sábado, 8 de abril de 2017

Opinião do dia – Fernando Gabeira

A esperança sozinha, divorciada dos fatos, não resolve nada. No entanto, se as expectativas forem corretas, ela é um elemento indispensável na resposta ao problema em que estamos metidos há algum tempo: como sair dessa maré. A resposta que dou na rua continua a mesma: é difícil, mas não impossível. Mas se a economia dá sinais de retomada e o caminho da reforma política for aplanado para 2018, aí, então, poderemos dar passos mais largos para nos tornamos um país que sobreviveu a um nível devastador de corrupção.

Toda essa expectativa depende de muitos fatores imponderáveis. O PMDB do Nordeste iniciando um movimento desagregador, tendo à frente Renan Calheiros, em princípio é apensas uma reação à impopularidade das reformas. Mas é também uma aproximação com Lula, que tem votos no Nordeste.

Na verdade, é uma resistência regional que parte dos lugares onde o PT é mais forte e alguns políticos simplesmente não podem perder as eleições, porque a Lava Jato está esperando de boca aberta. Se implodirem o governo, vão se deliciar com o estardalhaço. Mas o problema nacional continua. Eles até têm uma força destrutiva. Mas faltam energia e perspectiva para construir a nova situação. Teríamos perdido tempo, mas não a esperança.

*Fernando Gabeira é jornalista. “Perguntas da rua”, O Estado de S. Paulo, 7/4/2017.

Para Marina Silva, proposta de reforma política ‘legitima aberração’

Em evento nos EUA, ela afirma que Lava-Jato mostra que houve 'abuso de poder econômico’ em 2014

Henrique Gomes Batista | O Globo

CAMBRIDGE - Marina Silva, ex-candidata presidencial e fundadora da Rede, afirmou nesta sexta-feira, nos Estados Unidos, que a proposta da reforma política apresentada no Congresso é exatamente o contrário do que quer o cidadão. Ela abriu a Brazil Conference at Harvard & MIT, que ocorre até sábado nas universidades de Harvard e Massachusetts Intitute Of Tecnology (MIT), em Massachusetts.

— O cidadão quer participar e a reforma (proposta) traz como resposta mais exclusão, menos participação e mais poder àqueles (líderes políticos) que acham que podem substituir seus representados — disse Marina.

Ela criticou a proposta do financiamento público de campanha, o que chamou de "super-fundo partidário" e o voto em lista fechada. Marina lembrou que a crise política se abate sobre os partidos e a sociedade quer mais participação. Em sua opinião, os caciques políticos sairão fortalecidos se a reforma política avançar como foi apresentada.

— Da forma como está posta é para institucionalizar a aberração que está criada com a história da classe política — disse.

Marina Silva critica reforma política discutida no Congresso

A líder da Rede falou em reforma 'excludente, que fortalece o poder dos partidos e de seus caciques por meio da lista fechada', durante palestra no MIT

Cláudia Trevisan | O Estado de S. Paulo

CAMBRIDGE - No momento em que a sociedade brasileira exige maior participação, o Congresso discute uma reforma política excludente, que fortalece o poder dos partidos e de seus caciques por meio da lista fechada e institucionaliza o abuso do poder econômico com dinheiro público, afirmou na manhã desta quinta-feira, 7, a fundadora da Rede, Marina Silva, derrotada nas disputas presidencial de 2014 e 2010.

Em palestra no Massachusetts Institute of Technology (MIT), Marina defendeu a Lava Jato, lamentou o clima de intolerância e de falta de diálogo no Brasil e disse que ainda não decidiu se disputará a presidência em 2018. “Ainda estou no processo de discernimento”, declarou durante participação na Brazil Conference at Harvard & MIT.

