domingo, 4 de junho de 2017

Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna

Na guinada imprevista, o PT absolve a era Vargas, absolvição dissimulada com a Carta aos Brasileiros, conquanto ainda no primeiro governo Lula tenha ficado evidente a vizinhança de suas práticas com as do Estado Novo varguista; mas é sob a Presidência de Dilma Rousseff, egressa do campo brizolista, que se estreitam as afinidades, até mesmo no campo sindical, entre os governos do PT e os de Vargas. A mudança deveria vir do Estado e de um capitalismo politicamente orientado, e não da auto-organização da vida social.

Os resultados desastrosos estão aí, à vista de todos os que testemunhamos os estertores de um tempo que só admite morrer se levar todos ao mesmo destino. Perdidos no labirinto da intricada política brasileira porque jogamos fora irrefletidamente o mapa dos bons caminhos que tivemos em mãos, dele não escaparemos sem uma reflexão corajosa por parte da esquerda que o recupere.

Nesta hora aziaga não há juízes e generais que nos valham. Desse mato sem cachorro não sairemos sem a política e os políticos que nos sobraram.

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Luiz Werneck Vianna é sociólogo e professor PUC-Rio, “Volver”, O Estado de S. Paulo, 4/6/2017

Defesas de Dilma e Temer convergem em ação no TSE

Advogados da petista e do peemedebista adotam estratégia comum na corte eleitoral; tentativa é excluir delações de processo eleitoral

Beatriz Bulla | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O processo de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começou em 2014 com a presidente e o vice no mesmo lado. Juntos buscavam a absolvição no processo, que era visto na classe política como o “plano B” ao impeachment da petista. Pós-impeachment, a equipe jurídica se dividiu e os advogados de Temer pediram que as condutas de cada um fossem analisadas separadamente. Agora, por sobrevivência política, Dilma e Temer voltam a se unir em uma estratégia que parece ter encontrado eco dentro da corte: a de absolvição de ambos.

O julgamento começa nesta terça-feira, em Brasília. Ganha força na corte eleitoral a tese – que desde o início é defendida pelos advogados da presidente cassada e agora é encampada pela defesa de Temer – de que nem tudo o que foi incluído pelo relator no processo deve ser levado em conta juridicamente. Por esse raciocínio, ficariam de fora as delações da Odebrecht e do ex-marqueteiro do PT João Santana e sua mulher, Mônica Moura, que excederiam o “objeto inicial da denúncia”.

Aliados tentam minimizar efeitos da prisão, e PSDB espera o TSE

Após PF levar Loures, Temer volta às pressas a SP e se reúne com advogado

Maria Lima | O Globo

BRASÍLIA - Se ganhou um fôlego na última semana com dados positivos na economia, nas próximas 72 horas o presidente Michel Temer terá que exercitar toda a sua cultuada capacidade de articulação política para evitar a contaminação do processo de cassação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e uma debandada da base governista pela prisão do amigo e ex-assessor de confiança Rodrigo Rocha Loures.

Interlocutores de Temer criticam o “açodamento” e a rapidez no processo de delação de Joesley Batista, mas acreditam que o TSE fará um julgamento técnico e jurídico. Parlamentares da base, entretanto, como o senador e ex-ministro Armando Monteiro (PTB-PE), avaliam que a prisão do chamado “homem da mala” e o agravamento da crise política terão, sim, reflexo no julgamento que começa nesta terça-feira.

TSE: ALIADOS AINDA OTIMISTAS
Depois da reunião com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, sexta-feira à noite no Palácio dos Bandeirantes, para pedir apoio contra o rompimento do PSDB, Temer retornou a Brasília. Após a prisão de Loures, decidiu voltar a São Paulo, onde se reuniu com aliados e com seu advogado Antônio Cláudio Mariz. Ao Globo, Mariz negou que a conversa tem girado em torno da prisão de Rocha Loures ou discutido mudanças na linha de defesa do presidente.

