quinta-feira, 25 de maio de 2017

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

Que saídas o senhor vê para a crise?

– Hoje, os dois lados da crise são a população enojada e descrente e um sistema político-eleitoral que se exauriu na corrupção, na leniência dos poderosos e na anuência de setores produtivos. Difícil! Ainda bem que minha idade me permite ver de longe, sem entrar no redemoinho.

E como o PSDB deve se orientar nesse período?

– Diante disso, o PSDB, como os poucos outros partidos que têm significação, só deve dar um passo pensando nos seguintes. Como preservar a Constituição, como tocar as reformas, compondo também com os interesses populares. Não basta dar rumo ao mercado, as pessoas e o país contam. É preciso ter um discurso crível e insistir muito nele.

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Fernando Henrique Cardoso é sociólogo, ex-presidente da República, O Globo, 25/5/2017

Temer chama Forças Armadas depois de ataques a ministérios

Protesto em Brasília termina com depredação, 49 feridos e 8 detidos

Ato convocado por centrais sindicais na Esplanada foi marcado por ataques a ministérios; governo acionou as Forças Armadas para reforçar segurança

- O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Organizado para pedir a renúncia do presidente Michel Temer e protestar contra as reformas da Previdência e trabalhista, o ato que desencadeou o uso das Forças Armadas em Brasília terminou com pessoas feridas, prédios depredados, pontos de ônibus destruídos, fogo ateado em banheiros químicos e manifestantes presos.

Até as 20 horas desta quarta-feira, 24, a Secretaria de Segurança do Distrito Federal não havia informado o efetivo usado pela polícia. Números oficiais indicavam 49 feridos, entre eles, um por arma de fogo, confirmado pela secretaria. O repórter fotográfico Wilton Júnior, do Estado, foi atingido por estilhaços de uma bomba. Foram detidas oito pessoas.

'Grande acerto', diz Jungmann sobre convocação das Forças Armadas

Ministro da Defesa afirmou que haverá reunião com Temer nesta quinta-feira para avaliar se a medida será revogada

Bibiana Borba e Elisa Clavery | O Estado de S.Paulo

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, disse na manhã desta quinta-feira, 25, que a decisão de convocar as Forças Armadas para atuar durante a manifestação de ontem em Brasília “foi um grande acerto”. Ainda de acordo com Jugmann, haverá uma reunião com o presidente Michel Temer (PMDB) nesta manhã para avaliar se a medida - que, polêmica, foi criticada pela oposição no Congresso e por alguns juristas - será revogada.

“Se o comandante da área, general Ferreira Gomes, informar que estamos em tranquilidade, que não existe nenhum foco de resistência, que não existe possibilidade de retornar ao clima anterior, obviamente daremos a sugestão ao presidente que seja revogada”, afirmou o ministro em entrevista à CBN.

Com a decisão de Temer, que foi anunciada por Jungmann na tarde desta quarta-feira, as Forças Armadas recebem poder de polícia até o próximo dia 31. A decisão de decretar a chamada Garantia de Lei e Ordem (GLO) só pode ser feita por ordem expressa do presidente em caso onde há esgotamento dos órgãos de segurança pública.

Protesto contra Temer em Brasília acaba em violência

Protesto em Brasília termina com 49 feridos, 8 detidos e Exército nas ruas

Lucas Vettorazzo, Angela Boldrini, Rubens Valente, Reynaldo Turollo Jr. | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O protesto organizado por centrais sindicais e movimentos sociais contra as reformas previdenciária e trabalhista, pela saída do presidente Michel Temer e por eleições diretas transformou a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, em um palco de batalha com a Polícia Militar e a Força Nacional nesta quarta (24).

Policiais militares deram tiros com armas letais na direção dos manifestantes. A Secretaria de Segurança do Distrito Federal informou que abrirá inquérito para investigá-los. "Esse procedimento não é o adotado", afirmou.

Oito ministérios depredados, dois incendiados e 49 feridos –entre eles um manifestante baleado, um estudante de Santa Catarina que teve a mão decepada por um rojão e oito policiais– são alguns dos números do ato, que reuniu 45 mil pessoas, segundo a PM, ou 150 mil, de acordo com organizadores.

Dilma também acionou militares contra protestos, em 2013

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A exemplo do que faz agora o governo de Michel Temer, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) recorreu aos militares em 2013 para proteger o Palácio do Planalto e ministérios, em meio à onda de de manifestações que tomou o país. A segurança foi reforçada após violentos protestos na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, em 20 de junho daquele ano.