'Sem reforma política, 2018 será dominado por crime organizado’, diz Gilmar

Sem Lava-Jato, Brasil amanhã será o Rio de Janeiro, diz Gilmar

Presidente do TSE descreve problemas e critica situação do estado: ‘Como dói’

Henrique Gomes Batista | O Globo

CAMBRIDGE, EUA — O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes, que também preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmou nesta sexta-feira que, sem as ações da Operação Lava-Jato, o Brasil "será o Rio de Janeiro amanhã". Questionado em uma conferência nos Estados Unidos, Gilmar Mendes não poupou críticas à situação do estado. No mesmo evento, o ministro afirmou que já há casos de três vereadores em São Paulo suspeitos de terem sido eleitos pela facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). O prefeito de Embu das Artes (SP), por exemplo, é acusado de uma série de crimes.

— Acho que nem precisa descrever: milícias, tráfico de drogas e agora tudo isso que está acontecendo, envolvendo todos os poderes: Legislativo, Executivo, Tribunal de Contas, tudo mais. Se não houver interrupção neste processo, o Brasil será amanhã o grande Rio de Janeiro. O Rio é um retrato na parede. Como dói — afirma Gilmar Mendes.

Sem reforma política, eleição de 2018 será ‘distorcida’, diz Gilmar

Presidente do TSE defendeu voto em lista como primeiro passo para modelo distrital misto

Isabel Fleck | Folha de S. Paulo

CAMBRIDGE - O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes, disse nesta sexta-feira (7) que o Brasil corre o risco de ter uma eleição "muito distorcida" em 2018 se não aprovar uma mudança em seu sistema eleitoral até 2 de outubro deste ano.

"Vamos para a eleição de 2018, que é uma eleição grande, sem modelo específico, só com doação das pessoas físicas –que não há tradição no Brasil, e muito provavelmente vamos ficar entregues ao crime organizado, a pessoas que já trabalham no ilícito, ou a algumas organizações que têm modo próprio de financiamento", disse Mendes, pouco antes de falar em evento no MIT (Massachusetts Institute of Technology), em Cambridge.

Depois, ao participar de um debate com a presença do ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, Mendes destacou que o crime organizado já está operando no campo que não é mais ocupado por doações de empresas. "Em São Paulo, promotores me disseram que tem três candidatos eleitos pelo PCC na Câmara de Vereadores", disse. "Não preciso falar do Rio de Janeiro", completou, arrancando risadas do público.

Mendes disse acreditar que ainda dá tempo de fazer uma reforma política antes da eleição. "Estamos chegando no dia 2 de outubro e precisamos fazer a reforma. Vamos votar em lista? Vamos fazer um [sistema] distrital misto? Alguma coisa precisa ser feita", afirmou.

Apesar da expectativa de embate entre Mendes e Cardozo, que foi advogado de Dilma no processo de impeachment, o clima do debate foi amistoso –e os dois inclusive manifestaram opiniões próximas sobre o modelo do voto distrital misto.

"Sempre acho a melhor alternativa o voto distrital misto, muito próximo ao que a Alemanha tem", disse Cardozo. "Ele combina o voto distrital com o voto no partido, e isso faz com que você tenha uma representação global e evite as distorções que o voto distrital tem do ponto de vista democrático."

Justiça bloqueia meio bilhão do PP e 10 políticos

Decisão do juiz Friedmann Anderson Wendpap foi tomada no âmbito de ação de improbidade da Operação Lava Jato

Julia Affonso, Fausto Macedo, Ricardo Brandt e Luiz Vassalo | O Estado de S. Paulo

O juiz Friedmann Anderson Wendpap decretou nesta sexta-feira, 7, R$ 476.917.797,44 em ação de improbidade, na Operação Lava Jato, contra o Partido Progressista, 10 políticos e um ex-assessor do partido.

Foram bloqueados diretamente do caixa da agremiação R$ 9,88 milhões . O confisco se estende a um grupo de 10 políticos, entre eles Pedro Corrêa, ex-presidente do partido, que teve bloqueados R$ 46,8 milhões.

