quinta-feira, 13 de abril de 2017

Opinião do dia – Merval Pereira

O ponto mais baixo dessa história se passo
u sem dúvida durante a era petista, em que a corrupção eleitoral transformou-se em uma política de Estado. A coincidência de a lista de Fachin ter sido divulgada quase ao mesmo tempo em que o depoimento do ex-presidente da Odebrecht foi prestado ao juiz Sérgio Moro realça a tese de que o PT não apenas adotou os métodos em vigor na política brasileira quando Lula chegou ao poder em 2003, como os aprofundou para dar a seu partido uma capacidade financeira que lhe permitisse ficar no poder por pelo menos 20 anos, como era o plano inicial de seu principal pensador, o ex-ministro José Dirceu — preso em decorrência dos dois grandes escândalos que foram desvendados nos últimos dez anos, o mensalão e o petrolão, um decorrente do outro.

*Merval Pereira é jornalista, “Hora da renovação”, O Globo, 12/4/2017

'Seu pessoal está com a goela muito aberta'

“Seu pessoal está com a goela muito aberta”, disse Emílio Odebrecht a Lula

Empresário, presidente do Conselho de Administração da Odebrecht, disse em relato por escrito à Procuradoria-Geral da República (PGR), no âmbito de sua colaboração na Lava Jato, que discutia com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva doações para campanhas do PT

Fábio Fabrini | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O empresário Emílio Odebrecht, presidente do Conselho de Administração da Odebrecht, disse em relato por escrito à Procuradoria-Geral da República (PGR), no âmbito de sua colaboração na Lava Jato, que discutia com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva doações para campanhas do PT. O “apoio” ao petista e seus aliados, segundo o empreiteiro, remonta à época em que ele nem sequer era candidato e se estendeu ao período em que ele comandou o País.

“Lembro de, em uma dessas ocasiões, ter disso ao então presidente que o pessoal dele estava com a goela muito aberta. Estavam passando de jacaré para crocodilo’”, contou Emílio.

O relato do empresário faz parte dos documentos que serviram de base para os pedidos de abertura de inquérito remetidos pela PGR ao Supremo Tribunal Federal (STF).

O empresário disse que pedidos de ajuda eram sempre feitos por Lula diretamente a ele, mas que os dois sempre designavam um representante de cada lado para negociar valores e tratar de detalhes.

No caso do PT, inicialmente o interlocutor era o ex-ministro Antonio Palocci (Casa Civil e Fazenda), atualmente preso em Curitiba. Do lado da Odebrecht, os designados foram Pedro Novis e, a partir de 2009, Marcelo Odebrecht, filho de Emílio, que assumiu o comando da holding da empreiteira.

Em algumas ocasiões, segundo Emílio, Marcelo pediu ao pai que conversasse com Lula para “informar valores e esclarecer dúvidas”. “Lembro de, algumas vezes, ter dito a ele algo como: ‘Presidente, seu pessoal quer receber o máximo possível, e meu pessoal quer pagar o mínimo necessário. Já instruí meu pessoal para chegar ao melhor acordo, e peço também ao senhor para conversar com seu pessoal para aliviar a pressão’”, afirmou Emílio.

Odebrecht diz que empreiteira ‘botou R$ 40 milhões para demandas de Lula’

Empresário delator da Lava Jato afirmou ao juiz Sérgio Moro que combinação foi feita via ex-ministro Palocci, mas que ex-presidente 'nunca pediu' diretamente

Julia Affonso e Ricardo Brandt | O Estado de S. Paulo

O empreiteiro Marcelo Odebrecht, um dos delatores da Operação Lava Jato, afirmou ao juiz federal Sérgio Moro que a empreiteira ‘botou R$ 40 milhões que viriam para atender as demandas que viessem de Lula’. Segundo o delator, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ‘nunca pediu’ diretamente. A combinação, afirmou, foi feita via ex-ministro Antonio Palocci (Governos Lula e Dilma/Fazenda e Casa Civil).

“Tinha um saldo de R$ 40 milhões do que eu tinha combinado com Palocci. O que eu combinei com Palocci foi o seguinte: essa era uma relação minha com a Presidência, o PT. Eu disse: ‘olha, vai mudar o governo, vai entrar a Dilma. Esse saldo passa a ser gerido por ela, a pedido dela’. Eu combinei com Palocci. A gente sabia que ia ter demandas de Lula, a questão do Instituto, para outras coisas. Vamos pegar e provisionar uma parte deste saldo e aí botamos R$ 35 milhões num saldo amigo, que é Lula, para uso que fosse orientação de Lula”, declarou.

O delator prosseguiu. “A gente entendia que Lula ainda ia ter influência no PT. Como era uma relação nossa com a Presidência, PT, tudo se misturava. A gente botou R$ 40 milhões que viriam para atender as demandas que viessem de Lula. Eu sei disso. O Lula nunca me pediu diretamente. Essa informação eu combinei via Palocci.”