Acordo perdoa 2 mil anos de prisão para delatores da JBS

Delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista concede perdão judicial de 8 tipos de crimes; relatos descrevem 240 condutas ilícitas, sendo 124 casos de corrupção e 96 de lavagem

Marcelo Godoy | O Estado de S.Paulo

A delação dos irmãos Joesley e Wesley Batista lhes valeram o perdão de crimes cujas penas somadas individualmente poderiam alcançar de 400 a até 2 mil anos de prisão. Os relatos dos irmãos e dos diretores do Grupo J&F Investimentos feitos à Procuradoria-Geral da República descrevem 240 condutas criminosas reunidas nos depoimentos dos delatores e em 42 anexos entregues pelo órgão ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Levantamento feito pelo Estado mostra que foram relacionados oito tipos de crimes, entre eles 124 casos de corrupção e 96 de lavagem praticados por mais de uma organização criminosa. Especialistas em Direito Penal indicam que, em tese, muitas das condutas delatadas, apesar de autônomas, foram praticadas de forma continuada, como se fossem desdobramentos de um mesmo crime.

MPF pede Lula condenado a regime fechado

Nas alegações finais do caso tríplex, procuradores reforçam acusações e pedem devolução de R$ 87 milhões

Cleide Carvalho, Fernanda Krakovics, Catarina Alencastro | O Globo

BRASÍLIA O Ministério Público Federal (MPF) pediu a condenação e a prisão em regime fechado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá. Os procuradores também pediram que seja devolvido aos cofres públicos R$ 87,6 milhões, referentes a contratos da OAS com a Petrobras. De acordo com o MPF, o tríplex está em nome da OAS mas seria, de fato, do ex-presidente, como contrapartida por contratos que a empresa fechou com a Petrobras no governo do petista. Lula nega as acusações.

No documento de alegações finais entregue ao juiz Sérgio Moro, os procuradores pedem a condenação com base em provas indiciárias. Afirmam que o Supremo Tribunal Federal (STF) tem externado que a prova por indícios é apta a lastrear a condenação. Para eles, a dificuldade de produzir provas de que o apartamento pertence à família de Lula é fruto da profissionalização dos crimes de lavagem de dinheiro:

Eleição indireta não tem favorito óbvio, diz Datafolha

Igor Gielow | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Pesquisa feita pelo Datafolha com 311 dos 594 parlamentares aptos a votar em uma eleição indireta aponta que 61% deles não citam espontaneamente um candidato à Presidência para o caso de saída de Michel Temer (PMDB) do cargo.

Outros 15% rejeitaram falar sobre a hipótese, somando assim 76% de parlamentares sem candidato à mão.

Os dados dão materialidade à avaliação majoritária entre partidos que apoiam e combatem o presidente, que está sob forte pressão após ter sido atingido pela delação dos irmãos controladores da JBS: Temer tem resistido à crise porque não existe consenso sobre quem o substituiria até a eleição do ano que vem.

Para 47% dos ouvidos, Temer deveria deixar o cargo. Dessa parcela, 36% defendem renúncia, 34% cassação no Tribunal Superior Eleitoral e 6%, impeachment. Já 40% dizem que o peemedebista tem de ficar.

COLÉGIO ELEITORAL
No caso de o presidente, que era vice de Dilma Rousseff até o impeachment da petista em 2016, cair, a Constituição determina uma eleição indireta em Colégio Eleitoral.

Crise já sacrifica o futuro dos jovens

A fatura de três anos de crise recai sobre a parcela mais vulnerável da população. A taxa de desemprego na faixa de 14 a 24 anos ultrapassa os 30%. Entre as crianças e adolescentes de até 14 anos, 29% são pobres. Para analistas, o futuro dessa geração está em risco.

Os mais vulneráveis

Crianças ficam mais pobres, e desemprego entre os jovens ultrapassa os 30%

Cássia Almeida, Daiane Costa | O Globo

A parcela mais vulnerável da população, as crianças e os adolescentes, está sendo a mais castigada pelos três anos de estagnação e recessão seguidos. Mais pobres, desempregados e com a ameaça crescente da violência urbana, que mata mais os jovens, o futuro dessa geração está em risco. Pesquisa inédita da economista Sonia Rocha, do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets), constatou que a pobreza entre crianças e adolescentes de até 14 anos aumentou mais entre 2014 e 2015. Era de 25,8% em 2014 e passou para 29%. O avanço foi ainda maior quando se observa a faixa de pessoas de 15 a 19 anos, que agora tem 22,3% na pobreza, acima dos 17,9% do ano anterior:

— A conjuntura econômica piorou. Famílias com crianças dependem essencialmente do mercado de trabalho, que está muito ruim. E os benefícios voltados para as crianças são mais restritos e mais baixos que os para idosos — afirma Sonia.