A decisão do magistrado foi dada em ação ajuizada pelo Ministério Público Federal, no Paraná, em 22 de março deste ano. A Procuradoria da República apresentou à Justiça Federal ação de civil pública contra o PP e 10 políticos da legenda – os deputados federais Nelson Meurer (PP-PR), Mário Negromonte Júnior (PP-BA), Arthur Lira (PP-AL), Otávio Germano (PP-RS), Luiz Fernando Faria (PP-MG) e Roberto Britto (PP-BA), além dos ex-deputados Pedro Corrêa (PP-PE), Pedro Henry (PP-MT), João Pizzolatti (PP-SC) e Mário Negromonte (PP-BA) -, além de João Genu.

Ala do PMDB tenta minar liderança de Renan

Adversários do senador iniciam movimento para destituí-lo do cargo de líder da bancada na Casa após críticas a Temer

Isadora Peron, Julia Lindner, Igor Gadelha e Erich Decat | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - A ala adversária ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL) vai dar início a um movimento para enfraquecer o peemedebista e tentar destituí-lo do cargo de líder da bancada no Senado. A articulação conta com o apoio velado do presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e de senadores próximos a ele, como Raimundo Lira (PB) e Garibaldi Alves (RN).

Os parlamentares que estão descontentes com Renan lembram que basta a assinatura de 12 dos 22 senadores para determinar o afastamento do peemedebista. Afirmam que um líder de bancada não tem mandato fixo e que essa figura pode ser substituída a qualquer momento, especialmente se não representar mais o posicionamento da maioria dos liderados.

A relação entre o senador alagoano e parte da bancada começou a estremecer com as críticas que ele tem feito ao presidente Michel Temer e teve seu ápice com a decisão de Renan de retirar a indicação da senadora Rose de Freitas (PMDB-ES) à presidência da Comissão Mista de Orçamento (CMO).

Secretário-geral do PT tenta acordo para Lindbergh ser vice de Gleisi

Vera Rosa | O Estado de S. Paulo

Na tentativa de evitar um racha ainda maior no PT, já há um movimento de bastidores para que o senador Lindbergh Farias (RJ) aceite ser vice de Gleisi Hoffmann na presidência do partido. A candidatura de Gleisi para comandar o PT foi aceita pela corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), na segunda-feira à noite, após forte pressão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Eu estou defendendo um grande acordo político entre os dois”, disse o secretário-geral do PT, Romênio Pereira. “São duas figuras muito importantes e temos de buscar a unidade. Os dois, com certeza, reforçarão muito a campanha de Lula à Presidência, em 2018.”

Um dos líderes da tendência Movimento PT, Pereira afirmou que no 6.º Congresso do partido, marcado para junho, proporá que o presidente e o primeiro-vice sejam eleitos separadamente dos demais integrantes da chapa. O secretário-geral também apresentará uma emenda que prevê o aumento dos assentos na Executiva Nacional, de 21 para 22 cadeiras.

PT estuda criar cargo para evitar disputa entre Gleisi e Lindbergh

Catia Seabra | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A dois dias da primeira etapa das eleições para comando do PT, o secretário-geral do partido, Romênio Pereira, apresentou uma proposta de acordo entre os dois candidatos à presidência da sigla: os senadores Gleisi Hoffmann (PR) e Lindbergh Farias (RJ).

Pela proposta, seria criada uma vice-presidência reservada exclusivamente a Lindbergh, evitando uma disputa entre os dois. Hoje, a Executiva Nacional do PT é composta por 21 petistas. Lindbergh seria seu 22 integrante, o primeiro-vice-presidente do PT.

A exemplo do que já acontece na eleição do presidente do partido, a votação a Lindbergh seria feita independentemente da correlação de forças internas usada para composição da cúpula partidária. As tendências que hoje apoiam sua candidatura teriam seu espaço garantido mesmo que seja selado esse acordo.

A menor inflação desde o Real

A inflação do 1º trimestre de 2017 foi de 0,96%, a menor desde a edição do Plano Real, em 1994. Em março, a alta foi de 0,25%, a menor desde 2012. O resultado deve acelerar a redução dos juros.