Em 19 de dezembro de 2013, o então ministro da Defesa, Celso Amorim, assinou a portaria 3.461, que regulamenta o dispositivo de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), que trata do emprego das Forças Armadas em situações de manutenção da segurança pública.

Desde então, a GLO já foi evocada em operações no Rio de Janeiro e durante a fase aguda das crises no Rio Grande Norte e no Espírito Santo. Segundo o Ministério da Defesa, isso acontece "devido ao esgotamento dos meios de segurança pública, para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio".

A GLO também foi usada em grandes eventos, como a Copa do Mundo (2014) e a Olimpíada de 2016.

O triunfo da insensatez

Protesto termina com 49 feridos; um manifestante levou um tiro no maxilar

Ao todo, nove ministérios foram depredados, 8 pessoas detidas. A corregedoria da PMDF abriu investigação para saber de onde partiu o tiro que atingiu o homem

Júlia Campos - Especial para o Correio

Mais de 40 mil pessoas se reuniram na Esplanada dos Ministérios na tarde desta quarta-feira (24/5), em protestos contra as reformas propostas pelo governo federal em tramitação no Congresso Nacional. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) e foram divulgados no final do dia, quando a cena de guerra montada no centro do poder já havia se dissolvido. Ao todo, 8 pessoas foram presas, 49 feridas e mais de 12 ocorrências de flagrantes registradas. Um dos casos mais graves foi de um homem, de identidade não divulgada, que levou um tiro de arma de fogo no maxilar. A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) investiga de onde partiu este tiro, efetuado com uma arma letal, onde a regra é usar, apenas, armas de efeito moral, como tiros de borracha e spray de pimenta.

Isolado, Temer usa Exército após depredações em Brasília

Ato de centrais acaba em vandalismo

Confrontos das ruas se repetem no Congresso

Presidente perde mais um assessor direto

Um protesto convocado pelas centrais CUT e Força Sindical contra as reformas e pela saída do presidente Temer acabou em vandalismo em Brasília, com prédios públicos depredados, bombas e até fogo dentro da sede do Ministério da Agricultura. A Esplanada dos Ministérios teve de ser esvaziada. Forte aparato policial fechou os acessos à Praça dos Três Poderes. Houve atos de violência tanto de manifestantes quanto de policiais. Sete pessoas foram detidas e 49 ficaram feridas, inclusive PMs. Dentro do Congresso, o clima também era de muita tensão. Deputados chegaram a trocar empurrões quando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, anunciou a convocação de tropas federais. O presidente Temer, que ontem perdeu mais um assessor em meio à grave crise, assinou decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) convocando as Forças Armadas para atuarem na segurança e contra a violência em protestos, sendo criticado pela oposição. Reunido ontem em Washington, o Conselho Permanente da OEA ressaltou a força das instituições brasileiras para enfrentar a crise.

Temer chama o Exército

Ato contra governo e reformas acaba em violência, e presidente convoca Forças Armadas

Renata Mariz e Karla Gamba | O Globo

-BRASÍLIA- Prédios de ministérios incendiados, com uma longa coluna de fumaça preta que tomava o céu de Brasília, mascarados armados com coqueteis Molotov, policiais disparando com munição letal na direção de manifestantes, e toda a Esplanada esvaziada às pressas em meio a um cenário de caos. Foi esse o saldo de um protesto de 35 mil pessoas contra o governo de Michel Temer e as reformas previdenciária e trabalhista, organizado por centrais sindicais, ontem à tarde na capital federal. Diante da perda de controle, e cada vez mais enfraquecido no Palácio do Planalto, o presidente editou um decreto que autoriza o uso das Forças Armadas para garantir a lei e a ordem na capital federal. A medida, embora tenha amparo na lei, foi vista por especialistas como um sinal de perda de legitimidade do presidente. Ontem à noite, militares já patrulhavam alguns dos principais pontos da cidade.

Uso de Forças Armadas provoca confusão e briga entre deputados

Câmara tem xingamentos e empurrões à tarde e votações a jato à noite

Cristiane Jungblut, Catarina Alencastro | O Globo

-BRASÍLIA- De empurrões e xingamentos a votações desenfreadas como não se via há semanas, o plenário da Câmara passou ontem por extremos. Depois de bate-bocas e suspensões ao longo do dia, no início da noite a sessão foi retomada, e a oposição abandonou os trabalhos. O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), aproveitou e fez o rolo compressor: colocou em votação sete medidas provisórias que estão para vencer na próxima semana e ainda pretendia votar outras.