Emílio Odebrecht relata conversa com Lula para destravar Medida Provisória

Emílio Odebrecht afirmou que procurou o ex-presidente Lula para que atuasse pela aprovação de Medidas Provisórias que tratavam de tributação sobre empresas e incentivos à indústria petrolífera nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste

Fabio Serapião e Fábio Fabrini | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Em depoimento prestado no dia 13 de dezembro na Procuradoria-geral da República, Emílio Odebrecht afirmou que procurou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2010, para pedir que ele atuasse junto ao governo na aprovação das Medidas Provisórias 470/09 e 472/09.

De acordo com o patriarca da empreiteira, seu filho, Marcelo Odebrecht, teria solicitado que o pai conversasse com Lula por conta de problemas enfrentados com o então ministro de Fazenda, Guido Mantega.

“Fui ao Lula e inclui esse item na agenda, pedindo a ele que procurasse verificar porque o Guido estava botando dificuldades para resolver o assunto. Se estava precisando coragem ou alguma coisa que pudéssemos suprir a ele”, explicou Emílio.

Emílio contou que essa conversa foi a única interferência dele junto a Lula no assunto das MPs. Após a conversa, contou o delator, seu filho teria dito que Mantega “deu sequência” ao assunto.

A MP 470/09 versava sobre a permissão para que as empresas exportadoras parcelarem seus débitos decorrentes do aproveitamento indevido do crédito-prêmio do IPI. A MP 472/09 tratava do regime especial de incentivos para o desenvolvimento da indústria petrolífera nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e dedução ou isenção de impostos.

Mantega pediu R$ 100 milhões para a campanha de Dilma em 2014

Em troca, governo atuou para aprovar MP para beneficiar empresas do Grupo Odebrecht, afirmou delator

Alexandre Hisayasu, Fábio Fabrini, Fábio Serapião e Breno Pires | O Estado de S. Paulo

O empresário Marcelo Odebrecht, em depoimento de delação premiada, afirmou que em 2013 o então ministro da Fazenda Guido Mantega pediu R$ 100 milhões para a campanha presidencial de Dilma Rousseff – a petista disputou as eleições no ano seguinte. Em troca, Mantega atuou junto ao governo e também no Congresso para a aprovação de uma medida provisória para beneficiar a Braskem, outra empresa ligada ao Grupo Odebrecht.

Marcelo, em 2009, assumiu uma vaga no conselho e passou a trabalhar junto a políticos para concretizar os interesses dos negócios.

Odebrecht cita R$ 451 mi para políticos investigados

Valor corresponde a pagamentos mencionados por executivos e ex-executivos da empreiteira a investigados; maior parte foi por obras e contratos com o governo federal

Daniel Bramatti e Marcelo Godoy | O Estado de S.Paulo

Os crimes que serão investigados nos 76 inquéritos da lista do ministro Edson Fachin envolvem pagamentos a políticos que chegam a R$ 451,049 milhões. Desse total, os delatores da Odebrecht dizem ter repassado R$ 224,6 milhões por obras e contratos nos governos federal, estaduais e municipais e R$ 170 milhões por medidas provisórias, emendas parlamentares e resoluções legislativas que atendiam aos interesses da empreiteira.

O inquérito que envolve as maiores propinas que a empreiteira afirma ter pago é o da compras das medidas provisórias 470/2009 e 613/2013. A primeira, segundo a acusação da Procuradoria-Geral da República, motivou o pagamento de R$ 50 milhões para a campanha presidencial de Dilma Rousseff, em 2010, e em razão da segunda a empreiteira relatou ter desembolsado R$ 100 milhões para a campanha de reeleição da presidente, em 2014.

Empreiteira teria ajudado filho de ex-presidente

Segundo ex-executivo da Odebrecht, Lula pediu apoio para Luís Cláudio criar liga nacional de futebol americano

Gustavo Schimitti, Dimitrius Dantas | O Globo

-SÃO PAULO- O ex-executivo Alexandrino Alencar contou em sua delação premiada que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu a Odebrecht para ajudar seu filho Luís Cláudio a criar uma liga nacional de futebol americano. Alexandrino disse que a empreiteira pagou R$ 630 mil, ao longo de dois anos, a uma empresa de marketing que assessorou o projeto “Touchdown”, idealizado pelo filho de Lula.

Marcelo diz que Lula pediu auxílio para ‘Carta Capital’

- O Globo

Revista recebeu R$ 3 milhões após solicitação de ex-presidente

O ex-presidente do Grupo Odebrecht Marcelo Odebrecht afirmou à Procuradoria-Geral da República (PGR) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu à empresa que emprestasse dinheiro para a Revista “Carta Capital”. A solicitação foi feita a Emílio Odebrecht, pai de Marcelo e executivo da companhia.