As escolas — o caminho para ter uma chance de vida melhor — são pouco atraentes e acabam afastando os adolescentes, na avaliação do movimento Todos pela Educação. Dos 2,8 milhões de crianças e jovens que estavam fora da escola em 2015, 60,8% tinham entre 14 e 17 anos. E a taxa de frequência de quem tem 17 anos é de 74,3%. Inferior à presença de crianças de 4 anos (77,3%).

Quando deixam a escola para enfrentar o mercado de trabalho, a dificuldade aumenta. Na faixa de 14 a 24 anos, a taxa de desemprego já ultrapassou os 30%, o dobro da taxa média da força de trabalho, de 13,7%, no primeiro trimestre do ano. Há 1,265 milhão de adolescentes de 14 a 17 anos procurando trabalho, quase 10% do total de 14 milhões de desempregados. Uma faixa etária que deveria estar apenas nos bancos escolares e não na fila do desemprego. A taxa de desocupação para eles é de 45,2%, o dobro de antes do início da recessão, nos primeiros meses de 2014.

Desigualdade na pobreza aumenta em 11 anos

Crianças e adolescentes de até 14 anos representam cerca de 20% da população, mas, entre os pobres, são quase 40%

Cássia Almeida | O Globo

A parcela de pobres na população caiu de 33% em 2004 para 16% em 2015, mas a participação de crianças e adolescentes permanece a mesma, em torno de 40%. A economista Sonia Rocha, do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets), no seu estudo, calculou que a participação da faixa etária de até 14 anos na população recuou de 27,4% em 2004 para 21,2% em 2015. Mesmo assim, a parcela de crianças e adolescentes entre os pobres se manteve praticamente estável: passou de 41,9% para 38,3%.

Entre os idosos, o movimento foi inverso. A população de 60 anos ou mais cresceu de 9,6% para 14,3% e, na pobreza, passou de 3,2% para 3,6%.

'Plano B' vai de corte de desonerações a alta de impostos e pode gerar R$ 260 bi

Com dificuldade do governo em aprovar as reformas, principalmente da Previdência, especialistas apontam formas de elevar a arrecadação

Alexa Salomão | O Estado de S. Paulo

Apesar de o governo insistir que não tem “plano B” para o caso de a reforma da Previdência não ser votada, os economistas especializados em contas públicos têm. A lista de alternativas busca aliviar a pressão sobre o orçamento em 2018 e 2019, tempo necessário para a eleição do próximo presidente e a retomada das discussões sobre as reformas. No levantamento dos especialistas, há R$ 260 bilhões em desonerações e gastos que podem ser reavaliados.

A lista inclui quatro medidas: revisão de desonerações criadas no governo de Dilma Rousseff; restauração da tributação sobre lucros e dividendos de pessoa física, que foi extinta no governo de Fernando Henrique Cardoso; revisão de 25% dos gastos da máquina pública que estão em contratos terceirizados; e a suspensão temporária de reajustes a servidores, aprovados na gestão de Michel Temer.

As responsabilidades históricas | Fernando Henrique Cardoso

- O Estado de S.Paulo

Apoiei a travessia e espero que a pinguela tenha conserto. Mas, e se não?

Há quem pense que a política é como as nuvens, move-se depressa e refaz incessantemente suas configurações. Talvez. Contudo nas democracias, a despeito de o jogo político ser variável, existem regras na Constituição que só se mudam seguindo os preceitos nela definidos. Quanto mais haja agitação e incertezas, menos se devem buscar atalhos e mais seguir a Constituição.

Escrevo este artigo antes de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidir sobre a nulidade da eleição da chapa Dilma-Temer. Qualquer que seja o resultado, provavelmente haverá recursos. Com eles, o tempo de decisão se alongará e também a inquietação da sociedade.

Os políticos responsáveis sabem que qualquer arranjo político deve considerar suas consequências para os 14 milhões de desempregados e, portanto, para o crescimento da economia. Tampouco devem esquecer-se de que a população está indignada com a corrupção sistêmica que atingiu os partidos, o governo e parte das empresas. Portanto, chegou a hora de buscar o mínimo denominador comum que fortaleça a democracia e represente um desafogo para o povo, aflito com a falta de emprego e de renda. E indignado com a roubalheira.