Inflação no trimestre é a menor do Plano Real

Com alta de 0,25% em março, IPCA acumula 0,96% este ano. Alívio deve ajudar na redução dos juros básicos

Lucas Moretzsohn | O Globo

A inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desacelerou em março e já se aproxima do centro da meta do governo, de 4,5% em 12 meses. Com a alta de 0,25% no mês passado frente a fevereiro, o acumulado em 12 meses está em 4,57%. É a menor taxa para março desde 2012, e o melhor resultado para o primeiro trimestre do Plano Real: 0,96%, bem abaixo dos 2,62% de igual período de 2016.

Para especialistas, os dados divulgados ontem pelo IBGE apontam para uma continuidade da queda da taxa básica de juros (Selic), hoje em 12,25%. Há expectativa de que, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, o corte seja de 1 ponto percentual ou mais.

Déficit vai ser ainda maior em 2018

O governo elevou a previsão de rombo nas contas públicas em 2018. A meta agora é ter um déficit de R$ 129 bilhões, e não mais de R$ 79 bilhões. Segundo o ministro Meirelles, a recessão de 2016 reduziu a arrecadação. Analistas elogiaram a mudança, como sinal de transparência. Mas temem que concessões na reforma da Previdência piorem a situação fiscal.

Rombo maior para 2018

Meta fiscal passa de déficit de R$ 79 bi para R$ 129 bi. Só em 2020 haverá resultado positivo

Martha Beck, Bárbara Nascimento | O Globo

Um dia depois de recuar na proposta de reforma da Previdência para tentar viabilizar sua aprovação no Congresso, o governo anunciou ontem que trabalhará com um rombo maior nas contas de 2018. A meta fiscal do governo central para o ano que vem foi revista de um déficit primário de R$ 79 bilhões para um de R$ 129 bilhões. A equipe econômica também mudou suas projeções para 2019 — de resultado primário zero para um déficit de R$ 65 bilhões — e informou que, agora, só espera um número positivo em 2020, quando a meta será um superávit de R$ 10 bilhões.

A decisão mostra o choque de realidade ao qual o governo Michel Temer foi submetido nas duas últimas semanas, tanto em relação à sua capacidade política quanto a entregar o ajuste fiscal prometido ao mercado. Primeiro, foi preciso contingenciar o Orçamento de 2017 em R$ 42,1 bilhões e acabar com a desoneração da folha de pagamento da maioria das empresas para tentar alcançar a meta deste ano, de déficit primário de R$ 139 bilhões. Depois, foi preciso alterar pontos da reforma da Previdência, o que significa uma perda entre 15% e 20% no valor que o governo esperava economizar com as mudanças no regime de aposentadorias no país. Por fim, mudou-se a meta que será apresentada no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2018.

Com placar desfavorável, governo estuda recuar na reforma da Previdência

Entre os pontos que podem sofrer alterações estão o tempo de contribuição de 49 anos e a idade mínima para as mulheres

Paulo de Tarso Lyra | Correio Braziliense

O governo poderá ter de ceder ainda mais do que os cinco pontos anunciados na última quinta-feira, se quiser, de fato, aprovar a reforma da Previdência no Congresso Nacional. A duas semanas da previsão de votação do texto na Comissão Especial da Câmara, o Planalto e a equipe econômica sabem que dois tópicos estão na mira dos congressistas: o tempo de contribuição de 49 anos e o estabelecimento de uma idade mínima diferente para homens e mulheres. Poderá haver uma convergência para que as mulheres se aposentem com 62 anos, e não aos 65 anos previstos como regras para homens.

O Planalto começará a se debruçar, efetivamente, sobre a planilha de votações a partir de segunda-feira, para municiar o presidente Michel Temer nas conversas individuais com os parlamentares. Os números apresentados até o momento são assustadores para o governo. Segundo levantamento do Instituto Pública, em parceria com Sindilegis, 54% dos deputados vão votar contra o texto.