A empresa, então, repassou R$ 3 milhões. O valor foi compensado com espaços publicitários. As revelações foram feitas pelo “Jornal Nacional”. Em dezembro, O GLOBO mostrou que o ex-presidente da Odebrecht Transport Paulo Cesena afirmara, em delação premiada, que o ex-ministro Guido Mantega havia pedido ajuda financeira para a revista.

‘Vamos colocar as cartas na mesa’, diz FHC

O ex-presidente usou as redes sociais para comentar delação de Emílio Odebrecht, despachada por Fachin, que diz ter pago 'vantagens indevidas não contabilizadas' às campanhas do tucano

Elisa Clavery | O Estado de S.Paulo

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso usou as redes sociais nesta quarta-feira, 12, para comentar a delação de Emílio Odebrecht, despachada pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). O delator disse ter pago “vantagens indevidas não contabilizadas” às campanhas do tucano.

“Isso nunca chegou ao meu conhecimento, mas também não posso responder nada porque não conheço o texto do que realmente foi declarado e se houve alguma referência específica pelo senhor Emílio.”

O ex-presidente disse, ainda, que o Brasil precisa hoje de transparência. “A Lava Jato está colaborando no sentido de colocar as cartas na mesa. Vamos colocar as cartas na mesa”, disse o tucano. “Eu não tenho nada a esconder, nada a temer, e vou ver com calma do que se trata. Por enquanto, não é nada específico, é tudo muito vago.”

FHC também criticou a transcrição do despacho, que disse que as campanhas foram em 1993 e 1997. “Está erradamente no texto, não houve campanha em 93, nem 97. É 1994 e 1998.”

Pela falta de foro privilegiado do ex-presidente, Fachin declinou da competência sobre essa investigação. No despacho, o ministro determinou que a remessa dos autos fosse para a primeira instância da Justiça Federal em São Paulo, onde mora o tucano.

A engenharia da corrupção

• ‘Não existe eleito no Brasil sem caixa dois’ ‘• Todo mundo no governo tinha medo de grampo’  • ‘Cabem até R$ 3 milhões numa mochila’ • ‘Saldo amigo era para uso por orientação de Lula’ • ‘Se não tem acesso ao rei, não consegue aprovar’  • ‘Seu pessoal (de Lula) está

Delações da Odebrecht revelam propinas, mesadas e promiscuidade entre o público e o privado nos últimos anos

A divulgação das delações dos donos e de executivos da Odebrecht revelou de maneira inédita como funcionava a engrenagem da corrupção no país. As delações levaram o relator da Lava-Jato no STF, ministro Edson Fachin, a abrir inquéritos sobre oito ministros, 24 senadores e 39 deputados, além de governadores e ex-presidentes. Marcelo Odebrecht relatou pagamento de despesas pessoais de Lula e afirmou que tanto ele quanto a ex-presidente Dilma sabiam de doações via caixa dois para suas campanhas. Delatores revelaram ainda mesada para um irmão e ajuda a um filho de Lula. Um dos colaboradores, Márcio Faria, disse ter participado de reunião em São Paulo, com a presença do então vice-presidente Michel Temer, sobre propina num contrato da Petrobras. Presidente do PSDB, o senador Aécio Neves também surge com destaque nos depoimentos. Segundo os delatores, o grupo do tucano recebeu R$ 50 milhões por negócios na área de energia. Todos os acusados negam.

A corrupção escancarada

Delatores da Odebrecht narram detalhes de crimes que envolveram a cúpula política do país

André de Souza, Carolina Brígido, Catarina Alencastro, Eduardo Bresciani, Gabriela Valente, Jailton de Carvalho, Júnia Gama, Leticia Fernandes, Renata Mariz | O Globo

Os depoimentos em vídeo dos delatores da Odebrecht jogaram luz de maneira inédita sobre como funcionavam as engrenagens da corrupção operada pelos dirigentes de empreiteiras e pelos principais líderes políticos do Brasil. Os relatos divulgados ontem atingem o alto escalão dos governos Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer, além da cúpula da Câmara e do Senado.

Para especialistas, crise abre caminho para corrigir o rumo

‘Efeitos parecem terríveis, mas podem trazer uma luz’, diz Gilson Dipp

Gabriel Cariello, Marco Grillo | - O Globo

Os vários capítulos narrados pelos executivos da Odebrecht trouxeram um guia da corrupção política e provocaram a avalanche que há tempos se esperava. O descrédito e a sensação de que não há saída para o país se espalharam, calcados nos números superlativos trazidos à tona pelo ministro Edson Fachin, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal. Há razões óbvias para o desânimo, mas, segundo cientistas políticos e juristas ouvidos pelo GLOBO, a crise aguda também é uma oportunidade para uma correção de rumos, em busca de um modelo político mais honesto, transparente e que possibilite a renovação de nomes.

