segunda-feira, 17 de abril de 2017

Opinião do dia – Luiz Sérgio Henriques

Em princípio, seria papel da esquerda, que jamais encabeçou os recorrentes regimes autoritários entre nós, portar a boa-nova democrática, rejeitando a contraposição binária, a lógica infernal de amigos e inimigos irredutíveis. Não foi assim. Ao contrário, empregaram-se categorias anacrônicas, imaginou-se fabulosamente “tomar o Estado”, em vez de bem governar e promover mudanças reais – e hoje se chega a lamentar, em autocrítica capenga, o “erro” de não ter substituído partidariamente estruturas públicas do sistema de controle.

E de tanto gritar “direita” diante de qualquer crítica, acabou-se por criar uma virulenta direita real – e virtual –, tão doutrinária e hostil à ideia de uma “casa comum” quanto a esquerda que esteve no poder.

No fundo, temos em ambos os casos o enclausuramento nas próprias “verdades”, o vezo de liquidar o inimigo – menos mal que, por ora, só retoricamente –, a incapacidade de produzir grupos com função dirigente “intelectual e moral”, para usar expressão antiga. Sair do círculo vicioso desta esquerda e desta direita, relegando-as às margens, será a missão dos democratas, sem exceção. Estamos proibidos de falhar.

*Luiz Sérgio Henriques é tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das ‘Obras’ de Gramsci no Brasil. “A reconstrução da casa comum”, O Estado de S. Paulo, 16/4/201.

Maioria dos inquéritos abertos pelo Supremo investigará ‘achaques’

Maioria dos inquéritos no STF vai apurar ‘achaque’

Em 40 das 76 investigações abertas com base nas delações da Odebrecht a suspeita é de que políticos exigiram propina para beneficiar a empresa

Alexa Salomão | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Dos 76 inquéritos abertos no Supremo Tribunal Federal (STF) com base nas delações de executivos e ex-executivos da Odebrecht, 40 vão apurar se parte da elite política nacional não apenas aceitou doação de campanha em troca de boas relações com a empreiteira, mas exigiu o pagamento de propinas para aprovar leis e garantir contratos e a permanência da empresa em obras públicas.

As iniciativas, segundo os relatos, beiravam um achaque.

A lista de cobrança de pagamentos indevidos nos inquéritos é variada. Em mais de um depoimento, por exemplo, delatores afirmaram que o próprio agente público organizou o cartel e cobrou por isso. Ou seja, condicionou a participação das empresas em licitação pública à combinação prévia dos valores.

Um dos cinco inquéritos que investigam o senador Aécio Neves (PSDB-MG) trata disso. Os colaboradores, com “declaração e prova documental”, afirmaram que Aécio “teria organizado esquema para fraudar processos licitatórios, mediante organização de um cartel de empreiteiras na construção da Cidade Administrativa”.

‘Generalização é a salvação dos canalhas’, afirma jurista

Ex-ministro do STF, Célio Borja alerta para o fato de as delações da Odebrecht serem tomadas como ‘verdade absoluta’

Clarissa Thomé | O Estado de S.Paulo

RIO - O jurista Célio Borja, de 88 anos, ex-ministro da Justiça na gestão de Fernando Collor e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), nomeado pelo então presidente José Sarney, alerta para o risco de as delações da Odebrecht serem tomadas como “verdade absoluta”, antes que as investigações prossigam. “A generalização é a salvação dos canalhas”, diz Borja, em entrevista ao Estado. Para ele, esse clima de descrença em torno da política pode levar ao autoritarismo. “Essa confusão entre quem é sério e quem não é ajuda a inventar salvadores da pátria.”

O que mais o assombrou nessas delações da Odebrecht?

O que me assombra é que as delações estejam sendo tomadas como verdade absoluta. As delações não são prova. A responsabilidade penal depende de prova. As delações são apenas a narração de fato que pode ser criminoso ou não. Às vezes não é criminoso. Por exemplo, dizer que o candidato recebeu doações. É preciso provar que o candidato sabia que doações vinham de fonte ilícita. Mas ninguém se preocupa com isso. Pelo fato de ter sido citado em delação, ele acaba no rol dos culpados. Estão criminalizando quem não é absolutamente criminoso. E estão colocando nessa triste posição quem não tem nada a ver com isso.