Reformas são mais do que mudanças de regras | *Sergio Fausto

- O Estado de S. Paulo

Persuasão da sociedade é a chave para mudar mentalidades e comportamentos

Tornou-se clichê dizer que o Brasil precisa de reformas. E é verdade. Habitualmente tomamos reformas como sinônimo de mudanças em regras que regulam áreas específicas de política pública. Falamos em reforma política, tributária, do sistema previdenciário, e assim por diante. Faz sentido proceder dessa maneira porque cada um desses sistemas é complexo em si mesmo e regido por regras próprias.

Há dois problemas nessa abordagem. Primeiro, ela reduz o processo de reformas a mudanças nas regras formais, quando, na verdade, elas implicam também alterações nas mentalidades e nos comportamentos predominantes na sociedade. Segundo, é incapaz de articular as reformas dentro de uma visão sobre o futuro do País.

Numa democracia, reformas requerem a aprovação pela maioria do Congresso, frequentemente por quóruns qualificados. Em qualquer país do mundo o Parlamento abriga, em maior ou menor grau, interesses locais, setoriais e pessoais, a começar pelo interesse de cada parlamentar de se reeleger. A leitura acurada desse mapa de interesses é fundamental para aprovar reformas. Daí a importância dos operadores políticos.

Somos? | Merval Pereira

- O Globo

A bem da verdade, não é apenas o senador Renan Calheiros que está se movimentando no cenário político de olho na eleição do ano que vem, cuidando do próprio umbigo, sem levar em conta os interesses do país. Ele é apenas o mais espalhafatoso dos que, atingidos pela Lava-Jato, veem-se em situação de perigo , e esperneiam.

De uma maneira ou de outra, todos os políticos já estão de olho em 2018, especialmente aqueles que julgam ter alguma possibilidade de virem a ser eleitos presidente da República, de Lula a Bolsonaro; de Ciro Gomes a João Doria; de Geraldo Alckmin a Marina Silva. Cada um busca se posicionar no grid de largada, e por isso tanta falação antes da hora.

Assim como para Renan a reeleição é matéria de vida ou morte política, para Lula a única saída diante dos processos que tem na primeira instância da Justiça é ser candidato a voltar ao Planalto, mesmo que essa não fosse sua escolha prioritária. Embora apareça em primeiro lugar nas pesquisas, é previsível que Lula tenha muita dificuldade numa campanha eleitoral em que será confrontado com todas as acusações contra ele.

Erros na Previdência | João Domingos

- O Estado de S. Paulo

O destino de toda crise política será o colo do presidente Michel Temer

Reforma da Previdência é um Deus nos acuda, em qualquer país do mundo. Ela mexe com direitos do cidadão. Quem é que quer perder direitos? E mexe também, como no Brasil, em direitos que acentuam desigualdades, pois beneficiam castas sociais e profissionais fortalecidas por corporações. Mexe com igrejas e entidades que gozam de isenções, sindicatos, associações.

Em condições políticas tão adversas, fazer uma reforma da Previdência exige o mínimo de erros, uma coordenação política azeitada, o controle diário da soma dos votos e até um serviço de inteligência capaz de detectar futuros focos de rebelião aqui e ali.

Se a reforma da Previdência andar e for aprovada, e o País conseguir equilibrar suas contas, retomar o rumo do crescimento econômico e a volta do emprego, o presidente Michel Temer acredita que passará para a história como um reformador. Isso lhe basta, costuma dizer. Não está atrás de popularidade, por isso não toma medidas populistas. Se fosse para se preocupar com índices bom e ótimo, nem proporia a reforma.

"Marshmallow" e Previdência | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Um bom preditor de sucesso na vida é a capacidade de, na infância, exercer o autocontrole e trocar a gratificação imediata por uma recompensa maior no futuro.

Essa noção é ilustrada pela célebre experiência do "marshmallow", de Walter Mischel, de Stanford. Nos anos 60, ele submeteu garotos de cerca de quatro anos ao seguinte dilema: eles podiam escolher entre ganhar um "marshmallow" no instante em que tocassem uma campainha, ou ficar sozinhos diante do doce e aguardar a volta do pesquisador 15 minutos depois, hipótese em que receberiam duas guloseimas.