Volver | Luiz Werneck Vianna

- O Estado de S.Paulo

Não sairemos deste mato sem cachorro sem a política e os políticos que nos sobraram

Houve, nos idos da luta pela democratização do País, uma esquerda que procurava abrir seu caminho pelas vias abertas da sociedade civil. Entre os registros desse momento se podem lembrar algumas das mais marcantes, como a elaboração, em 1974, do programa do MDB por intelectuais de esquerda, incluídos comunistas, e do livro São Paulo, Riqueza e Miséria, de 1975, realizado sob o patrocínio do cardeal Paulo Evaristo Arns, ambos orientados a estabelecer os nexos da democracia política com a questão social.

Na mesma direção, foram realizados os ciclos de debates do grupo Casa Grande, em particular o de abril de 1978, cuja transcrição foi objeto, no ano seguinte, de uma publicação pela Editora Vozes, dedicada ao tema da transição para a democracia, então em curso. Os nove debates realizados envolveram 27 personalidades da esquerda e de identidade liberal, entre as quais intelectuais, economistas, empresários e lideranças sindicais, em que Luiz Inácio da Silva foi ovacionado ao participar de um deles.

Do supositório de magnésia ao olho mágico para caixão | Fernando Gabeira

- O Globo

Quando o “Casseta & Planeta” lançou a ideia do conglomerado de empresas Organizações Tabajara, não tinha como objetivo lançar o desenho do futuro do Brasil. Muito menos, o patriarca da OT, Gilvan Saturnino Tabajara, ao aportar no Brasil trazendo na bagagem apenas um produto, o Supositório de Magnésia Bisurada, não tinha a mínima ideia de como seu império iria crescer, faturando bilhões e abarcando 27 empresas.

O“Casseta & Planeta” se desfez, e das Organizações Tabajara não resta mais nada de pé, nem o Salsichão Brasil, uma das joias do império de Gilvan. Sobrou apenas um nome próximo de Gilvan, Gilmar, Gilmar Mendes, para lembrar a epopeia do criador do Supositório de Magnésia Bisurada, ao afirmar que o Brasil se parece com as Organizações Tabajara.

A afirmação dos gêneros | Cacá Diegues

- O Globo

Tamanho não é documento. O Grão-Ducado de Luxemburgo, pequeno país europeu situado entre Alemanha, Bélgica e França, onde ocupa um espaço inferior ao da cidade de Brasília, com uma população que é quase a metade da de Nova Iguaçu, dá um exemplo de modernidade cultural e política ao resto do mundo. Luxemburgo (o país, e não o velho treinador, claro) sempre teve uma certa importância estratégica no continente, devida, nos tempos atuais, à solidez de sua economia e à habilidade com que ela é conduzida. Mas, agora, sua importância vai mais longe.

Sendo parte da União Europeia, Luxemburgo é uma monarquia constitucional encabeçada pelo grão-duque, em que o povo elege, regular e democraticamente, Parlamento e primeiro-ministro. Atualmente, quem ocupa o posto de primeiro-ministro é Xavier Bettel, um político de 44 anos, homossexual fora do armário há muitos anos, que, em 2015, oficializou seu casamento com o jovem arquiteto Gauthier Destenay. Desde então, o casal se apresenta sempre junto, em fotos funcionais ou românticas, com o primeiro-ministro levando seu cônjuge a todas as viagens oficiais. Como, por exemplo, em recente visita formal ao Vaticano.

Temer, por inércia | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Rocha Loures é a maior ameaça a Michel Temer, que vai ficando por falta de opções

O ex-presidente Lula é réu cinco vezes, já, já, vai virar pela sexta e está sendo chamado pelo MPF a pagar multa de R$ 87 milhões só no caso do triplex. O quase ex-senador Aécio Neves foi denunciado pela PGR na sexta-feira no rumoroso caso da JBS, que ainda vai longe. E o presidente Michel Temer acordou ontem com um pesadelo: a PF prendeu o ex-deputado Rocha Loures, considerado seu braço direito e um delator com alto poder de destruição.

O que há em comum em tudo isso, além da força e da determinação dos procuradores, policiais e juízes na maior operação de combate à corrupção do planeta? Todos os principais partidos do país, o PT de Lula, o PSDB de Aécio e o PMDB de Temer chafurdaram nas piores práticas políticas e afundam juntos na Lava Jato.