Resguardadas as diferenças claras com o caso brasileiro, a Alemanha enfrentou um escândalo de corrupção que impulsionou mudanças na legislação eleitoral. Ex-chanceler alemão, Helmut Kohl admtiu, em 2000, ter recebido dinheiro em contas secretas no período em que comandou a União Democrata Cristã. Ele renunciou à presidência do partido e, pouco depois, uma modificação na lei tornou mais rígido o controle sobre a doação de empresas.

Temer, Lula e FHC articulam pacto por sobrevivência política em 2018

Marina Dias | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Foi em novembro do ano passado, quando a Lava Jato mostrou poder para atingir novos setores políticos e econômicos, que emissários começaram a costurar um acordo entre dois ex-presidentes e o atual chefe da República.

O objetivo era que Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Michel Temer (PMDB) liderassem um pacto para a classe política, fragilizada pelo avanço das investigações.

Apartamentos de autoridades e restaurantes sofisticados serviram para que aliados dos líderes políticos discutissem medidas para limitar a operação e impedir que o grupo formado por PSDB, PT e PMDB seja, nas palavras de articuladores desse acordo, exterminado até 2018.

Nas últimas semanas, a Folha ouviu pessoas relacionadas às três partes e a avaliação foi unânime: a Lava Jato, segundo elas, quer eliminar a classe política e abrir espaço para um novo projeto de poder, capitaneado, por exemplo, por aqueles que comandam a investigação.

'Não se pode jamais paralisar governo', diz Temer

Gustavo Uribe | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - No dia seguinte à abertura de investigações contra oito ministros, o presidente Michel Temer defendeu que não se pode jamais paralisar o governo e deve se dar sequência à atividade legislativa do país.

Segundo ele, a administração federal não pode parar e "nada deverá paralisar a atuação governamental". Perguntado se preocupa a presença de oito auxiliares na lista do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin, Temer respondeu: "Vou deixar o Poder Judiciário agir", disse.

A declaração do peemedebista faz parte de estratégia do Palácio do Planalto para blindar a reforma previdenciária, que, na avaliação de auxiliares e assessores presidenciais, pode ser afetada.

"Não podemos jamais paralisar a atividade legislativa e temos de dar sequência ao governo, à atividade legislativa e à atividade judiciária", disse. "Nós avançamos muito e temos de avançar mais. O governo não pode parar", afirmou.

O presidente realizou a defesa à sua própria gestão em dois eventos promovidos no Palácio do Planalto. Nos dois, ele evitou, contudo, fazer referências à decisão do ministro da Suprema Corte. Ele pregou a separação dos poderes e disse que cada um deve cumprir o seu papel.

"Um governo só funciona porque tem o apoio do Congresso Nacional. E, evidentemente, nas eventuais divergências ou interpretações, quem vai dar a palavra final é o Judiciário. E isso que temos que prestigiar cada vez mais", disse.

Lula é acusado por sete delatores de receber "vantagens indevidas"

Por André Guilherme Vieira | Valor Econômico

SÃO PAULO - Em 18 termos de depoimentos prestados à Procuradoria-Geral da República, sete delatores da Odebrecht atribuem o recebimento de vantagens indevidas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, além do custeio de despesas pessoais do ex-presidente pela empreiteira, bem como a realização de reformas no sítio de Atibaia (SP) - que seria propriedade oculta do petista -, e ainda, a compra de imóveis para o uso pessoal do ex-presidente e para a instalação da nova sede do Instituto Lula.

As acusações sobre supostos favorecimento e enriquecimento relacionados a Lula foram feitas por Marcelo e Emílio Odebrecht, e pelos ex-executivos Alexandrino Alencar, Carlos Armando Paschoal, Paul Altit, Paulo Baqueiro de Melo e João Carlos Nogueira.

Com os pedidos de abertura de investigação feitos pela PGR e remetidos pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, à primeira instância, novas seis frentes de apuração ampliam as diversas investigações contra Lula já conduzidas pela força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba e pelo Ministério Público Federal (MPF) no Distrito Federal. Atualmente Lula responde a cinco ações penais que envolvem corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Caixa 2 irrigava todo o sistema político

Por Sergio Lamucci, Luciano Máximo, Estevão Taiar, Tainara Machado e Marta Watanabe | Valor Econômico

SÃO PAULO - Em seus depoimentos ao Ministério Público Federal, Hilberto Mascarenhas e Benedicto Barbosa da Silva Junior, dois executivos que comandavam o setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, citam dezenas de políticos de diversos partidos, uma lista que vai dos ex-ministros da Fazenda Antonio Palocci e Guido Mantega (os dois do PT) ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL), passando pelo senador Aécio Neves (PSDB-MG), o ministro da Secretaria de Governo, Moreira Franco (PMDB), o ministro da Cultura, Roberto Freire (PPS), o governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), o ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB) e o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Conhecido como o departamento de propinas da empreiteira, o setor abastecia campanhas de políticos por meio de caixa dois.