Décadas depois, estudos de "follow-up" mostraram que aqueles que resistiram por mais tempo apresentavam melhores resultados numa série de indicadores como desempenho acadêmico, envolvimento com drogas, taxas de divórcio, peso corporal.

Extrapolando essa ideia para países, o Brasil não passaria no teste do "marshmallow", a julgar pelo que acontece com a reforma da Previdência. Acabamos de ser deixados a sós com as tentações e já estamos prestes a acionar a campainha, trocando o futuro pela satisfação imediata.

Que certas categorias profissionais, sindicatos e pessoas prestes a aposentar-se pressionem para defender seus interesses é esperado. Faz parte da democracia. O sistema político, porém, deveria atuar como o córtex pré-frontal e modular os impulsos mais imediatistas com o propósito de assegurar uma transição ao mesmo tempo mais tranquila e mais justa para grupos com menor capacidade de vocalização, incluídas aí as próximas gerações.

Espero estar errado, mas, ao que parece, nem os parlamentares nem o governo farão isso, optando por uma reforma meia-boca agora, o que nos obrigará a voltar ao assunto dentro de poucos anos, aí com a faca ainda mais perto do pescoço. Mas estamos numa democracia. Se o país insistir em caminhar voluntariamente para o buraco, não há como impedir.

Começo difícil | Míriam Leitão

- O Globo

O primeiro trimestre chegou ao fim gerando um sentimento de frustração em vários empresários do país. Havia expectativa de uma recuperação mais forte no início do ano, com o crescimento do agronegócio alavancando outros setores. As condições de crédito são uma reclamação unânime, porque os bancos não estão repassando as reduções da Selic. Os números da indústria automotiva em março deram alívio.

O presidente do grupo Astra, Manoel Flores, empresa de material de construção, conta que em janeiro e fevereiro o faturamento teve queda de dois dígitos, em relação ao mesmo período do ano passado. Em março, houve estabilidade. Com isso, a previsão para o ano, que chegou a 5% de alta, agora está para ser revisada para próximo de zero.

A vanguarda do atraso – Sérgio C. Buarque

- Revista Será?

Conservador é quem rejeita mudanças, indicando que está satisfeito com a situação e que imagina possível manter as regras atuais no futuro, embora sejam evidentes os sinais de reestruturações econômicas e sociais. Quem é contra as reformas em discussão no Brasil não quer mudança e, portanto, é conservador. Os sistemas de regulação na sociedade e na economia não podem ser rígidos e definitivos, porque devem se adaptar e renovar para acompanhar as transformações das estruturas e das relações de produção, de modo a garantir o equilíbrio entre proteção social e eficiência econômica.

Como as estruturas e relações de produção estão mudando radicalmente no mundo e no Brasil, manter as velhas e rígidas regras do século XX é reacionário, anacrônico e insustentável. Isto vale, principalmente, para a reforma da previdência e para a reforma trabalhista, considerando dois fenômenos de grande relevância: a profunda mudança demográfica e as intensas transformações tecnológicas, com impactos nas relações de produção e de trabalho.

O leão fugirá? | Julianna Sofia

- Folha de S. Paulo

Algumas horas antes de entrar no plenário do TSE na última terça-feira (4), o ministro-relator da ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer, Herman Benjamin, pintava-se para a guerra.

Na bolsa de apostas do mundo político e jurídico, o juiz de Catolé do Rocha (PB) —notório por seu rigor e vaidade— desferiria naquela manhã um vigoroso relatório, constrangendo os acusados no processo, em especial o presidente Michel Temer. Apesar de toda a chicana previamente especulada de questões de ordem, preliminares e pedido de vista para retardar o caso, o primeiro lance do julgamento seria épico.

O leão miou.

Isolado e sob pressão de seus colegas, Benjamin anteviu a derrota. Fugindo do roteiro ensaiado, nem sequer leu seu relatório. Aceitou tratar de questão de ordem apresentada por advogados e, num ato que intitulou de pragmático, ampliou o prazo para defesa, sendo ainda assim vencido no novo período fixado. Surpreendeu também ao trazer para o pleno a possibilidade de oitiva de testemunha, reabrindo a fase de instrução.