A dilmização de Temer | Vera Magalhães

- O Estado de S. Paulo

O Brasil viu esse filme recentemente. Mais especificamente em 2016

Michel Temer é, hoje, um presidente aquartelado no Palácio do Planalto. Usa a cadeira e a caneta como armas numa batalha pessoal, e cada vez mais solitária, para se manter no cargo.

Nunca fui partidária do chavão – não dá nem para chamar de tese algo que contraria a lógica e as leis – de que o impeachment de Dilma Rousseff foi um golpe. Havia razões políticas e jurídicas para se instaurar um processo contra a então presidente, e o desfecho previsto na Constituição era a assunção do vice, eleito em uma aliança sufragada nas urnas.

Portanto, Temer chegou à Presidência de forma legítima, e nessa condição formou uma equipe e propôs ao País um programa focado sobretudo na recuperação da economia, tendo como alicerce reformas estruturais.

O fato novo | Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

Nos últimos dias, aliados de Michel Temer repetiam que só um fato novo, intransponível, seria capaz de ameaçar a sobrevivência do presidente. O fato novo acordou cedo e entrou em campo às seis da manhã deste sábado. Rodrigo Rocha Loures, o deputado da mala, foi preso pela Polícia Federal.

O ex-assessor presidencial já era visto como o homem-bomba do governo. Agora seu pavio está aceso, e uma delação tende a explodir o que ainda resiste de pé no Planalto.

O advogado de Loures diz que ele ficará em silêncio, mas pouca gente acredita nisso em Brasília. Esse discurso foi usado por Marcelo Odebrecht, João Santana, Antonio Palocci e outros réus ilustres da Lava Jato. Depois de algum tempo de cadeia, todos escolheram delatar.

'O Eu Diário' | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Quando você acessa alguma rede social em busca de notícias, acaba lendo um "jornal" que poderia muito bem receber o nome de "O Eu Diário". É que quem se informa apenas pelas redes acaba adquirindo um conteúdo ultrafiltrado, que exclui tudo o que o titular da conta não aprecia. O "noticiário" esportivo fala apenas do seu time; o político, do partido com o qual você se identifica; e as páginas de opinião trazem justamente as opiniões com as quais você já concorda.

Para alguns, essa poderia ser a definição de vida perfeita: um filtro que elimina tudo aquilo de que eu não gosto. Mas, como o mundo não é tão simples, a prática tem alguns efeitos colaterais deletérios. É esse o tema central de "#republic", de Cass Sunstein. Para o autor, as câmaras de eco em que as redes sociais nos colocam acabam reforçando a fragmentação e a polarização da sociedade. Sunstein analisa com competência a literatura psicológica que mostra por que e em quais condições isso ocorre. Para ele, as redes tratam as pessoas como consumidoras e não como cidadãs, e a diferença é importante para a democracia.

Paris e Pittsburgh | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

Trump produziu um coquetel que mistura a aversão cultural conservadora ao americanismo, a velha retórica anti-imperialista de esquerda e a antipatia das forças mais democráticas e progressistas

Segunda cidade da Pensilvânia, Pittsburgh foi o maior polo siderúrgico e o maior produtor de aço do mundo entre 1930 e 1950. Também ficou conhecida como Cidade da Fumaça, até que suas velhas siderúrgicas fecharam ou foram transferidas para a China, porque eram muito poluentes e a cidade resolveu se reinventar. A partir de 1970, foram substituídas por algumas empresas de alta tecnologia, da robótica e da biotecnologia. A cidade hoje é chamada de Roboburgh, porque sua produção de robôs somente perde para o Japão. Seu plano diretor é um grande “case” de política de desenvolvimento urbano.

O sentido da declaração do presidente norte-americano Donald Trump, quando fala que que foi eleito para representar os cidadãos de Pittsburgh e não os de Paris, ao anunciar o rompimento do acordo do clima, é muito contraditório. A indústria de alta tecnologia nos Estados Unidos vai muito bem, obrigado; e se beneficia do Acordo de Paris. Trump está se referindo, porém, à velha indústria siderúrgica norte-americana, economia que pretende ressuscitar.

Delações à vista | Merval Pereira

- O Globo

Não é preciso ter uma informação privilegiada para apostar na possibilidade de o ex-assessor do Palácio do Planalto Rodrigo Rocha Loures, preso ontem pela manhã em Brasília, fazer uma delação premiada, denunciando o presidente Michel Temer.