Idade para transição deve ficar entre 50 e 55 anos

Por Edna Simão, Cristiane Bonfanti, Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - O relator da reforma da Previdência, deputado Arthur Maia (PPS-BA), afirmou que "tudo indica" que a idade mínima para a transição para as novas regras de aposentadoria deve ficar em 50 anos para mulheres e 55 anos para homens. Essas idades irão subindo gradualmente até atingir 65 anos, sem diferenciação entre homens e mulheres. Segundo uma fonte, essa é a proposta que está na mesa e o Ministério da Fazenda está fazendo as contas.

Reforma trabalhista reduz poder de juízes e fortalece acordos

Por Fabio Murakawa e Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - O parecer da reforma trabalhista apresentado ontem pelo relator na Câmara, deputado Rogério Marinho (PSDB-RN), reduz o poder dos juízes sobre as decisões, inibe o acesso dos trabalhadores à Justiça do Trabalho e acaba com o direito como as horas in itinere. Pretende, além disso, reduzir os litígios e insegurança sobre pagamento de direitos dos funcionários na venda de empresas.
O relatório amplia ainda o principal ponto do projeto do governo, que é fazer os acordos entre sindicatos e empresas prevalecerem sobre a legislação em alguns pontos, como o cumprimento da jornada de trabalho, desde que respeitadas a Constituição (máximo de 44 horas semanais); banco de horas; adicional por produtividade; participação nos lucros e resultados.

Com inflação menor, BC reduz juros básicos em 1 ponto, a 11,25%

Copom ressalta que futuros cortes dependem da atividade econômica

Gabriela Valente, Eduardo Barretto, João Sorima Neto e Ronaldo D’Ercole | O Globo

O BC cortou a taxa Selic em 1 ponto percentual, de 12,25% ao ano para 11,25%. Foi a quinta redução seguida desde agosto, e os analistas preveem que o Copom continuará diminuindo os juros básicos nos próximos meses. O recuo da inflação levou o Banco Central (BC) a acelerar o ritmo de redução da taxa básica de juros, a Selic, iniciada em outubro do ano passado. Ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou a Selic em 1 ponto percentual, de 12,25% para 11,25% ao ano. Foi o quinto corte consecutivo: antes, houve dois de 0,25 ponto e dois de 0,75 ponto. A decisão, unânime, já era esperada pelos analistas.

Uma esquerda da inventare | *Alberto Aggio

- O Estado de S. Paulo

A do petismo e aliados está velha, ultrapassada, sem conexão com o que sustenta a democracia

Conexa às diatribes de Lula, parte da esquerda brasileira, em especial a que ainda lhe empresta apoio, parece viver como nefelibata, justificando e reagindo a qualquer denúncia, por menor que seja. Se antes defendia, sem pejo, “os seus”, qualificando-os indevidamente como “heróis do povo brasileiro”, hoje busca um álibi ao culpabilizar indiscriminadamente o Poder Judiciário pela crise que envolve a República. Mais grave ainda: decidiu afrontar a chamada “república de Curitiba”, acusando-a de destruir os “campeões nacionais” da era petista.

Cega como está, essa parcela da esquerda dificilmente encontrará os termos de reconciliação com a realidade. A cada passo perde credibilidade como ator político, o que é negativo sob todos os aspectos. Certamente um país com o grau de desigualdade e de atraso como o Brasil necessita de uma esquerda vigorosa e moderna que seja um componente essencial das relações de força no enfrentamento de questões que perenizaram entre nós um “mau Estado e um mau mercado”. Mas nos referíamos aqui a uma “outra” esquerda, democrática e republicana, de perfil majoritário, e não testemunhal, capaz de superar a deplorável identificação que o PT se encarregou de estabelecer entre esquerda e corrupção.

As setas apontam Lula | Merval Pereira

- O Globo

Para os que alegam em sua defesa que as delações premiadas são fantasiosas, o coordenador da força-tarefa da Operação Lava-Jato, procurador Deltan Dallagnol, tem um dado incontestável: até hoje, nos três anos de investigações, não houve um só delator que tivesse mentido.

Com cruzamentos de dados e planilhas, e em muitos casos provas como número da conta no exterior ou vídeos que mostram o sujeito da propina, ou um seu preposto, saindo de reunião na sede da empresa com uma mochila, é possível constatar a veracidade das informações.

A teia de informações a essa altura disponível aos integrantes da Operação Lava-Jato é muito grande, e somente ela permite checar as informações, com provas indiciais suficientes para uma conclusão.

Quem se dispôs a ver os vídeos com os depoimentos de executivos da Odebrecht, e em especial os dois comandantes do grupo, Emílio e seu filho Marcelo, deve ter se espantado com a tranquilidade com que abordam os temas mais delicados, como o projeto de controlar o setor petroquímico, ou a ajuda ao filho de Lula na empresa esportiva que tentava difundir o futebol americano no país.