FH nega acordo para barrar Lava-Jato

Ex-presidente defendeu diálogo com a sociedade para refundar as bases morais da política

- O Globo

-SÃO PAULO- O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso negou ontem ter participado de articulações com o presidente Michel Temer e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tentar driblar a Operação Lava-Jato. A declaração é uma reação ao noticiário dos últimos dias de que os três estariam negociando um acordo político com esse objetivo.

“Não participei e não participo de qualquer articulação com o presidente Temer e com o ex-presidente Lula para estancar ou amortecer os efeitos das investigações da Operação Lava Jato. Qualquer informação ou insinuação em contrário é mentirosa", disse FH em sua página em uma rede social.

O ex-presidente afirmou ainda que, diante do “desmoronamento da ordem político partidária” e das distorções do sistema eleitoral, é urgente um diálogo envolvendo o mundo político e a sociedade. “O diálogo em torno do interesse nacional é o oposto de conchavos. Deve ser feito às claras com o propósito de refundar as bases morais da política”, disse ele, em sua publicação.

Delações trazem mapa das contrapartidas a doações

- Valor Econômico

SÃO PAULO - Os executivos delatores da Odebrecht revelaram detalhes de ao menos R$ 945 milhões em pagamentos a políticos tendo como contrapartida projetos de interesse dos negócios do grupo. O Valor listou 82 casos em que um delator ou um grupo deles narrou detalhes de pagamentos com contrapartidas específicas, ou seja, que não se referiram somente a caixa dois de campanha eleitoral.

Esta cifra é uma fração do que a empresa admite ter pago. Em nove anos, de 2006, quando o setor de operações estruturadas foi criado, a 2014, quando foi encerrado, a empresa diz ter distribuído US$ 3,39 bilhões (ver gráfico) em propinas - R$ 10,7 bilhões pelo câmbio atual.

Durante quatro dias, a reportagem do Valor fez extensa varredura do material sobre as delações disponibilizado pelo Supremo em busca das informações de pagamentos com contrapartidas. Além dos 76 inquéritos abertos pelo STF, foram vasculhadas também as 212 petições remetidas para a instância inferior por não envolver políticos com foro privilegiado. As informações foram, em grande parte, verificadas e complementadas com o teor dos vídeos dos delatores. A reportagem localizou também outros 50 casos delatados em que são mencionadas obras, concessões ou outros negócios específicos que envolveram pagamentos indevidos, mas cujos valores pagos não foram explicitados.

Depoimentos aumentam cisão no PT

- Valor Econômico

SÃO PAULO - A megadelação da Odebrecht aprofundou a divisão que já existia no PT desde o primeiro ano do governo Lula, quando o ex-presidente adotou agenda que, para a esquerda, era excessivamente liberal. Naquele momento, intelectuais e alguns petistas históricos se afastaram do partido. Agora, as revelações de que o líder máximo da legenda e alguns de seus familiares teriam sido supostamente beneficiários de propina reforçam a cisão e a sensação de desencanto entre fundadores e apoiadores da sigla. Para alguns, o PT tem que ser refundado; para outros, vive seus últimos dias de agonia. "O PT, na fundação, era a mais moderna esquerda. Mas não teve perícia para ser governo e se manter íntegro no Estado", disse ao Valor o ex-deputado federal Paulo Delgado.

Sobe o tom da crítica de petistas históricos ao partido
A megadelação da Odebrecht aprofundou a divisão que já existia no Partido dos Trabalhadores (PT) desde o primeiro ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, diante de sua agenda liberal e da aliança que o ex-presidente fez com o meio empresarial para garantir sua eleição e a governabilidade. Naquele momento, muitos petistas históricos se afastaram do partido. Agora, a avalanche de suspeitas sobre a figura de seu líder máximo reforça a cisão e a sensação de desencanto entre fundadores e apoiadores da legenda. Para alguns, o PT tem que ser refundado. Para outros, vive seus últimos dias de agonia.