Assim como também são consequências naturais das investigações as delações dos ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega. Rocha Loures com mais razão ainda, pois não parece desses militantes convictos que se calam para ajudar o partido, como o ex-tesoureiro do PT João Vaccari ou José Dirceu, que, condenado várias vezes por corrupção, tenta preservar artificialmente a narrativa do “guerreiro do povo brasileiro”.

Nem Palocci nem Mantega são desse tipo, embora petistas de raiz. Pelo que já se sabe, no esquema de corrupção implantado pelo PT, ajudaram o partido e se ajudaram, assim como Dirceu, mas não têm, mesmo falsa, uma biografia heroica a preservar.

Temer resiste, entre acordão e depressão | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Conflito institucional piora, recessão se estende, Temer sobrevive e coalizão no poder ficará onde está

O Brasil vai passar pelo maior período de regressão econômica desde o início do século 20, "agora é oficial". Além disso, vive uma guerra civil por outros meios, que não são os meios da política, mas do conflito institucional.

Descendo desse panorama depressivo à vulgaridade dos dias que correm, a definição do destino de Michel Temer deve causar repulsa à larga maioria dos brasileiros. Aumentaram as chances de que o presidente resista no cargo. Caso sucumba, a coalizão no poder será reposta por si mesma, por eleição indireta, a não ser talvez em caso de insurreição nas ruas.

Ainda que a solução atenda a desejos pragmáticos da elite de empresas e finança, é quase certo que o programa reformista saia avariado da crise e que o crescimento seja ainda mais rebaixado até 2018.

Tremores seguidos | Miriam Leitão

- O Globo

O evento Joesley foi um terremoto cujos tremores secundários ainda não acabaram. A empresa enfrentará enormes dificuldades, e os bancos ainda não dimensionaram todo o risco JBS. No julgamento do TSE, esse assunto estará presente, mesmo que não oficialmente. Na Lava-Jato, o acordo feito com o empresário dividiu a opinião pública, enfraquecendo o apoio à operação.

Os bancos começam agora a fazer as contas para entender a dimensão do risco JBS. E ele pode ser maior do que o imaginado. Há a exposição de diversas instituições, principalmente as públicas, ao passivo do grupo, mas há também o fato de que a situação está em aberto. Outras multas, processos, eventos podem atingir a empresa. Ela é enorme no mercado interno de carnes. Em algumas áreas do Brasil, o JBS é o único grande comprador da produção local e fornecedor, portanto, uma crise na companhia pode ter reflexos em cadeia. E nem todo esse risco está calculado.

É investimento ou é corrupção? | Celso Ming

- O Estado de S. Paulo

Se o investimento hoje é produção amanhã, então estamos mal também por esse lado.

O investimento é um dos componentes do PIB, pela óptica da demanda. E vem tendo comportamento medíocre. No PIB, o investimento leva o nome de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Em 2013 andava por volta dos 21% do PIB, volume que já era baixo para o País que pretendia crescer 4% ao ano. Para isso, seria necessário um investimento de pelo menos 24% do PIB. Mas nos últimos três anos, veio mergulhando mais. No primeiro trimestre de 2017, caiu 28% em relação a mesmo período de 2014: ficou nos 15,7% do PIB.

Ainda assim, pairam dúvidas sobre a confiabilidade desses números. Um exemplo é o efeito produzido pela corrupção, que o IBGE pouco consegue mensurar. Nos últimos três anos, a Petrobrás extirpou dos balanços nada menos que R$ 115,25 bilhões de investimentos em refinarias e subsidiárias, na verdade desviados para corrupção.

Um debate sobre Previdência | Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

Meu interlocutor argumentou que os benefícios previdenciários no Brasil são baixos. Que é muito difícil viver com dois salários mínimos.

Respondi que a renda per capita do país é baixa e por isso o benefício médio da aposentadoria é baixo. No entanto, nosso salário mínimo já corresponde a 70% do salário mediano do país.

Meu interlocutor respondeu-me que o Brasil não era um país pobre; era a décima economia do mundo.

Respondi que, para esse tema, é errado olhar o tamanho absoluto da economia –somos a décima economia porque nossa população é grande. Temos de olhar a nossa renda per capita. Nesse critério, estamos entre a 60ª e a 70ª posição. Estranho ter que fazer esse argumento para um economista formado.