Lula atuou para impedir que a Petrobras adquirisse ativos da Ipiranga a que tinha direito, garantindo que o grupo Odebrecht mantivesse a hegemonia do setor, em detrimento do interesse da estatal. É Emílio Odebrecht quem relata: “Compreendo que nossa presteza e o nosso volume de pagamentos feitos a pretexto de contribuição para campanhas eleitorais contribuíram para a continuidade da privatização no setor petroquímico e nas decisões que tanto o ex-presidente Lula quanto outros integrantes do PT tomaram durante sua gestão, que foram coincidentes com os nossos interesses e fundamentais para o crescimento e consolidação da Braskem.”

É o dinheiro, estúpido! | José Roberto de Toledo

- O Estado de S. Paulo

Alguns cacicam em escala paroquial, mas os poderosos gerenciam o caixa nacional

A lista de Fachin não poderia deixar mais explícito: o poder emana do caixa, não da urna. A cúpula política brasileira, toda ela agora sob investigação, só está no cume porque controla o fluxo financeiro dentro dos partidos. Pelo mesmo motivo, tornou-se o alvo principal dos investigadores que seguiram o dinheiro. Daí haver muito mais caciques que índios na lista. Menos de 10% da Câmara, mas quase metade dos governadores e 30% do Senado.

Está óbvio nos pedidos de abertura de inquérito autorizados pelo Supremo: quem distribui a grana exerce influência vital sobre os comandados e acaba por controlar os cargos-chave no Executivo e Legislativo. O controle dessas posições reforça e realimenta seu poder financeiro, mas deter a chave do cofre partidário é um passo anterior e indispensável para ostentarem o cocar.

Os delatores | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

As gravações em vídeo do depoimento de Marcelo Odebrecht na Operação Lava-Jato, e de outros executivos da empresa, inclusive o de seu pai, Emílio, são avassaladoras

São inevitáveis as comparações entre a Operação Mãos Limpas, na Itália, e a Operação Lava-Jato aqui no Brasil, quando nada, porque o juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, é um estudioso da investigação que liquidou com toda a elite política italiana e contribuiu para o desaparecimento dos principais partidos daquele país. Agora, a delação premiada de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da maior empreiteira do país, parece ter se inspirado na colaboração do mafioso Tommaso Buscetta, o principal “arrependido” da Operação Mãos Limpas.

Buscetta era conhecido como Dom Masino. Preso em 23 de outubro de 1983, em São Paulo, teve a extradição decretada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ao saber que voltaria para a Itália, tentou até se matar; no dia 15 de julho de 1984, ao desembarcar na Itália, porém, aceitou contar tudo o que sabia. Entregou os clãs mafiosos e seus aliados políticos, entre os quais Giulio Andreotti, várias vezes primeiro-ministro. A reação da máfia italiana foi feroz, chegando a matar o juiz Giovanni Falcone, em 1992, dois de seus filhos e mais 20 parentes.

Forças 'modernizadoras' se deixaram seduzir pela oligarquia | Oscar Vilhena

- Folha de S. Paulo

A democracia brasileira não sofreu nenhuma séria ameaça nessas últimas três décadas. Não foi desafiada por grupos terroristas e não houve nenhum tirano determinado a usurpar o poder.

Mesmo os militares, tradicionalmente dispostos a uma aventura autoritária, mantiveram-se leais ao jogo democrático. A decomposição do sistema representativo veio de dentro.

Foram as novas forças "modernizadoras", seus partidos e governos, que se deixaram seduzir pelas velhas lideranças oligárquicas e patrimonialistas, assumindo uma relação sistêmica e promíscua com diversos setores de "vanguarda" de nossa economia.

Financiamento ilegal de campanhas, licitações fraudulentas, cartelização de fornecedores e prestadores de serviços públicos, "compra" de legislação, isenções fiscais e empréstimos com juros subsidiados, sem qualquer demonstração de ganhos sociais, tornaram-se o combustível de um acirrado, mas perverso, sistema de competição eleitoral.

A lista coloca o Brasil no abismo, sem rede | Clóvis Rossi

- Folha de S. Paulo

A lista do ministro Luiz Edson Fachin coloca o sistema político brasileiro pendurado em um abismo horrendo, sem rede de proteção e sem prazo para ser atravessado.

Por mais que a lista não seja propriamente uma grande novidade, o fato é que ela representa uma espécie de consolidação do elenco da corrupção e, como tal, causa a sensação de que "não sobrou ninguém honesto e correto para que o povo tenha um mínimo de esperança", como escreveu o leitor Victor Claudio para o Painel do Leitor desta quarta-feira (12).

É um exagero, claro, mas é uma sensação inescapável quando se verifica, por exemplo, que estão citados todos os presidentes do período democrático, à exceção de José Sarney, que tem lá seus próprios problemas, e de Itamar Franco, que já morreu.

Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff –estão todos lá.

Capitalismo de amigos | Carlos Alberto Sardenberg

- O Globo

Tem muito capitalismo de amigos mundo afora. Na América Latina então... Nisso o Brasil está na frente: só aqui tem Lava-Jato

De Marcelo Odebrecht, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, tal como está gravado: “Essa questão de eu ser um grande doador, de eu ter esse valor, no fundo, é o quê? É também abrir portas .... Toda relação empresarial com um político infelizmente era assim, especialmente quando se podia financiar. Os empresários iam pedir. Por mais que eles pedissem pleitos legítimos — investimentos, obras, geração de empregos — no fundo, tudo que você pedia, sendo legítimo ou não, gerava uma expectativa de retorno. Então, quanto maior a agenda que eu levava, mais criava expectativa de que eu iria doar tanto".

Eis uma demonstração prática do “capitalismo de amigos". Não por acaso, o codinome de Lula na contabilidade de propinas da Odebrecht era “Amigo”, segundo informou o próprio Marcelo.

E ainda será preciso desmontar a máquina | Celso Ming

- O Estado de S. Paulo

A Lava Jato se firma como um divisor de águas na história do País, mas ainda há muito o que se passar a limpo

Afinal, a delação do fim do mundo é apenas a ponta de um iceberg: o das delações premiadas de uma empreiteira. Ainda vão começar as investigações e mais investigados recorrerão a mais delações premiadas que revelarão mais fatos comprometedores.

Mas essa ponta de iceberg já dá ideia de como o brasileiro está sendo roubado e de como está sendo obrigado a sustentar a roubalheira, com impostos que, em média, correspondem a mais de quatro meses de trabalho em cada ano.

Interesses contrariados superaram os atendidos | Maria Cristina Fernandes

- Valor Econômico

"É um fato singular que esta prosperidade sustentada, longe de tranquilizar a população, promoveu, em todo lugar, um espírito de rebeldia. O público em geral tornou-se mais e mais hostil a todas as antigas instituições... Não é sempre quando as coisas estão indo de mal a pior que as revoluções acontecem. Ao contrário, acontece com frequência que, quando um povo enfrentou durante muito tempo um despotismo, sem protestar, e subitamente se depara com um governo que relaxa a pressão, então pega em armas contra ele."

Depois de publicar "A Democracia nas Américas", crítica fundadora do nascente regime americano, Alexis de Tocqueville serviu ao governo de Luis Napoleão, como ministro. Saiu desgostoso do golpe que, depois de abortar a experiência republicana, reinstaurou o império. Corria o ano de 1856 quando Tocqueville publicou "O Antigo Regime e a Revolução Francesa". É dele o extrato de cuja atualidade Wanderley Guilherme dos Santos se vale para analisar os fatos que, há um ano, desencadearam o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Uma das principais referências da ciência política brasileira desde o premonitório "Quem Dará o Golpe no Brasil?" (Civilização Brasileira, 1962), Wanderley acaba de publicar "A Democracia Impedida - O Brasil no Século XXI" (FGV, 2017), seu 32º livro. Aos 81 anos, Wanderley mantém a inquietude de um jovem pesquisador. Divide-se entre seu apartamento em Ipanema e o Iesp, instituto que ajudou a fundar na década de 1960, sob a designação de Iuperj, e para o qual doou sua biblioteca.

O negócio da corrupção | Míriam Leitão

- O Globo

O país ontem mergulhou num mar de informação sobre uma realidade paralela construída pelos políticos e a Odebrecht. Eles faziam negócios, estabeleciam regras e parâmetros e decidiam os destinos do governo e do Brasil. Tudo o que foi revelado mostra a corrupção muito mais profunda do que já foi dito e imaginado. O negócio da corrupção era sofisticado e bem gerido, por assim dizer.

Nos áudios do depoimento ao juiz Sérgio Moro, e nos vídeos da delação premiada à Procuradoria-Geral da República, Marcelo Odebrecht, de forma franca, fria, cirúrgica, explica a engenharia do crime montada metodicamente dentro da empreiteira. No meio de explicações técnicas sobre o funcionamento da corrupção, Marcelo solta frases que ainda espantam.

Como quando contou que ao conversar com o então ministro Guido Mantega sobre a MP do Refis da Crise, que daria vantagens financeiras às empresas do grupo, Mantega escreveu num papel o número “50”. Com o inusitado gesto informava que essa era a expectativa que o governo tinha de receber da empresa para a campanha de 2010, em troca da MP.