Governo: crise não muda reforma da Previdência

Temer com ministros e parlamentares: houve pressões por mudanças, mas o período de transição à idade mínima de 65 anos está mantido e será de 20 anos para todos O desgaste decorrente das delações da Odebrecht não vai atrapalhar o calendário da reforma da Previdência. Essa foi a conclusão da reunião, ontem, entre o presidente Michel Temer, ministros e parlamentares. Eles discutiram os últimos retoques no texto da reforma, que será apresentado às bancadas da Câmara amanhã de manhã. A expectativa é votar em plenário na primeira ou segunda semana de maio.

Sem crise no cronograma

Para governo, votação da reforma da Previdência não será afetada por delações da Lava-Jato

Leticia Fernandes, Geralda Doca | O Globo

-BRASÍLIA- Às vésperas da apresentação do relatório da reforma da Previdência às bancadas da Câmara — o que ocorrerá em um café da manhã na terça-feira, no Palácio da Alvorada —, o presidente Michel Temer se reuniu ontem com ministros e parlamentares envolvidos na elaboração do texto para dar os retoques finais ao projeto. Ainda há pontos a acertar, mas a equipe econômica venceu a disputa pelo período de transição: em 20 anos, todos terão de se aposentar aos 65 anos. Apesar do desgaste causado pelas delações da Odebrecht, que culminaram em diversos pedidos de inquérito contra integrantes do governo, Temer e os deputados fizeram questão de afirmar que isso não deve atrapalhar o calendário da Previdência.

Reforma da Previdência não põe fim a privilégios de algumas categorias

Embora proposta afirme que políticos seguirão as exigências de idade mínima e tempo mínimo de contribuição previstas para todos os trabalhadores, isso só valerá para novos eleitos; policiais civis e federais, militares e professores também estarão entre beneficiado

Idiana Tomazelli e Adriana Fernandes | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O discurso de que a reforma da Previdência trata todos os trabalhadores de igual para igual foi colocado em xeque, segundo economistas, principalmente depois das últimas flexibilizações acordadas entre o governo e o relator, deputado Arthur Oliveira Maia (PPS-BA). Uma série de categorias continuará a ser privilegiada com regras mais brandas, como políticos e servidores públicos. Em diferentes ocasiões, o relator e representantes do governo têm destacado pontos que serão comuns à maioria dos brasileiros caso a proposta seja aprovada pelo Congresso, como a limitação do valor da aposentadoria ao teto do INSS (R$ 5.531,31). Mas outros aspectos da reforma não se aplicam de fato a todos.

A versão de Emílio para o PLR que reduziu o assalto

- Valor Econômico

Eleito presidente, Lula era chamado de chefe por quem, na delação, se apresentou como comandante

Emílio disse que falta de investimentos do governo FHC lhe abriu menos oportunidades de negócios

SÃO PAULO - Foi a participação nos lucros e resultados, na visão do patriarca da Odebrecht, que salvou o Estado brasileiro de um assalto ainda maior. A afirmação passou despercebida ao longo dos dois dias que duraram o depoimento de Emílio Odebrecht na Procuradoria-Geral da República, às vésperas do Natal do ano passado. É nela, no entanto, que parece estar o sumo da delação que desmoralizou a política brasileira e precipitou o país para um poço sem fundo. Na sua descrição, repetida para as transações nos últimos três governos, como os executivos da Odebrecht tinham PLR, sempre houve interesse em minimizar as doações para melhorar os resultados, enquanto o outro lado, o dos políticos, queria maximizá-las.

O PLR ainda não havia sido adotado pela indústria nacional nem pelo mercado financeiro internacional na versão ilimitada que o mergulhou na bancarrota de 2008, quando Emílio Odebrecht descobriu a pechincha que o capitalismo brasileiro lhe oferecia. O nome da barganha era Luiz Inácio Lula da Silva.

Investigados no STF podem ter penas de até 22 anos

Thiago Herdy / João Sorima Neto | O Globo

SÃO PAULO — Dos 98 investigados no Supremo Tribunal Federal (STF) a partir da colaboração premiada da Odebrecht, 67 (68,4%) são acusados de cometer crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, cujas penas, somadas, podem chegar a até 22 anos de prisão. Os 31 restantes são acusados de crimes de falsidade ideológica eleitoral — deixar de informar à Justiça sobre uma doação recebida, prática conhecida como caixa dois —, cuja pena máxima é de 5 anos de prisão.