Mudança no jogo | Adriana Fernandes

- O Estado de S. Paulo

Se o Planalto estava até agora com o livro da planilha de votos para a reforma da Previdência totalmente em branco, vai ter de correr para preencher as lacunas

A publicação do Placar da Previdência do Grupo Estado com a pesquisa da intenção de votos dos 513 deputados para a reforma da Previdência estabeleceu uma verdadeira mudança de jogo (game changer) nas negociações da proposta no Congresso Nacional.

A contabilidade da votação – praticamente em tempo real no portal do Estadão – apontando claramente o risco de derrota do governo na mais importante reforma constitucional das últimas décadas, escancarou a fragilidade das negociações feitas até agora pela equipe do presidente Michel Temer.

Mas pior do que revelar a posição de boa parte dos deputados da base aliada contrária à Proposta de Emenda à Constituição (PEC), inclusive a um texto mais brando e com muitas exceções, o Placar obrigou o governo a botar as cartas na mesa de imediato com os principais pontos a serem negociados muito antes do previsto.

Trump e a guerra | Demétrio Magnoli

- Folha de S. Paulo

Na Síria, Trump causa sofrimento; na Coreia do Norte, ameaça segurança mundial

O livro preferido de Trump, "depois da Bíblia", é "A Arte do Acordo", de Donald Trump –hum, bem, de fato, do jornalista Tony Schwartz, o ghost-writer que o assina como coautor.

"Eu passei batom num porco", disse Schwartz durante a campanha eleitoral do ano passado, referindo-se ao best-seller publicado em 1987. "Creio que ele é tão inseguro que, se vencer e tiver acesso aos códigos nucleares, existe uma enorme possibilidade de que destruirá a civilização".

Schwartz quase certamente exagera, mas esse traço da personalidade de Trump descortina o que se deve temer na hora do acirramento das crises na Síria e na península coreana.

O ataque químico em Idlib "mudou muito" a atitude de Trump em relação a Assad.

Privatizar é eficaz arma anticorrupção – Editorial | O Globo

Lei que iria profissionalizar a gestão das estatais tem sido burlada por partidos e políticos, com indicações formalmente técnicas, mas no velho esquema do apadrinhamento

Aceite-se ou não, há uma relação direta entre grau de estatização e corrupção. Quanto maior a presença do Estado na vida de empresas e da população, mais disseminada a prática da venda de facilidades por agentes públicos que, para isso, se especializam em criar dificuldades.

Este princípio tem sólida lógica, e nem é preciso citar os casos extremos da União Soviética e mesmo da China do “socialismo de mercado”, onde costuma haver expurgos em nome da ética — quando a moralidade serve apenas de pretexto na luta pelo poder nos altos escalões.

O Brasil da Lava-Jato, neste aspecto, tem ensinado como a proliferação de estatais é fator determinante na corrupção brasileira. Se elas não existissem, não haveria nomeados por apadrinhamento de políticos com a missão de cobrar comissões de fornecedores privados, a fim de financiar campanha eleitoral de padrinhos e para enriquecimento pessoal.

Brasil e a lição dos vizinhos – Editorial | O Estado de S. Paulo

O Brasil continua sendo um retardatário na marcha da economia latino-americana. A região voltou a crescer em 2017, depois de anos com resultados negativos, fortemente prejudicados, na média, pelo desempenho de uns poucos países. A produção brasileira deve crescer menos de 0,4%, segundo a nova estimativa da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). Sem precisar o novo número, a secretária executiva da instituição, Alicia Bárcena, adiantou a novidade ao Estado, na reunião do Fórum Econômico Mundial em Buenos Aires. A expansão de 0,4% havia aparecido na projeção concluída em dezembro de 2016. Os cálculos atualizados devem sair em breve. Esperava-se uma reação do consumo, explicou Bárcena, mas os dados efetivos ficaram abaixo da previsão, enquanto o desemprego continuou em alta.

