nenhum país se organiza social e politicamente com o objetivo de combater a corrupção”, afirmou o magistrado. Sem deixar de enfatizar a importância da Lava Jato e de outras operações semelhantes para punir os que se dedicam a pilhar os cofres públicos, a fala do ministro Gilmar Mendes serve como um necessário alerta para os rumos equivocados que a luta contra a corrupção pode eventualmente tomar, especialmente se for mantido o clima de guerra declarada contra os políticos em geral, como se estes fossem, por definição, inimigos da pátria. Nesses termos, em nome de tal combate, muitas vezes se pode ceder à tentação do arbítrio – e o resultado não é a regeneração da democracia, como se deseja, mas sua destruição.

Frágil normalidade – Editorial | Folha de S. Paulo

Em momentos de crise política aguda, chefes de governo não raro cancelam compromissos no exterior, em geral meramente protocolares. Michel Temer (PMDB) pretendeu transmitir a impressão de normalidade ao manter a anódina agenda que cumpre na Rússia.

A tarefa mostrou-se, decerto, mais árdua do que o imaginado. Quando era manhã de terça-feira (20) no Brasil, o presidente tinha de desconversar sobre o relatório parcial da Polícia Federal que lhe imputa o crime de corrupção passiva. "Vamos esperar. Isso é juízo jurídico, não é juízo político."

Poucas horas depois já não podia recorrer a tal evasiva, ao ser questionado sobre uma inesperada derrota do governo em votação da reforma trabalhista no Senado. A saída foi minimizar o malogro, ainda reversível.

São díspares, sem dúvida, as gravidades de um e outro episódio. Nem por isso, entretanto, seria possível dissociá-los.

Indicadores melhoram, mas não garantem retomada – Editorial | Valor Econômico

Abril trouxe uma série de registros positivos do nível de atividades, que deixou no ar a esperança de que a recuperação da economia está em andamento. O primeiro sinal positivo veio da produção industrial que, depois de três anos consecutivos de queda, mostrou aumento de 0,6% de março para abril, na série com ajuste sazonal, quando a maioria dos analistas esperava uma estabilidade, na melhor das hipóteses. A fabricação de produtos farmacêuticos, veículos automotores, reboques e carrocerias e outras atividades que puxaram a recuperação haviam registrado forte queda em março. Na comparação com abril de 2016, porém, ainda há queda de 4,5%; nos quatro primeiros meses do ano, o recuo é de 0,7%; e, em 12 meses, chega a 9,7%.

Depois foi o varejo, cujas vendas aumentaram 1% em abril sobre março, com ajustes sazonais, após dois meses de recuo - o melhor resultado para o mês desde 2006 -, novamente surpreendendo os analistas, que contavam com uma queda. Em relação a abril do ano passado, o varejo cresceu 1,9%, interrompendo 24 meses de quedas seguidas nesse tipo de comparação; mas, no ano, a queda é de 1,6%; e, em 12 meses, de 4,6%. No varejo ampliado, que inclui veículos e de material de construção, o volume de vendas subiu 1,5% na comparação com março, o melhor resultado para abril desde 2008, novamente com queda é de 6,4% sobre o mesmo mês de 2016, de 1,8% no ano e de 6,3% em 12 meses.

A dor III – Graziela Melo

Perto
de mim
mora
uma dor!

Triste,
sombria,
solitária!!!

As vezes
ela toca
a campanhinha
de
minha alma!

Entreabro
a porta, apenas,
mas ela
sem cerimonia
enfia os dedos,
entra
e se instala!

E canta
e me encanta
e me embala!!!

Fico em
silêncio...

Mas ela chora
ela fala!

Triste,
minha alma
ouve,
sofre
e cala!!!!

Roberta Sá - Gostoso veneno