A distinção feita nos pedidos de investigação da Procuradoria-Geral da República (PGR) faz com que os acusados se dividam em dois grandes grupos, a partir dos quais é possível apontar o horizonte à vista para os próximos anos.

A indicação dos indícios de crime nas petições não significa limite de investigação: ao longo do processo, nomes que estão de um lado da lista poderão passar ao outro, e vice-versa. O levantamento do GLOBO não inclui os mais de 200 casos encaminhados a outros foros e tribunais em função da ausência de prerrogativa de foro privilegiado. Nesses inquéritos, caberá aos ministérios públicos estaduais e federal decidir se apresentarão ou não pedidos de investigação à Justiça.

Lula rebate acusações feitas por Odebrecht

Petista afirma que não existem provas e que há manipulação de depoimentos

Flávio Freire | O Globo

-SÃO PAULO- Alvo de uma série de acusações reforçadas em delações premiadas de executivos da Odebrecht na última semana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu ontem ponto a ponto cada uma das suspeitas sobre ele. Em nota publicada em uma rede social, o líder petista, sem dar nomes, disse que estão tentando reescrever sua biografia, que não há provas contra ele e que os depoimentos estão sendo manipulados.

"Delações não são provas, mas informações prestadas por réus confessos que apenas podem dar origem a uma investigação. A legislação brasileira proíbe expressamente condenações baseadas somente em delações, negociadas em troca da obtenção de benefícios penais por réus confessos", diz Lula.

Eleição: França vive maior indefinição dos últimos 50 anos

Pesquisas apontam empate técnico entre os quatro principais candidatos, um cenário que dificulta previsões e aumenta as chances de o país deixar a União Europeia, caso se confirme a possibilidade, cada vez maior, de vitória de um líder populista, como Marine Le Pen

Andrei Netto | O Estado de S. Paulo

PARIS - A sete dias da eleição presidencial, a França prende a respiração diante do quadro eleitoral mais imprevisível dos últimos 50 anos. Pesquisas mostram que a diferença entre os quatro primeiros candidatos oscila entre 3 e 5 pontos porcentuais, com os dois líderes, o social-liberal Emmanuel Macron e a nacionalista Marine Le Pen, em queda. O cenário é de incerteza, alimentada por um eleitorado com mais de um terço de indecisos.

Na última semana, a reportagem do Estado cruzou a França, de Lille, na fronteira com a Bélgica, à periferia violenta de Marselha, no Mediterrâneo. O objetivo foi ouvir eleitores comuns sobre a escolha que os 45,7 milhões de franceses farão na semana que vem.

Em evidência, a indignação da maior parte do eleitorado com os partidos tradicionais, Republicanos, de direita, e o Socialista (PS), de esquerda, que se alternam no poder há 36 anos.

Em Lyon, Macron é esperança de ‘algo novo’

Na cidade que lançou sua campanha, ex-ministro é visto como símbolo de ruptura

Andrei Netto | O Estado de S. Paulo

LYON, FRANÇA - Para responder à população que deseja expulsar do poder líderes políticos históricos e partidos tradicionais, 100% dos candidatos à eleição presidencial na França se apresentam como “antissistemas”. A fórmula vale até para o ex-premiê François Fillon, católico e conservador, acusado de ter empregado a mulher desde 1982 como funcionária fantasma.

E não é diferente com o ex-ministro da Economia Emmanuel Macron, ex-banqueiro que fez fortuna no mercado financeiro, mas hoje representa uma esperança de “algo novo” para seu eleitorado.

Revolta de classes populares marca voto de protesto

Rejeição a políticos e partidos históricos move eleitorado de baixa renda; Le Pen e Mélenchon são beneficiados

Andrei Netto | O Estado de S. Paulo

MARSELHA, FRANÇA - À espera do comício do candidato radical de esquerda Jean-Luc Mélenchon, 25 mil pessoas que lotavam o Grande Palácio de Lille, na quarta-feira, berravam: “Caiam fora!”. O grito vem sendo repetido com fervor pelos simpatizantes do nome que mais sobe nas pesquisas e sintetiza a visão de grande parte do eleitorado que optou pelo voto de protesto, que pretende despejar do poder líderes e partidos políticos tradicionais.