O que precisa ser esclarecido – Editorial | O Estado de S. Paulo

Nos últimos dias, o procurador-geral da República tem atuado no inquérito aberto com a delação da JBS, que envolve o presidente da República, com uma pressa que contrasta com o vagar observado nos outros casos da competência do sr. Rodrigo Janot. Até a própria delação do sr. Joesley Batista, que o sr. Janot assegura versar sobre muitos e graves crimes ainda não revelados, esperou boas semanas na gaveta do procurador-geral até que lhe fosse dado encaminhamento. E o caso só veio a público graças a ilegal e ainda não esclarecido vazamento.

A fulgurante diligência do procurador-geral da República, que deseja colher o depoimento do presidente Michel Temer o quanto antes, contrasta, por exemplo, com sua atuação a respeito do controvertido áudio que registrou a conversa entre Temer e Joesley Batista no Palácio do Jaburu. Mesmo tão interessado em investigar a fundo as denúncias contra o presidente da República, o procurador-geral convenceu-se de cara de que é veraz o que se ouve naquela gravação, pois a considerou como prova sem tê-la submetido a perícia, uma providência que deveria ser trivial. E dali tirou conclusões sobre o comportamento de Temer que a íntegra da gravação, posteriormente conhecida de todos, mal sustenta.

O TSE diante da História – Editorial | O Globo

O abuso do poder político e econômico que elegeu Dilma Rousseff foi o mesmo que elegeu o vice, Michel Temer. Os 54 milhões de votos foram para os dois

Muitos temem pelo solavanco econômico que uma cassação da chapa possa vir a provocar. Mas a Constituição dá todos os caminhos para o país

O abuso do poder político e econômico que elegeu Dilma foi o mesmo que elegeu o vice, Temer. Os 54 milhões de votos foram para os dois. O Tribunal Superior Eleitoral viverá na próxima terça-feira o que realmente se pode chamar de dia histórico: julgará quatro ações que pedem a cassação da chapa Dilma-Temer por abuso de poder político e econômico nas eleições de 2014. Depois de todos os fatos ilícitos que vieram a público, alguns nos últimos meses, depois de todas as provas, depois de todos os depoimentos, não resta dúvida de que a nossa democracia foi lesada, que a chapa, agora em julgamento, foi eleita graças a um esquema bilionário de financiamento oriundo de propina. O jogo democrático não foi limpo. Ganhou a eleição quem a disputou de forma ilegal, corroendo o que de fundamental há no processo democrático: igualdade de oportunidades. O dia será histórico porque a Justiça tem uma tripla função: garantir que a lei vale para todos, punir quem não respeita a lei e, assim, educar, garantindo que tamanha barbaridade não volte a ocorrer.

Sem Temer – Editorial | Folha de S. Paulo

Deve começar na terça-feira (6) o julgamento, pelo Tribunal Superior Eleitoral, da chapa que uniu Dilma Rousseff (PT) a Michel Temer (PMDB), acusada de delitos no financiamento da campanha na qual se reelegeu, em 2014.

A decisão é crucial, pois poderá implicar o afastamento do presidente Temer do cargo que exerce desde maio de 2016. Sendo provável que ao menos um dos sete integrantes da corte peça vista do processo, o julgamento talvez se estenda pelas próximas semanas.

A expectativa é que o relator, ministro Herman Benjamin, vote pela cassação da chapa. Há uma avalanche de evidências, sustentada em documentos e dezenas de testemunhos, a incriminá-la.

Os depoimentos de donos e funcionários de empreiteiras atestam que somas milionárias, originadas da rede de propinas e caixa dois descrita por ex-executivos da Petrobras, custearam parte substancial das despesas da chapa. Dos fabulosos R$ 300 milhões declarados, ao menos R$ 50 milhões são apontados como contrapartida pela prestação criminosa de favores.

Soneto 23 | William Shakespeare

Como no palco o ator que é imperfeito
Faz mal o seu papel só por temor,
Ou quem, por ter repleto de ódio o peito
Vê o coração quebrar-se num tremor,

Em mim, por timidez, fica omitido
O rito mais solene da paixão;
E o meu amor eu vejo enfraquecido,
Vergado pela própria dimensão.

Seja meu livro então minha eloqüência,
Arauto mudo do que diz meu peito,
Que implora amor e busca recompensa

Mais que a língua que mais o tenha feito.
Saiba ler o que escreve o amor calado:
Ouvir com os olhos é do amor o fado.

Pyotr Ilyich Tchaikovsky - Concerto per Violino e Orchestra