As estimativas do crescimento brasileiro podem variar, mas diversas coincidem ao rever suas contas para menos. A expectativa do governo era de expansão de 1,6% neste ano, quando o projeto de Orçamento para 2017 foi elaborado, no segundo semestre de 2016. A projeção foi reduzida para 0,5%. Menor expansão da atividade significa menor arrecadação e isso levou o governo federal a cortar cerca de R$ 42 bilhões dos gastos previstos para 2017. O dado positivo, nesse quadro, foi a preservação da meta fiscal: será mantido o esforço para manter o déficit primário – sem contar os juros da dívida pública – dentro do limite de R$ 139 bilhões.

Base mais sólida – Editorial | Folha de S. Paulo

Após dois anos de debates, a terceira versão da Base Nacional Curricular Comum (BNCC) comprova o dito de que a luz do sol é o melhor desinfetante. Melhorou de forma considerável o documento que dará clareza a professores e pais sobre o que cada aluno tem o direito de aprender e a escola tem obrigação de ensinar.

Enquanto era discutido em comitês fechados, o texto acumulou distorções de fundo ideológico. Entre os pontos controversos despontavam os objetivos de aprendizado de língua portuguesa, com certo desprezo por gramática e redação, e de história, em que se negligenciavam processos importantes ocorridos no Ocidente.

Tais defeitos se concentravam na parte da BNCC referente ao ensino médio, que não integra o documento veiculado nesta quinta-feira (6), voltado ao nível fundamental. O tomo da base sobre o nível médio deve ficar pronto em um ano, em consonância com a reforma em curso nessa etapa de ensino.

Com falas duras contra regimes autoritários e o neoliberalismo, chilena Diamela Eltit vem à Flip

Escritora é inédita no Brasil mas reconhecida e admirada na América Latina e Estados Unidos; dois livros seus serão publicados aqui

Guilherme Sobota | O Estado de S. Paulo

Pouco conhecida e divulgada no Brasil, mas amplamente discutida no Chile e em outros países da América, a escritora chilena Diamela Eltit, de 67 anos, não só terá duas obras publicadas por aqui pela primeira vez, como também vem ao País para participar da 15.ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que ocorre entre 26 e 30 de julho.

Jamais O Fogo Nunca – romance de 2007 que foi eleito pelo suplemento Babelia, do El País, um dos 25 melhores romances em espanhol dos últimos 25 anos, no ano passado – será publicado no Brasil pela editora Relicário, de Belo Horizonte, com tradução de Julián Fuks, em julho. A e-galáxia publicará A Máquina Pinochet e Outros Ensaios, coletânea de textos críticos, traduzidos por Pedro Meira Monteiro, e organizados por ele e por seu colega em Princeton, Javier Guerrero – a Universidade americana também guarda os arquivos de Eltit, espécie de glória que ela compartilha com F. Scott Fitzgerald, Lewis Carroll, Charles Dickens, Oscar Wilde, Julio Cortázar, Mario Vargas Llosa e seu compatriota José Donoso, entre outros.

As Quatro Canções | Fernando Pessoa

As quatro canções que seguem
Separam-se de tudo o que eu penso,
Mentem a tudo o que eu sinto,
São do contrário do que eu sou ...

Escrevi-as estando doente
E por isso elas são naturais
E concordam com aquilo que sinto,
Concordam com aquilo com que não concordam ...
Estando doente devo pensar o contrário
Do que penso quando estou são.
(Senão não estaria doente),
Devo sentir o contrário do que sinto
Quando sou eu na saúde,
Devo mentir à minha natureza
De criatura que sente de certa maneira ...
Devo ser todo doente — idéias e tudo.
Quando estou doente, não estou doente para outra cousa.

Por isso essas canções que me renegam
Não são capazes de me renegar
E são a paisagem da minha alma de noite,
A mesma ao contrário ...

Roberta Sá - Pra você