A revolta da base da pirâmide social, que se sente abandonada pela elite política, talvez seja o principal traço da eleição na França. Cansado da alternância entre direita e esquerda, entre republicanos e socialistas, que dividiram o poder nos últimos 36 anos, os franceses ameaçam afastar de vez as duas mais importantes legendas tanto do Palácio do Eliseu quanto da Assembleia Legislativa.

A insatisfação tem múltiplas causas. A primeira é o desemprego, na casa de 10%, e a sensação de desamparo que vivem trabalhadores da indústria, da agricultura e de funções regulamentadas do setor de serviços, áreas da economia da Europa atingidas pelo livre mercado.

Angustiados com a concorrência internacional e pelas transformações no mundo laboral, empregados de fábricas, produtores rurais e trabalhadores urbanos têm reiterado o desejo de “explodir o sistema”. Soma-se a isso a percepção de que a Europa está sendo “invadida” por imigrantes e a impressão de que refugiados têm mais direitos e benefícios que a população de baixa renda que paga imposto.

Chance à verdade | Aécio Neves

- Folha de S. Paulo

Marcelo Odebrecht, em depoimento de 12/12/2016, diz: "Ele (Aécio) nunca teve uma conversa para mim de pedir nada vinculado a nada."

Benedito Jr., em depoimento prestado em 14/12/2016, diz: "Nós dissemos que poderíamos pagar lá fora, que não tínhamos como pagar no Brasil e lá fora eles (minha campanha de 2014) não quiseram receber".

É provável que, mesmo com os noticiários inundados de reportagens referentes às delações da Odebrecht, você não tenha visto essas afirmações de dois dos mais importantes colaboradores da empresa.

Primeiramente, fora Lula! | Ricardo Noblat

- O Globo

Sei que a verdade é difícil
e para alguns é cara e escura.
Mas não se chega à verdade
pela mentira, nem à democracia
pela ditadura.
Affonso Romano de Sant’Anna

Quem foi Marcelo Odebrecht? O mandachuva do país durante o reinado do PT? O chefe de uma sofisticada organização criminosa? Ou o “bobo da corte” afinal preso e forçado a delatar? E Lula, quem foi? O primeiro operário a chegar ao poder? O maior líder popular da História? Ou o presidente que fez da corrupção uma política de Estado? Marcelo será esquecido. Luiz Inácio Odebrecht da Silva, jamais.

Em dezembro de 1989, poucos dias após a eleição do presidente Fernando Collor de Melo, o deputado Ulysses Guimarães (PMDB-SP), ex-condestável do novo regime, almoçava no restaurante Piantella, em Brasília, quando entrou a cantora Fafá de Belém, amiga de Lula. “Como vai Lula?”, perguntou Ulysses. Fafá passara ao lado dele o domingo da sua derrota para Collor.

Temer e o dígito solitário | Jose Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

Michel Temer chegou a um dígito de popularidade. Nova pesquisa nacional do Ibope, publicada aqui com exclusividade, mostra o presidente com 9% de ótimo ou bom. É um ponto a menos do que em março, e quatro a menos do que em setembro. A tendência de queda continuada é anterior à Lista de Fachin. A pesquisa fechou antes de as delações da Odebrecht com citações a Temer e oito ministros seus explodirem nas mídias tradicionais e sociais.

Defensores do presidente costumam dizer que a desaprovação é geral, que a revolta é contra todos os políticos. Pode ser, mas com Temer é pior, bem pior. A taxa de ótimo e bom dos governadores é mais do que o dobro da do presidente: 22%. E a dos novos prefeitos, quatro vezes superior à de Temer: 37%.

Equilíbrio hiperbólico | Vinicius Mota

- Folha de S. Paulo

Critica-se, com o convincente argumento da igualdade perante a lei, a prerrogativa de autoridades brasileiras de ser julgadas em cortes altas. Talvez mais estapafúrdio nessa história seja o contexto em torno do chamado foro privilegiado.