Houve inclusive sucessão na administração da propina tanto no Ministério da Fazenda quanto na Presidência:

Os desafios da lista de Fachin – Editorial | O Estado de S. Paulo

A revelação da lista dos inquéritos abertos, no âmbito da Operação Lava Jato, pelo ministro Edson Fachin no Supremo Tribunal Federal (STF) é um verdadeiro cataclismo para o mundo político. Vê-se ali toda a cúpula da política nacional citada nas delações dos executivos da empreiteira Odebrecht. Revelada pelo Estado na terça-feira passada, a chamada lista de Fachin inclui 8 ministros de Estado, 3 governadores, 24 senadores e 39 deputados. São, no total, 98 investigados com foro privilegiado. Além disso, outros pedidos de investigação, como os referentes aos ex-presidentes Dilma Rousseff, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso, foram encaminhados às instâncias inferiores, já que os envolvidos não têm mais foro privilegiado. Na primeira instância, são 201 os investigados.

Se a extensão da lista de Fachin impressiona, não se pode perder de vista o que ela de fato é. Não é uma lista de condenação nem tampouco de acusação. São autorizações para investigar políticos, a partir de informações obtidas por meio das delações dos executivos da Odebrecht. Relembrar essa realidade é importante nos tempos atuais, em que o clima de indignação contra a corrupção parece transformar a mera citação de um nome num documento de investigação em prova cabal de culpa penal. São coisas distintas, e, numa democracia, é essencial que cada um preserve a capacidade de diferenciá-las.

Reconstruir sem parar o país – Editorial | O Globo

O tamanho da lista de Fachin é proporcional ao nível de degradação a que chegaram partidos e políticos, a ponto de a Odebrecht pagar por leis aprovadas

É crucial que governo e políticos continuem no trabalho de fazer as reformas, para que os vitoriosos em 2018 tenham condições mínimas de governabilidade

O cenário é de uma grande implosão, com escombros por todos os lados, à espera do trabalho de rescaldo e remoção. Não será fácil, mas é essencial, para que se possa começar a reconstrução em outras bases — e sem que o país pare. Era esperada uma grande repercussão da lista de Edson Fachin, ministro do Supremo que herdou de Teori Zavascki a relatoria da Lava-Jato na Corte. Mas, quando se constatam o número de inquéritos instaurados pelo ministro, a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e ainda as dezenas de nomes remetidos para a primeira instância, confirma-se que de fato o modelo político-eleitoral, a cultura do fisiologismo, os usos e costumes deletérios na forma de se fazer política, por todos os grandes partidos, chegaram ao limite no país. Esta, porém, é uma boa notícia, porque permite o reforma do sistema e o fortalecimento da democracia. Resta conter danos colaterais.

Nova normalidade – Editorial | Folha de S. Paulo

Com quase uma centena de investigados, entre ministros (8), senadores (24), governadores (3), deputados federais (39) e outros nomes de alta plana da política brasileira, a relação divulgada pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, parece justificar as sensações apocalípticas de que foi cercada na opinião pública.

Se qualificá-la de "lista do fim do mundo" parece adequado, do ponto de vista subjetivo, há entretanto a considerar que representa apenas mais um passo, não decisivo, num processo de desgaste que já vem de um bom tempo e que demorará ainda mais para conhecer seu fim.

Outras listas, com nomes também de peso, já vieram a público. Em 2015, o procurador-geral, Rodrigo Janot, pedia a abertura de inquérito no STF contra 47 políticos, dos quais até agora apenas 6 se tornaram réus, sem que nenhuma condenação se tenha efetivado.

A atual relação de nomes provém de outro pedido da Procuradoria-Geral da República, baseado em delações premiadas —cujo teor já vinha sendo oficiosamente posto a público— de executivos ligados à construtora Odebrecht.

É vital que as denúncias não paralisem governo e Congresso – Editorial | Valor Econômico

Todo o sistema político da Nova República ficou em ruínas com a divulgação das delações dos executivos da Odebrecht. Longe de esgotar o veio dos ilícitos, elas resultaram - com consistentes e fartos indícios, mas ainda sem provas - em uma lista com 8 ministros, 24 senadores, 39 deputados e 12 governadores. As suspeitas de corrupção e de caixa 2 abrangem todos os principais partidos e a maioria de seus satélites, espalhados pela base governista e pela oposição. Mais que isso, foram citados nos depoimentos todos os presidentes da República desde a redemocratização. O presidente Michel Temer, mencionado em dois episódios que sugerem a prática de "crimes graves", não pode ser investigado por possuir "imunidade temporária".

A Lava-Jato desnudou um modo de fazer política nefasto, que destroi a democracia, ao permitir a compra de lideranças partidárias e bancadas para o benefício de poucas empresas, grandes financiadoras de campanhas. Um sistema eleitoral que gera proliferação de partidos de aluguel, desvia o voto dos eleitores para nulidades patrocinadas por caciques e pressupõe disputas cada vez mais caras foi presa fácil de interesses não republicanos.

Tecendo a manhã | João Cabral de Melo Neto

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.

Mônica Salmaso - Na Primeira manhã