Os ânimos estavam acirrados desde o início da tarde, quando deputados de PSOL, PT e PCdoB ocuparam a Mesa e cercaram a presidência gritando “Fora, Temer”, criticando a ação policial na Esplanada dos Ministérios e cobrando o encerramento da sessão. A sessão foi suspensa duas vezes, mas os parlamentares do governo insistiam em tentar votar algo. A deputada Luiza Erundina (PSOL-SP) era uma das mais exaltadas e se recusava a descer da Mesa. Já o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), aliado do governo, tentava arrancar os cartazes da frente do presidente da sessão, André Fufuca (PP-MA).

Incendiários

Lydia Medeiros | O Globo

Uma ala da oposição decidiu radicalizar na tentativa de abreviar o governo Temer. Um dos líderes é o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), para quem a tática do confronto “está funcionando muito bem para o nosso pessoal”. Ele anuncia que repetirá o protesto (que quase virou briga), caso a reforma trabalhista volte à pauta, e pregou a desobediência civil. Pode ser um tiro no pé, porque a violência no Congresso pode acabar associada às cenas de violência vistas ontem na Esplanada.

Medida polêmica
No debate no Congresso sobre a presença do Exército nas ruas de Brasília, não faltaram citações a 1964. José Serra, cassado pelo golpe militar, afirmou: “São medidas preocupantes, mas se impõem pelo grau de baderna. Não podemos confundir divergência com intolerância.”

Governo aproveita protesto da oposição para limpar pauta

Por Raphael Di Cunto, Marcelo Ribeiro e Fabio Graner | Valor Econômico

BRASÍLIA - Numa situação atípica, a oposição abandonou ontem o plenário da Câmara dos Deputados em protesto contra o decreto do governo Temer que determinou o uso do Exército para conter o protesto contra as reformas trabalhista e da Previdência. O governo, que já reconhecia que perderia seis medidas provisórias (MPs), aproveitou a ausência de opositores e aprovou mudanças na legislação fundiária, a revisão nas regras de acesso a benefícios do INSS, como auxílio-doença e salário maternidade, prorrogação do Programa de Proteção ao Emprego (PPE) e refinanciamento de dívidas tributárias.

Base discute atuação conjunta na sucessão

PSDB, DEM e PPS já avaliam como inevitáveis eleições indiretas

Júnia Gama e Catarina Alencastro | O Globo

-BRASÍLIA- Principais partidos da base, PSDB, DEM e PPS começaram a discutir uma atuação conjunta nas eleições indiretas para presidente, já consideradas inevitáveis para as cúpulas das três legendas. Os líderes tucanos conseguiram ontem conter, momentaneamente, o movimento de desembarque de seus deputados da base governista, com o objetivo de aguardar até que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) julgue o processo de cassação da chapa presidencial no próximo dia 6 de junho.

A reunião de ontem decidiu que qualquer movimento dos tucanos será de forma partidária, unindo senadores, deputados, governadores e ministros.

Imediatamente após as informações sobre a delação da JBS serem reveladas pelo GLOBO, setores do DEM emitiram sinais de abandono do governo. O PPS fez o mesmo movimento, deixando o Ministério da Cultura, mas mantendo o ministro da Defesa, Raul Jungmann, no cargo.

‘Cabeças pretas’ do PSDB pressionam por desembarque

Grupo formado por jovens parlamentares do partido pede que tucanos entreguem cargos no governo; Tasso tenta conter ‘rebelião’

Pedro Venceslau e Vera Rosa, O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO E BRASÍLIA - A bancada do PSDB na Câmara está dividida sobre a permanência do partido no governo Michel Temer. O grupo conhecido como “cabeças pretas” – em oposição aos “cabeças brancas”, que formam a cúpula da legenda – pressiona para que os tucanos entreguem imediatamente os cargos na administração.

O movimento “rebelde” ganhou uma adesão de peso: o deputado Carlos Sampaio (SP), vice-presidente jurídico do partido. “Penso que ser responsável com o País, hoje, é pensarmos imediatamente, de forma equilibrada e serena, numa transição que respeite o regramento constitucional. O presidente Michel Temer perdeu as condições mínimas de governabilidade”, disse o parlamentar ao Estado.

Diante do avanço do grupo, o senador Tasso Jeiressati (CE), presidente interino do PSDB, foi chamado nesta quarta-feira, 24, para acalmar os ânimos na reunião da bancada, que conta com 48 deputados.