Imagine o que seriam estes três anos de Lava Jato, em especial após tornar-se pública a delação da Odebrecht, se não existisse foro especial. Haveria um festival de ações cautelares, como as prisões temporárias, decretadas pela primeira instância contra centenas de autoridades nos três níveis da administração.

Não seria razoável submeter o governo de União, Estados e municípios, Executivo, Legislativo e o próprio Judiciário, a tamanha instabilidade a título de investigações e etapas processuais ainda precárias, distantes dos juízos de culpa ou absolvição.

Operação Estruturada | Fernando Limongi

- Valor Econômico

Apelar para ideias e fórmulas prontas não resolverá o problema

A bomba finalmente explodiu. Pegou em cheio a elite política brasileira. A Odebrecht fazia negócios com todos os partidos, mas não com todos os políticos. A farra estava concentrada no topo.

Para muitos analistas, as revelações comprovariam a necessidade urgente de se fazer uma reforma política. Há quem fale em Constituinte. O sistema está podre e precisaria ser reconstruído de alto a baixo. Entretanto, apelar para ideias e fórmulas prontas não resolverá o problema. Os defensores da reforma insistem em mirar as eleições legislativas. O problema, contudo, está nas eleições para cargos executivos. Basta ler a denúncias, ver que políticos são citados e por quê.

O Setor de Operações Estruturadas atuava, fundamentalmente, nas eleições para o Executivo. A razão é simples e óbvia. São os detentores de cargos executivos que têm o poder de decidir o destino e o preço das obras que interessam às empreiteiras.

Recuperação fiscal dos estados e a retomada do crescimento | Marcus Pestana

- O Tempo (MG)

O país patina na recessão há três anos. Os níveis alarmantes e de desemprego é a face mais cruel do Brasil de nossos dias. A retomada do crescimento é o desafio número um. Para tanto é preciso o retorno dos investimentos, a melhoria do ambiente institucional, a reconstrução da confiança nos fundamentos da economia brasileira e a queda das taxas de juros.

No plano subjetivo da recuperação da credibilidade da política econômica e melhoria do clima para a retomada, há muitas notícias boas. O teto para a expansão do gasto público, as mudanças em empresas como Petrobras e BNDES, a discussão das reformas estruturantes, o combate à corrupção pelas instituições republicanas, a transparência na contabilidade pública começam a oxigenar o ambiente.

O impasse | Denis Lerrer Rosenfield

- O Globo

Analisando o cenário político, torna-se inevitável utilizar conceitos militares: a elite da classe política está sendo dizimada. Os mais importantes partidos estão envolvidos nas delações agora vazadas e tornadas públicas. PT, PMDB, PSDB, PRB, PP e outros foram delatados, a partir de depoimentos bastante verossímeis, cujas provas serão, logo, apresentadas.

Ex-presidentes entraram também na lista com grande destaque para os exmandatários Lula e Dilma. O primeiro terá pouquíssimas chances de tornarse candidato novamente, apesar de sua demagogia e das estridentes defesas de seus advogados diretos ou indiretos. Oito ministros do presidente Temer foram acusados, levantando uma pesada sombra sobre o seu governo. Seu afastamento da sociedade tende a aumentar se mantiver o atual status quo. Um terço do Senado foi acusado e um expressivo número de deputados, embora proporcionalmente menor.

A estrada é longa para punição | Leandro Colon

- Folha de S. Paulo

Os delatores da Odebrecht enlouqueceram e inventaram crimes de caixa dois eleitoral, propina e desvio de dinheiro público.

O cenário é surreal e improvável, afinal eles assinaram acordo com as autoridades que os obriga a detalhar o esquema para reduzir a pena.

Mas não deixa de ser considerável levando-se em conta a presunção de inocência e o fato de que, desde que surgiram os vídeos dos depoimentos, nenhum político admitiu irregularidade. O discurso dos implicados tem sido basicamente o de negação de conduta ilícita e o de que as doações eleitorais foram todas declaradas.

Estão pagando para ver? Provavelmente sim, embora seja uma defesa arriscada e, a depender do rumo das investigações, suicida politicamente.

Tocando em frente | Cida Damasco

- O Estado de S. Paulo

As incertezas atingem exatamente o núcleo da pauta econômica, ou seja, a tramitação das reformas da Previdência e trabalhista, que estão em momentos decisivos

As árvores estão caídas no chão. Os semáforos não funcionam. E na periferia os moradores ainda retiram a lama que se acumula nas casas, tentam separar os objetos que têm salvação e jogam no lixo o que está irremediavelmente perdido. Mas o pior mesmo é que o céu continua com nuvens pesadas, sinal de que a qualquer momento pode desabar nova tempestade. A imagem espelha bem o que ocorre hoje no cenário político brasileiro, depois da divulgação da lista de Fachin e diante do interminável e chocante documentário das delações premiadas da Lava Jato – que expõe as entranhas da máquina de corrupção em funcionamento no País.

No meio dessa devastação, a ordem que emana do Planalto é uma só: a economia não pode parar. Mas não há segurança de que os desejos do Planalto sejam atendidos. As incertezas atingem exatamente o núcleo da pauta econômica, ou seja, a tramitação das reformas da Previdência e trabalhista, que estão em momentos decisivos. E sabe-se que principalmente a previdenciária não teria vida fácil no Congresso mesmo antes da tal tempestade.

Agenda parlamentar é a arma de Temer |Angela Bittencourt

- Valor Econômico

Possibilidade de Palocci optar pela delação preocupa

Uma congestionada agenda parlamentar focada nas reformas de caráter fiscal é o instrumento que o presidente Michel Temer tem à mão para resgatar dois Poderes da República - Executivo e Legislativo - da hecatombe provocada por delações de seis dúzias de executivos da Odebrecht ao Ministério Público Federal (MPF) no processo da Lava-Jato. Essa mesma agenda servirá de escudo ao presidente, caso tome fôlego nos próximos dias a turbulência avistada no mercado financeiro na quinta-feira - última sessão de negócios antes do feriado. Juro e dólar tiveram alta comedida. A desvalorização do Ibovespa e das ações dos maiores bancos do país foi destacada. Banco do Brasil e Bradesco foram as maiores quedas do setor. Na tendência acompanharam Petrobras e Eletrobras.

O comportamento das ações dos bancos soa secundário diante do avassalador noticiário político, mas não é bem assim. A atenção dedicada por investidores aos papéis dos bancos na véspera de um fim de semana prolongado por feriado e após a abertura de inquéritos sobre parlamentares e ministros de Estado - sem livrar da roda presidente e ex-presidentes da República - foi creditada à elevada liquidez dessas ações que autoriza venda rápida para fazer caixa e reduzir exposição ao setor.

Crise terminal no sistema eleitoral | Luiz Carlos Mendonça de Barros

- Valor Econômico

Minha intuição diz que os próximos meses vão mostrar o fim de um ciclo político iniciado mais de 30 anos atrás

Tinha previsto como eixo central da coluna do mês de abril uma crítica forte à atuação do Banco Central na gestão da política monetária neste início de 2017. Mas a divulgação da lista de políticos que serão investigados a pedido dos procuradores federais - a famosa Lista do ministro Fachin - e a tormenta que ela criou levou-me a alterar minha reflexão.

Para um analista que viveu intensamente os últimos 40 anos da história política e econômica de nosso país, entender os dias atuais - e os que certamente viveremos até as eleições presidenciais de 2018 - traz um desafio extraordinário. Minha intuição diz que os próximos meses vão mostrar o fim de um ciclo político, iniciado mais de 30 anos atrás, com a queda do regime militar e a redemocratização do país.

Adequação à realidade – Editorial | O Globo

Manter rigidez na legislação trabalhista seria grande desincentivo à geração de empregos
Em qualquer debate sobre a extensa e anacrônica Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), instituída na ditadura do Estado Novo de Vargas, os defensores da sua intocabilidade argumentam que “direitos” dos trabalhadores são intocáveis.