'parlamentarismo' reformista pode se consolidar

Vinicius Mota | Folha de S. Paulo

O choque produzido no governo Michel Temer pela delação dos irmãos Batista pode, em tese, relançar o Brasil numa longa fase de profundas incertezas políticas, administrativas e econômicas.

Essa hipótese, a julgar por desdobramentos iniciais da crise, parece contudo menos provável.

Setores do PT já refazem os cálculos e agora tendem a preferir, embora silenciosamente, a manutenção de um Temer fragilizado à queda do mandatário. Faz sentido.

Fecham-se depressa as portas para heterodoxias constitucionais que poderiam dar ao ex-presidente Lula a oportunidade preciosa de eleger-se pela via direta nos próximos meses e, na mesma tacada, livrar-se da Lava Jato.

A melhor opção para o chefe petista, nesse quadro, passa a ser a aposta num governo debilitado o qual possa derrotar em outubro de 2018.

O QUE DIZEM AS LEIS
O artigo 81 da Constituição é explícito. A queda de Temer a esta altura do campeonato deflagraria, em 30 dias, eleições indiretas para os cargos de presidente e de vice.

Não é política, é caso de polícia – Editorial | O Estado de S. Paulo

Mais uma vez, a oposição dita de esquerda evidencia o seu parco respeito pela democracia e pela ordem pública. Nos últimos dias, transformaram Brasília num campo de batalha, dentro e fora do Congresso. Ontem, hordas de manifestantes impuseram o caos na capital do País, fazendo necessário que o presidente Michel Temer, a pedido do presidente da Câmara dos Deputados, convocasse as Forças Armadas para a garantia da lei e da ordem.

Contrários às reformas e ao governo federal, os manifestantes depredaram prédios públicos, atearam fogo ao Ministério da Agricultura e ainda tentaram invadir o Palácio do Planalto. Não vinham debater propostas ou difundir argumentos, lá estavam para vandalizar. Como lembrou o ministro da Defesa, “é inaceitável a baderna”. E os manifestantes fizeram muito mais do que simples baderna. Impuseram o caos em Brasília.

Momento de se reduzirem as tensões políticas – Editorial | O Globo

Não é aceitável o nível de tensão demonstrado pela manifestação de ontem em Brasília, como se não houvesse saída para a crise, quando ela existe: seguir a Constituição

Fogo e fumaça na Esplanada dos Ministérios e troca de empurrões no plenário da Câmara ilustram o dia de ontem em Brasília e alertam para a necessidade da redução da tensão política a níveis administráveis. A convocação de tropas federais, por meio da emissão de uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO) pelo presidente Temer, a fim de controlar a violência para a qual descambou a manifestação convocada contra ele e as reformas na Esplanada, reflete o descontrole do que aconteceu ontem em Brasília. Mais um motivo para se combaterem as tensões.

Acordo açodado – Editorial | Folha de S. Paulo

A mais fulminante sequência de denúncias de que se tem notícia, no extenso rol de revelações da Lava Jato, trouxe consigo um efeito colateral preocupante e, em boa medida, imprevisto pelos tantos que se entusiasmaram com o andamento das investigações.

Os termos em que se deu o acordo de delação premiada com os donos da JBS, conhecidos nos últimos dias, direcionaram ao Ministério Público parte das indignações que suscitam as atitudes dos suspeitos de corrupção.

Com efeito, é de estranhar que tenha resultado tão vantajosa, para os irmãos Joesley e Wesley Batista, sua disposição de colaborar com as autoridades.

Um retrocesso em toda a linha na agenda ambiental – Editorial | Valor Econômico

O Senado acompanhou a Câmara dos Deputados e aprovou ontem duas medidas provisórias que amputam em quase meio milhão de hectares a área de conservação ambiental da Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará, ou 37% de sua área. Antes de o governo Temer entrar em extrema-unção, com a divulgação da delação de Joesley Batista, dono da J&F, já passara pelos deputados as MPs 756 e 758, que também diminuiu em 101 mil hectares o Parque Nacional Jamanxim e em 10,4 mil hectares, ou 20%, o Parque Nacional de São Joaquim (SC). O Congresso aprovou projetos legalizando grilagem de terras e ampliando o desmatamento da Amazônia, que voltou a crescer na mesma progressão dos escândalos políticos (com Dilma Rousseff e Michel Temer) e das safras recordes.