Lembra a antiga discussão sobre o monopólio estatal da Petrobras, quando os defensores da sua eternização justificavam-se com o slogan: “o petróleo é nosso”. O grande problema é que ele continuava embaixo da terra, no continente e no mar. Só com a adoção dos contratos de risco, ainda no governo militar de Geisel e, principalmente, na redemocratização, sob Fernando Henrique Cardoso, com a quebra do próprio monopólio, o país passou a aumentar de forma consistente a produção de óleo e gás. Para isso, foram determinantes os investimentos privados na exploração, somados aos da Petrobras.

CLT, século 21 – Editorial | Folha de S. Paulo

Concebida nos anos 1940, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) não dá mais conta de regular com segurança as relações entre patrões e empregados no Brasil moderno, que demandam formas variadas e cada vez mais flexíveis de contratação.

Por isso, o diploma legal obsoleto tornou-se pouco eficaz em seu objetivo de proteção ao trabalhador e empecilho à geração de novos empregos de qualidade.

A CLT tampouco confere peso suficiente à vontade coletiva manifestada nas convenções e acordos entre as empresas e seus funcionários, frequentemente contrariada por súmulas da Justiça.

Por fim, enseja um ambiente litigioso —e não por acaso o Brasil encabeça rankings globais de conflitos trabalhistas. Apenas em 2016, foram iniciados 2,8 milhões de novos processos.

Os ganhos com o saneamento – Editorial | O Estado de S. Paulo

O atendimento de 100% da população com água tratada e com coleta e tratamento de esgotos reduziria substancialmente o número de internações na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) por infecções gastrointestinais, diminuiria ainda mais o índice de mortalidade infantil e eliminaria graves problemas de saneamento básico que ainda afetam milhões de brasileiros.

Esses esperados impactos positivos do saneamento básico na saúde pública e nas condições de vida da população já deveriam ter estimulado os gestores públicos a concentrar mais recursos na construção ou ampliação de redes de água e de coleta de esgotos e nos sistemas de tratamento dos resíduos, para que a universalização desses serviços seja alcançada em 20 anos, como prevê o plano nacional para o setor lançado em 2014. Mas há outros possíveis benefícios que igualmente justificam a aceleração dos planos de saneamento básico no País. Além dos efeitos sociais óbvios, o atendimento de toda a população com sistemas públicos de água e esgotos propiciaria resultados financeiros que o Instituto Trata Brasil estima em mais de R$ 500 bilhões em 20 anos.

Ofensivas tentam preservar os espaços para manobras – Editorial | Valor Econômico

Os vídeos das dezenas de delações da Odebrecht constituem um detalhado roteiro de como e por onde a corrupção tornou-se parte do dia a dia da administração da empresa e dos agentes públicos, mediante as obras de infraestrutura e a concepção e aprovação, no Congresso, de medidas provisórias destinadas a facilitar e engordar os negócios da empreiteira.

Ainda que os investimentos públicos em obras de infraestrutura hoje sejam mais restritos do que no passado, há uma generosa carteira de projetos de concessão e uma vasta possibilidade de edição de medidas provisórias que mantém amplo espaço para que essa prática nefasta de fazer negócios no país prossiga, a despeito do que a Operação Lava-Jato já desvendou e expôs à Nação.

São notórias as ofensivas para preservar esses espaços por onde passam o tráfico de influência e o pagamento de propinas.

A dor | Charles Baudelaire

Dá um tempo, ó minha dor, controla tua agressividade.
Tu querias a noite; Aí está; ela vem descendo;
Uma atmosfera sombria já envolve quase toda a cidade,
Uns encontram a paz; outros seguem padecendo.
Enquanto dos mortais a multidão vil,
Sob o chicote do prazer, esse impiedoso carrasco,
Vai colhendo remorsos na festa servil,
Minha dor, me dá a mão, vamos por aqui, sem asco,
Ver, longe deles, debruçaram-se os anos defuntos,
Sobre os balcões do céu, usando velhos conjuntos;
Emergir a saudade, do fundo das águas, sorridente;
O sol moribundo adormecer atrás da arcada mansa,
E, como uma longa mortalha arrastando-se no Oriente,
Ouve, minha cara, ouve a doce noite que avança.

(Charles Baudelaire in Les Fleus du Mal)

Maria Rita - Cara Valente