Crises em série | Merval Pereira

- O Globo

Em momentos como os que estamos vivendo, em que a legitimidade do presidente da República é posta em questionamento, equívocos, provocações e tentativas de colocar mais lenha na fogueira são comuns. Vários exemplos se sucedem nos últimos dias, o mais alarmante a convocação das Forças Armadas para garantir a lei e a ordem pública, em vez da Força Nacional, como pediu o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Mas, mesmo essa medida do presidente da República, que mais parece ter sido tomada como uma demonstração de que ainda está no comando da situação, não justifica a reação radicalizada da oposição, especialmente do PT e de movimentos sociais a ele ligados, que quiseram transformá-la na decretação de estado de sítio ou de emergência, situações nas quais há suspensão de direitos.

A GLO, como é referida nos meios militares, é uma operação conduzida pelas Forças Armadas de forma episódica, em que os militares agem em uma área restrita e por tempo determinado. Esse tipo de operação é permitida quando “agentes de perturbação da ordem” colocam em risco a integridade da população e o funcionamento das instituições.

Forças Armadas dão gás para guerra feroz, mas decreto é constitucional | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S.Paulo

O emprego das Forças Armadas para a Garantia da Lei e da Ordem, a chamada GLO, é previsto no artigo 142 da Constituição Federal exatamente para casos como os que aconteceram ontem no coração da capital do País: quando as forças de segurança não são capazes, sozinhas, de controlar situações graves de perturbação da ordem.

O que o presidente da República, fosse ele João, Maria ou Michel Temer, poderia fazer diante de vândalos que se infiltraram na manifestação de centrais sindicais para quebrar, saquear e incendiar ministérios, com funcionários dentro? Poderia e deveria recorrer à Constituição.

Como me disse o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, “é uma situação e uma decisão dramática, porque ou tu não empregas e corres o risco da integridade das pessoas, ou tu empregas e pagas o custo, infelizmente. Nós decidimos pagar o custo”.

O “Fora Temer”, a guerrilha urbana e os limites da civilização | José Fucs

- O Estado de S. Paulo

Só uma sociedade atordoada, que perdeu as referências do que é certo e errado, pode acreditar que a baderna registrada em Brasília é aceitável

Diante das cenas de barbárie protagonizadas nesta quarta-feira em Brasília pelos grupos de esquerda que fazem oposição ao governo Temer – PT, PC do B, CUT, Força Sindical, UGT, MTST, MST e quetais – é preciso deixar de “dourar a pílula” e dar aos fatos o nome que merecem.

O que aconteceu em Brasília – a queima de prédios públicos, o quebra-quebra, a violência ilimitada, a construção de barricadas nas ruas — foi, em verdade, uma operação de guerrilha urbana.

Dia dos fantasmas | Míriam Leitão

- O Globo

O dia foi de muita confusão em Brasília. Manifestantes de movimentos que sempre foram contra o governo Temer quebraram e queimaram patrimônio público. Como resposta, o governo cadente de Michel Temer convocou uma GLO, operação de “Garantia da Lei e da Ordem”, que significa pôr tropas nas ruas. A imagem do Exército na Praça dos Três Poderes convoca nossos piores fantasmas.

Uma coisa é chamar a Força Nacional, ou entregar à Polícia Militar o trabalho de proteger de vândalos os prédios da administração pública federal. Esperava-se um protesto pacífico, tanto que foram colocados banheiros químicos. E aí eles viraram barricadas.

Ninguém morreu, ainda | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

A oposição não deve estimular a violência e o vandalismo nos protestos; uma saída para a crise ética e política depende do Congresso e do Supremo Tribunal

Uma das características da crise ética que o país vive é o fato de que ninguém morreu, até agora. Não houve “queima de arquivo” de potenciais delatores e testemunhas. Muito menos de delegados, promotores e juízes, como aconteceu na Operação Mãos Limpas, na Itália. Suicídios, nem pensar, não é da índole dos envolvidos. A personalidade do presidente Michel Temer também não se parece com a de Getúlio Vargas, e o contexto da crise atual é completamente diverso daquele de 1954 — embora o dia 24 de agosto esteja longe ainda. Mas, ontem, uma pessoa foi baleada durante os protestos da Esplanada dos Ministérios, ou seja, por muito pouco não apareceu o primeiro cadáver para incendiar o país.

O último suspiro do comandante-em-chefe | Maria Cristina Fernandes

- Valor Econômico

Temer administra ritmos desconexos para ganhar tempo

Os conflitos em Brasília deram ao comandante-em-chefe das Forças Armadas a última oportunidade de mostrar autoridade num governo que já acabou. A velocidade com a qual os protestos de ontem descambaram para o conflito contrasta com o ramerrão dos impasses que presidem as negociações para a substituição do presidente. É na administração de ritmos desconexos entre as expectativas da sociedade, os ritos judiciais e os consensos da política que Michel Temer valida a prorrogação de sua permanência.

O prazo de 30 dias para um laudo conclusivo do áudio do grampo das conversas entre o presidente e o empresário Joesley Batista deu tempo ao governo para tentar reagrupar forças no Supremo Tribunal Federal. A retaguarda presidencial investiu em dois alvos. O primeiro é a retirada da delação da JBS das mãos do ministro Edson Fachin, sob o argumento de que não se trata de subproduto da Lava-Jato. O segundo foi a reação, comandada pelo ministro Gilmar Mendes, contra a injustificada quebra do sigilo entre jornalista e fonte, mote para a sublevação contra o Estado policial.

Governabilidade e o desfecho da crise | Celso Ming

- O Estado de S.Paulo

À parte dos contorcionismos retóricos e de conduta, inevitáveis nesta hora, o ponto central se concentra na questão da governabilidade.

Ainda há quem aposte em que o presidente Temer dará a volta por cima e que, além de se manter à frente da Presidência, seguirá até o fim de 2018 com apoio político suficiente para entregar a faixa ao sucessor.

Mas, depois do escândalo e de tudo o que já se viu, essa é hipótese improvável. O próprio Temer já deve saber que não tem mais sustentação e que lhe resta comprar algum tempo para negociar saída honrosa. E tem o outro lado. Acuado pela Operação Lava Jato e pela crescente impopularidade, o Congresso não se sujeitaria a ter de carregar um presidente tão pesado. Os políticos têm instinto de sobrevivência muito aguçado. São os primeiros a pular de navio que faça água. Temem que aproveitadores acabem explorando o constrangimento do governo, se uma solução demorar demais. Para saber o que lhes passa na cabeça, basta olhar para a cara deles agora. Daí porque fica difícil imaginar desfecho em que o presidente Temer saísse fortalecido do brejo em que está atolado.

O desafio de construir uma nova maioria | Ribamar Oliveira

- Valor Econômico

Maior preocupação é negociar o "day after" da saída de Temer

A principal preocupação das forças políticas que ainda dão sustentação ao presidente Michel Temer é formar uma nova aliança que leve o país até as eleições de 2018, com uma agenda que ajude a recuperar a economia. "Não é simples construir uma nova maioria", admitiu ao Valor um importante líder da base governista, sintetizando as dificuldades de negociar o que fazer para administrar o "day after" de Temer fora do Palácio do Planalto.

Embora não digam abertamente, líderes governistas ouvidos pelo Valor reconhecem que a situação de Temer é insustentável e que o ambiente político está em acelerada deterioração. O único que é do PMDB e está defendendo abertamente a renúncia do presidente é o senador Renan Calheiros (AL), que embora seja o líder do partido no Senado, nunca gostou de Temer como presidente e nunca apoiou o governo dele.

Parlamentarismo oculto | Jose Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

O primeiro foi deposto, cassado e preso por corrupção. O segundo, embora breve, dá vergonha de lembrar. O terceiro pediu intervenção militar e conseguiu. São os três presidentes da Câmara dos Deputados da legislatura que consolidou o parlamentarismo oculto no Brasil. Presidentes caem, mas ela segue mandando – com suas dezenas de investigados, da base à cúpula. Seu próximo feito é escolher o chefe do Executivo.

Não adianta Rodrigo Maia (DEM-RJ) dizer que pediu “apenas” soldados da Força Nacional a Michel Temer. Seu pedido deu a desculpa para um presidente isolado no palácio colocar 1,2 mil homens do Exército na Esplanada a fim de dissolver as manifestações que pedem sua renúncia – e fazer sabe-se lá mais o quê. No papel, a tal Garantia da Lei e da Ordem (GLO) prevê de “dissuasão” a ações de “inteligência” militar. Arapongagem.

A estrela polar | Vinicius de Moraes

Eu vi a estrela polar
Chorando em cima do mar
Eu vi a estrela polar
Nas costas de Portugal!
Desde então não seja Vênus
A mais pura das estrelas
A estrela polar não brilha
Se humilha no firmamento
Parece uma criancinha
Enjeitada pelo frio
Estrelinha franciscana
Teresinha, mariana
Perdida no Pólo Norte
De toda a tristeza humana.

Noel Rosa - João Ninguém